quarta-feira, 27 de abril de 2011

Jararaca e Ratinho

Jararaca era filho do poeta e professor Ernesto Alves Rodrigues, o "Seu" Nhonhô, que cuidou de seu aprendizado escolar. Seus irmãos eram Violeiros e Seresteiros e José Luiz ganhou uma viola aos 8 anos de idade; nessa idade, já mostrava tendências à criação humorística e musical.



Vivendo em Pilar/AL conheceu boiadas que chegavam das Minas Gerais e, com elas, os violeiros, dos quais José Luiz ouvia histórias e estórias de homens bons e ruins, caçadas, cangaceiros, Reisados, etc. que, com certeza, ajudaram na sua formação musical.

Criou por volta de 1915 um grupo de Teatro na cidade de Piranhas/AL, o qual se apresentava em palco improvisado nos fundos de um armazém.

José Luiz inclusive fez parte do bando do cangaceiro Lampião! Na verdade, ele havia trabalhado na Fábrica de Linhas Estrela que pertencia ao coronel Delmiro Gouveia e lá conheceu Virgulino Ferreira que era poeta, cantor, tropeiro, capataz e homem de confiança do patrão. No entanto, revoltado com o brutal assassinato que vitimou Delmiro Gouveia em 1917, Virgulino, "transfigurado", pegou alguns cavalos, adquiriu armas, passou a usar o famoso "Chapéu de Couro" e formou o bando que começou a sair pelas estradas do Sertão Nordestino, "fazendo justiça" e atendendo pelo apelido de Lampião. E José Luiz também integrou esse bando por dois anos...

E, em 1919, influenciado por um dos seus irmãos, "passou para o outro lado" e foi nomeado Chefe de Polícia, ficando com a vigilância de uma estação ferroviária no Interior Pernambucano. E, percebendo que nada daquilo era de acordo com seu temperamento, resolveu seguir "com a cara e a coragem" para Recife-PE, determinado a tentar a carreira artística.

Severino Rangel, o Ratinho, órfão de mãe antes do primeiro aniversário, tendo 25 irmãos por parte de seu pai, foi criado por seus tios e padrinhos. Dona Neném, sua tia e principal incentivadora de sua Arte Musical.

Desde criança tocava na Banda Musical de Itabaiana-PB, onde nasceu. Em 1914, mudou-se para a Capital Pernambucana e, no ano seguinte, tocava oboé na Orquestra Sinfônica local. Tocava também Trompete e Saxofone e deu aulas de Música na Escola de Aprendizes do Recife.

O apelido de Ratinho, Severino arranjou antes de conhecer o parceiro Jararaca: foi nos primeiros anos no Recife-PE, por causa do refrão da polca "Rato Rato!" (Casemiro Rocha - Claudino Manoel da Costa) que ele costumava interpretar ("Rato, rato, rato / Por que motivo tu roeste o meu baú?...").

Em 1919 José Calazans e Severino Rangel se conheceram: foi na casa de Filinto de Moraes, local onde se reuniam expoentes da Música Popular e músicos iniciantes. Nesse período integraram o Bloco dos Boêmios e começaram a tocar juntos.


Formaram o grupo "Os Boêmios", que em 1921 deu uma apresentação no Cassino Moderno para completar o show dos "Oito Batutas", conjunto que tinha como integrante o célebre Alfredo da Rocha Viana Filho, o Pixinguinha, além de Donga, Otávio Viana, Nélson Alves, José Monteiro, João Thomaz, Jacob Palmieri e João Pernambuco (o célebre compositor do Choro-Maxixe "Sons de Carrilhões" para Violão e também o co-autor de "Luar do Sertão" juntamente com Catulo da Paixão Cearense). Interpretaram inclusive a famosa embolada "Espingarda Pá Pá Pá", de José Luis Rodrigues Calazans (que ainda não tinha o nome artístico de Jararaca). A embolada foi do agrado de Pixinguinha, que a incluiu em seu repertório.

O conjunto "Os Boêmios" passou a ser "Os Turunas Pernambucanos" e cada componente adotou o nome de um animal, já que os apelidos baseados na fauna brasileira eram comuns na Região Nordeste, de acordo com declaração de Jararaca ao Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro-RJ.

E foi então que José Luiz adotou o apelido de Jararaca. Outros integrantes do conjunto eram Cobrinha, Sapequinha, Pirauá, Caxangá, Preá, Bronzeado, Cipoal e Sabiá.

Os Turunas Pernambucanos tiveram destaque no início da década de 1920, cantando "Cocos" e Emboladas, apresentando-se em Trajes Típicos e fizeram uma turnê durante um mês percorrendo vários lugares do Interior do Nordeste até a Bahia e, incentivado por Pixinguinha, o conjunto tomou o rumo da Cidade Maravilhosa, onde chegou em Abril de 1922.



Na então Capital da República, "Os Turunas Pernambucanos" participaram dos eventos comemorativos ao Centenário de Independência do Brasil. Foram aplaudidos inclusive pelo então Presidente Epitácio Pessoa! Lembrar também que foi no dia 07/09/1922, ou seja, no dia do Centenário da Independência, que aconteceu a primeira transmissão radiofônica no Brasil.

Apresentaram-se no Cine Teatro Beira-Mar, já com diversas músicas de autoria de Jararaca e Ratinho, vestidos com trajes simples e "chapéu de cangaceiro". Com o sucesso alcançado, foram convidados a se exibir na "Sala de Espera" do Cine Palais.

