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segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Joubert de Carvalho


Joubert de Carvalho (Uberaba, 6 de março de 1900 — 20 de setembro de 1977) foi um médico e compositor brasileiro, autor de canções como "Maringá" e "Ta-hi".


Há uma cidade do Paraná chamada Maringá e cujo nome lhe foi dado em razão da composição desse mineiro de Uberaba, o médico cardiologista Joubert de Carvalho. O compositor pretendeu tocar no drama dos retirantes nordestinos, contratados pela Companhia Melhoramentos Norte do Paraná, empresa que loteara o norte daquele Estado, para construir casas populares e que virou uma cidade.

Joubert aproveitou o nome, Maria do Ingá, que representa uma cabocla dos sertões do lendário norte do Estado, que partiu numa leva a caminho daquelas paragens. O compositor imaginou o caso de amor descrito nos versos da canção, transformada em sucesso, primeiro na gravação do cantor Gastão Formenti e depois de Carlos Galhardo.

Joubert de Carvalho foi também o autor de um sucesso inesquecível do cancioneiro popular brasileiro: TAÍ, sendo acrescentado ao seu título, posteriormente, Pra Você Gostar de Mim, gravada para o carnaval de 1930 por Carmem Miranda, que tinha apenas 20 anos de idade. (Dados publicados pela editora Abril Cultural na nova história da música popular brasileira - 2ª edição – 1977).


VIDA E OBRA

Nascido no Triângulo Mineiro, era um dos treze filhos do fazendeiro Tobias de Carvalho e de dona Francisca Gontijo de Carvalho.

Tinha nove anos quando o pai comprou um piano, onde Joubert passou a tocar, de ouvido, os dobrados que ouvia na banda local. Aos doze, tendo terminado o curso primário em Uberaba, Joubert mudou-se com a família para São Paulo, por conta da preocupação do pai com a educação e formação dos filhos, que foram estudar no Ginásio São Bento.

A primeira composição de Joubert, a valsa Cruz Vermelha, foi inspirada no hospital infantil do mesmo nome, que havia em São Paulo, e cujas primeiras notas haviam sido tiradas no piano da infância.

O pai permitiu a Joubert que vendesse as partituras, desde que o dinheiro revertesse em benefício do Hospital Cruz Vermelha. O relativo sucesso alcançado pela música animou Joubert a compor outras peças, que entregava à Casa Editora Compassi e Camin, com autorização de seu pai, desde que o pagamento se resumisse a alguns exemplares para Joubert distribuir aos amigos. Durante o curso ginasial Joubert foi se familiarizando com os clássicos, na casa de uma tia pianista.

Em 1919 Joubert foi para o Rio de Janeiro, onde o ensino era de melhor nível e, em 1920, entrou para a Faculdade de Medicina. Com uma mesada de 500 mil réis, Joubert continuava a compor e, durante uma de suas visitas a São Paulo, o editor fez novos pedidos, com a oferta de 600 mil réis mensais. Como o filho havia obtido êxito nos exames, o velho Tobias não só se rendeu, como manteve a mesada, propiciando ao jovem Joubert uma vida de estudante rico, que podia até mesmo morar em hotel.

Nessa época, influenciado por ritmos estrangeiros, Joubert compôs diversos tangos, como Cinco de Janeiro, dedicado ao sanitarista Oswaldo Cruz. Sua primeira composição gravada foi a canção Noivos, lançada em 1921. Mas seu primeiro grande sucesso viria em 1922 com O Príncipe, composta por inspiração da chuva e que seria sua primeira composição gravada no exterior, em 1931. No ano seguinte, 1923, compôs o tango Lindos olhos.


Em 1924 Joubert compôs os sambas: "O Jacaré" e "Não Sou Pamonha", os foxes "Lira quebrada" e "Vieni a Me", as marchas "A nova Itália", "Revelação" e "Vira a casaca", os tangos "Pressentimento" e "Sonhos Mortos" e o maxixe "Viva o Coronel" e, ainda, em parceria com Zirlá, compôs "Aventureiro", "Encanto de Mulher" e "Tango Venenoso" e, em parceria com Zael, compôs "O Galo Preto".

Em 1925 Joubert se formou em Medicina, com a tese intitulada "Sopros musicais do coração", tendo sido aprovado com distinção, embora o título da tese beirasse à pilhéria. Sabendo equacionar perfeitamente as atividades de médico e de músico, Joubert continuava a compor. Desse ano são suas composições Luxo Asiático e Vem Meu Benzinho.

