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quinta-feira, 3 de março de 2011

João Pernambuco


João Pernambuco foi mestre das cordas, ficou conhecido como Poeta do Violão. Compôs mais de cem músicas,  entre valsas, jongos, maxixes, emboladas,  toadas, cocos, prelúdios e choros.

João Teixeira Guimarães ou João Pernambuco (Jatobá (atual Petrolândia), 2 de novembro de 1883 — Rio de Janeiro, 16 de outubro de 1947) foi um músico compositor e violonista brasileiro.

Filho de índia caeté e de português, com o falecimento do pai em 1891 a mãe casou-se novamente, transferindo-se com a família para o Recife. Começou a tocar viola na infância, por influência dos cantadores e violeiros locais.



João Pernambuco aprendeu a tocar violão com cantadores sertanejos como Bem-te-vi, Mandapolão, Manuel Cabeceira, o cego Sinfrônio, Fabião das Queimadas e Cirino Guajurema.

Em 1902 mudou-se para o Rio de Janeiro, passando a residir com sua irmã e empregando-se numa fundição. Seis anos depois passou a trabalhar como servente na prefeitura do Rio, mudando-se para uma pensão no centro da cidade.

No Rio travou contato com violonistas populares, ao mesmo tempo em que trabalhava como ferreiro, em jornadas de até dezesseis horas diárias. Para os seus amigos e admiradores, em número sempre crescente, contava e cantava coisas de sua terra, daí o apelido de João Pernambuco.

Já em 1908 era considerado um dos bambas do Choro, ao lado de nomes como Quincas Laranjeiras, Ernani Figueiredo, Zé Cavaquinho e Satyro Bilhar.



Compunha músicas de inspiração nordestina, baseadas em cantigas folclóricas. É o caso do hino Luar do Sertão, composto em 1911, seu maior sucesso, não creditado pelo parceiro letrista Catulo da Paixão Cearense, que ficou como o único autor.

Já autor de algumas canções e toadas sertanejas, e conhecedor de inúmeras outras do folclore nordestino, João Pernambuco conheceu Catulo da Paixão Cearense, com quem começou a compor cantigas baseadas nesse folclore, como o coco Engenho de Humaitá, de 1911, que se transformaria na famosa toada Luar do sertão, dois anos depois, e a toada Caboca de Caxangá, de 1913, sucesso no Carnaval do ano seguinte.

Inspirado numa toada que João lhe mostrara e que teria melodia do violonista, composta sobre versos populares, Catulo escreveu extensa letra para a toada Caboca de Caxangá impregnada de nomes de árvores (taquara, oiticica, imbiruçu...), animais (urutau, coivara, jaçanã...), localidades (Jatobá, Cariri, Caxangá, Jaboatão...) e gírias do sertão nordestino, daí nascendo em 1913 a embolada Caboca de Caxangá, classificada no disco como batuque sertanejo. E nasceu para o sucesso, que se estenderia ao carnaval de 1914, para desgosto de Catulo, que achava depreciativo o uso da composição pelos foliões.

Pixinguinha certificou em sua entrevista no Museu da Imagem e do Som que ele ouviu João Pernambuco tocá-la antes de Catulo colocar a letra. João e Catulo apresentavam-se juntos em reuniões da classe alta carioca.

A toada "Luar do Sertão" é um dos maiores sucessos de nossa música popular em todos os tempos. Fácil de cantar, está na memória de cada brasileiro, até dos que não se interessam por música. Como a maioria das canções que fazem apologia da vida campestre, encanta principalmente pela ingenuidade dos versos e simplicidade da melodia. Embora tenha defendido com veemência pela vida afora sua condição de autor único de "Luar do Sertão", Catulo da Paixão Cearense deve ser apenas o autor da letra.

A melodia seria de João Pernambuco ou, mais provavelmente, de um anônimo, tratando-se assim de um tema folclórico - o côco "É do Maitá" ou "Meu Engenho é do Humaitá" -, recolhido e modificado pelo violonista. Este côco integrava seu repertório e teria sido por ele transmitido a Catulo, como tantos outros temas. Pelo menos, isso é o que se deduz dos depoimentos de personalidades como Heitor Villa-Lobos, Mozart de Araújo, Sílvio Salema e Benjamin de Oliveira, publicados por Almirante no livro No tempo de Noel Rosa.

