Páginas

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Charles Gavin


Charles de Souza Gavin (São Paulo, 9 de julho de 1960) é um músico brasileiro, conhecido por ter participado de bandas como Ira!, entre 1982 e 1984, RPM, durante 1984, e principalmente, pelos Titãs, de 1985 até 2010.

Ainda durante a infância, em 1968, Charles descobriu sua paixão pela percussão quando seus colegas de primário da Escola Helena Lemmi, no Bosque da Saúde, zona sul da capital paulista, resolveram participar do desfile em comemoração à Independência do Brasil. Porém, havia apenas um instrumento musical disponível, um surdo de marcação. Sem recursos, os professores incrementaram a banda com instrumentos feitos a partir de utensílios de cozinha.

Charles, conhecido por batucar nas carteiras da sala de aula, foi escolhido para assumir o surdo, por ser o único que marcava o tempo com precisão, enquanto os outros apenas batucavam as tampas de panelas, colheres e raladores de queijo tocados com garfo. A banda, comandada por Charles, faturou o prêmio de originalidade do desfile.

Aos 15 anos, morando no bairro do Jabaquara, Charles se reuniu com alguns vizinhos e promoveram batucadas informais semanas antes do carnaval. Porém, ele começou a ouvir, na época, bandas como Led Zeppelin, Black Sabbath e Emerson, Lake & Palmer.

Decidido a ser baterista, aproveitou frisos metálicos das laterais do Chevrolet Opala do pai, recém-trocados, e os transformou em baquetas. O sofá e as poltronas revestidas de corvim tornaram-se caixa, tons e surdos, e dois cinzeros de metal serviram de pratos. Estava pronto o primeiro protótipo de bateria de Charles, utilizado enquanto os pais se ausentavam.

Em 1979, aos 19 anos, ele convenceu o pai a comprar sua primeira bateria real, com a condição de manter os estudos. Em 1982, Charles entrou na faculdade de Administração na PUC, enquanto paralelamente operava computadores na fábrica da Panasonic.

Nas poucas horas de folga, tocava compulsivamente. Desde sua estréia, na banda Zero Hora, passou pelas bandas Santa Gang, Zona Franca e Jetsons, esta última ao lado de Branco Mello e Ciro Pessoa, com quem viria a tocar nos Titãs, a partir de 1985. Também com Ciro, integrou o Cabine C, porém, foi como integrante do Ira! que passou a fazer mais shows no circuito alternativo paulistano, chamando a atenção dos Titãs.

Em dezembro de 1984, quando deixou o Ira! e integrou o RPM (banda liderada por Paulo Ricardo, que ensaiava à exaustão para as gravações de seu primeiro disco, Revoluções Por Minuto, a ser lançado no ano seguinte), Charles foi chamado para participar dos Titãs, no lugar de André Jung, que coincidentemente acabaria ocupando seu lugar ainda vago no Ira!.

Charles largou a tripla jornada e resolveu se dedicar exclusivamente à música. Sua estréia no grupo aconteceu em janeiro de 85. Logo depois, entrou em estúdio para gravar o segundo disco da banda, Televisão, o primeiro com sua participação.

Após vinte e cinco anos, deixou a banda em fevereiro de 2010, por motivos pessoais.


Colecionador compulsivo de discos raros em vinil, o baterista transformou seu hobby numa atividade paralela aos Titãs: nos últimos anos, Charles tem cuidado do relançamento de discos fora de catálogo, de artistas como Tom Zé, Lady Zu e Novos Baianos, além de organizar coletâneas para algumas gravadoras, como a Warner Music (da qual os Titãs fizeram parte).


Desde o fim dos anos 80, também produz discos. Sua estréia foi com o álbum "Vítimas do Sistema", da banda brasiliense Detrito Federal em 1988. No selo Banguela, criado pelos Titãs junto com o produtor Carlos Eduardo Miranda em 1994, produziu o álbum do grupo pernambucano Mundo Livre S/A, lançado em 1995. Também apresenta desde 2007 o programa O Som do Vinil no Canal Brasil.

