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domingo, 16 de janeiro de 2011

Chico Science

    "Um passo à frente e você não está mais no mesmo lugar" Chico Science

“Modernizar o passado é uma evolução musical.”
Chico Science e Nação Zumbi, da música "Monólogo ao Pé do Ouvido"



Com a frase acima, Chico Science abria seu primeiro disco com a Nação Zumbi, "Da Lama ao Caos". Era a pedra fundamental da movimentação que viria a ficar conhecida como manguebeat. Manguebeat (também grafado como manguebit ou mangue beat) é um movimento musical que surgiu no Brasil na década de 90 em Recife que mistura ritmos regionais, como o maracatu, com rock, hip hop, funk e música eletrônica.

Esse estilo tem como ícone o músico Chico Science , ex-vocalista, da banda Chico Science e Nação Zumbi, idealizador do rótulo mangue e principal divulgador das idéias, ritmos e contestações do Manguebeat. Outro grande responsável pelo crescimento desse movimento foi Fred 04, vocalista da banda Mundo Livre S/A e autor do primeiro manifesto do Mangue de 1992, intitulado "Caranguejos com cérebro".

O objetivo do movimento surgiu de uma metáfora idealizada por Zero Quatro, ao trabalhar em vídeos ecológicos. Como o mangue é o ecossistema biologicamente mais rico do planeta, o Manguebeat precisava formar uma cena musical tão rica e diversificada como os manguezais.

Devido a principal bandeira do mangue ser a diversidade, a agitação na música contaminou outras formas de expressão culturais como o cinema, a moda e as artes plásticas. O Manguebeat influenciou muitas bandas de Pernambuco e do Brasil, sendo o principal motor para Recife voltar a ser um centro musical, e permanecer com esse título até hoje.

Notáveis bandas do gênero manguebeat incluem Mundo Livre S/A, Chico Science & Nação Zumbi, Sheik Tosado, Mestre Ambrósio, Eddie, Via Sat, Querosene Jacaré, Jorge Cabeleira, Arrastamangue e Caiçara.

Homem, caranguejo, mangue, caçuá, guaiamum, lama encenam uma espécie de dramaturgia do sujo, na qual o contra-ser – apesar de toda a repugnância – tenta retirar da imundície seu sustento, como revelam os versos do compositor baiano Waldeck Artur de Macedo (10/08/1922-16/01/1969), o Gordurinha, na canção "Vendedor de Caranguejos"(1975). "Vendedor de caranguejo", foi gravado por Clara Nunes, em 74, e por Gilberto Gil no seu ‘Quanta’, de 1997. E depois outros interpretes como: Ary Lobo, Dominguinhos, Zé Ramalho...

Gordurinha prenunciou o Mangue beat de Josué de Castro e Chico Science ao cantar: "Caranguejo Uçá/ Caranguejo Uçá/ Apanho ele na lama/ e boto no meu caçuá/ Tem caranguejo/ tem gordo guaiamum/ cada corda de dez/ eu dou mais um/ eu dou mais um/ eu dou mais um/ cada corda de dez/ eu dou mais um. eu perdi a mocidade/ com os pés sujos de lama/ eu fiquei analfabeto/ mas meus filho criou fama/ pelos gosto dos menino/ pelo gosto da mulher/ eu já ia descansar/ não sujava mais os pé/ os bichinho tão criado/ satisfiz o meu desejo/ eu podia descansar/ mas continuo vendendo caranguejo..."



Em suas letras Chico Science fazia referências a pessoas, lugares, atividades sócio-políticas, tradições..., como exemplo temos a música "Da Lama ao caos" que menciona Josué de Castro. "Vi um caranguejo andando pro sul/ Saiu do mangue, virou gabiru/ Oh, Josué, eu nunca vi tamanha desgraça/ Quanto mais miséria tem, mais urubu ameaça." (Chico Science)

Crítico das especializações, o trabalho científico de Josué de Castro foi marcado pela multidisciplinaridade. E a fome foi sua principal e corajosa escolha. Mas além da fome, também estudou questões de interesse global que lhe são relacionadas, como o meio ambiente, o subdesenvolvimento e a paz.

