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domingo, 2 de dezembro de 2012

Rosil Cavalcanti



Rosil de Assis Cavalcanti (Macaparana, PE, 20 de dezembro de 1915 – Campina Grande, PB, 10 de julho de 1968) foi um ator, compositor e radialista brasileiro.

Compositor e animador de programas de rádio e televisão, Rosil de Assis Cavalcanti foi funcionário do Ministério da Agricultura. Em 1943 foi transferido para Campina Grande, PB, onde iniciou a carreira de compositor. Autor de 130 canções, algumas delas em parceria com Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro e outros.

Suas canções mais famosas: “Sebastiana” (gravada por vários intérpretes, como Jakson do Pandeiro, Gal Costa, Gilberto Gil, Baby do Brasil, Rastapé,.), “Na Base da Chinela”, “Quadro Negro”, entre outras.



Como animador, usava o nome de “Zé Lagoa”, um tipo engraçado que criou e que fez muito sucesso na televisão e, sobretudo, no rádio. Atuou nas rádios Borborema e Caturité e na TV Borborema, todas de Campina Grande.

Nunca gravou uma de suas canções porque reconhecia que tinha “pouca voz”. Na Rádio Borborema, também apresentou o programa Radar, um noticiário policial recheado de humorismo. Compunha todos os gêneros da música regional nordestina (baião, xote, coco etc.).

Rosil veio para Paraíba, de Macaparana, Pernambuco, logo cedo. Atrás de estudo e trabalho. Trouxe consigo o brejeirismo e a poesia daquelas encostas chuvosas da Borborema sudeste, coalhada de pequenos produtores de banana e mandioca.

Culto e talentoso, dono de uma forma poética típica da nossa "nordestinidade", que se algum crítico, algum dia procurar caracterizar, rotular, necessariamente falará de um "realismo nordestino".

Suas músicas eram crônicas da vida do povão dos agrestes, brejos e sertões do Nordeste. Em suas narrativas, muito de comédia e drama; de João Grilo e Djacyr Menezes; de Zé da Luz e Zélins; de Zé Limeira e Gilberto Freyre. Seus forrós, baiões, rojões ou lamentos eram a expressão rítmica da vida nordestina.

ROSIL CAVALCANTI, O CAPITÃO ZÉ LAGOA
Compositor de 'Sebastiana', sucesso na voz de Jackson do Pandeiro, Rosil Cavalcanti era amante do rádio. Suas composições foram gravadas por diversos nomes da música popular nordestina




Rômulo Nóbrega e José Batista Alves
Revista de História da Biblioteca Nacional

As semelhanças não são poucas. Nasceram em regiões dominadas pela cultura da cana-de-açúcar e pela colonização negra. Quando adultos, foram casados, mas não tiveram filhos. E as coincidências não se restringem à vida. Em anos diferentes, morreram de infarto no mesmo dia e mês. Rosil Cavalcanti (1915 – 1968) e Jackson do Pandeiro (1919 – 1982) tiveram uma relação que muito além de 'Sebastiana'. Muito antes de ser proclamado o rei do ritmo, Jackson já convivia com o talento musical de Rosil.

De família tradicional na política de Pernambuco, Rosil de Assis Cavalcanti trabalhou durante toda sua vida como funcionário público. Seu primo de segundo grau, Joaquim Francisco chegou a ser governador do estado. Em 1943, com pouco mais de 20 anos, outro parente de Rosil assumiu a prefeitura da cidade de Macaparana, que continua sob influência da família, pois Maviael Cavalcanti (DEM) é o atual prefeito da cidade. Mas a paixão de Rosil era outra.

Rosil Cavalcanti residiu em Pombal por alguns anos e, em 1947, instalou na cidade o Serviço de Alto-Faltantes Tupã, que durou três anos, até 1950.

Ignácio Tavares, em artigo intitulado “No Tempo da Rádio Difusora Tupã”, publicado em 6 de junho de 2007, faz referência a presença de Rosil Cavalcanti em Pombal.
 