Em 1926, em parceria com Sadi Fonseca, Joubert compôs o maxixe Arrepiado e o tango Canção dos Mares e, com Zael, o maxixe Jaquetão. Ainda desse ano são as composições Manequinho, Mãos de neve, Pobrezinho, Prisioneiro do Amor e Agonia, esta gravada por Pedro Celestino, irmão de Vicente Celestino.

Em 1927 Joubert casou-se com Elza Faria, e tiveram um filho: Fernando Antônio. Desse mesmo ano são suas composições Bigodinho, Boca Pintada, Canarinho, Eu Gosto de Você, Juriti, Mal Aventurado, Nhá Maria, Rio de Janeiro, Rolinha, Sabiá Mimoso, Os Teus Olhos, Traição, As Valentinas e Viva Jaú.

Em 1928 Joubert musicou dois poemas de Olegário Mariano, Cai, Cai Balão e Tutu Marambá, dando início a uma parceria de mais de vinte músicas. Cai, cai, balão e Tutu Marambá foram gravadas por Gastão Formenti. Joubert e Olegário ainda fizeram sucesso com a valsa Hula (1929), o cateretê De papo pro ar (1931) e a canção Zíngara (1931), gravadas por Gastão Formenti; o fox-blue Dor de Recordar (1929), gravada por Francisco Alves; as marchas Absolutamente (1931) e Se você quer (1931) e o fox-canção Bom-dia, meu amor (1933), gravadas por Carmen Miranda.

Os românticos Joubert de Carvalho e Olegário Mariano realizaram uma incursão na área sertaneja com o cateretê "De Papo pro Á". A composição expõe com muita graça a "filosofia" de um caipira esperto que leva a vida pescando e "tocando viola de papo pro á".

Curiosamente, este cateretê vem pelos anos afora sendo cantado com um erro na letra. O fato foi descoberto nos anos cinqüenta pelo pesquisador Paulo Tapajós, que estranhava os versos: "Se compro na feira feijão, rapadura / pra que trabalhar?". Quem compra geralmente trabalha... Foi o próprio Olegário quem lhe esclareceu: "o verso correto é 'se ganho na feira feijão, rapadura'. Acontece que, na primeira gravação, Gastão Formenti cantou 'se compro', cristalizando-se o erro a partir desse disco".

De Papo Pro Á (cateretê, 1931)
Joubert de Carvalho e Olegário Mariano

Não quero outra vida
Pescando no rio de Gereré
Tem peixe bom
Tem siri patola
De dá com o pé
Quando no terreiro
Faz noite de luá
E vem a saudade
Me atormentá
Eu me vingo dela
Tocando viola
De papo pro á

Se compro na feira
Feijão, rapadura,
Pra que trabaiá
Eu gosto do rancho
O homem não deve
Se amofiná

(refrão)

Também de 1928 são as composições: Aquele cantinho, Caboclinha, O Carinho de Meu Bem, A Casinha do Meu Bem, Castelo de Luar, Os Dois Caminhos, Os Filhos da Candinha, O Pardal, Saci-Pererê, Sombrinha Azul e Um Sorriso e um Olhar, a maioria delas gravadas por Gastão Formenti.

Embora as composições de Joubert de Carvalho já viessem sendo gravadas por cantores de destaque na época, como Gastão Formenti e Francisco Alves, a novata Carmen Miranda é que foi a responsável pelo grande sucesso de Ta-hi, lançado em 1930 com o título "Pra Você Gostar de Mim", que alcançou uma vendagem de 35.000 discos, numa época em que os grandes cantores vendiam, no máximo, até mil discos.



Ainda em 1930 Joubert compôs: Dá-se um Jeitinho, É Com Você que Eu Queria, Escrita Errada, Esta Vida É Muito Engraçada, Gostinho Diferente, Kalatan, Neguinho, Pelo Teu Pecado, Saudade danada, Vai Recolher, Vestidinho Novo e Vou Recolher e, ainda, em parceria com M. Fonseca, compôs Cadeirinha; com Anna Amélia Carneiro de Mendonça, compôs Canção do Estudante e Tarde dourada; com Olegário Mariano, Loiras e Morenas e com Gastão Penalva, Para o amor.

