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domingo, 11 de dezembro de 2011

Analfabitles


Grupo do rock nacional em 1968, os Analfabitles eram a grande sensação nos bailes domingueiros da zona sul carioca. Faziam cover de bandas descoladas americanas e inglesas, fugindo da formula tradicional, nada de versões. Ficaram apenas nos compactos, tocando música em inglês e de outros…

Compacto 1968
01 – Sunnyside Up
02 – She’s My Girl


Compacto 1969
01 – Magic Carpet Ride
02 – The Sun Keeps Shining
03 – Shake
04 – It’s Been Too Long


Os Analfabitles contabilizavam três anos de existência em 1968. No início eram um quarteto e atendiam pelo nome de The New Kings. Uma fase curta, movida por uma aparelhagem incipiente e muita disposição. Logo, o pretensioso nome foi abolido, substituído pelo trocadilho com o qual a banda viria a se tornar uma legenda no Rio de Janeiro.


Mimetizando os grupos ingleses e norte-americanos, dos quais sugavam o repertório, os Analfabitles seguiam rota divergente do estilo predominantemente brega da jovem guarda. De fato, compartilhavam com outras bandas beat e de garagem, como The Outcasts, The Bubbles, The Trolls, The Divers e The Crows, entre outras, um nicho distinto e exclusivo, porém sem muita atenção das TVs e dos jornais e revistas, como recebiam os artistas daquela vertente.


No entanto, em 1968, já como um sexteto, a banda atravessava um momento efervescente. Seus bailes sempre concorridos mantinham o grupo em permanente circulação pelos clubes da Zona Sul, com esticadas a Tijuca, ao Grajaú e a Niterói, do outro lado da baía. Mas foi no Caiçaras, um clube de elite às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas - na verdade, situado numa ilha - que a coisa começou a esquentar.


Ali, suas domingueiras foram se tornando tão disputadas durante o segundo semestre do ano que os bailes tiveram que ser transferidos do salão para o ginásio do clube. Com a fama se espalhando rapidamente entre os jovens antenados da cidade, não foi preciso muito tempo para Danilo, Léo, Maran, Luiz Carlos, Fernando e Daniel desfrutarem da reputação de pertencerem da melhor banda da região, ao lado de The Bubbles.


Pois foi em meio a esse panorama que os Analfabitles tiveram a chance de gravar um compacto simples para a RCA Victor. Chance essa proporcionada pelo gaitista e violonista Rildo Hora que, naquele momento, iniciava-se como produtor musical da gravadora. Reunidos no estúdio da CBS, no Rio, o grupo registrou os dois temas para o compacto numa curta sessão de gravação. Ao final de uma tarde de trabalho, depois de gravadas as bases, seguidas dos vocais em overdub, Rildo Hora dava por encerrada a sessão.

A escolha dos Analfabitles recaiu sobre dois números absolutamente obscuros, conhecidos apenas pelos freqüentadores mais assíduos dos bailes da banda. Foram eles "Sunnyside Up" e "She's My Girl". O primeiro, de uma banda de garagem de Boston (EUA) de pouca expressão fora de sua região de origem, chamada Teddy and The Pandas. A segunda, dos Coastliners, outro grupo norte-americano cujo legado discográfico limita-se a alguns compactos.

De certa forma, uma escolha surpreendente, pois contrariava a tendência da maioria dos artistas (e de bandas de sua época) de copiar os sucessos mais óbvios ou refazer temas de artistas já consagrados internacionalmente, quando da gravação de covers. Com inteligência, os Analfabitles evitaram comparações com as gravações originais que, no caso, ninguém conhecia, e tornaram "seus" os temas gravados. Portanto, se sucesso fizessem, seriam conhecidos como uma assinatura exclusiva da banda e de ninguém mais.

"Sunnyside Up" é um número em mid-tempo, com destaque para o caprichado vocal do grupo, em arranjo diferente, melhor e de efeito superior ao registrado por Teddy and The Pandas. Outro carimbo da banda presente na gravação é o atrevido solo de Maran ao órgão Hammond.

Já "She's My Girl", escolhida para ocupar o lado 2 do compacto, é uma balada delicada, cantada em falsete por Fernando tal qual a gravação original dos Coastliners, lançada nos Estados Unidos em 1966 através do selo Back Beat.

O disco, cujo lançamento foi celebrado com uma festa no Teatro Casa Grande em 13 de outubro de 1968, chegou às rádios através do legendário DJ Big Boy, que incluiu os dois números na programação da Rádio Mundial. Mas foi "She's My Girl" que caiu no agrado dos ouvintes. O sucesso foi tanto que a música acabou invadindo o dial de outras estações cariocas, garantindo a RCA uma vendagem de dez mil cópias do compacto. Um enorme alento para um grupo sem presença alguma na televisão e cuja fama ainda atingiria o ápice no ano seguinte.


Enquanto os Analfabitles seguiriam construindo a sua história, a do compacto já estava sedimentada. Duas grandes pequenas músicas, executadas com brilho e bom gosto, só poderiam resultar num dos melhores discos de beat music gravados no Brasil.

Texto de Nélio Rodrigues, publicado originalmente na revista virtual

FONTE

TOQUE MUSICAL

BRNUGGETS

Um comentário:

  1. Fui frequentador do Caiçaras, Monte Líbano e Piraquê. Gostaria de poder ter uma lista das músicas que eram executadas por eles, sobretudo em 1966/68. As que foram gravadas eu tenho. Mas gostaria de poder ouvir as originais, que deram origem às performances do Analfabitles, sobretudo no Piraquê e Caiçaras (o início de tudo). Sucessos como "Time is on my side" e "The love of the love" cujo arranjo do Analfa ficou lindo, muito melhor do que o original dos Beatles. "Time is on my side" era muito bem cantada pelo Daniel. Na época a gente não tinha acesso a álbuns dos Rolling Stones importados, por exemplo. Muitas músicas eu vim a conhecer, por causa das domingueiras do Analfabitles. Mas há muitas outras, semore anunciadas pelo Fernando, mas não me lembro dos nomes. Havia uma que era alguma coisa como "Give another side.. ". Lenta e linda. O nome certamente não é este, pois não consigo achar. Seria precioso se vcs conseguissem a lista dos nomes das músicas. Quem sabe o Léo se lembre ou tenha isso documentado em algum paper da banda. Muito obrigado pela possibilidade de poder recordar um tempo tão legal em que a gente ainda sonhava. Abraços a todos.

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