Diz Inácio que “..em pouco tempo a Rádio Difusora Tupã, passou a ser o centro das atenções e logo conquistou corações e mentes do povo da terrinha..”. “...de forma engenhosa e inteligente, o jovem empresário implantou um tipo de jornalismo até então desconhecido pelo povo. As noticias, que eram garimpadas e catalogadas pela sua secretaria e esposa, abrangiam todos os recantos do Brasil, do Estado, afora o noticiário local. As informações eram repassadas através de auto-falantes localizados em pontos estratégicos da cidade...”. “...dessa forma, a questão do desrespeito a pessoa humana, passou a ser a âncora do jornal diário da Rádio Difusora Tupã. Centenas de pessoas acotovelavam-se em frente ao estúdio, para escutar os editoriais, que eram lidos antes do inicio do jornal de cada dia, escritos caprichosamente pelo editor do jornal. Rosil sabia muito bem o risco que estava correndo, diante das posições assumidas contra grupo em questão. Corajoso e destemido, em nenhum momento curvou-se à pressão da força repressora udenista, em assim sendo, continuou a deitar falação e denunciar firmemente os atos de barbárie cometidos contra as pessoas indefesos. O seu propósito era o de acabar, de uma vez por todas, com esse tipo de agressão perversa e gratuita. Não tardou, numa certa noite, quando encerrou a sua programação foi atacado por desconhecidos de forma brutal e humilhante. Diante do quadro de terror que se instalou na cidade, resolveu definitivamente sair de Pombal e decidiu fixar residência em Campina Grande”.

 

Em João Pessoa, no ano de 1947, Rosil deu seus primeiros passos no rádio, participando em programas noturnos na Rádio Tabajara. Nesta ocasião, formou a dupla caipira ‘Café com Leite’ com um rapaz conhecido como Jack, que mais tarde seria o famoso Jackson do Pandeiro. O nome fazia alusão à aparência dos dois. Jackson, cafuzo de pele escura, era o café. Rosil, branco, era o leite. Tocando emboladas, a dupla alcançou um grande sucesso, garantido também pelas tiradas cômicas que faziam os ouvintes darem gargalhadas no auditório.
 
Nascia o imponderável. Jackson já era artista do povo daqui e queria ser artista do Brasil. Rosil era um poeta, que nas horas vagas se dedicava àquela arte.

Rosil Cavalcanti, auto-definido como um pernambucano de Campina Grande desempenhou papel importante na vida de Jackson. Era radialista, produtor, compositor (30 de suas músicas foram gravadas por Jackson, incluindo Sebastiana), humorista e apresentador. Seu maior sucesso foi o programa "Forró do Zé Lagoa", na Rádio Borbo-rema de Campina Grande, nos anos 1950, que ele apresentava sozinho fazendo várias vozes. No programa, o Zé Lagoa era uma espécie de mediador dos dramas e comédias da cidade, intercaladas de muita música – um radioteatro musical.

Apesar de boêmio e frequentar bares e cabarés, Rosil quase não bebia. Ele estreou na Rádio Tabajara de Jo-ão Pessoa em 30 de maio de 1947, cantando acompanhado por um conjunto regional do qual Jackson fazia parte. Os dois tornaram-se amigos, e essa cumplicidade e humor des-pertaram a atenção de Orlando Vasconcelos, diretor artístico da Tabajara, que criou a dupla Café com Leite, tornando-se a versão paraibana de Jararaca e Ratinho. A dupla só durou três meses, após o que Jackson foi convidado para o rádio pernambucano. Ro-sil morreu no dia 10 de julho de 1968.
 
Jackson seguiu em busca de seu destino. Foi para Recife. Rosil seguiu para Campina Grande, onde foi trabalhar como fiscal de renda, fiscalizando a qualidade do algodão comercializado na "Liverpool das Américas", como chamavam Campina na época.

Campina era a potência econômica de todo Nordeste. Ali sempre estava cheio de gringos e paulistas. Vinham em busca do "Ouro branco" dos sertões. Campina tinha um ar metropolitano em comparação as pequenas cidades espalhadas Nordeste adentro. Era uma extensão de Recife.