Nas obras científicas que se seguiram, Josué ampliou suas convicções e aprimorou seus conceitos, visando sempre a inclusão social. Compreendeu que era imprescindível aumentar a renda do trabalhador, e foi um dos precursores na defesa do salário mínimo. Sabia dos males que a nutrição deficiente, nas crianças, poderia acarretar, e ajudou a formular a política de merenda escolar, iniciativa que ainda hoje atende a expressivo número de estudantes em nosso País.

Na agricultura familiar, tinha certeza, estaria a melhor forma de fixar o homem no campo e possibilitar sua alimentação. Assim, combateu o latifúndio e defendeu a reforma agrária. Recebeu o Prêmio Internacional da Paz e indicações para receber o Prêmio Nobel da Paz . Percebeu, prematuramente, as agressões que sofria o meio ambiente e colocou-se como um combatente ecológico, em tempos em que até a expressão ainda era novidade.

Após uma longa carreira de êxitos científicos, Josué de Castro teve seus direitos políticos cassados pelo regime militar que dominou o País a partir de 1964. Exilou-se em Paris onde passou a lecionar na Sorbonne., e onde morreu em 1973, sem ter voltado vivo ao seu País. morreu sem mesmo ter recebido oficialmente e nominalmente anistia...

O ano de 2008 assinala o centenário de nascimento de Josué de Castro. Um brasileiro cuja trajetória de vida merece ser lembrada. Médico, escritor, político, professor, cientista social, um homem de múltiplos saberes e de ações que sempre visavam atender os anseios dos mais pobres, especialmente daqueles que enfrentavam o problema da fome e suas conseqüências (por Anna Maria de Castro Professora titular da UFRJ Doutora em Sociologia Aplicada - filha de Josué de Castro)

Quem quiser uma leitura específica sobre as referências de Chico Science a Josué de Castro, recomendo a leitura do texto "Chico Science encontra Josué de Castro: Recife sob o signo do homem-caranguejo", de Moisés Neto (para ler, clique AQUI).

Depois do Da Lama ao Caos, seguiu outro álbum de muito sucesso, Afrociberdelia.



A morte de Chico Science, em um acidente de carro, há 13 anos, quando ele contava apenas 30, não foi capaz de deter a cooperativa cultural pernambucana que, no início dos anos 1990, revolucionou a música pop brasileira ao globalizar ritmos regionais como o maracatu e o coco, misturando-os com rock, hip hop e música eletrônica.

As influências e os frutos do mangue beat chegam aos dias atuais, mais de 15 anos após o lançamento do álbum que iniciou o movimento, "Da lama ao caos", de Chico Science e Nação Zumbi. (fotogaleria) Em homenagem à revolução que veio do Recife. A mostra "Ocupação Chico Science" aconteceu em 2010 no Itaú Cultural. Pela primeira vez, a mostra, teve como tema um músico, convidando o público a conhecer a obra e o processo criativo de Francisco de Assis França (nome de batismo de Science).

Hoje, Amanhã E Depois


Do começo ao fim
Quem vai ficar, quem vai ouvir, quem vai ver
O amanhã já sabe, vive-se hoje então
E de lá, sempre daqui pra o que foi
Aquele que esquece lembra tudo depois
E se antes do filme isso ainda começar
Um olho aceso dentro da escuridão
Deixado vivo e bem atento no chão
Na estica do dia dançando o furacão
Pagou e
Devendo ainda assim foi

Hoje correndo atrás do amanhã e depois
Uns play, outros pray e outros nem sei

Isso não tem fim

Outro endereço desse mesmo lugar
Acende a lembrança o agora já foi
De esquina pra esquina conhecendo o chão
Tudo isso andado pra quem já começou
E de lá, sempre daqui pra o depois
Já tenho o que quero pra chegar onde vou
Deixado vivo e bem atento no chão
Na estica do dia
Dançando o furacão
Pagou e
Devendo ainda assim foi

Isso não tem

Hoje correndo atras do amanhã e depois
Uns play, outros pray e outros nem sei

VIDA E OBRA


Francisco de Assis França, mais conhecido pela alcunha de Chico Science (Olinda, 13 de março de 1966 — Recife, 2 de fevereiro de 1997) foi um cantor e compositor olindense, um dos principais colaboradores do movimento manguebeat em meados da década de 1990.

