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domingo, 13 de fevereiro de 2011

Venâncio e Curumba



A música "O ultimo pau de arara", composição da dupla Venâncio e Curumba, lançada em janeiro de 1956, é mencionada no artigo NORDESTE NA POESIA DA MUSICA POPULAR, de Renato Phaelante, em abril de 1991 - Apipucos, Recife.

O Ultimo Pau de Arara

A vida aqui só é ruim
Quando não chove no chão
Fartura tem de porção
Tomara que chova logo
Tomara, meu Deus, tomara
Só deixo o meu Cariri
No último pau de arara.

Enquanto a minha vaquinha
Tiver no couro e no osso
E puder com o chucalho
Pendurado no pescoço
Eu vou ficando por aqui
E Deus do céu me ajude
Quem sai da terra natal
Em outros campos não pára
Só deixo o meu Cariri
No ultimo pau de arara.

Renato destaca que durante a seca de 1877, no Ceará e vizinhanças morreram quinhentas mil pessoas de sede, inanição e epidemias; então nos discursos políticos, na literatura, nas artes plásticas, na poesia, na cantiga e no improviso do violeiro, nas obras cinematográficas, a seca marcou presença, no protesto, na denuncia, no lamento.

E ainda observa que a música é uma manifestação cultural, no caráter popular um dos veículos de maior importância, de mensagem sonora, mais autentica e mais nativa, pela presença de nordestinos e sertanejos, uns convivendo com a seca, outros sensíveis a ela, de cujas inspirações vêm brotando as mais belas criações do nosso cancioneiro...

O Ultimo Pau de Arara

O inesquecível Baião "Último Pau-De-Arara" foi um dos maiores sucessos da Dupla e tornou-se um Clássico da Música Popular Brasileira, tendo sido gravado também por diversos grandes Intérpretes, tais como: Ari Lobo, Catulo de Paula, Quinteto Violado, Clara Nunes, Fagner, Maria Bethânia, Vanuque, Jair Rodrigues, Sérgio Reis, Zé Ramalho, Gilberto Gil, Teca Calazans, Caju e Castanha, Heraldo do Monte e Carmélia Alves, apenas para citar alguns.

Marcos Cavalcanti de Albuquerque, o Venâncio, nasceu em Recife/PE no dia 07/10/1909 e faleceu no dia 18/09/1981. Manuel José do Espírito Santo, o Curumba, também nasceu em Recife/PE no dia 11/06/1914. 

Venâncio iniciou sua carreira artística cantando Cocos em festas de São João, Santana e São Pedro. Até que um dia recebeu um convite para substituir um ator numa apresentação teatral. Gostou da experiência de tal forma que decidiu fazer Curso de Teatro no Círculo Operário. E o Grupo de Teatro do Círculo Operário chegou a ter Venâncio como Diretor Teatral. 

Saudade da Bahia

Foi no ano de 1928 que Marcos conheceu Manoel José e ambos formaram a dupla "Venâncio e Curumba", que veio a ser não somente uma das mais longas parcerias da Música Sertaneja Nordestina, mas também uma raríssima "Dupla Nordestina Caipira à Moda Sulista", que mesclou a Moda de Viola com o Repente e o Desafio típicos da Região Nordeste do Brasil.

Boi na Cajarana

A Dupla de início começou a se apresentar na Rádio Clube de Pernambuco, na qual permaneceu por onze anos, apresentando programas musicais e humorísticos diversos.

E, no início da década de 1940, Venâncio e Curumba trocaram Recife-PE pelo Rio de Janeiro-RJ, onde atuaram na Rádio Tupi e na Rádio Tamoio.


Foi em dezembro de 1950 que a dupla gravou pela Sinter o primeiro Disco 78 RPM (Nº 020), tendo no Lado A a Batucada "Sai Da Frente" (Clementino Barreto - Enedino Silva - Edgard Amaral) e no Lado B a Marcha "O Doido" (Edgard Amaral - Enedino Silva).

No mesmo ano, Venâncio e Curumba fizeram parte do Elenco da Peça Teatral "As Rolhas Vão Rolar" e, com esse espetáculo, realizaram uma temporada em São Paulo-SP, cidade na qual decidiram se fixar.

Minha Bahia

Na Capital Paulista, a dupla foi contratada pela Rádio Nacional (hoje Globo). Venâncio e Curumba passaram também a empresariar Artistas (especialmente os oriundos da Região Nordeste do Brasil) através da "Venca Promoções", empresa por eles criada.

Venâncio foi, por sinal, uma das pessoas do Meio Artístico que mais trabalharam para melhorar o "status" do Nordestino na Paulicéia Desvairada, tendo sido inclusive Presidente da Associação de Repentistas, Poetas e Folcloristas do Brasil, na década de 1970.

Coco do Ceará

Em 1953, Venâncio e Curumba gravaram pela Todamérica o Disco 78 RPM (Nº TA-5.310), tendo, no Lado A, uma das Músicas com que mais fizeram sucesso, que foi a Toada "O Boi Na Cajarana" (Venâncio - Corumba), e no Lado B, a Valsa "Saudades De Brejão" (Corumba - Venâncio).