O trem que transportava o algodão e as riquezas paraibanas ligava Campina a Recife, via Itabaiana. Daí que, em Campina se respirava muito dos ares cosmopolita recifense. Ao mesmo tempo Campina recebia o sertão diariamente. Levas de sertanejos almocreves transportavam sua produção e sua cultura ao entroncamento da Borborema. Ali se vivia um clima propício à poesia.

Ali efervescia um movimento cultural espontâneo, síntese de uma região, que no processo de industrialização nacional se amoldava como a parte "atrasada" de um capitalismo desigual e combinado que se configurava no Brasil, seguindo os moldes do capitalismo mundial.

Em Campina, Rosil não continha seu impulso artístico. Foi trabalhar na rádio Borborema. Criou um programa de noticiário policial Radar, ancestral de qualidade desses folhetins deploráveis que se tornaram os boletins polícias das emissoras de rádio de hoje em dia, apenas expressando a situação também deplorável que se vive no "submundo" do crime. Mas, o grande sucesso de Rosil foi o "Forró do Zé Lagoa".

Programa de forró que animava as noites de toda a Borborema. Do Cariri ao Brejo, onde chegavam as ondas sonoras em Amplitude Modulada (AM), da Rádio Borborema. As pessoas paravam para ouvir o Zé Lagoa. O aparelho de rádio se popularizava em Campina Grande e em seus arredores e Zé Lagoa (Rosil Cavalcanti) era a estrela maior. Sua audiência era total. A Rádio Borborema tinha auditório e o Programa era transmitido do auditório, ao vivo. Ali se fez concurso de sanfoneiro, de dançarino, de beleza, de teatro, etc.

Na realidade era uma rádio-teatro. Rosil tinha um carisma impressionante e cativava todos e todas. Os artistas famosos da Rainha da Borborema e de todo o Nordeste tinham presença garantida nos finais de semana. Campina virou uma espécie de centro da cultura regional.

Rosil não parava de compor. Certo dia enviou para o amigo Jackson, uma "brincadeira" musical para Jackson "improvisar" em suas apresentações quase sempre frustradas na rádio Jornal do Comércio.

Nesse dia Jackson se soltou. Entrou no palco com a ginga dos sambistas que conheceu no "Zepa", em Campina Grande, com os ritmos das coquistas de seu quilombo em Alagoa Grande, com as mugangas dos tempos de Bedegueba em cima de caminhões em pastoris por Queimadas, São José da Mata, Bodocongó, Ligeiro, Barracão de Luiz de Melo, etc. Entrou com um pandeiro na mão e gritou: Convidei a cumade Sebastiana pra dançar um xaxado na Paraíba. Ela veio cum uma dança diferente pulava qui só uma guariba e gritava A, E I, O, U ipsilone.

"Sebastiana" é o lado "b" do disco inicial de Jackson do Pandeiro (José Gomes Filho) na Copacabana, que tem no lado "a" "Forró em Limoeiro". Ambas estão entre os maiores sucessos deste paraibano de Alagoa Grande, um dos mais originais, espirituosos e influentes artistas que o Nordeste produziu.

Imbatível na inventividade rítmica, Jackson formou nos anos quarenta com Rosil Cavalcanti - também pandeirista - a Dupla Café com Leite. Depois, quando o primeiro foi fazer carreira em Recife, a dupla se desfez, tornando-se Rosil um popularíssimo radialista em Campina Grande (PB), com o programa "Forro do Zé Lagoa", continuando entretanto a ligação entre os dois.

Primeira música gravada de Rosil, "Sebastiana" foi lançada no programa pós-carnavalesco no auditório da Rádio Jornal do Comércio de Recife, com a colaboração da teatróloga Luísa de Oliveira. Ao chegar no insólito breque "a-e-i-o-u-ipsilone", tendo como parceira Almira Castilhos, ela resolveu dar uma umbigada em Jackson, conquistando a platéia. Foi o início de um passo marcante, que se tornou obrigatório nas apresentações em palco de Jackson do Pandeiro. "Sebastiana" seria relançada em ' por Gal Costa em dueto com Gilberto Gil.

