O Violão: Ah! Estas cordas de aço!!!! Livro conta a história da chegada e consagração do violão em terras brasileiras, não sem antes enfrentar o preconceito de pianistas de nariz empinado. Violonista e pesquisadora Márcia Taborda narra no livro Violão e Identidade Nacional a história do instrumento desde o acompanhamento das modinhas do século XIX à técnica apurada dos chorões
(Cantora e violonista usa vihuela e guitarra española - a vihuela, com seis cordas duplas e muito popular no ambiente cortesão do século XVI, e a guitarra española, que tem apenas cinco cordas duplas e, moda nos séculos XVII e XVIII, é considerada irmã de nossa viola.)
O livro Violão e Identidade Nacional, da pesquisadora e violonista Marcia Taborda, historiciza o percurso de pelo menos dois séculos que fez da caixa acústica de madeira, à semelhança do corpo de uma mulher, trespassada por seis cordas que reverberam no seu bojo, o instrumento por excelência da música brasileira, desde o simples acompanhamento das modinhas e lundus do século XIX, à técnica apurada dos chorões das primeiras décadas do XX.
Professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro e violonista, a primeira a gravar, em 2005, no disco Os choros de Paulinho da Viola, os chorinhos instrumentais do magistral compositor, Marcia Taborda fala em entrevista sobre sua pesquisa de doutorado que agora vira livro. Diante da quase inexistência de estudos sobre a história do violão no País, Marcia teve que ir buscar em documentos e jornais os caminhos da constituição do instrumento como o timbre nacional.
O POVO - Qual o estado do tema quando você iniciou a pesquisa?
Marcia Taborda - Esse processo de documentação foi começado do zero. Na verdade, tinha pesquisado o violão 7 cordas no mestrado e me detive mais na parte musical desse processo, e pude perceber que o violão tem uma abrangência tão grande, não só na música brasileira, e a gente não sabia nada sobre a história desse instrumento. Foi sempre uma surpresa e esse é o gosto da pesquisa. Você vai pra sessão de periódicos da Biblioteca Nacional, passa tardes inteiras e não encontra nenhuma informação. O estudo dos relatos dos viajantes foi muito importante pra documentar a viola, que era o instrumento presente antes do violão. Eu pude, por exemplo, descobrir um erro incrível na literatura brasileira que diz respeito à tradução do (Jean-Baptiste) Debret. Isso a gente só descobre consultando as fontes originais. No caso do violão, através de anúncios de jornais, eu pude desvendar um mundo que diz respeito às pessoas que primeiro começaram a dar aulas no Rio de Janeiro daquela época; o mundo dos artesãos, que foram os que fizeram a passagem para as lojas de música, como algumas que ainda estão aqui como Bandolim de Ouro. Você faz uma ligação com o que a gente vive.
OP – Um dos capítulos mais conhecidos dessa história é a identificação do violão com a música popular e o preconceito dos mais ricos com o instrumento. Qual a razão desse fato?
Marcia - A minha percepção é de que o violão esteve presente em todas as classes sociais, mas aqui no Brasil ele teve uma adoção muito forte e rápida pelos pobres e também porque junto com isso ele foi imediatamente um suporte para o gênero das músicas populares. Se antigamente a gente tinha viola (instrumento que chegou primeiro no País, com cinco cordas duplas), o violão virou o instrumento da modinha, da cansioneta, do lundu, e logo depois, do maxixe, do choro e do samba. Como ele tinha uma presença muito grande nas classes populares e, em contrapartida, não tinha um repertório de concerto, acabou ajudando esse discurso que se fez sobre o violão, mas a visão de época não reconheceu isso. Demorou.
OP - Você cita no livro um trecho de artigo do Luís Nassif segundo o qual a tradição violonista latinoamericano seria a mais importante do violão contemporâneo. Você concorda com essa opinião?
Marcia - É difícil afirmar isso, porque o violão vive um momento muito forte de divulgação no mundo todo. Você tem uma nova leva de compositores fazendo música na Grécia, na Rússia, você tem os franceses. Não só a técnica do violão está com um nível muito alto, como existem instrumentistas muito jovens. Eu acho que Villa-Lobos é principalmente conhecido. Estive há pouco tempo em um congresso e é incrível como outros compositores como Radamés Gnatalli e Garoto não são tão conhecidos fora do Brasil. Agora no âmbito da interpretação nosso violão tem uma força muito grande. Há intérpretes aqui que são muito conhecidos, como Duo Assad, Fábio Zanon, Yamandu Costa, Turíbio Santos... O grande nome desse momento é Fábio Zanon, e o Duo Assad (Sérgio e Odair Assad), que já tem uma carreira no Exterior.
- SERVIÇO
Autora: Marcia Taborda
Editora: Civilização Brasileira (224 páginas)
Quanto: R$ 34,90
- Márcia Taborda
Violonista, cantora, pesquisadora, Márcia Taborda iniciou seus estudos de violão em 1981, sendo orientada por José Molina, na época professor de violão da loja A Guitarra de Prata. Realizou estudos de canto com as professoras Eliane Sampaio (Uni-Rio) e Carol Macdavit e fez especialização em repertório contemporâneo com Christine Schadeberg e Joan La Barbara em Nova York.