Líder da banda Chico Science  e Nação Zumbi, deixou dois discos gravados: "Da Lama ao Caos" e "Afrociberdelia", tendo sua carreira precocemente encerrada por um acidente de carro na rodovia entre as cidades de Olinda e Recife.



Seus dois álbuns foram incluídos na lista dos 100 melhores discos da música brasileira da revista Rolling Stone, elaborada a partir de uma votação com 60 jornalistas, produtores e estudiosos de música brasileira.

Chico Science participava de grupos de dança e hip hop em Pernambuco no início dos anos 1980. No final da década integrou algumas bandas de música como Orla Orbe e Loustal, inspiradas na música soul, no funk e no hip hop.

A fusão com os ritmos nordestinos, principalmente o maracatu, veio em 1991, quando Science entrou em contato com o bloco afro Lamento Negro, de Peixinhos, subúrbio de Olinda. Misturou o ritmo da percussão com o som de sua antiga banda e formou o Nação Zumbi.



A partir daí o grupo começou a se apresentar no Recife e em Olinda e iniciou o "movimento" mangue beat, com direito a manifesto ("Caranguejos com Cérebro", de Fred 04, da Mundo Livre S/A).

Em 1993 uma rápida turnê por São Paulo e Belo Horizonte chamou a atenção da mídia.

O primeiro disco, "Da Lama ao Caos", projetou a banda nacionalmente.

O segundo, "Afrociberdelia", mais pop e eletrônico, confirmou a tendência inovadora de Chico Science e Nação Zumbi, que excursionaram pela Europa e Estados Unidos, onde fizeram sucesso de público e crítica.

O Nação Zumbi lançou um CD duplo em 1998, depois da morte do líder, com músicas novas e versões ao vivo remixadas por DJs.

A família de Chico Science recebeu indenização de cerca de 10 milhões de reais da montadora Fiat, responsabilizada pela morte do cantor e compositor no acidente que lhe tirou a vida, devido a falhas no cinto de segurança do carro que dirigia e que poderia ter lhe poupado a vida.

Podem ser citadas como bandas relacionadas a Chico Science, as conterrâneas Mundo Livre S/A, Bonsucesso Samba Clube, as mais recentes Cordel do Fogo Encantado, Mombojó e Otto, passando por Sepultura (mais especificamente o álbum Roots), Cássia Eller (intérprete de músicas como Corpo de Lama e Quando a Maré Encher), Fernanda Abreu (álbum Raio X) e Arnaldo Antunes (álbum O Silêncio), além da antiga parceira e ainda em atividade: Nação Zumbi.

Em 2007, recebeu homenagem do prêmio Multishow, do canal da Globosat de mesmo nome.



CURIOSIDADES

Movimento musical surgido na cidade de Recife, no começo dos anos 90, quando bandas como Chico Science & Nação Zumbi e Mundo Livre S/A decidiram misturar a música pop internacional de ponta (o rap, as várias vertentes eletrônicas e o rock neopsicodélico inglês) aos gêneros tradicionais da música de Pernambuco (maracatu, coco, ciranda, caboclinho etc.).

Originalmente chamado de Mangue Bit (bit entendido como unidade de memória dos computadores), o movimento teve seu primeiro manifesto, Caranguejos com Cérebro, escrito pelo ex-punk Fred 04 (do Mundo Livre) e Renato L, publicado pela imprensa local em 1992. "Imagem símbolo: uma antena parabólica enfiada na lama. Ou um caranguejo remixando Anthena, do Kraftwerk, no computador", explicavam.

O "núcleo de pesquisa e produção de idéias pop" articulado por essa juventude recifense tinha como objetivo "engendrar um circuito energético, capaz de conectar as boas vibrações dos mangues com a rede mundial de circulação de conceitos pop".