Sebastiana (coco, 1953) - Rosil Cavalcanti - Intérprete: Jackson do Pandeiro

"Sebastiana" é o lado "b" do disco inicial de Jackson do Pandeiro (José Gomes Filho) na Copacabana, que tem no lado "a" "Forró em Limoeiro". Ambas estão entre os maiores sucessos deste paraibano de Alagoa Grande, um dos mais originais, espirituosos e influentes artistas que o Nordeste produziu.

Imbatível na inventividade rítmica, Jackson formou nos anos quarenta com Rosil Cavalcanti - também pandeirista - a Dupla Café com Leite. Depois, quando o primeiro foi fazer carreira em Recife, a dupla se desfez, tornando-se Rosil um popularíssimo radialista em Campina Grande (PB), com o programa "Forro do Zé Lagoa", continuando entretanto a ligação entre os dois.

Primeira música gravada de Rosil, "Sebastiana" foi lançada no programa pós-carnavalesco no auditório da Rádio Jornal do Comércio de Recife, com a colaboração da teatróloga Luísa de Oliveira. Ao chegar no insólito breque "a-e-i-o-u-ipsilone", tendo como parceira Almira Castilhos, ela resolveu dar uma umbigada em Jackson, conquistando a platéia. Foi o início de um passo marcante, que se tornou obrigatório nas apresentações em palco de Jackson do Pandeiro. "Sebastiana" seria relançada em ' por Gal Costa em dueto com Gilberto Gil.

Sebastiana (coco, 1953) - Rosil Cavalcanti - Intérprete: Jackson do Pandeiro

 

Convidei a comadre Sebastiana
Pra dançar e xaxar na Paraíba.
(coro repete)
Ela veio com uma dança diferente
E pulava que só uma guariba.
(coro repete)
E gritava: a, e, i, o, u, ipsilone...
(coro repete)Já cansada no meio da brincadeira
E dançando fora do compasso
Segurei Sebastiana pelo braço
E gritei: Não faça sujeira
O xaxado esquentou na gafieira
Sebastiana não deu mais fracasso.
Mas gritava: a, e, i, o, u, ipsilone...
(coro repete)


Nesse dia nasce Jackson ou JackSOM do Pandeiro. O sucesso da "Cumade Sebastiana" que recebeu o título de Sebastiana foi tanto que em pouco tempo, os palcos de Jackson eram no Rio de Janeiro e São Paulo.

A música do Nordeste deixou de ser só o Baião do Lua do Nordeste, o Gonzagão, para ser também: o Rojão e o Forró; o Coco. Jackson vai "empareiar-se" com Gonzaga em termo de sucesso, de apelo popular. Vai fazer sombra ao Lua do Sertão. Gonzaga já abrira as portas da Indústria Fonográfica para a música originária da parte "atrasada" do Brasil. Jackson escancara.

Rosil não deixara Campina. Ali havia criado raízes. Sentia-se em casa. Era de fato, sua casa e sua família. Nas madrugadas de sextas, sábados e/ou domingos ele juntava uma trupe e ia caçar em alguma fazenda próxima a Campina. Nessas caçadas de nhambu, caçava também talentos e, sobretudo, a alma popular nordestina. Nessas caçadas Rosil encontrou os sanfoneiros Pedro Mendes, Diomedes, Josinaldo, Chicó e tantos outros que ele levava para as apresentações em seu Programa. Também promoveu os forrozeiros de Oito Baixos e cantores da mais autêntica música brasileira, produzida ali entre os penhascos da Borborema. Vivia-se a época de ouro do Forró.

Em suas fugas, Rosil preferia o Cariri. Tinha um cantinho preferido na Vaca Brava ou Tôco do Pade, hoje Campo de Emas, onde nasci, vivi e retorno quando posso. Lá, Zé Lagoa, como o chamavam, enrolava seus amigos, dizendo-se caçador, dava uma volta e apreciava a paisagem caririzeira. Voltava antes de todo mundo, tomava uma "bicada" na "Bodega de Hemetério" e armava uma rede, sempre limpa e pronta para o Zé Lagoa, sob a sombra carinhosamente organizada pelos galhos de uma Quixabeira e de um Umbuzeiro, entrelaçados. Parece, sabiam as árvores, que ali estava um ramo seu, um poeta de suas dores e alegrias.