Há ainda a favor da versão do aproveitamento de tema popular, uma declaração do próprio Catulo (em entrevista a Joel Silveira) que diz: "Compus o Luar do Sertão ouvindo uma melodia antiga (...) cujo estribilho era assim: 'É do Maitá! É do Maitá"'. A propósito, conta o historiador Ary Vasconcelos (em Panorama da música popular brasileira na belle époque) que teve a oportunidade de ouvir "Luperce Miranda tocar ao bandolim duas versões do 'É do Maitá': a original e 'outra modificada por João Pernambuco', esta realmente muito parecida com Luar do sertão".

Homem humilde, quase analfabeto, sem muita noção do que representavam os direitos de uma música célebre, João Pernambuco teve dois defensores ilustres - Heitor Villa-Lobos e Henrique Foreis Domingues, o Almirante - que, se não conseguiram o reconhecimento judicial de sua condição de autor de Luar do Sertão, pelo menos deram credibilidade à reivindicação. Ainda do mesmo Almirante foi a iniciativa de tornar o Luar do Sertão prefixo musical da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, a partir de 1939.

Luar do Sertão (toada, 1914)
João Pernambuco e Catulo da Paixão Cearense

Não há, ó gente, oh não
Luar como este do sertão (bis)
Oh que saudade do luar da minha tema
Lá na serra branquejando
Folhas secas pelo chão
Esse luar cá da cidade tão escuro
Não tem aquela saudade
Do luar lá do sertão

A gente fria desta terra sem poesia
Não se importa com esta lua
Nem faz caso do luar
Enquanto a onça, lá na verde capoeira
Leva uma hora inteira,
Vendo a lua a meditar
(refrão)

Ai, quem me dera que eu morresse lá na serra
Abraçado à minha terra e dormindo de uma vez
Ser enterrado numa grota pequenina
Onde à tarde a surunina chora sua viuvez
(refrão)

Paralelamente ao Choro, desenvolvia seu trabalho nas canções regionais através de composições suas e de violeiros e cantadores nordestinos. João Pernambuco também cantava e cantava bem. Nas cordas, além do violão, que manejava com maestria e no qual desenvolveu uma técnica peculiar, era hábil na viola. Compôs mais de cem músicas entre choros, valsas, jongos, maxixes, emboladas, toadas, cocos, prelúdios e estudos.

Em 1916 montou a Troupe Sertaneja, com que se apresentou em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre.


Participou dos Turunas Pernambucanos e dos Oito Batutas, entre 1919 e 1922, ao lado de Pixinguinha, que mais tarde alcançaria fama ao excursionar pela Europa.

Amigos desde 1912, Donga, Pixinguinha (este com quatorze anos) e João moravam numa república na rua do Riachuelo 268. Era de lá que saia nos carnavais o Grupo Caxangá e foi também nesta época que produziram Sabia, Os Três Companheiros e Estou Voltando. Estiveram juntos de 1914 até 1919 no Caxangá e de 1919 até 1922 nos Oito Batutas, que nesta fase era um conjunto predominantemente sertanejo.

De 1928 até 1935 João Pernambuco morou no casarão da Av. Mem de Sá, 81, onde funcionava uma república que abrigava, em sua maioria, músicos e jogadores de futebol. Lá João organizava animadas e concorridas rodas de choro que contavam com a participação de Donga, Pixinguinha, Patrício Teixeira, Rogério Guimarães e, ocasionalmente, Villa-Lobos. Foi também neste lugar que João conheceu, por intermédio de seu amigo Levino, um então jovem e promissor violonista chamado Dilermando Reis.

Graúna (João Pernambuco)

A santíssima trindade dos precursores do violão brasileiro é constituída por Quincas Laranjeiras, João Pernambuco e Levino Albano da Conceição e a obra violonística de João era de tal densidade e profundidade que a ela assim Villa-Lobos se manifestou:

"…Bach não se envergonharia em assinar os estudos de João Pernambuco como sendo seus…".

O renomado musicólogo Mozart de Araújo não fez por menos:

"João Pernambuco está para o violão assim como Ernesto Nazareth está para o Piano".

O exímio violonista Maurício Carrilho certa vez escreveu o seguinte sobre João Pernambuco e sua música:

"Dificilmente se encontra um violonista brasileiro, seja ele músico erudito ou popular, que não tenha em seu repertório alguma música do João."

Junto com a música de Heitor Villa-Lobos, a obra de João Pernambuco tornou-se "a mais legítima expressão do jeito brasileiro de tocar o violão", acrescentou Maurício.

Compôs diversas peças instrumentais para violão, entre as quais se destaca: "Sons de Carrilhões". Sua obra é referência para violonistas que a regravam constantemente.

Sons de Carrilhões (João Pernambuco) , por Raíssa Amaral

FONTE

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