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quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Os Festivais de Música Popular Brasileira


Com os acontecimentos de 1964, a concientização popular aumentou e começaram a surgir protestos de todas as áreas ligadas à cultura. Na música popular, os artistas sentiram necessidade de compor canções de cunho social e isso culminaria com os festivais, que foram, sem dúvida alguma, a mais brilhante fase de nossa música, na década de sessenta, depois do advento da Bossa Nova.

Festival de Música Popular Brasileira foi um gênero de programa, competitivo e musical, apresentado por várias emissoras de televisão brasileiras (TV Excelsior, TV Record, TV Rio, Rede Globo) a partir de 1965 até 1985.

O I Festival de Música Popular Brasileira realizado foi o da TV Excelsior de São Paulo que aconteceu em Guarujá, durante o mês de abril de 1965 e teve como finalistas as músicas:

1º Lugar
"Arrastão", de Edu Lobo e Vinícius de Moraes, interpretada por Elis Regina

"Arrastão", por Edu Lobo

2º Lugar
"Valsa do Amor Que Não Vem", de Baden Powell e Vinícius de Moraes, interpretada por Eliseth Cardoso

3º Lugar
"Eu Só Queria Ser", de Vera Brasil e Míriam Ribeiro, interpretada por Claudete Soares

4º Lugar
"Queixa", de Sidney Miller, Zé Keti e Paulo Tiago, interpretada por Ciro Monteiro

5º Lugar
"Rio do Meu Amor", de Billy Blanco, interpretada por Wilson Simonal

O enorme sucesso desse festival daria margem à realização de uma série de outros. O Festival Nacional de Música Popular Brasileira aconteceu em junho/1966, tendo por finalistas:

1º Lugar
"Porta-estandarte", de Geraldo Vandré e Fernando Lona, interpretada por Tuca e Airto Moreira

2º Lugar
"Inaê", de Vera Brasil e Maricene Costa, interpretada por Nilson

3º Lugar
"Chora Céu", de Adilson Godói e Luís Roberto, interpretada por Cláudia

4º Lugar
"Cidade Vazia", de Baden Powell e Lula Freire, interpretada por Milton Nascimento

5º Lugar
"Boa Palavra", de Caetano Veloso, interpretada por Maria Odete

Ainda no ano de 1966, durante os meses de setembro e outubro, realizar-se-ia mais um festival, desta vez pela TV Record, também de São Paulo, no Teatro Record, em Setembro e Outubro 1966, com o Prêmio Viola de Ouro.


                                            Jair Rodrigues, Nara Leão e Chico Buarque

Em primeiro lugar empataram A Banda de Chico Buarque, interpretada por Nara Leão e Disparada de Geraldo Vandré e Théo de Barros, interpretada por Jair Rodrigues
 
1º Lugar
"A Banda", de Chico Buarque, interpretada por Chico Buarque e Nara Leão

2º Lugar
"Disparada", de Geraldo Vandré e Theo de Barros, interpretada por Jair Rodrigues, Trio Maraiá e Trio Novo (também em 1º lugar);

"De Amor ou Paz", de Luís Carlos Paraná e Adauto Santos, interpretada por Elza Soares (2º lugar);

3º Lugar
"Canção para Maria", de Paulinho da Viola e Capinam, interpretada por Jair Rodrigues

4º Lugar
"Canção de Não Cantar", de Sérgio Bittencourt, interpretada por MPB-4

5º Lugar
"Ensaio Geral", de Gilberto Gil, interpretada por Elis Regina

Em 1967, realizou-se no Teatro Paramount, o III Festival de Música Popular Brasileira, o mais famoso entre todos registrados no Brasil, o que maior sucesso alcançou e o que maior número de compositores novos deu à música popular. Foram suas finalistas:

1º Lugar
"Ponteio", de Edu Lobo e Capinam, interpretada por Edu Lobo, Marília Medalha e Quarteto Novo

