sábado, 23 de abril de 2011

Fernando Anitelli


Fernando Anitelli lançou seu primeiro CD solo, "As claves da gaveta", na semana passada, e em poucas horas já era um dos assuntos mais comentados no Twitter brasileiro, tirando do ar o site da Trama, onde as canções podem ser baixadas gratuitamente.


O cantor, compositor e criador do grupo paulista Teatro Mágico deu uma pausa no trabalho com a banda para colocar em disco algumas músicas antigas que só existiam em gravações caseiras dispersas pela grande rede. O disco sai com tiragem de 25 mil exemplares e já foi baixado 50 mil vezes no site da Trama.

- Eram músicas que eu havia composto há 15 anos e tinha gravado em casa, só na voz e violão. Meu pai pegou tudo e jogou na internet no intuito de fazer as pessoas ouvirem esse trabalho- diz Anitelli.

Para boa parte da indústria fonográfica, colocar canções na internet é motivo de processo judicial, mas Anitelli garante que a web só beneficiou sua carreira. Na contracapa do novo álbum surge o símbolo (CC), que tanta polêmica causou desde o início da nova gestão no Ministério da Cultura (MinC).

O símbolo significa que o compositor licencia seu trabalho com o Creative Commons, permitindo que a obra seja copiada, compartilhada e remixada, mas resguardando o uso comercial. Em defesa dessa forma de licenciamento, Anitelli apresenta o velho argumento de que a troca de músicas entre amigos serve como divulgação para os artistas e fortalece a cultura musical, potencializando o número de ouvintes.


- Ao liberar não se perde nada. Quem nunca trocou uma fita cassete? - questiona - Hoje o meio físico está se desvanecendo. Não é preciso nem baixar as músicas, está tudo na nuvem. Cada vez mais a tecnologia facilita (a troca). Dentro desse contexto o Creative Commons surge como uma nova maneira de autogerir a obra. O artista que dá o rumo, decide se permite cópia, remix, compartilhamento, uso comercial ou não.

Fernando critica duramente o modelo domimante no século XX, quando a gravação e distribuição de música era um processo caro, dando muito poder às gravadoras, que obrigavam os artistas a editar suas músicas com elas. Um dos maiores exemplos dessa distorção surge no álbum "OK Computer", do Radiohead, lançado em 1997.

Nos créditos do disco, a banda colocou a irônica mensagem "Todas as músicas foram editadas pela Warner Chappel. Letras usadas com generosa permissão, apesar de terem sido escritas por nós".

Dez anos depois, o Radiohead foi uma das primeiras bandas a buscar novas formas de distribuir seu trabalho fazendo uso das possibilidades oferecidas pela internet. Em 2007, lançaram o álbum "In Rainbows", cobrando dos fãs o que eles quisessem pagar pelas faixas em formato digital. Na época, muitos criticaram a iniciativa, argumentando que daria certo apenas para grupos consagrados como o Radiohead. Anitelli discorda.

- O Teatro Mágico é um exemplo vivo disso. Passou a carreira toda enraizado na internet. Nossa música já é copiada. O fã mais apaixonado vai colocar a música na internet, vai querer mostrar para todo mundo. Não dá para reverter isso. O que é bom, o ser humano busca compartilhar e o que é feito de maneira colaborativa sempre é muito forte.

O primeiro CD do Teatro Mágico, em 2003, foi gravado na casa de um amigo de Anitelli, em Osasco, e todo divulgado na internet e pelos fãs. Ainda hoje eles raramente tocam em rádio e não aparecem nos principais programas de auditório da televisão. Ainda assim, lotam shows por todo o país, tocando para públicos de cerca de quatro mil pessoas em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Recife.

Graças a essa ralação, acabaram conseguindo uma participação inusitada na TV, entrando pela porta da frente. Após ouvir um disco do grupo, o diretor Jayme Monjardim convidou o Teatro Mágico para tocar num capítulo da novela "Viver a Vida". Uma exposição que poucas bandas conseguem, mesmo com toda a estrutura de marketing de uma grande corporação por trás.


- (Com a internet) O autor se torna mais dono da produção e se aproxima dos fãs, eliminando o atravessador cultural.

Para Anitelli, as gravadoras deveriam oferecer aos artistas a opção de trabalhar com o Creative Commons. Ele diz que grandes selos já o procuraram para gravar com o Teatro Mágico, mas sempre desistiram diante da proposta de que os CDs custassem entre R$ 5 e R$ 10.

Distribuindo críticas ao ECAD e à Ordem de Músicos do Brasil, que segundo ele "só aparecem quando tem fila na porta do show", Anitelli afirma que hoje o artista precisa ser um pouco empresário também.

- A palavra artista virou até clichê. Você tranca dez pessoas numa casa por três meses e elas saem de lá artistas. Quem trabalha com produção cultural não pode ser só músico. Tem que entender a cadeia de produção. Essa visão romântica, inadequada, acabou- decreta.


Fernando Anitelli (Presidente Prudente, 1975) é um ator, músico, compositor e responsável pela criação do projeto O Teatro Mágico, um projeto que mistura arte circence, cultura, poesia e discussões políticas, nas quais Fernando debate assuntos relacionados a temas como a importância da arte e da cultura independente, pluraridade e distribuição livre de conteúdo. Atualmente mantém ainda um trabalho solo chamado "Fernando Anitelli Trio".

Fernando Anitelli nasceu em Presidente Prudente e foi criado na cidade de Osasco, São Paulo. Anitelli brincancava com arranjos e melodias desde os 13 anos. Após entrar na Faculdade de Comunicação Social formou a banda Madalena 19, como primeira forma de amadurecimento como musico. Foram quase dez anos de ensaios e apresentações de pequeno porte.

Então Anitelli obtve experiências como ator, trabalhando com diretores como Oswaldo Montenegro, Ismael Araújo e Caio Andrade, e outros tipos de oficinas e conhecimento que lhe renderam noções básicas de expressão corporal, domínio de palco e outros elementos vindos da escola do teatro, indispensáveis em seus shows.

Fernando Anitelli foi o responsável em dezembro de 2003 pela criação da trupe do Teatro Mágico projeto inspirado no livro O Lobo da Estepe do escritor alemão Hermann Hesse, de onde também originou-se o nome do primeiro álbum "Entrada para raros".

A banda é composta pelo elenco: Fernando Anitelli (voz, violão e guitarra), Fernando Rosa (contra-baixo), Miguel Assis (bateria), Nene dos Santos (bateria), Willians Marques (percussão e malabares), Galdino Octopus (violino e bandolin), DJ HP (pick-ups e sonoplastia), Silvio Depieri (sax e flauta), Kleber Saraiva (teclado), Rober Tosta (ator circense), Gabriela Veiga (artista circense), Deinha Lamego (artista circense), Tum Aguiar (artista circense), Andrea Baubour (artista circense), Wallace Alcantara (artista circense).

Em 2011 lançou seu primeiro trabalho solo, As Claves da Gaveta com antigas composições suas. Este CD possui a licença Creative Commons, que permite que internautas obtenham no sítio da gravadora Trama, as músicas nele contidas por download digital gratuitamente. Antinelli é um defensor desta forma de licenciamento e distribuição de conteúdos musicais.

FONTE

O GLOBO

WIKIPÉDIA


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