Em 1931, em parceria com Pascoal Carlos Magno, Joubert compôs Pierrô, um de seus maiores êxitos e que foi interpretado por Jorge Fernandes, na peça teatral de mesmo nome, de autoria de Pascoal Carlos Magno. Ainda, neste ano, compôs Amor, Amor, Eu Sou do Barulho, Não me Perguntes, Napoleão, Quero Ficar Mais um Pouquinho, Quero Ver Você Chorar, Se Não me Tens Amor, Tem Gente Aí, Venenoso, História de uma Flor, Monte Carlo; com Paulo Roberto, compôs a marcha Foi … Foi ela; com Criso Fontes, o samba-canção Gostar de alguém; com Luiz de Góngora, a canção Por que choro; com Célia Benatti, a marcha Que M'importa; com Osvaldo Orico, a canção Se Ela te Oferecer um Grande Amor; com Luiz Gonzaga, o baião Trovas de amor; e, com Olegário Mariano, Absolutamente, A carícia de um beijo, De Papo pro Á (em algumas fontes 'De Papo pro Ar')" e Zíngara". "De papo pro á" foi lançado, com sucesso, por Formenti, em 1931, e revivido por Inezita Barroso, em seu LP Canto da Saudade.

Em 1932 Joubert compôs Cabecinha de Vento, Coisas de Amor, É de Trampolim, O Gatinho, A Glória de São Paulo, Lenita e Lição de Cristo; e, ainda, em parceria com Osvaldo Orico, Horas de Amor; com Luiz Martins, O Índio do Corcovado; com J. Távora, Teus Olhos… O Outono; com Olegário Mariano, compôs Beduíno, Caboclinho, Galanteria e Se Você Quer e com Cleómenes Campos, Dor.

Mas o grande êxito de Joubert em 1932 foi a canção Maringá que, gravada por Gastão Formenti, fez sucesso também no exterior, rendendo direitos autorais a Joubert durante muito tempo.



Como Joubert queria um lugar de médico dos Marítimos e, sendo amigo do ministro da Viação, José Américo de Almeida, fez, para agradá-lo, já que este era nordestino, a música
"Maringá", que surgiu de Maria do Ingá; Ingá era um município do nordeste, onde a seca havia sido mais rigorosa.

"Maringá" era cantada por operários que construíam uma nova cidade no norte do Paraná e que, ao ser fundada oficialmente em 1947, recebeu o nome de Maringá.

Em 1933 Joubert foi nomeado médico do Instituto dos Marítimos, onde fez carreira, chegando a ser diretor do hospital. Mas não deixou de compôr e, nesse mesmo ano, surgiram as músicas Coisinha Boa, Melhor que Há no Mundo, Devolve os Meus beijos, Estilizada, Ficou um Beijo em Minha Boca, Flor que Ninguém Colheu, Foi Você Mesmo, Há Nos Teus Olhos… Um Luar, Lágrimas de Pierrô, Marilena, Melhor Amor, Meu Amor Chegou, Olá, Que Bom Que Estava, Redenção e Sossega o Teu corpo, Sossega e, ainda, Arlequim, em parceria com Fortes Malta; Boca bonita, com Narbal Fontes; De Madrugada, com Catulo da Paixão Cearense; A Doce Palidez de Maria, com A. Freitas; Bom Dia, Meu Amor, Canção do Abandono, Felicidade e Moreninha Brasileira, com Olegário Mariano; C'est toi, l'Amour e N'aimez que moi, com Maria Eugênia Celso; Eta Caboclo Mau e ]Garota Errada, com Luis Martins; Felicidade… É Quase Nada e Se um Dia Pudesse, com Gilberto de Andrade; A Lenda das Rosas Vermelhas e Moleque Sarará, com Murilo Fontes; e Tabuada, com Adelmar Tavares.

De 1934 são as composições de Joubert de Carvalho Deixa-me Beber", Eu Quero te Dar um Beijo, Um Pouquinho de Amor, Sapatinho da Vida, Uma Vezinha Só e, também, Pela primeira vez.

Em 1940 Joubert compôs as valsas Ainda Hei de te Beijar, Maria, Maria, Por Quanto Tempo Ainda… e Rosi e o fox-canção Em Pleno Luar. "Maria, Maria" e "Em Pleno Luar" foram gravadas por Orlando Silva, com grande sucesso. No ano de 1941 traz a marcha Avante, Companheiros.

