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quinta-feira, 3 de março de 2011

Jacob do Bandolim


Maior referência brasileira no instrumento que virou parte de seu nome, Jacob alçou o bandolim a um lugar de honra na música brasileira. Esse trabalho vinha sendo desenvolvido antes por outros instrumentistas, como Luperce Miranda, mas foi Jacob quem colocou definitivamente o bandolim como instrumento solista por excelência.

Bole Bole (Jacob do Bandolim)


Jacob Pick Bittencourt, mais conhecido como Jacob do Bandolim (Rio de Janeiro, 14 de fevereiro de 1918 — Rio de Janeiro, 13 de agosto de 1969) foi um músico, compositor e bandolinista brasileiro de choro.

O bandolim entrou na vida de Jacob Pick Bittencourt quando tinha apenas 12 anos. Nascido no Rio, no dia 14 de fevereiro de 1918, morador da rua Joaquim Silva, na Lapa, Jacob tinha um vizinho que tocava violino. Logo, sua mãe, a polonesa Raquel Pick, casada com o capixaba Francisco Gomes Bittencourt, comprou um instrumento para o menino.

Segundo conta o músico Sérgio Prata, o garoto não se adaptou ao arco do violino, utilizando grampos de cabelo para tocá-lo. Ao ver a situação, uma amiga da família afirmou: "o que esse menino quer é tocar bandolim". Era o primeiro passo para o surgimento do músico e compositor Jacob do Bandolim.

Nascido no Rio de Janeiro, ganhou o primeiro bandolim, de modelo napolitano (ou "de cuia") na adolescência. Apesar de se apresentar tocando em conjuntos instrumentais desde cedo, nunca se profissionalizou totalmente, tendo sempre outros empregos não relacionados à música.

Foi vendedor, prático de farmácia, corretor de seguros, comerciante e escrivão de polícia, cargo que ocupou até morrer. Por não depender financeiramente da música, Jacob pôde tocar e compor com mais liberdade, sem sofrer pressões de gravadoras ou editoras.

Os trabalhos no rádio não rendiam dinheiro para sustentar a família e ele se tornou escrevente da Justiça do Rio de Janeiro, depois de passar em concurso.

De sua autoria, ao longo de 35 anos de carreira, foram cerca de 100 músicas, a maior parte delas choros, gênero ao qual se dedicou. A primeira apresentação pública, o choro "Aguenta Calunga", de Atílio Grany, ocorreu em 1933, com o grupo Sereno, formado por amigos, na Rádio Guanabara. Mas foi somente no ano seguinte que suas atuações como músico se tornaram mais frequentes.

Em 1934, se apresentou no programa Horas Luzo-Brasileiras, da Rádio Educadora, tocando ao lado de cantores de fado portugueses.. Nesse mesmo ano, ganhou um concurso do Programa dos Novos, na Rádio Guanabara, com o choro "Segura Ele", de Pixinguinha, vencendo outros 28 concorrentes com nota máxima.

O prêmio lhe rendeu um contrato com a mesma rádio, onde acompanhava com seu grupo "Jacob e Sua Gente" cantores como Noel Rosa, Ataulfo Alves e Lamartine Babo. Na Rádio Mauá ganhou seu primeiro programa.

Sua primeira gravação data de 1941, quando acompanhou o cantor Ataulfo Alves nos sambas "Leva Meu Samba", de autoria do próprio Ataulfo, e "Amélia", parceria do cantor com Mário Lago. Em 1942 gravou "Marina", de Dorival Caymmi, acompanhando Nelson Gonçalves.

Figura rígida e disciplinada, tanto na personalidade quanto na música, pesquisou e resgatou parte do repertório tradicional do choro, repertório este que passou a incluir várias de suas composições, como "Noites Cariocas", "Receita de Samba", "A Ginga do Mané", "Doce de Coco", "Assanhado", "Treme-treme", "Vibrações" e "O Vôo da Mosca".



Depois de montar o grupo Jacob e Sua Gente, integrar o Conjunto da Rádio Ipanema e o regional de César Faria e participar de gravações históricas como a de Ataulfo Alves para "Ai, que Saudade da Amélia" (Ataulfo/ Mário Lago) e a de Nelson Gonçalves para "Marina" (Dorival Caymmi), gravou em 1947 o primeiro disco solo, seguido por outros dois nos anos seguintes, pela Continental.

♫εïз♫Coloquei aqui "Ai que saudade da Amélia!", na interpretação de Dona Jandira porque acho espetacular!!♫εïз♫  =)

Dona Jandira - "Ai que saudade da Amélia!"