Surgia a denominação de "mangueboys e manguegirls". "(...) São indivíduos interessados em: quadrinhos, TV interativa, antipsiquiatra, Bezerra da Silva, hip hop, midiotia, artismo, música de rua, John Coltrane, acaso, sexo não-virtual, conflitos étnicos e todos os avanços da química aplicada no terreno da alteração e expansão da consciência", dizia o manifesto.

No começo dos anos 80, Chico Science (ou melhor, Francisco França) era integrantes da Legião Hip Hop, equipe de dança de rua que imitava os breakers americanos. Com o guitarrista Lúcio Maia e Alexandre Dengue, participou do grupo de rock pós-punk Loustal. Da fusão do Loustal com o bloco de samba-reggae Lamento Negro, surgiu no começo dos anos 90 a Nação Zumbi, que estreou nos palcos de Recife em junho de 91. A Soparia de Roger (citado por Chico Science na música Macô)e o bar Arte Viva, em Boa Viagem, acolheram as primeiras manifestações dos mangueboys.

Mangue na mídia

Propagada por Chico e pelo Mundo Livre, a batida do Mangue (Mangue Beat) chegou ao Sudeste, onde, depois de algumas entusiasmadas reportagens em jornais, as principais gravadoras do país se interessaram por aquela novidade vinda de uma cidade nordestina de forte tradição musical que quase duas décadas antes havia revelado seu último grande produto pop: Alceu Valença. A Sony contratou Chico e a Nação Zumbi e o selo Banguela Discos (dos Titãs) ficou com o Mundo Livre.

Em 1993, lançaram seus discos de estréia "Da Lama ao Caos" e "Samba Esquema Noise" (título que logo denunciou a influência de Jorge Ben – seu disco de estréia se chamou "Samba Esquema Novo – sofrida pelo Mundo"). Com as músicas "A Cidade" e "A Praieira", bem-engendradas fusões de rap com maracatu, a Nação saiu à frente em termos de reconhecimento popular – isso, apesar de os dois discos terem sido igualmente muito bem recebidos pela crítica musical de todo o país.

O Abril Pro Rock, festival anual que inicialmente se restringia à cena de Recife, aos poucos abriu seu espaço para bandas (principalmente as novas) de todo o país, acabando por se tornar o mais importante evento da nova música pop do Brasil. Paralelamente à cena mangue, Recife também viu o cinema ganhar fôlego, com produções como o Baile Perfumado, dos diretores Paulo Caldas e Lírio Ferreira, que teve trilha sonora feita por Chico e o Nação, Fred 04, Mestre Ambrósio, entre outros.

Caranguejos chegam à Europa

Destaque absoluto da cena de Recife, Chico Science e Nação Zumbi ganharam o país e embarcaram em 1995 numa bem-sucedida turnê européia ao lado os Paralamas do Sucesso – em alguns shows, foram até a atração principal. Em 1996, lançaram sua obra-prima, o disco Afrociberdelia, em que o maracatu da banda ficou mais eletrônico e internacional, com participações especiais de artistas como Gilberto Gil, que gravou na faixa Macô. O primeiro sucesso do disco "Maracatu Atômico" (de Jorge Mautner e Nelson Jacobina) fazia outra ligação com a geração anterior da MPB.

Meses depois, no dia 2 de fevereiro de 1997, Chico morreu num acidente de carro em Recife, deixando órfã toda uma geração de mangueboys e manguegirls. Alguns apostaram que seria o fim desse movimento, freqüentemente comparado ao Tropicalismo. Mas os artistas do Mangue Beat procuraram outros caminhos dentro da diversidade. Aparaceram trabalhos elogiados como o do ex-percussionista do Mundo Livre Otto (Samba pra Burro, eleito o melhor disco de 1998 pela Associação Paulista dos Criticos de Arte), do DJ Dolores e da cantora e tecladista Stella Campos.


FONTE

wikipedia.Chico_Science

Wikipédia.manguebeat

Cliquemusic

Utopias: Josué de Castro e o Mangue Beat

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