O chão sempre limpo, pois rodas de aprendizes de sanfoneiros e sanfoneiros já premiados se "aprochegavam" à Rosil para criarem versos, músicas e brincarem ao dedilhar da sanfona de Pedro Mendes. Ali nasceu Meu Cariri e Aquarela Nordestina, duas das mais lindas canções de Rosil. Suas andanças nas terras caririzeiras também o instigaram à Festa do Milho e diversas outras que fizeram e fazem nordestinos chorarem Brasil afora.

Ao deixar Pombal e se fixar em Campina Grande, em 1951 Rosil Cavalcanti entra definitivamente para o rádio como redator na Rádio Caturité, recém inaugurada por Drault Ernani, onde lançou o programa Rádio Atrações.
Rosil tinha um grande defeito: era birrento, pegava ar por qualquer coisa. Em 1978, durante um almoço no Restaurante Manuel da Carne de Sol, em Campina Grande, o Rei do Baião – Luiz Gonzaga – me contou essa história: havia se desentendido com Rosil por conta da uma alteração que a gravadora RCA Victor exigiu que fosse feita em uma música de Rosil. Ele não gostou e deixou de falar com o “velho Lua”. Ficaram quase um ano sem se falar.
Eis que Gonzagão vem a Campina e pede a Zé Bezerra para intermediar uma conversa com Rosil. Os dois se encontram, mas a conversa foi pouco produtiva. Luiz Gonzaga se encarregou de cumprimenta-lo, perguntar como estava a patroa, dizer que estava com saudades de notícias suas, etc. e tal. Rosil pouco falou, pediu licença, disse que ia ter que trabalhar e se retirou.
Trancou-se em uma sala e poucos minutos depois entregou a Luiz Gonzaga um papel datilografado com esta, que considero uma das músicas mais bonitas de sua autoria (“Amigo Velho), gravada em 1963 por Gonzaga: “Ô amigo velho, como vai, como passou? / Pedi notícia sua, porém você não mandou / Me diga como vai sua distinta família / Como vai aquela jóia que é sua linda filha / Como vai seu filho, tipo do rapaz perfeito / E sua senhora, lhe transmito meu respeito / Amigo velho foi prazer ter lhe encontrado / Eis aqui um forte abraço desse seu menor criado / Você está mais forte, bem disposto e humorado / Parece vender saúde, deve andar bem sossegado / Logo que cheguei, pretendia lhe avistar / Porém lhe vendo agora, quero lhe cumprimentar / Amigo velho depois eu falo consigo / Dê licença a seu amigo, que vou ter que trabalhar. Esta letra retrata simplesmente o encontro dos dois, que fizeram as pazes, se abraçaram e choraram muito.
 
 
No dia 10 de julho de 1968, no início da tarde, Rosil se sentiu mal quando descansava sob a sombra do Umbuzeiro e da Quixabeira. Pediu um chá para "desempachar", reclamou mais uma vez do mal-estar e anunciou: vou pra Campina, não estou bem. Na noite daquele dia, como em todos os outros, moradores, trabalhadores rurais, fazendeiros e a população daquela área em geral se aglutinava nas casas onde havia um Rádio, daqueles grandes, a bateria, pra ouvir o Forró de Zé Lagoa. Em vez da música introdutória na voz vibrante de seu parceiro Café, dizendo: se você não viu, vá ver que coisa boa, em Campina Grande, o Forró do Zé Lagoa, se ouviu uma fúnebre anunciando o falecimento do poeta da caatinga, dos cariris, do Nordeste. O Nordeste parou. Campina Grande assistiu a mais profunda comoção que a atingira. Desaparecera subitamente sua síntese poética, suas alegrias e suas tristezas. Os contornos da feira central ficaram sem graça. A feira da Prata perdeu o charme.

