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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Apanhador Só


A vida anda diferente para o quarteto gaúcho Apanhador Só. Diferente, mas interessante. Contabilizando 18 mil downloads de seu disco de estreia (homônimo, 2010), celebrando a indicação ao Video Music Brasil 2010 na categoria “Aposta”, a banda também se viu na tela da MTV no dia 09/02/2011, com o lançamento do clipe de “Um Rei e o Zé”, faixa de abertura deste que é um dos melhores álbuns cunhados no Brasil em 2010.



Os gaúchos se apresentam pela terceira vez na cidade amanhã à noite, na Sociedade 13 Maio, em companhia de Lemoskine, projeto de Rodrigo Lemos.

Poesia nas letras
O destaque é o texto elaborado

As letras das canções do Apanhador Só são um termômetro da poesia gaúcha recente. Alexandre Kumpinski, de 24 anos, é o vocalista e também o principal compositor do conjunto que, além da musicalidade, tem no discurso um diferencial.

Um Rei e o Zé”, primeira faixa do álbum, é uma narrativa que pode ser lida como se fosse um conto. O eu-lírico mostra a visão de mundo de um sujeito sem posses diante de um todo-poderoso. “Um rei me disse que quem deixa ir tem pra sempre”, canta Kumpinski, logo no início, para, em seguida, enunciar outras frases certeiras, entre as quais: “E eu, que andava assim tão Zé/ Deixei que tudo fosse e decidi olhar pra frente/ Mas não vi nada”.

O frontman do Apanhador Só entrou e saiu do curso de Letras da UFRGS porque se deu conta de que, para escrever, “não seria necessário fazer um curso”. Em seguida, graduou-se em Cinema pela PUCRS.

Ele fala sobre a falta de horizontes em “Pouco Importa”: “Nessa cidade não tem mar/ E tu não sabe escrever”. A desilusão amorosa está traduzida em “Peixeiro”: “O nosso amor, uma garrafa de vinho/ virando vinagre devagarinho”, parceria com o poeta Marcelo Noah. “Um Rei e o Zé” foi feita por Kumpinski e Ian Ramil, filho de Vitor Ramil. - Marcio Renato dos Santos



O tamanho da casa em que tocam serve de parâmetro para avaliar a quantas anda a banda, que vive seu melhor momento e dedica agora total atenção à sua arte.


As coisas mudaram. Muito por conta da internet, da agência [a produtora cultural Alavanca] e da nossa organização. Temos muito mais público, conseguimos datas melhores para tocar. Mas isso também faz com que nossa responsabilidade aumente. Temos de fazer um show melhor, mais fechado e bem tocado”, disse Alexandre Kumpinski, vocalista, guitarrista e principal compositor do quarteto, ao mesmo tempo em que reclamava da chuvarada que chegou de repente em Porto Alegre e encharcou seu amplificador. “Bah, molhou tudo aqui!”.

Hoje o quarteto dedica mais tempo à banda. Zumpinski abriu mão do trabalho que tinha em uma produtora de áudio – ele é formado em Cinema. E dois dos integrantes tiveram de cancelar disciplinas que cursavam na faculdade [de Música] por causa das viagens. O Apanhador Só, recentemente, rodou o Brasil e tocou em São Paulo, São Carlos, Maringá, Recife e Aracaju.

A banda participou em fevereiro/2011 do show parte do Projeto Noite Fina, que já recebeu os brasilienses do Móveis Coloniais de Acaju –, todo o repertório do celebrado disco esteve presente. Uma boa notícia: novíssimas músicas foram ouvidas, além de “Damas”, que figura no EP Embrulho pra Levar (2006). “Pediam essa nos shows e não tocávamos. Rearranjamos a música agora”, conta Zumpinski.

O trunfo do Apanhador Só parece ter sido aliar letras realmente cheias com uma musicalidade extremamente inventiva. Filósofos do urbano, o grupo traz ótimas melodias de guitarras e arranjos simples e cuidadosos como base instrumental; e bicicleta, furadeira, pato de borracha e um projetor super 8 como elementos de ornamentação. Tudo soa natural e transparente, mesmo se tocam um rock-tango (“Balão-de Vira-Mundo”) ou um indie-rock-canção (“Pouco Importa”).

Mesmo em uma terra tradicionalmente sem rodeios em se tratando de rock – há exceções singulares, como Engenheiros do Hawaii –, a banda se firmou tendo como carro-chefe o trabalho de ourives nas letras e o cuidado com os arranjos, estudados e enxutos.



Acho que há algum tempo isso poderia parecer exótico aqui no Rio Grande do Sul, que primava por aquela coisa de sexo, drogas e rock-and-roll. Mas essa tradição do rock gaúcho está caindo, as pessoas estão se ‘ecletizando’”, afirma o vocalista.

E a esperança, por parte do grupo, é que o ponto alto da carreira seja compartilhado com seu público, que só faz crescer e agora terá mais espaço para cantar junto com o quarteto versos instantaneamente arrebatadores como, por exemplo “Quem deixa ir tem pra sempre”.
Leia a entrevista completa com Alexandre Kumpinski no Blog do Caderno G: http://www.gazetadopovo.com.br/blog/blogdocadernog

FONTE

GAZETA DO POVO

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