Lançou em 2008, em colaboração com Tárik de Souza, Carlos Calado e Artur Dapieve o livro 300 Discos Importantes da Música Brasileira, edição de luxo que registra os melhores e mais marcantes lançamentos da música brasilera de 1929 até 2007.

Charles é casado com a bailarina Mariana Roquette-Pinto, com quem tem duas filhas: Dora (n.2003) e Sofia (n.2005).


Especialista em Restauração de Discos Antigos, Baterista dos Titãs Lança Caixa Todo Caetano, Com Toda a Obra do Compositor

A versatilidade dos integrantes dos Titãs é conhecida por todos. Além de grandes músicos, eles lançam livros, atuam no cinema e têm sólidas carreiras solo. Portanto, Charles Gavin tratou de não ser apenas o preciso baterista do grupo.

Desde meados da década de 80 interessado no áudio profissional, por ser colecionador de discos de vinil e amante da MPB, ele resolveu misturar as vontades. E após alguns anos reeditando, de forma bem sucedida, obras clássicas da nossa música para o formato digital, Charles executou o que chama de "Projeto da minha Vida".


O músico, juntamente com a gravadora Universal, está lançando Todo Caetano, caixa que contém 40 discos do músico e inclui um registro inédito do compositor com a Banda Black Rio, além de um DVD-Audio, com os seus maiores sucessos mixados em 5.1. Diretor do projeto, do qual organizou e coordenou a equipe com a supervisão do próprio Caetano, Charles Gavin bateu um ótimo papo com a M&T, onde contou um pouco sobre sua carreira como restaurador de discos antigos, explicou o processo de recuperação dos álbuns de Caetano Veloso, e ainda falou sobre os próximos passos dos Titãs.


Quando e como surgiu a ideia de desenvolver o projeto de restauração de LPs antigos e transformá-los em formato digital?

Há, aproximadamente, quatro anos. Comecei a perceber que estava comprando muitas edições em CD de discos antigos brasileiros, todos fabricados no Japão. Fiquei incomodado com isso. Sempre que queria achar discos dos anos 60 e 70 de bossa nova e samba, precisa-va importar. Eu tinha condições para comprá-los, mas e quem não tem grana, já que são caríssimos? Os catálogos de música brasileira mantidos pelas gravadoras são muito reduzi-dos, até por conta do momento econômico no qual vivemos. Portanto, é impossível manter todos os discos em catálogo. Mas é preciso haver um meio termo, é necessário fazer com que as pessoas conheçam o passado.

Percebi, então, que havia um espaço muito grande para esse assunto e me movimentei. Na época, os Titãs estavam na Warner e a primeira pessoa que procurei para conversar foi o Beto Boaventura, hoje presidente da EMI. Disse que gostaria de me envolver com a reedição desses discos. Ele abriu as portas dos acervos das gravadoras Warner e Continental. Achei coisas fantásticas e tive a ideia de lançar uma série de discos de bossa nova, que na época foi desacreditada, mas que agora será lançada.

Como estes discos chegavam ao mercado japonês?

A impressão que eu tenho é que eles se interessaram e começaram a arquivar música brasi-leira há cerca de 20 anos. Percebiam, já na época, que discos seriam raros e nós não dáva-mos a atenção devida. Os japoneses conhecem nossa música mais que a gente. E começa-ram a lançar esses discos lá. Ocorre da seguinte forma: eles pedem o licenciamento de alguns álbuns, que, na maioria das vezes, nunca foram lançados aqui. Então, recolhem o tape original e masterizam para CD. Não se trata de pirataria.

E quando vamos até uma boa loja de discos brasileira, grande parte dos CDs é importada do Japão. Se eu quero um disco do Tamba Trio, por exemplo, tenho que comprar um álbum de um grupo brasileiro, com músicas brasileiras, importado do Japão. Isso é meio louco.

Dos quais muitas vezes o vinil já nem existe mais... Exato. Esses discos em vinil já foram embora há anos. E quando aparecem, são uma fortu-na.


Você teve acesso aos discos estrangeiros remixados?

