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sábado, 28 de maio de 2011

Fernando Portari


Fernando Portari (Rio de Janeiro, 1968) é um tenor brasileiro.

Sua formação musical remonta às aulas com seu pai, Pedro Portari, no Rio de Janeiro. Estudou também piano com Zinaide Liggiero e encenação musical com Antonio Mercado.

Em 1991, venceu o Concurso Lina Kubala e recebeu uma bolsa de estudos para a Musikhochschule (Escola Superior de Música) de Karlsruhe, na Alemanha, onde foi aluno do tenor brasileiro Aldo Baldin. Seu debut italiano se deu no papel de Jaquino na ópera Fidelio no Teatro La Fenice de Veneza, onde, em 1999, retornou para cantar Riccardo na ópera Maria de Rohan de Donizetti.



Em 2000, cantou La rondine no Teatro dell’Opera em Roma e o Stabat Mater de Rossini em Florença. Particiou de inúmeras montagens nos principais teatros de óperas em São Paulo, Rio de Janeiro, Manaus e Ribeirão Preto. Cantou de Carlos Gomes as óperas II Guarany em Campinas e Condor no Festival de Ópera de Manaus.

Apresentou-se ainda na ópera Des Grieux in Massenet de Manon na Staatsoper Unter den Linden em Berlim, sob regência de Daniel Baremboim. Cantou ainda La rondine no La Fenice, Anna Bolena e Gianni Schicchi no Teatro Massimo em Palermo, e La traviata na Staatsoper de Hamburgo.

Nas últimas temporadas vem atuando regularmente nos principais teatros de ópera da Europa, tais como o Teatro alla Scala de Milão, e nas óperas de Colônia, Helsinki, Moscou, Paris, Munique e Varsóvia.

Ao lado de Rosana Lamosa, é professor visitante do Curso de Música pela USP de Ribeirão Preto e gravou as canções para canto e piano de Gilberto Mendes com o pianista Rubens Ricciardi, num projeto Petrobrás/Centro Cultural São Paulo. Conquistou ainda vários prêmios, incluindo-se o melhor cantor de ópera do ano da APCA e o Prêmio Carlos Gomes, ambos em São Paulo.




Na manhã do último dia 5 de julho/2010, o cantor brasileiro Fernando Portari recebeu um telefonema que faria daquela data a mais importante de sua vida. Do outro lado da linha estava um funcionário do teatro Scala de Milão, comunicando ao tenor que à noite ele teria que cantar o papel de Fausto, na ópera homônima do compositor francês Charles Gounod. Portari estava em Milão como doppione - ou seja, o cantor que é chamado pelo teatro para o caso de doença de alguém do elenco.

"O público do Scala aplaude e vaia com intensidade, e essa reação pode ser decisiva na carreira de um cantor", diz Portari. "Quando a cortina se abriu, vi aquele teatro mítico lotado. No final, fui aplaudido calorosamente, com muitos 'Bravos!'", lembra ele, que estava apreensivo porque na estreia todos os cantores haviam sido vaiados, com exceção da soprano moldava Irina Lungu.

A ovação no Scala pode fazer a carreira de Portari (42 anos), mudar de patamar. Desde 2009, sua agenda está cheia de compromissos internacionais. Chegou a cantar com Daniel Baremboim, o maestro israelense que, ao lado do norte-americano James Levine, é considerado o principal regente de ópera da atualidade. A decisão de buscar o mercado externo se deveu à decadência do canto lírico no Brasil - e o sucesso vem coroando a ousadia.

Nascido no bairro carioca de Vila Isabel, fã de samba e de rock pesado, Portari frui o mundo da ópera não apenas quando está no palco. Apaixonado por sua profissão, ele se diverte com as histórias ocorridas nos bastidores, os chiliques dos colegas e até o mau humor dos maestros. Em entrevista a BRAVO!, o cantor - que em agosto/2010 fez em São Paulo o Don Pasquale de Donizetti - falou sobre esse universo divertido e fascinante.

BRAVO!: Tendo sido criado na Vila Isabel, como você não foi parar no samba?

Mas eu também sou do samba! Adoro e canto com regularidade. Principalmente os gravados pelo Orlando Silva, meu ídolo. E os sambas do Cartola, então? Do Paulinho da Viola? Paulo César Pinheiro? Aldir Blanc? Todos gênios! Fui criado no meio de tudo isso. Minha adolescência teve muito, mas muito Lulu Santos, Leo Jaime, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, a deusa Maria Bethânia, Milton Nascimento, Chico Buarque, Raul Seixas, Hermeto Pascoal. Fora o rock pesado. AC/DC eu vi no Rock in Rio. Passava os sábados à noite na gafieira Estudantina ou então ouvindo rock no Circo Voador. Fora que eu não perdia o Cassino do Chacrinha por nada.

Hoje os cantores têm que ser bons atores também. É verdade que estar em forma é cada vez mais importante no mundo da ópera?

É verdade. E eu engordei muito. A tendência do cantor de ópera é engordar. Ele é ansioso, está sempre preocupado em não ficar doente, não pode tomar um vento, não pode jogar bola... Não pode nada. Ele fica recluso. Eu tinha 70 kg quando comecei a cantar. Cheguei a 107! Aí, a duras penas, comecei a tentar emagrecer. Agora estou com 94 e espero chegar aos 80. Faz muita diferença na hora de você pegar um personagem.

Quem tem mais poder numa montagem de ópera: o cantor principal, o regente ou o diretor cênico?