Gravou o primeiro disco em 1947, no qual tocou "Treme-Treme", choro de sua autoria, e a valsa "Glória", de Bonfíglio de Oliveira, acompanhado pelo grupo César e Seu Conjunto.

Nos anos seguintes, gravou outros discos, incluindo músicas de sua autoria, como "Salões Imperiais", "Remelexo", "Feia", "Cabuloso", "Pé de Moleque", "Doce de Coco", "Vascaíno", "Nosso Romance" e "Reminiscências".

Na década de 50 transferiu-se para a Victor, onde gravou seus LPs. Montou o conjunto Época de Ouro em 1966, com grandes nomes do choro, como Dino 7 Cordas, César Faria, Jonas, Carlinhos, Gilberto e Jorginho.





Alcançando expressiva popularidade, Jacob e o Época de Ouro ajudaram a divulgar o choro tradicional, por meio de shows e LPs, como o consagrado "Vibrações" (1967). São de sua autoria clássicos do choro como Noites Cariocas e Doce de Coco.



No início da década de 50, fez uma homenagem a Ernesto Nazareth e gravou quatro discos interpretando as obras do músico.

Em 1953, gravou "Brotinho", baião de autoria do filho Sérgio. A execução da suíte "Retratos", escrita pelo maestro Radamés Gnatalli, foi mais um desafio para carreira de Jacob.


Nessa suíte para bandolim, orquestra e conjunto regional, Gnatalli homenageou Chiquinha Gonzaga, com "Corta-Jaca", Pixinguinha ("Carinhoso"), Ernesto Nazareth ("Expansiva") e Anacleto de Medeiros ("Três Estrelinhas"). Jacob se dedicou e estudou profundamente o trabalho do maestro, o que aprimorou cada vez mais sua formação musical, já caracterizada pelo perfeccionismo.

"Retratos" foi gravada por ele em 1964. Um ano antes de morrer, Jacob do Bandolim marcou o fim de sua carreira com um show apresentado no Teatro João Caetano, no Rio, ao lado de Elizeth Cardoso e Zimbo Trio. O show foi gravado ao vivo e resultou em dois LPs lançado pelo Museu da Imagem e do Som (MIS).



Em depoimento escrito para o jornal Última Hora, quando do aniversário de 60 anos do músico, o jornalista e compositor Sérgio Bittencourt, filho de Jacob, finalizou o texto com o seguinte depoimento: "Tenho certeza e assumo: não sou nada, porque, de fato, não preciso ser. Me basta ter a certeza inabalável de que nasci do amor, da loucura, da irrealidade e da lucidez de um gênio".

Foi na Rádio Nacional, a partir de 1955, onde Jacob ficou famoso e passou mais tempo, até falecer, em 1969, vítima de um infarto. Na época, apresentava o programa Jacob do Bandolim e Seus Discos de Ouro.

Morava em uma casa com jardim e avarandada em Jacarepaguá (Rio de Janeiro) rodeado pelas rodas de choro e de grandes amigos chorões. Apesar de não ser um entusiasta do carnaval, gostava do frevo.

Estudou no Colégio Anglo-Americano e serviu no CPOR; trabalhou no arquivo do Ministério da Guerra, quando já tocava bandolim. Por fim, Jacob fez carreira como serventuário da justiça no Rio de janeiro, chegando a escrivão de uma das varas criminais da capital.

Seus ídolos foram Almirante (compositor), Orestes Barbosa, Noel Rosa, Nonô (pianista, tio de Ciro Monteiro e parente do cantor Cauby Peixoto), Bonfiglio de Oliveira, Pixinguinha, Ernesto Nazareth, Sinhô, Paulo Tapajós, João Pernambuco, Capiba e Luiz Vieira.


Em 1968 foi realizado um espetáculo no Teatro João Caetano (Rio de Janeiro) em benefício do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro (MIS). Com Jacob do Bandolim, A divina Elizeth Cardoso, Zimbo Trio e o Época de Ouro. A apresentação de Jacob tocando a música Chega de Saudade (Tom Jobim/Vinicius de Moraes), foi antológica.

Foi lançado álbum com dois longplays (LP) da gravação original do espetáculo, em edição limitada. Foi "guru" de Sérgio Cabral (pai do governador do Estado do Rio de Janeiro,Sérgio Cabral Filho), Hermínio Bello de Carvalho, Ricardo Cravo Albin.