Sim, eu fui à Tower Records, uma grande rede americana de lojas de CDs, e vi diversas caixas. O que mais me encantou foi a reedição dos discos de The Who, banda que adoro. Li uma matéria na revista Mix falando sobre o processo utilizado pelos produtores para restau-rá-los. Demoraram dois anos para mixar nove discos. Achei que isso também poderia ser feito no Brasil. Temos bons estúdios a preços acessíveis.

Qual foi seu primeiro projeto?

Propus para a Universal a reedição dos dois primeiros discos dos Secos e Molhados. Remi-xei o primeiro, que havia sido gravado em quatro canais e o segundo, em oito canais. Lan-çamos em um só CD, que é campeão de vendas do catálogo da Universal. Há tempos já tinha passado de 50 mil cópias, o que é muito se tratando de um relançamento. Desde en-tão, não parei mais.

Como é sua atuação dentro do estúdio?

Eu me sinto muito bem dentro do estúdio. Tenho um home studio na minha casa, no Rio de Janeiro. Há também um lugar em São Paulo onde os Titãs ensaiam. Muito antes desta minha empreitada já gravava ensaios das minhas bandas. Quando entrei para os Titãs, onde me tornei de fato um músico profissional, minha prioridade era investir em tecnologia musical, entender como funcionava e tal. E algo importante foi o convívio com o produtor Liminha. Como me mostrava interessado pelo aspecto técnico, ele me ensinava muitas coisas, e os Titãs gravaram grandes discos produzidos por ele.


Como adquiriu seu primeiro sistema?

Passei o reveillon de 1990 na casa do Liminha, em Los Angeles. Fomos a uma loja e fui incentivado por ele a comprar um porta-estúdio Yamaha, com o formato cassete. Foi um bom começo para entender como esse universo funcionava. Gravei várias demos nele, como a pré-produção do disco Tudo Ao Mesmo Tempo Agora, de 1991. Na turnê do disco O Blésq Blom levei comigo, além do porta-estúdio, um processador de efeitos SPX 90 (Yamaha) e uns microfones. Gravei vários shows. Esse envolvimento aconteceu natural-mente.

Chegou a fazer algum curso?

Eu tinha conhecimento, mas não entendia muito bem o porquê de utilizar compressores, equalizadores e em meados dos anos 90 não existiam escolas no Brasil. Em 1995, por intermédio do produtor e amigo Paul Ralphes, fiz um curso de engenharia de áudio, em Londres, durante seis meses. Na Inglaterra a música eletrônica já era bem difundida, assim como a tecnologia digital, algo que ainda não existia no Brasil.

Você se considera, então, um técnico?

Não. Quero deixar isso bem claro. Tenho um estúdio em casa, mas não posso me considerar um técnico. Eu me viro bem sozinho e me envolvo tecnicamente.

Você montou uma equipe para realizar esses projetos de reedição dos discos?

Há pessoas da minha confiança atuando comigo. Já trabalhei com o Roberto Marques e o Zorro. Sempre masterizo, ou com Ricardo Garcia, ou com Carlos Freitas. Possuem estilos diferentes, o que é ótimo. Acabo adequando o projeto a um deles.


Recentemente, você participou do projeto Odeon 100 Anos.

Fui convidado pela EMI para realizá-lo. São 45 discos antigos, produzidos entre os anos 50 e 70. Durante a pesquisa, fomos obrigados a fazer cópias com o áudio retirado do vinil, já que muitas fitas sumiram. Apesar de a EMI cuidar muito bem dos seus tapes, o tempo é implacável. Em outros casos, parte da faixa estava estragada. Para esses utilizamos o recurso Frankenstein (risos), onde juntamos trechos do vinil somados à fita.

E quais equipamentos são utilizados para a recuperação sonora desses discos?

O sistema No Noise, da Sonic Solutions, dá ótimos resultados. Existe um equipamento desenvolvido na Inglaterra chamado Cedar, que é excelente. Possui três módulos: o Dehisser para tirar ruídos, o Declicker para retirar os cliques e o Decrackler, que elimina os dropouts.

Há também um processo de recuperação que envolve o uso de um forno?