Como você disse, hoje a imagem influencia como nunca o espetáculo teatral e, consequentemente, a ópera. Por isso, o diretor cênico tem tido certa ascendência sobre os rumos do espetáculo. Em duas ocasiões, eu fiz audições diretamente para os diretores cênicos, e eles decidiram sozinhos me contratar. A tendência de buscar uma renovação da linguagem da ópera e aproximá-la do teatro de prosa também contribui para isso. Você vê a mão forte do diretor na concepção do espetáculo, que na maioria das vezes é odiada pelo público tradicional, mas amada pelos que não aguentam mais o tradicionalismo. Claro que há os lugares onde quem toca o tambor é o maestro, e aí o cantor reza para que sua ideia musical seja parecida com a dele. Caso contrário, dificilmente o cantor fará um bom trabalho. Isso é um perigo, pois quem de fato está exposto é o cantor. O público não percebe o quanto o maestro pode ajudar ou destruir a interpretação dos cantores.

No mundo erudito, ainda há muitas divas?

Acho que no teatro e na televisão há bem mais. Pelo menos é o que sai nas revistas de fofoca. As mulheres dão piti e exigem coisas absurdas. No mundo erudito, isso está em extinção. Primeiro porque ele se modernizou. Segundo porque foi perdendo espaço. Quem dita as coisas agora é o mundo pop. Como o canto lírico está atrás, o primeiro passo que quem está envolvido nesse universo tem que dar é se tornar um profissional funcional. O cara que quiser bancar o divo dentro da estrutura está fora. Até porque ele não manda na estrutura. Quem manda são os teatros.

Você cantou com a Anna Netrebko, a maior beldade do mundo da ópera atual. Ela não seria uma diva?

A Netrebko é uma exceção. Ela soube se vender. Tem uma energia contemporânea e sabe lidar com a mídia. Fora que ela é ligada em moda mesmo. Quando a gente estava em Berlim, fazendo Manon, houve uma grande festa na embaixada da França depois da estreia. Nos bastidores, eu peguei o papo de algumas cantoras preocupadas com o que vestir para essa festa. Pois a Netrebko chegou e recomendou a loja mais fashion da Alemanha. E não era dessas grifes internacionais, não. Era uma informação que só uma local saberia. Ela é um ícone pop mesmo e as pessoas reconhecem isso. O teatro tem que negociar com ela. No entanto, a Netrebko não faz nenhuma exigência maluca. Ela não pede camarim todo azulzinho ou somente com flores vermelhas.

Você já teve problemas com animais em cena?

Graças a Deus, não. No máximo um gato atravessando o palco. Cantei em um Nabuco (ópera de Verdi) agora, em Varsóvia, e havia uma hora em que entrava um monte de cavalos em cena... Uns cavalos enormes! O barítono tinha de ser muito corajoso. O cavalo é um animal arisco, não é um cachorrinho. Você sente a energia do bicho. Quando ele bate a pata no chão, é tenso.

Mas vai chegar a sua hora de contracenar com um cavalo, não?

Deus me livre. Tem cantor que acha o máximo entrar em cena em cima de elefante, de girafa. Eu não curto isso, não. Não sou de experiências radicais.

Você já presenciou histórias pitorescas em cena? Já viu um cenário despencar ou coisas do tipo?

Uma vez eu fiz Os Palhaços (ópera de Leoncavallo), em Vitória, com a companhia do tenor Amaury René. O barítono era um amigo querido, que fazia o papel de Silvio, o amante da mulher do Canio, o palhaço da trupe. Um papel romântico e jovial, só que meu amigo já não era nem garoto nem cabeludo, de modo que a opção foi colocar uma peruca para que ele parecesse mais jovem. Começamos a ópera e, no grande dueto entre Nedda (a mulher do palhaço) e Silvio, eis que surge no palco outro personagem: uma barata! E era daquelas imensas e voadoras, um verdadeiro monstro aéreo. Quando a Nedda viu que a barata vinha por trás do Silvio, ela se afastou desesperada. Ele nada entendeu, afinal no dueto de amor os dois deveriam estar bem juntinhos. Para piorar, a barata resolveu pousar na peruca do cantor. O público já não queria mais saber do dueto, mas, sim, qual seria a próxima cena com a barata. Aí a Nedda, quase desmaiando, apontou para a cabeça do Silvio. Ele passou a mão, percebeu o inseto e passou a pular feito um cabrito brabo, jogando a peruca fora e revelando a calva. Nunca vi uma plateia gargalhar tão alto. Coisas da ópera...

Como é ser casado com uma das suas principais colegas de palco? Rola ciúme quando vocês contracenam com outros cantores?

A Rosana (Lamosa) é uma luz na minha vida. Nunca tive nenhum tipo de problema com ela em relação à carreira, muito pelo contrário. A gente se ajuda muito. Já são 15 anos dividindo o palco. Neste mês, nós vamos fazer o Don Pasquale (ópera de Donizetti) no Theatro São Pedro, em São Paulo.

É verdade que, quando vocês não estão juntos em cena, um filma o outro?

Exatamente. Os vídeos que estão no YouTube comigo em cena foram todos feitos pela Rosana. Inclusive aqueles em que estou contracenando com a Netrebko. Houve cena ali que deu para suar! A Netrebko de camisola e a gente rolando na cama para lá e para cá... E a Rosana vendo pela lente, no zoom! Para você ver que pessoa fantástica ela é. Se não fosse a Rosana, eu nem teria isso documentado. É coisa de amor incondicional mesmo.

Como você lida com hábitos prejudiciais aos cantores, como o cigarro e a bebida?

Já fumei e não fumo mais. Mas adoro uma cerveja. Em época de ensaio, eu seguro. Porém, quando o bicho pega, vou lá para o Grajaú, onde meus pais moram, no Rio de Janeiro, faço um churrasco na garagem e aí a cerveja rola solta.



FONTE

WIKIPÉDIA

bravoonline

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