De 1943 são suas valsas Ninguém Esquece…, A Vida É um Sonho e Visão de Outro Amor. O ano de 1946 foi o de maior sucesso para Joubert: Gilberto Milfont lançou a canção Jeremoaba e Silvio Caldas gravou a canção Minha Casa e a valsa Nunca Soubeste Amar.

"Minha Casa" foi um dos últimos grandes sucessos de Joubert de Carvalho. O romântico seresteiro ainda lançaria outras composições, mas nenhum de seus trabalhos posteriores alcançou a projeção popular de "Minha Casa".



Em 1948 Joubert compôs a valsa Noite de estrelas; em 1949, em parceria com R. C. Lisboa, compôs a canção Reminiscência; em 1950, compôs Flor de Esperança, Gostoso e Picadinho; em 1951, Baía da Guanabara, É Carinho que Falta, Felicidade… E Nada Mais, Um Grande Amor, Paris, Paris, Sabe Lá o que É Isso e Quando se Vai o amor, esta última em parceria com T. Malta.

Em 1952 Joubert compôs Festa de Formatura, Flamboyant, Fogueira, Mamãe Dolores, No Tempo da Valsa e Perto da Lareira e, ainda, em parceria com David Nasser, compôs o bolero Silêncio do Cantor, que era uma homenagem ao cantor Francisco Alves, morto nesse ano, em acidente automobilístico.

Em 1953, com Adelmar Tavares, Joubert compôs Olha-me Bem nos Olhos. Ainda nesse ano compôs Mande um Beijo, Quando eu Partir, Tes Yeux, A Vida por um Beijo e Feliz Aniversário, com a qual venceu um concurso, sendo gravada por Neide Fraga.

De 1954 são as composições Apresse o Passo, Dia Feliz, Marcha das Bandeiras, Viva São Paulo e Voltei, Voltei.

No período de 1955 a 1960, Joubert de Carvalho passou a dedicar-se a estudos filosóficos, não publicando nada e produzindo apenas para uso interno. Em 1959, foi homenageado pelo povo de Maringá, que deu seu nome a uma das ruas da cidade.

Em 1961 Joubert compôs Hìno ao Presidente e Marcha da Vitória.

Em 1962 o cantor Carlos Galhardo lançou novas composições de Joubert de Carvalho: O Amor e o Sol, Florista, Mundos Afora, O Tempo que Ficou e Desde Sempre, esta, em parceria com Mario Rossi.

De 1969 são suas composições Além da Vida e Esta Noite Não e, ainda, Fragrância, em parceria com Mario Rossi, e Sol na Estrada, com I. Maria.

Em 1970, participou do V Festival Internacional da Canção da Rede Globo, com a valsa A Flor e a Vida, composta em parceria com Ieda Fonseca, não conseguindo classificação. Pouco depois, venceu, com a mesma composição, interpretada por Antonio João, o Festival Brasileiro de Seresta.

A flor e a vida (valsa, 1970)
Joubert de Carvalho e Ieda Fonseca

Eu jamais pensei em te deixar.
Sucedesse não te ver, um dia,
Pudesse tal coisa acontecer,
De mim o que seria?
Talvez aquela flor que não enfeita mais,
A que deixara a graça no abandono,
E, sem dono, fôra o seu destino,
Jogada fora ou esquecida.
E assim tem sido a vida, vou sofrendo.
E a flor de outrora perfumada, vai morrendo.
E vendo pétalas no chão da flor caída,
Tive inveja então...
Quisera ser a terra
Que em seu seio encerra
A flor e a vida.

Em 1971 Joubert compôs O Rio é Carnaval; em 1972, A Cidade que Nasceu de uma Canção e Hora de Despedida; e, em 1973, A Voz e o Violão.

Joubert de Carvalho nunca bebeu, nunca foi boêmio; bares e botequins jamais o atraíram. Homem culto e refinado, chegou também a escrever um romance: Espírito e Sexo, que se aproxima do ensaio social.

Como médico, também foi muito talentoso e um dos pioneiros no Brasil em Medicina Psicossomática. Autor de mais de setecentas composições editadas, no final da vida, Joubert se afastou do mundo musical, pois os novos estilos surgidos deixaram pouco espaço ao romantismo do seresteiro que, de certa forma, ele foi.

Joubert de Carvalho morreu no dia 20 de setembro de 1977, vítima de pneumonia, deixando importante legado para a música popular brasileira.

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