Sim, há um forno especial para essa função. A Som Livre possui alguns. Vários discos que pesquisamos para a gravadora Warner não estavam em bom estado. Dependendo do tamanho da fita, é feito um cálculo e em seguida ela é colocada no forno. Normalmente, já sai tocando. Nós fazemos de tudo para utilizar a fita. Considero o vinil o último recurso. Ainda mais o brasileiro, que sempre foi de péssima qualidade.

E ainda tinha a questão do corte...

Era a masterização da época. Durante esse procedimento, muitas freqüências eram eliminadas, alterando totalmente o som. Quando comecei a ouvir as fitas, notei que as músicas estavam muito bem gravadas e mixadas. Porém, o problema ocorria na hora de gerar o vinil. Um disco que me chamou atenção quando fui masterizar foi o Frutificar, do grupo A Cor do Som. Ouvi muito esse álbum na minha adolescência. Quando escutei a master em 1/4" pensei: 'não era esse o som do vinil'. O LP era uma coisa sem peso, fraca. Esses cortes mal feitos contribuíram para um tipo de pensamento comum no Brasil, que é o de nunca comparar rock brasileiro com internacional, já que não havia a pressão no som. E realmente era diferente. Quando colocávamos um disco do Terço e outro do Bad Company isso ficava nítido. Hoje, com a tecnologia atual, estamos livres desses problemas.

Há cerca de um ano você coordena o lançamento da caixa Todo Caetano, com 40 dis-cos do compositor. Como surgiu a idéia?

Considero esse o projeto da minha vida. No início de 2000, eu estava numa loja nos EUA, onde encontrei várias reedições de discos de artistas como Lou Reed, Steely Dan e Buffalo Springfield. Na época, eu era responsável por remixar um disco inédito do Caetano, então a ficha caiu, e apareceu a idéia de fazer uma caixa. Iríamos lançar apenas um álbum, que encontrei enquanto pesquisava os arquivos da Warner. Era um show, gravado no teatro Carlos Gomes (RJ), em 1978, do Caetano Veloso tocando com a Banda Black Rio. Havia duas cópias: uma estragada e outra quase mono, mas em boas condições. Ouvi, achei muito bom e ofereci para a Warner, que não se interessou em lançar. Esse disco é um dos pontos altos da caixa.

Com a fita na mão, qual foi o próximo passo?

Encontrei o Caetano e a Paula Lavigne, sua esposa, numa festa. Contei a ela que havia encontrado o material e ela me pediu uma cópia. Fiz, enviei, e após quatro dias me ligou dizendo que o Caetano tinha adorado. Apesar de ele ser muito amigo dos Titãs, nunca fui íntimo do Caetano, sempre ouvia falar que ele gostava muito de alguns de seus discos antigos, mas não achava o som legal. Então, marcamos uma reunião, onde expliquei a idéia do projeto e mostrei trabalhos anteriores feitos por mim, dos quais ele gostou bastante. Deixei claro que tudo seria feito com a supervisão e aprovação dele. E assim foi feito.


O que dá um selo de qualidade ao produto...

Sim, mostra que não foi nenhum maluco que pegou a obra do cara e destruiu.

Como foi a montagem do projeto e da equipe?

A princípio, todos aprovaram. Mas até eu ter o orçamento na mão e o "ok" da gravadora demorou muito. Se eu não corresse, a caixa não sairia este ano. Bem, Caetano concordou e no ano passado comecei a idealizar tudo. No início de 2002, eu já estava com a equipe na cabeça, aliás, formada por pessoas excelentes. Isso faço questão de dizer. Contei com três dos melhores engenheiros do Brasil, que são o Antoine Midani, Eduardo Costa e Marcelo Sabóia. O DVD-Audio foi masterizado pelo Carlos Freitas e os CDs por Ricardo Garcia. Isso tudo no estúdio AR (RJ). Só consegui fazer esse projeto graças ao envolvimento e dedicação dessas pessoas.

Onde começaram as primeiras remixagens?