Ainda no mesmo ano de 1922, Jararaca gravou a embolada "Espingarda Pá Pá Pá" na Odeon com acompanhamento de Manuel Pedro dos Santos e os Turunas Pernambucanos. E no ano seguinte, gravou o "Samba Sertanejo" "Vamos s’imbora Maria", também na Odeon com acompanhamento de Baiano e dos Turunas Pernambucanos.

Em seguida, o grupo foi em excursão a Buenos Aires onde se apresentou em teatros e festas particulares. E foi na Capital Argentina que o grupo se dispersou. Jararaca e Ratinho rumaram então para Montevidéu e mantiveram os nomes dos mesmos bichos na dupla que nascia naquele momento. Por sinal, uma "Dupla Bem Brasileira que nasceu no Estrangeiro"...



Uma das mais antigas e tradicionais duplas sertanejas do Brasil, foi formada em Pernambuco em 1927, quase dez anos depois do primeiro encontro entre Jararaca e Ratinho. Os dois integraram juntos o grupo Turunas Pernambucanos, que se destacou no início dos anos 20 cantando cocos e emboladas e se apresentando em trajes típicos. Excursionaram pela Argentina e Uruguai e os Turunas de separaram, dando origem à dupla.

Em São Paulo fizeram sucesso cantando emboladas e atuando em performances satíricas. Gravaram o primeiro disco em 1929, pela Odeon, época em que começaram a ter suas músicas gravadas por outros artistas, como Francisco Alves ("Meu Sabiá", "Meu Brasil").

Tendo em foco a música regional, excursionaram pelo interior com Cornélio Pires, o primeiro grande divulgador da música caipira.



No final de 1931, Jararaca e Ratinho fundaram a "Casa de Caboclo", juntamente com Duque, Pixinguinha e Dercy Gonçalves, cujo objetivo era criar a "Casa da Canção Nacional".

Na "Casa de Caboclo", Jararaca e Ratinho apresentaram vários shows de Música Nordestina e atuaram em diversas peças, entre as quais "Viva as Muié", "Alma de Caboclo" e "Sodade de Caboclo". Os shows na "Casa de Caboclo" receberam aplausos inclusive do então Presidente Getúlio Vargas.

Jararaca compôs e gravou diversas músicas de carnaval, como o clássico "Mamãe Eu Quero" (com Vicente Paiva), do ano de 1937, cujo extraordinário sucesso chegou ao exterior, tendo sido incluído em filmes de Hollywood. O cantor Bing Crosby, primeiro grande ídolo da música americana, inspirador de Frank Sinatra, gravou a marchinha na versão "I Want My Mama".


Jerry lewis Singing - Mama eu quero



A música também foi incluida no repertório de Carmen Miranda. A “Pequena Notável" interpretou Mamãe Eu Quero no filme Serenata Tropical em 1940.



Em 1940, Jararaca e Ratinho participam da gravação do disco "Native Brazilian Music", comandado pelo Maestro Leopold Stokowski, no Navio Uruguai, atracado no porto do Rio de Janeiro. O célebre Regente Inglês, Russo de criação, dirigia na ocasião a All American Youth Orchestra. A dupla participou da gravação do disco cantando as Emboladas "Bambo do Bambu" (Donga) e "Sapo no Saco" (Jararaca e Ratinho) e também o Samba "Vamo Apanhá Limão" (Jararaca), entre outras.

Além de Jararaca e Ratinho, outros músicos renomados da nossa Boa Música Brasileira também fizeram parte do evento, convidados pelo Maestro Heitor Villa-Lobos, o célebre compositor das "Bachianas Brasileiras": Donga, por exemplo, participou com seu histórico Samba "Pelo Telefone" e também com o Samba-Canção "Ranchinho Desfeito", composto em parceria com David Nasser; Cartola e Carlos Cachaça participaram com seu Samba "Quem Me Vê Sorrindo"; Luís Americano participou com seu Choro "Intrigas no Boteco do Padilha"; Pixinguinha participou com seu famosíssimo "Urubu Malandro" e, em dueto com Jararaca, participou com o Maracatu "Zé Barbino", composto por eles.

Ratinho se destacou também como saxofonista, autor de choros e valsas, como "Saxofone, Por Que Choras?". Tiveram bastante êxito nos dez anos em que trabalharam na Rádio Nacional, sempre caracterizados como representantes da música regional caipira.

Alguns sucessos foram "Desafiando", "Meu Pirão Primeiro", "Oi, Chico", "Bonito", "Pinicadinho" e "Espingarda Pá, Pá, Pá".

Tom Jobim deu parceria a Jararaca ao utilizar seu refrão "Do Pilar" na música "O Boto", em 1976.

Na televisão, participaram do programa A-E-I-O-Urca, da TV Tupi.

Após a morte de Ratinho, em 1972, Jararaca continuou se apresentando sozinho em programas de televisão e rádio, até sua morte, em 1977.

Em 11/10/1977, o jornal americano "The Daily News" publicou o obituário noticiando o falecimento de Jararaca, citando-o como "o famoso compositor gravado por Bing Crosby e Carmen Miranda".

A Funarte lançou um CD com obras da dupla em 1998. A dupla era formada por José Luís Rodrigues Calazans (Jararaca) e Severino Rangel de Carvalho (Ratinho).

José Luiz Rodrigues Calazans, o Jararaca, nasceu em Maceió-AL no dia 29/09/1896 e faleceu no Rio de Janeiro-RJ no dia 11/10/1977. Severino Rangel de Carvalho, o Ratinho, nasceu em Itabaiana-PB no dia 13/04/1896 e faleceu em Duque de Caxias-RJ no dia 08/09/1972.

FONTE

Cliquemusic

Boa Música Brasileira

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