Em agosto/1969, Jacob passou à tarde, no bairro de Ramos, com o seu amigo compositor e maestro Pixinguinha, chegando na varanda da sua casa cansado e esbaforido, caiu nos braços de sua esposa Adília, já sem vida.

Uma das últimas apresentações de Jacob, um show com Elizeth Cardoso e o Zimbo Trio em 1968, foi gravado e lançado em LP duplo, mas não foi relançado em CD no Brasil. Outras antologias foram produzidas exclusivamente para o mercado externo, onde a arte de Jacob é muito apreciada. Seu filho, o compositor Sérgio Bittencourt, homenageou-o no samba "Naquela Mesa" ("tá faltando ele/ e a saudade dele/ tá doendo em mim"), sucesso de Elizeth Cardoso, cantora que ele descobriu.

Jacob, casado desde 1940 com Adylia Freitas, teve dois filhos: o jornalista e compositor Sérgio Bittencourt e a dentista Elena.  Sérgio Bittencourt, já falecido era jornalista polêmico (O Globo, Última Hora) e compositor. A sua filha Elena Bittencourt preside o Instituto Jacob do Bandolim.

Em 1997 a professora Ermelinda Paz lançou o livro "Jacob do Bandolim", pela editora Funarte. Jacob dedicou a maior parte de sua carreira a fazer um resgate da música brasileira, utilizando o rádio com principal canal de divulgação. O samba e o choro eram seus preferidos. Mesmo com a ascensão da bossa nova e a repressão do Regime Militar, a partir do fim dos anos 50, permaneceu focado no resgate dos estilos musicais que viveram sua época de ouro até o fim da década de 40. Já naquela época, criticava em seus programas a importância que as gravadoras davam aos artistas apenas depois de mortos, lançando coletâneas.

CURIOSIDADES

Coincidência musical

Conforme biografia escrita pelo músico Sérgio Prata no site do Insituto Jacob do Bandolim, o compositor ouviu o primeiro choro quando tinha 13 anos, era "É do que Há", composição de Luiz Americano. Anos depois, Jacob recebeu um cartão de um senhor que se interessou pela forma como tocava o bandolim, o convidando para se apresentar na Rádio Phillips. O tal cartão era do próprio Luiz Americano.

Experiência na TV

Em 1955, foi convidado para promover dois shows para um especial da TV Record, em São Paulo. O programa ao vivo se chamou "Noite dos Choristas". Jacob convidou nomes importantes do choro e reuniu 70 músicos, comandados por Pixinguinha. A apresentação foi um sucesso, resultando numa segunda "Noite dos Choristas", em 1956, que reuniu 133 músicos.

Saraus concorridos

Jacob do Bandolim também era conhecido no meio artístico por promover saraus em sua casa, na rua Comandante Rubens Silva, 52, no bairro de Jacarepaguá. Reunia personalidades da música, da política e da imprensa, a exemplo de Ataulfo Alves, Paulinho da Viola, Hermínio Bello de Carvalho, Dorival Caymmi, Canhoto da Paraíba e Elizeth Cardoso. Também recebeu nesses saraus músicos estrangeiros, como o pianista russo Sergei Dorenski e o violinista uruguaio Oscar Cárceres.

Resgate musical

Seu arquivo pessoal é composto por milhares de peças, entre discos, partituras, fotos, filmes, microfilmes de partituras e matérias jornalísticas, que preservam a história da música popular brasileira. Em 1974, o Museu da Imagem e do Som (MIS) incorporou o arquivo de Jacob ao seu acervo.

Problemas de saúde

O compositor teve dois infartos antes do terceiro e último, no dia 13 de agosto de 1969. Morreu nos braços da esposa Adylia, logo depois de ter chegado de uma visita que fez a Pixinguinha, para acertar a gravação de um disco. A saúde debilitada dos últimos anos era consequência dos seis maços de cigarro que chegava a fumar por dia.
Jamais - Elizeth Cardoso (Tributo a Jacob do Bandolim)



JACOB DO BANDOLIM - Hoje é Dia de Choro

(Programa hoje é dia de choro, TV Manchete, ano 1994 - Frevos de Jacob do Bandolim (pout-pourri): rua da Imperatriz / toca pro pau / sapeca - Conjunto: Época de Ouro -Músicos: Dino 7 Cordas, César Faria (violão), Toni 7 Cordas, Jorge Filho (cavaquinho), Ronaldo do Bandolim e Jorginho do Pandeiro.)

FONTE




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