Paulificante

Em janeiro de 1956 a dupla gravou na Odeon o Disco 78 RPM (Nº 14.019), tendo no Lado A "Último Pau-De-Arara" (José Guimarães - Corumba - Venâncio) e no Lado B a Toada "Saudade De Você" (Williams Martins da Silva - Rogério Lucas).

É ou Não É

Venâncio e Curumba também brilharam como Compositores e diversas músicas de autoria da dupla foram gravadas também por renomados Intérpretes tais como Zito Borborema e Seus Cabras-da-Peste, Gilvan Chaves, Jackson do Pandeiro, Trio Nordestino, Rolando Boldrin, Luís Wanderley, Nerino Silva, Chico Anísio, Arnaud Rodrigues, Ednaldo Queiroz, Anastácia e Banda Mantiqueira, apenas para citar alguns. Isso tudo sem mencionar os diversos excelentes intérpretes que gravaram "Último Pau-De-Arara" (José Guimarães - Corumba - Venâncio), conforme citado logo acima!

O Navio de Valença


A dupla, no entanto, se desfez no ano de 1968. Curumba seguiu em frente como Empresário, enquanto que Venâncio continuou atuando como Compositor, tendo sempre como "carro-chefe" os Aspectos Folclóricos da riquíssima Música da Região Nordeste do Brasil.

Venâncio chegou a formar o Grupo "Venâncio e os Baianos de Aracaju", com o qual gravou em 1977 pela Premier/RGE o LP "Brasil Com S" (Nº 307.3328), o qual foi bem aceito pela crítica. Ao que consta, esse foi o último LP gravado por Venâncio.


Segundo o site Acervo Origens as composições de Venâncio são geniais, e exaltam o Brasil, seus lugares, sua cultura e o sentimento de ser brasileiro. Ele inclusive cita nomes de compositores, músicas, danças e lugares. Interessante é a faixa 3 do lado A - Rio Antigo, que faz referência a vários locais do Rio, e o refrão (na glória) é tirado do choro de mesmo nome, de autoria de Ary dos Santos e Raul de Barros.


A faixa 1 do lado B - O ensaio, conta a história de um grupo musical que não deu certo. Brasil Caboclo, de Oliveira Francisco de Melo e João Quindingues, é lindíssima. De fato, esse disco é para ser ouvido inteiro, sem pular faixas.

Venâncio também chegou a criar a gravadora "Crazy", a qual, apesar do "nome maluco", foi especializada em Música Brasileira.

Curumba, por sua vez, chegou a residir juntamente com a família de Jair Rodrigues e chegou a participar do LP "Violeiro" (Nº 308.6022) gravado por Rolando Boldrin na RGE, LP no qual o excelente Cantador gravou as diversas faixas em Dupla com Ranchinho, Bentinho, Cascatinha, Brioso, Leili Boldrin e José Bento de Oliveira (Nhô Bento), além do próprio Curumba, que interpretou "Balagulá" (Venâncio - Curumba), juntamente com Rolando Boldrin.


Importante lembrar que os Intérpretes que cantaram juntamente com Rolando Boldrin na gravação desse disco já não contavam mais com seus companheiros de Dupla Alvarenga, Xerêm, Inhana e Brinquinho, os quais já haviam falecido.

A Discografia deixada por Venâncio e Curumba é composta por 14 Discos 78 RPM e apenas um LP (Nº AFLP-2006), gravado em 1964 pela gravadora Áudio Fidelity. Consta também o já mencionado LP "Brasil Com S" (Nº 307.3328) gravado na Premier/RGE, no entanto, o Corumba não participou desse Disco.

E, ao que consta, lamentavelmente, nada do que foi produzido por Venâncio e Curumba como intérpretes foi remasterizado em CD, restando somente o "consolo" de belíssimas Composições como "Último Pau-De-Arara" (José Guimarães - Corumba - Venâncio) que continuam sendo gravadas por excelentes músicos inclusive na atualidade.

CURIOSIDADES


Outras Mídias:






*Gravações raras da dupla  Venâncio e Curumba - aqui

Obra

23 de junho (c/ Jorge Costa)
A dica do deca
Ação de despejo
Antoninho Pizada
Azulão da mata
Baião da corda
Baião de viola
Balada do homem sem Deus (Venâncio e José Ramos)
Castigo da seca
Cocota na rancheira
Coincidência
Coração de fera (Corumba e Santos)
Dá eu pra ela
Devagar se vai ao longe
É onça?
Faz pena deixá o mundo (c/ Antônio Valença)
Festa do Caramuru (c/ Jorge Costa)
Gemedeira (Venâncio e L. Batista)
Jogo do bicho
Lembrando o sertão
Mais um beijo (Venâncio e José Ramos)
Mata sete
Meu papagaio
Modelo de Adão
Nós todos somos baianos
O boi deu (c/ Renato Rodrigues)
O boi na cajarana
Onde o socó choca
Paulificante
Piada do papagaio
Pijama de madeira
Pra mim (Corumba e Zé do Baião)
Saudade não mata ninguém
Saudades de brejão
Tá mudado
Tempo de molecote
Trocadilhos
Último pau-de-arara (c/ José Guimarães)
Vizinha faladeira (Venâncio e Jorge Costa)

FONTE

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