Com tudo aprovado, a Universal me perguntou o que eu achava de mixar no Mosh, em São Paulo. Tem uma sala para mixagem de DVD muito boa, com uma SSL Axiom MT, uma ótima console. Como eu estava ainda sem orçamento, o Oswaldo Malagutti, dono do Mosh, me ofereceu o estúdio durante o carnaval, já que ninguém iria gravar lá na época. Ele praticamente nos emprestou o local para testes. Fui para lá com Antoine Midani, acreditando que seria feito um disco por semana, mas o que era para ser uma durou três semanas. Fizemos apenas um disco, Bicho, de 1977, gravado em 16 canais. Mas a sala era muito cara e o trabalho demoraria muito tempo.


Qual foi sua impressão nessa primeira etapa?

Saímos de lá com esse piloto remixado e cientes dos problemas que seriam enfrentados. O principal deles é a idade da fita, que vai ficando abafada e perdendo as altas freqüências. Alguns instrumentos dependem dessas freqüências, como o violão, a caixa da bateria e a voz. Era difícil timbrá-los, já que havia muito ruído. No primeiro momento apanhamos feio, mas quando mostramos o resultado para a gravadora eles perceberam que era sério.

Quais foram as providências tomadas para a eliminação desses problemas?

Pegamos essa fita de 16 canais em 2" e transferimos para o Pro Tools TDM do Antoine, que tinha alguns plugins para eliminar esses ruídos. Funcionou, mas não era ainda o que queríamos. Então, fizemos um acordo com o estúdio AR, no Rio de Janeiro, que alugamos por meses. Mas antes de irmos para lá, eu e o Antoine nos preocupamos em não repetir os erros cometidos no Mosh. Descobrimos que a eliminação dos ruídos deveria ser feita antes da mixagem. Seria uma pré-produção.

Essa pré-produção começou no AR?

Não. Nós alugamos uma unidade do equipamento Cedar e viemos para o meu home studio. Foi um processo que demorou um mês e meio. Foi algo homeopático (risos). Alguns tapes não tocavam. Então, mandamos as fitas para os fornos da Som Livre e depois as transcrevemos para o Pro Tools. Trouxemos esses arquivos para a minha casa e o Antoine sentava no computador de manhã e ia até de madrugada editando.

Como foi esse processo?

Nós fomos eliminando os ruídos canal por canal e o Cedar é estéreo, ou seja, ele só limpa dois canais por vez. Seu processamento é feito em tempo real, por exemplo: se a música possui cinco minutos e 16 canais, imagina quanto tempo a gente levou pra passar o Cedar... Após seis álbuns limpos, nos mudamos para o AR.


Todos os discos foram remixados?

Escolhemos 13 dos 40 álbuns. Numa reunião com Caetano decidimos remixar até o disco Caetano, de 1987. Do Estrangeiro em diante apenas remasterizamos. Caetano gosta do som desses discos.

Foi realizada alguma manobra radical para a recuperação de determinadas faixas?

Fizemos várias manobras radicais. A eliminação dos ruídos, por exemplo, é praticamente um efeito noise gate, que deixa passar algumas freqüências, mais tarde equalizadas. O engraçado é que quando fomos ouvir os discos limpos, estranhamos muito por estarmos acostumados com a sujeira. Não queria que ficassem com som de tecnologia digital, iria descaracterizar a sonoridade da época. Se alguém fizer algo assim com os Beatles será fuzilado (risos). Eu insisto em dizer que os ruídos dessas gravações não fazem parte delas. É um defeito. Muitos discos tinham redução de canais com a bateria em dois canais, por exemplo. Então, como separar as peças? Essa foi uma questão que pairou sobre nossas cabeças. Algumas delas foram apenas masterizadas. Em outros casos nós conseguimos isolar os canais através do Pro Tools. O processo de edição da música Odara, por exemplo, foi doentio. Quando as pessoas ouvirem, vão perceber que valeu a pena. Na mixagem original praticamente não tinha bateria, nós a recuperamos.

"Os ruídos presentes em gravações antigas não fazem parte delas. É um defeito".


Durante a pesquisa, algumas fitas antigas não foram encontradas?