Em 1987, Márcia Taborda diplomou-se Bacharel em violão, na Universidade do Rio de Janeiro, Uni-Rio, onde estudou sob a orientação do violonista Turíbio Santos. Cursou o Mestrado da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde apresentou a dissertação "Dino Sete Cordas - Criatividade e Revolução nos acompanhamentos da MPB". orientada pelo violonista Turíbio Santos.
Iniciou sua carreira artística como participante da Orquestra de Violões do Rio de Janeiro, grupo que deu a Turíbio Santos o prêmio Golfinho de Ouro de 1984. Com a orquestra, apresentou-se nas mais importantes salas de concerto brasileiras, como a Sala Cecília Meireles, Teatro Municipal do Rio de Janeiro e Teatro Municipal de São Paulo.
Em 1986, casou-se com o compositor Tato Taborda com quem teve o filho Raul, nascido no ano seguinte.
Foi integrante do Quinteto Brasileiro de Violões, grupo criado por Turíbio Santos, responsável pela abertura do Free Jazz Festival/São Paulo, em 1987, uma homenagem ao compositor Heitor Villa-Lobos.
Como intérprete, vem retomando a tradição das violonistas-cantoras representada por Olga Praguer Coelho, unindo em suas apresentações o violão típico do choro às peças representativas do repertório de canções brasileiras.
Em 1990, ao lado de Jards Macalé, Tim Rescala , Tato Taborda , Oscar Bolão e Ronaldo Diamante, foi ganhadora do prêmio "Concorrência Fiat para as Artes", recebendo patrocínio para a montagem do show "Obcenas Cariocas", apresentado com sucesso no Rio de Janeiro e São Paulo.
Em 1993, ao lado de Tato Taborda e Jards Macalé, participou da série "Música de invenção", apresentada no Centro Cultural Banco do Brasil (RJ). Ainda nesse ano, integrou o elenco da ópera "Inori", de Jocy de Oliveira, encenada também no CCBB, trabalho posteriormente lançado em CD e em vídeo.
No ano seguinte, também ao lado de Jards Macalé e Tato Taborda, participou do espetáculo "Ôba", apresentado na série "Música brasileira descomposta", realizada pelo Podewill, sala de espetáculos em Berlim (Alemanha). Ainda em 1994, passou a atuar ao lado de Maria Pompeu e Nildo Parente no espetáculo "Retratos e Retalhos", realizando inúmeras apresentações no Rio de Janeiro. O grupo foi ainda convidado a se apresentar no Festival Internacional de Teatro realizado em Cincinnatti (Estados Unidos).
Dedica-se também à interpretação da música contemporânea, tendo realizado inúmeras primeiras audições em Bienais e Festivais de música realizados no Brasil e exterior, como o Montags Musik Brasilien, em Berlim e Pró-Música Nova promovido pela Radio Bremen. Nessa área, manteve parceria com a compositora Vania Dantas Leite, que resultou em trabalhos como "Orfeu na Floresta", "Sforzato-piano" e "Osanyin", alguns dos quais lançados em CD. Ainda com Vania Dantas Leite, participou dos vídeos " + & - " e "Y", realizados pela artista plástica Anna Maria Maiolino.
Foi a única brasileira premiada com The J. F. Kennedy Center (1997), aperfeiçoando seus estudos em Nova York. Nesse mesmo ano, apresentou-se no "The Kennedy Center - Millenium Stage", em Washington DC, com repertório exclusivo de canções e choros brasileiros. Ainda em 1997, apresentou-se no The First Argentina - Brazil Jazz Festival of New York, atuando ao lado da pianista e compositora Vania Dantas Leite.
Em 1998, também com um programa de choros e canções brasileiras, foi convidada a participar da série "Southamerican Guitar Tango", realizada na Weill Recital Hall - Carnegie Hall, em Nova York. Ainda nesse ano, passou a integrar o "Trio Rio", conjunto de câmara organizado por Eládio Perez González, contando com apresentações em vários estados brasileiros.
Em 1999 e 2000, atuou como pesquisadora do Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira, integrando a equipe responsável pela produção de verbetes que englobam as raízes da música brasileira até a década de 1950.
Em 2000, ao lado das atrizes Maria Pompeu, Scarlet Moon, Rosa Maria Murtinho e Maria Lúcia Dahl, apresentou repertório de canções mexicanas, na leitura de cartas da pintora Frida Kahlo, em curta temporada realizada no Paço Imperial (RJ). Também nesse ano, ingressou no Doutoramento do Programa em História Social da UFRJ, com o projeto de pesquisa "História Social do Violão no Rio de Janeiro", tendo por orientador o Prof. Dr. José Murilo de Carvalho.
Dedica-se ao estudo da Música Popular Brasileira, tendo lecionado as disciplinas de análise musical e violão na Uni-Rio, e História da Música Popular Brasileira no programa de Pós -Graduação em Jornalismo Cultural na UERJ.
Realizou workshops e seminários em diversas universidades no Brasil e no exterior, como a Universidade Estácio de Sá, Uni-Rio e Staatlich Hochschule fur Musik Karlsruhe, entre outras. Ministrou ainda o curso "História da música popular - uma edição de bolso" no Espaço Cultural Toca do Vinicius(RJ).
Lançou, em 2005, o CD "Choros de Paulinho da Viola". Nesse mesmo ano, fez show de lançamento do disco no Centro Cultural Carioca (RJ).
FONTE
O POVO ONLINE
DICIONÁRIO MPB
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