Macambiras e xiquexiques murcharam. Juritis, asas brancas, ribaçãs arribaram. O povo, a população simples e pobre das periferias de Campina e dos municípios visinhos se encerrou em luto. Campina Grande não comportou a quantidade de pessoas para o último adeus ao poeta que a cidade adotou.

Jackson continuou sem Rosil. Cantou composições de dezenas de outros compositores e muitas suas, que ele não assinava. Cantou o samba nordestino, urbano, da malandragem da periferia do Zepa, de Bodocongó, da Liberdade, do Serrotão e uma diversidade de crônicas riquíssima da vida nordestina. Viveu 15 ou 16 anos sem sua mistura preferida. Num 10 de julho do início dos anos 80, voltam a se misturar noutra dimensão. Jackson volta a encontrar Rosil. Certamente as paisagens cantadas, as histórias narradas, as caricaturas e brincadeiras da cultura regional voltou a ser matéria prima do Café com Leite.

A 45 anos da morte de um e 30 da do outro, tenho a impressão que a lacuna deixada por eles ainda não fechou, nem fechará. As estripulias do Bedegueba de pastoril que conquistou o Brasil que formava uma unidade indissolúvel com a pureza da poesia de Rosil desandaram por um tremelique sem graça, como pacote comercial: hermético, fechado, sem poesia, sem a malicia deliciosa dos personagens de Ariano; sem a alma criativa de Zé da Luz; sem os absurdos extravagantes e maravilhosos de Zé Limeira; sem a alma nordestina.

Venceu a imbecilidade do mercado!

Mas a dupla está mais presente do que nunca entre os amantes da boa música. A tecnologia que é usada brutalmente para ferir a cultura popular, também nos permite ouvir Jackson do Pandeiro, sentir o gingado, a malandragem do povão de Campina, do Nordeste, do Brasil. É possível matar a saudade de Rosil Cavalcanti ouvindo o próprio Jackson, mas também Gonzaga e uma diversidade enorme de sons. Pois é, dia 10 de julho é um dia fatídico para a cultura popular nordestina, mas é também o dia de reencontro, da mistura perfeita do Café com Leite.
 
 


Quando a dupla se desfez, Jackson levou debaixo do braço várias músicas de Rosil. Uma delas seria o grande destaque do carnaval de 1953. Era o coco 'Sebastiana', que foi originalmente lançado em um disco pelo selo Copacabana e posteriormente regravado por Gal Costa.

SEBASTIANA, primeira música gravada de Rosil Cavalcanti, foi lançada num programa de auditório da Rádio Jornal do Comércio, sob a interpretação de Jackson do Pandeiro e a colaboração da teatróloga Luísa de Oliveira. Na passagem "A-E-I-O-Uipsilone", Luísa deu uma umbigada em Jackson, o que conquistou a platéia. Mais tarde, a umbigada tornou-se a marca de Almira Castilho, que substituiu Luísa nos programas de auditório da Rádio Jornal. Sebastiana faz parte do lado A de um 78 rpm da Copacabana que tem no lado B Forró em Limoeiro, rojão de Edgar Ferreira.

Por sua vez, Rosil ganhou destaque dez anos depois com o programa ‘Forró de Zé Lagoa’, que teve grande repercussão em Campina Grande.
 


Apresentado diariamente na Rádio Borborema, que transmitia em ondas médias e tropicais, a atração era uma mescla de notícias com brincadeiras, onde Rosil encenava o papel do capitão Zé Lagoa e contracenava com os soldados Jaca Mole e Jaca Dura. Entre uma piada e outra, muitos repentistas e cantores passaram por lá, como Genival Lacerda, Zé Calixto, Marinês e Abdias.

Mas, mesmo antes de Sebastiana, Rosil já havia composto uma música gravada comercialmente. Apresentada à cantora Dilú Melo, a canção se chama ‘Meu Cariri’ e foi interpretada por Ademilde Fonseca e Marinês, na sua versão mais famosa.
 