Sim, dos discos gravados em Londres encontramos Caetano Veloso e Transa. Araçá Azul, gravado no Brasil, também foi apenas remasterizado, pois não encontramos o tape. Discos gravados com outros artistas, como Doces Bárbaros, ao lado de Gilberto Gil, Gal Costa e Maria Bethânia, e outro ao vivo com a Bethânia, nós não remixamos porque esses músicos precisariam ser consultados, o que atrasaria o projeto. Mas estão na caixa remasterizados.

Foi produzido também um DVD-Audio?

É o grande ponto da caixa. Foi mixado por Marcelo Sabóia, estreando a sala de mixagem 5.1 do AR. Batizado pelo próprio Caetano de Muito Mais, trata-se de um best of com 20 faixas escolhidas uma parte pela Internet, outra por mim e pelo Caetano. É o primeiro DVD-Audio feito a partir de fitas antigas. A primeira faixa desse disco é Tropicália, que foi gravada em quatro canais. Por isso muita gente vai se perguntar como pôde ser mixada em 5.1. Nos canais estão voz, metais, orquestra e o resto (risos). Adotamos o mesmo procedimento de separação de instrumentos. A perspectiva do 5.1 faz com que seja praticamente impossível esconder alguma coisa mal tocada, mal gravada. Caetano adorou o resultado. Ele gravou Tropicália em 1967. Imagine sua reação ao ouvi-la em 5.1, restaurada. Quando mostramos, ele olhou para a gente e riu. Lembrou de tudo, desde o estúdio até dos músicos que participaram.


Alguma música não deu certo?

Eu gosto muito de tudo o que foi feito. Nós mixamos 13 discos. São 130 músicas aproximadamente. Para cada uma foram feitas no mínimo três mixagens. Cara, chegamos perto de 500 mixagens! Periodicamente, o Max Pierre, diretor artístico da Universal, pedia para ouvir e fazia observações. Muitas vezes eu sentia que poderíamos melhorar. Se tivesse dois anos, faria de outro jeito. Houve momentos em que a mixagem soava pior que a original. Quebramos as nossas cabeças. Mas no fim, valeu.

Você participou de outras etapas na produção da caixa?

Sou o coordenador do projeto. Não fiquei responsável somente pelo áudio, fui encarregado também das imagens. Pesquisei todos os discos originais com seus encartes. Percorri vários sebos. Achar a primeira edição do disco Transa foi muito difícil. Eram encartes com uma arte super diferente. Olhei os arquivos de fotos do jornal O Globo, do Estadão, para compor o book que acompanha a caixa. Enfim, é o projeto da minha vida. Tive muito trabalho, mas estou muito satisfeito.


Na caixa, há mais registros inéditos, além do disco com a Banda Black Rio?

Há um disco chamado Singles, que tinha saído apenas no Japão. São os compactos do Caetano reunidos em um só álbum, que inclui uma versão de Let it Bleed, dos Rolling Stones. Por uma questão de tempo algumas coisas ficaram de fora, mas vamos fazer um disco de raridades e sobras de estúdios.

Como foi a produção da caixa propriamente?

Houve uma preocupação enorme com a estética. Tivemos a idéia de restaurar também a arte. As capas dos CDs possuem formato idêntico às dos LPs, como se fossem miniaturas. Fomos fiéis aos originais. Além disso, coletamos um longo depoimento do Caetano falando sobre seus discos e incluímos no book que acompanha a caixa juntamente com fotos de diversas fases.


Os discos serão vendidos separadamente?

No princípio, não. Talvez na segunda metade de 2003. Mas não é nada certo.

O que esse projeto simbolizou para você?

Estou muito feliz. Ele me custou tempo e energia, mas estou extremamente agradecido pelo Caetano ter me deixado fazer isso com a obra dele.

Próximos projetos?

Tem um projeto chamado Arquivos Warner, com diversos discos de bossa nova que sairá agora. Tem coisas raríssimas como Quarteto Novo, uma das primeiras bandas de Hermeto Pascoal, e Bicho da Seda, uma banda do sul, da década de 70.

Você chegou a produzir algo dos Titãs?