2º Lugar
"Domingo no Parque", de Gilberto Gil, interpretada por Gilberto Gil e Os Mutantes

3º Lugar
"Roda Viva", de Chico Buarque, interpretada por Chico Buarque e MPB-4

4º Lugar
"Alegria, Alegria", de Caetano Veloso, interpretada por Caetano Veloso e Beat Boys

5º Lugar
"Maria, Carnaval e Cinzas", de Luís Carlos Paraná, interpretada por Roberto Carlos e O Grupo

I Bienal do Samba

Data: Maio 1968

Classificação:

1° Lugar: Lapinha (Baden Powell e Paulo César Pinheiro) - interprete: Elis Regina e Os Originais do Samba

2° Lugar: Bom Tempo (Chico Buarque)

Durante os meses de novembro e dezembro de 1968, acontecia no Teatro Record o IV Festival de Música Popular Brasileira, que teve como vitoriosas do júri especial e do júri popular, respectivamente:

1º Lugar
"São Paulo, Meu Amor", de Tom Zé, interpretada por Tom Zé

2º Lugar
"Memórias de Marta Saré", de Edu Lobo e Gianfrancesco Guarnieri, interpretada por Edu Lobo e Marília Medalha

3º Lugar
"Divino Maravilhoso", de Caetano Veloso, interpretada por Gal Costa

4º Lugar
"Dois Mil e Um" de Rita Lee e Tom Zé, interpretada por Os Mutantes

5º Lugar
"Dia da Graça", de Sérgio Ricardo, interpretada por Sérgio Ricardo e Modern Tropical Quintet

"Benvinda", de Chico Buarque, interpretada por Chico Buarque (1º lugar);
"Memórias de Marta Saré" (2º lugar);
"A Família", de Chico Anísio e Ari Toledo, interpretada por Jair Rodrigues (3º lugar);
"Bonita", de Geraldo Vandré e Hilton Accioly, interpretada por Trio Maraiá (4º lugar);
"São Paulo, Meu Amor" (5º lugar).

O V Festival de Música Popular Brasileira, mais uma produção da TV Record, deu-se em novembro de 1969 e nele se classificaram:

1º Lugar
"Sinal Fechado", de Paulinho da Viola, interpretada por Paulinho da Viola

2º Lugar
"Clarisse", de Eneida e João Magalhães, interpretada por Agnaldo Rayol

3º Lugar
"Comunicação", de Hélio Mateus e Edson Alencar, interpretada por Vanusa

4º Lugar
"Gostei de Ver", de Eduardo Gudin e Marco Antônio da Silva Ramos, interpretada por Márcia e Originais do Samba

5º Lugar
"Monjolo", de Dino Galvão Bueno e Milton Eric Nepomuceno, interpretada por Maria Odete

Paralelamente aos festivais nacionais de música popular, aconteciam, desde 1966, os festivais internacionais da canção popular, nos quais a música popular brasileira teve participação destacada.

No Primeiro Festival Internacional da Canção Popular, realizado em 1966, "Saveiros", de Dory Caymmi e Nelson Mota, interpretada por Nana Caymmi, ficaria com o 1º lugar.

Em 1967, no II FIC, o 1º lugar seria de "Margarida", de Gutemberg Guarabira, interpretada por Gutemberg Guarabira e Grupo Manifesto; o 2º lugar ficaria para "Travessia", de Milton Nascimento e Fernando Brant, interpretada por Milton Nascimento e "Carolina", de Chico Buarque, interpretada por Cynara e Cybele, classificar-se-ia em 3º lugar.

Em 1968, no III FIC, "Sabiá", de Chico Buarque e Tom Jobim, interpretada por Cynara e Cybele e "Caminhando", de Geraldo Vandré, interpretada por Geraldo Vandré, arrebataram, respectivamente, os 1º e 2º lugares.



“Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”

Talvez nenhuma música explique tão bem a repressão na ditadura militar do Brasil do que Pra não dizer que não falei das flores, do compositor e intérprete paraibano, Geraldo Vandré.

A canção caiu na boca do povo ao ser interpretada pelo próprio Vandré no Festival Internacional da canção de 1968. Logo que acabou o Festival, onde a música ficou em segundo lugar, a censura da ditadura militar já a proibiu de ser cantada.

Através da canção, Vandré falou e cantou o que todos estavam querendo dizer, mas não tinham coragem. A música ficou proibida de 1968 até 1979, período que Vandré foi exilado.

"Pra não dizer que não falei das flores" é um hino de um homem que brigou para ser a voz de todos os brasileiros indignados de 1968. 

Nos festivais internacionais seguintes, realizados até 1972, as primeiras colocações também ficaram para as músicas brasileiras, como acontecia desde 1966, quando da realização do primeiro da série. Com exceção deste, os demais festivais internacionais da canção foram produzidos pela TV Globo, que anos mais tarde reviveria, com o Festival Abertura, realizado em 1974, e, depois, com os festivais da canção dos anos oitenta, aquele clima inesquecível, que marcou uma época gloriosa da história da música popular brasileira.

CURIOSIDADES

*Minissérie de Gilberto Braga que retratou um período da ditadura militar no Brasil (1964 à 1979). E, em 1965, numa época de efervescência política e cultural, surge Elis Regina no I Festival de Música Popular Brasileira. A minisérie traz a interpretação de Elis Regina para 'Arrastão' (Vinícius de Moraes e Edu Lobo).

            *Sergio Ricardo se revolta contra as vaias da platéia e quebra o violão

Na final do Festival da Record em 1967, Sérgio Ricardo foi vaiado,de maneira inclemente pela platéia ao fazer sua apresentação da música "Beto Bom de Bola", ao ponto de, no final da música, bradar, quebrar o violão no palco e arremessá-lo ao público. O livro "Quem quebrou meu violão", de Sérgio Ricardo (Record, 1991), narra, em primeira pessoa, o episódio.  O livro é interessante, tem um viés ideológico muito forte acerca da música e da cultura popular brasileira...



O documentário musical, de Renato Terra e Ricardo Calil, resgata a história do III Festival de Música Popular Brasileira da TV Record que mudou os rumos da MPB e teve como finalistas Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil, entre outros.



Os diretores Renato Terra e Ricardo Calil falam sobre a idéia inicial de falar sobre os festivais da música dos anos 60, o uso das imagens de arquivo da TV Record, o tom humorístico dado pelos repórteres da época, a importância do consultor Zuza Homem de Mello e a qualidade da cena musical atual. Saiba mais sobre o documentário "Uma Noite em 67".

Tendo o festival ocorrido em plena ditadura militar, o pano de fundo está no duelo ideológico entre a "verdadeira" música brasileira, e a música dita "jovem". Roberto Carlos, Caetano Veloso, Chico Buarque de Holanda, Gilberto Gil, Edu Lobo, Nara Leão, Nana Caymmi, Jair Rodrigues, MPB-4 e Elis Regina (uma omissão do documentário, que sequer fez referência à música "o Cantador", que ela defendeu e ganhou como melhor intérprete), todos eles estavam ali defendendo canções belíssimas, cada uma com sua história.

O documentário traz também cenas da passeata contra a guitarra elétrica que tomou a av. Brigadeiro Luís Antonio, em junho de 67. A marcha foi liderada por Elis Regina, Edu Lobo, Geraldo Vandré, os músicos do MPB-4 e outros representantes da MPB "tradicional".



Em material extra do filme Uma Noite em 67, o compositor Sérgio Ricardo volta a cantar "Beto Bom de Bola", 43 anos após ser interrompido no III Festival da Record (em 1967).

FONTE

luizamerico

Wikipédia

tropicaline

musicaemprosa

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