 
 
Porém, Rosil não guardava boas recordações de sua estréia nas vitrolas. Apesar de ter composto música e letra, os créditos do disco apontavam Dilú como parceira de Rosil. Mas não faltariam oportunidades futuras para o devido reconhecimento.

Ao todo, Rosil teve mais de vinte músicas gravadas por Jackson do Pandeiro, como 'Cabo Tenório', 'Lei da Compensação', 'Quadro Negro', 'Forró na Gafieira' e 'Na Base da Chinela'. Feita em parceria com o rei do ritmo, esta última foi regravada posteriormente por Elba Ramalho.
 
 
 
Na voz de Marinês destacam-se Saudade de Campina Grande e Aquarela Nordestina, que foi também interpretada por Luiz Gonzaga.
 
 
 
Rosil teve ainda canções gravadas pelo Trio Nordestino, Zé Calixto, Genival Lacerda, Anastácia, Ary Lobo, entre muitos outros.

Canções

  • A festa do milho - Luiz Gonzaga (1963)
  • Amigo velho - Luiz Gonzaga (1963)
  • Aquarela nordestina - Marinês (1958)
  • Cabo Tenório - Jackson do Pandeiro (1954)
  • Coco do Norte - Jackson do Pandeiro (1955)
  • Coco social - Jackson do Pandeiro (1954)
  • Coisas do Norte - Marinês (1963)
  • Cumpadre João - Jackson do Pandeiro (1958)
  • Faz força, Zé, Luiz Gonzaga (1963)
  • Forró do Zé Lagoa - Genival Lacerda (1962)
  • Forró na gafieira - Jackson do Pandeiro (1959)
  • Meu Cariri, com Dilu Melo - Ademilde Fonseca (1951)
  • Moxotó, com José Gomes - Jackson do Pandeiro (1958)
  • Na base da chinela, com Jackson do Pandeiro (1962)
  • Ô véio macho - Luiz Gonzaga (1962)
  • Os cabelos de Maria, com Jackson do Pandeiro (1960)
  • Saudade de Campina Grande - Marinês (1958)
  • Sebastiana - Jackson do Pandeiro (1953)
  • Tropeiros da Borborema - Luiz Gonzaga (1980)

Em agosto (2012)  a segunda noite de apresentações do Projeto 7 Notas trouxe as canções de Rosil Cavalcanti interpretadas por Gitana Pimentel. Difundindo e promovendo a cena musical local, abrindo espaço para novos artistas, e homenageando grandes nomes da música brasileira.



Gitana Pimentel começou sua carreira aos 14 anos e se destaca no meio musical cantando ritmos latinos com uma pegada de samba. Na proposta do 7 Notas, ela irá apresentar uma releitura da obra de Rosil Cavalcante mantendo a originalidade e a essência dos clássicos do músico que se consagrou como uma lenda campinense e teve a sua poesia cantada por grandes nomes como Jackson do Pandeiro, Luiz Gonzaga e Marinês.

O 7 Notas acontece em cinco etapas entre os meses de Julho a Dezembro, a programação de Agosto contou ainda com a apresentação do grupo Armazém da Melodia Incompleta fechando a segunda etapa do projeto. As apresentações acontecem sempre no Cine Teatro do Sesc Centro, em Campina Grande. O Projeto 7 Notas é uma realização do Sesc Paraíba em parceria com a Fecomércio.

FONTE

http://pt.wikipedia.org/wiki/Rosil_Cavalcanti

http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2011/resumos/R6-2315-1.pdf

http://cifrantiga3.blogspot.com/2006/05/sebastiana.html#ixzz2DuonaY6I

http://ambienteacreano.blogspot.com.br/2009/03/rosil-cavalcanti-o-capitao-ze-lagoa.html

http://www.forroemvinil.com/desafio-quem-e-2

http://www.onordeste.com/onordeste/enciclopediaNordeste/index.php?titulo=Jackson+do+Pandeiro+e+Rosil+Cavalcanti&ltr=J&id_perso=151

http://clemildo-brunet.blogspot.com.br/2009/07/lembrancas-de-rosil-cavalcanti-o.html

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