Eu, juntamente com Branco Mello, produzi o áudio do DVD Acústico MTV. Nós remixamos para 5.1. Está indo em dezembro para as lojas. Há planos, ainda para este ano, do lançamento de outro DVD, contendo um show da turnê do disco Volume Dois.


Vocês pretendem reeditar os discos antigos?

Depende da Warner, gravadora que detém nosso catálogo. Gostamos muito de alguns discos, que gostaríamos de remixar, como o Tudo Ao Mesmo Tempo Agora, por exemplo. Algumas edições estão previstas para o ano que vem, masterizadas e com material extra, como demo tapes. São os discos Titãs, o primeiro, de 1984, e Jesus não Tem Dentes no País dos Banguelas, de 1987. Temos também um registro ao vivo do lançamento do disco Cabeça Dinossauro, em São Paulo. Mas não há nada certo.

E quais os planos do grupo?

Estamos entrando em estúdio no mês de março para registrar um disco de inéditas. Já esta-mos ensaiando, criando, produzindo arranjos. Tá na hora de criar. Além disso, meu estúdio está em fase de expansão. Pretendo fazer a pré-produção do disco novo dos Titãs aqui.

  • Estes são os discos contidos na caixa Todo Caetano:
Domingo - 1967
Caetano Veloso - 1968
Tropicália - 1969
Caetano Veloso - 1969
Barra 69 - Caetano e Gil ao vivo na Bahia - 1969
Caetano Veloso - 1971
Transa - 1972
Caetano e Chico Juntos e Ao Vivo - 1972
Araçá Azul - 1973
Temporada de verão - Caetano, Gal e Gil Ao vivo na Bahia - 1974
Jóia - 1975
Qualquer Coisa - 1975
Doces Bárbaros - Caetano, Gal, Gil e Bethânia - 1976
Bicho - 1977
Muitos Carnavais - 1977
Muito - 1978
Maria Bethânia e Caetano Veloso Ao Vivo - 1978
Cinema Transcendental - Caetano Veloso e a Outra Banda Terra - 1979
Outras Palavras - 1981
Brasil - João Gilberto, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethânia - 1981
Cores, Nomes - 1982
Uns - 1983
Velô - Caetano Veloso e a Banda Nova - 1984
Totalmente Demais - 1986
Caetano - 1987
Estrangeiro - 1989
Circuladô - 1991
Circuladô Vivo - 1992
Tropicália 2 - 1993
Fina Estampa - 1994
Fina Estampa Ao Vivo - 1994
Livro - 1997
Prenda Minha - 1999
Omaggio a Federico e Julietta - Ao Vivo - 1999
Noites do Norte - 2000
Noites do Norte - Ao Vivo - 2001
Eu Não Peço Desculpas - 2002
Muito Mais (DVD AUDIO) - 2002
Singles - 2002
Bicho Baile Show - Ao vivo com a Banda Black Rio - 2002


  • 45 Lançamentos da série ODEON 100 Anos, por Charles Gavin
Bola Sete - Burnier & Cartier - Carmen Miranda - Cartola / Odete Amaral / Clementina de Jesus / Nelson Cavaquinho / Carlos Cachaça - Conjunto Sambacana - Conjunto Sete de Ouros - Conjunto 3D - Di Melo - Doris Monteiro - Doris Monteiro & Miltinho - Dori Caymmi - Eduardo Araújo - Elza Soares - Eumir Deodato - Francis Hime - Geraldo Vespar - Germano Mathias - João Donato e Seu Conjunto - Leny Andrade - Lô Borges - Luiz Bonfá - Luiz Eça & Astor - Marcos Valle - Maria Bethania - Moreira da Silva - Nelson Angelo & Joyce - Nonato Buzar - Norma Bengell - Orlandivo - Os Cinco Crioulos - Pery Ribeiro & Bossa Três - Quarteto em CY - Quarteto Novo - Sexteto Radamés - Som Três - Tito Madi - Toninho Horta - Toni Tornado - Walter Wanderley - Wilson das Neves.



FONTE

WIKIPÉDIA

http://www.blogger.com/feeds/5419549249564730007/posts/default

Fans de Charles Gavin

Nenhum comentário:

Postar um comentário