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sábado, 16 de julho de 2011

Billy Blanco



Com sua batida de violão própria, melodia delicada, e letras que flertavam com a crônica de costumes, Billy Blanco (William Blanco Abrunhosa Trindade - Belém do Pará, 8 de maio de 1924 — Rio de Janeiro, 8 de julho de 2011), foi um arquiteto, músico, compositor e escritor brasileiro.

Considerado por estudiosos o precursor da bossa nova (claro que não foi sozinho; nessa linha de raciocínio, contemporâneos seus como, sobretudo, o Geraldo Pereira de “Bolinha de papel”, deram contribuições também marcantes). 

Tereza da Praia
Música de Tom Jobim e Billy Blanco
Interpretação de Lúcio Alves e Dick Farney

Lúcio
Arranjei novo amor
No Leblon
Que corpo bonito
Que pele morena
Que amor de pequena
Amar é tão bom
O Dick
Ela tem
Um nariz levantado
Os olhos verdinhos
Bastante puxados
Cabelo castanho
E uma pinta
So lado
É a minha Tereza
Da praia
Se ela é tua
É minha também
O verão passou
Todo comigo
O inverno pergunta
Com quem
Então vamos
A Tereza
Na praia deixar
Aos beijos do sol
E abraços do mar
Tereza
É da praia
Não é de ninguém
Não pode ser tua
Nem minha também
Tereza
É da praia

Billy Blanco compôs e marcou presença na MPB por seis décadas. Desde a segunda metade do século passado que ele vem municiando interpretes com sambas deliciosos, criados sozinhos ou em parceria com pesos pesados como Baden Powell e Tom Jobim. Também gravou discos cantando, e o último foi a exatos dez anos.


Sua escrita era cheia de personagens comuns do imaginário carioca, como o bon vivant que era o típico “falso malandro de Copacabana”, que “o mais que consegue é um vintão por semana/que a mana do peito jamais lhe negou” (“Mocinho bonito”, gravação histórica de Doris Monteiro); o chamado à atenção pelo respeito nos “Estatutos da gafieira”, que o caricaturista do samba Jorge Veiga eternizou; ou o boçalão que “não fala com pobre, não dá mão a preto nem carrega embrulho”, de “A banca do distinto”, um obra prima.


Nesse caminho livre de compor com um olho nas cordas e outro nas ruas, retratando a paisagem urbana e os personagens do dia a dia – estilo no qual Noel Rosa foi mestre soberano – Billy Blanco nadou de braçadas, com impressionante desenvoltura. Arquiteto de formação, com pós-graduação ampliada na engenharia da vida, Billy (que esteve internado desde o começo de outubro passado, quando sofreu um AVC) gravou, além de tantos sucessos, o seu nome na galeira dos grandes do nosso cancioneiro.

Atraído pela música desde criança, quando começou a compor tinha cuidado ao escrever seus sambas, com letras elaboradas, assuntos e composições das canções. Desde os dez anos já praticava poesia, fazendo suas redações todas em versos, sendo sempre nota dez em português. Interessou-se pela música desde cedo, fazendo inicialmente paródias, com letras diferentes em músicas conhecidas.


Escutava as estações de rádio do Rio de Janeiro, num rádio chamado Galena de um vizinho seu. Era uma agulha de costura comum, que sintonizava as estações percorrendo um cristal de rocha e que transmitia à fone de ouvido. Naquela oportunidade, tomou conhecimento da música de Noel Rosa e seu parceiro, o maestro Vadico (Oswaldo Gogliano), se impressionou com a qualidade da letra de Noel, e a música de Vadico. Daí a sua preocupação, ao escrever seus sambas, com a elaboração das letras, os assuntos e a composição das melodias.


Na juventude já participava de shows nos quartéis, hospitais e escolas, época em que os compositores e músicos iniciantes eram chamados “amador marrom” porque já recebiam algum dinheiro por suas apresentações.

Depois de passar pelos colégios Moderno, Nazaré e Ginásio Paes de Carvalho, ingressou na Escola de Engenharia do Pará, hoje Universidade Federal. Nos anos 1940, quando cursava o segundo ano de Engenharia, foi para São Paulo, para fazer o curso de Arquitetura, e ingressou no Mackenzie College em 1946.

Ao passar para o quarto ano, foi para o Rio de Janeiro e conheceu o arquiteto Sérgio Bernardes de quem se tornou amigo. Sérgio conseguiu matriculá-lo na Faculdade de Arquitetura e Belas Artes do Rio de Janeiro e Billy se mudou definitivamente para o Rio, indo trabalhar como desenhista nos escritórios de Sérgio Bernardes até se formar arquiteto em 1950. 


Tinha um estilo próprio, descrevendo os acontecimentos a sua volta, com humor ou no gênero de exaltação, falando de amor e das desilusões; onde seu samba sincopado, que fugia da cadência vigente do estilo, passou a chamar a atenção dos cantores da época.


Sua primeira composição foi "Pra Variar", em 1951. Nos anos 1950 e 1960 seus sucessos foram gravados por Dick Farney, Lúcio Alves, João Gilberto, Dolores Duran, Sílvio Caldas, Nora Ney, Jamelão, Elizeth Cardoso, Dóris Monteiro, Os Cariocas, Pery Ribeiro, Miltinho, Elis Regina e Hebe Camargo. Seu primeiro sucesso foi "Estatutos da Gafieira", na voz de Inesita Barroso, em gravação da RCA Victor de 1954.

Entre seus parceiros estiveram Baden Powell, em "Samba Triste", Tom Jobim, em "Sinfonia do Rio de Janeiro" (suíte popular em ritmo de samba, de 1960) e João Gilberto, em "Descendo o Morro" e "A Montanha/O Morro", onde os dois doutores do asfalto homenageiam o samba de gente simples e de favela. Foram 56 parcerias com o violonista Sebastião Tapajós e com outros compositores, num total de quinhentas músicas, sendo que trezentas já gravadas.

Entre seus sucessos destacam-se "Sinfonia Paulistana", "Tereza da Praia", "O Morro", "Estatuto da Gafieira", "Mocinho Bonito", "Samba Triste", "Viva meu Samba", "Samba de Morro", "Pra Variar", "Sinfonia do Rio de Janeiro" e "Canto Livre". "Sinfonia do Rio de Janeiro" é composta por dez canções, escritas em parceria com Tom Jobim, em 1960. As canções que formam a suíte são "Hino ao Sol", "Coisas do Dia", "Matei-me no Trabalho", "Zona Sul", "Arpoador", "Noites do Rio", "A Montanha", "O Morro", "Descendo o Morro" e "Samba do Amanhã".


"Sinfonia Paulistana" foi concluída em 1974, depois de dez anos de trabalho. É composta por quinze canções, cantadas por Elza Soares, Pery Ribeiro, Cláudia, Claudette Soares, Nadinho da Ilha, Miltinho e elo coro do Teatro Municipal de São Paulo.

A produção foi de Aloysio de Oliveira, com orquestra regida pelo maestro Chico de Moraes. As músicas se chamam "Louvação de Anchieta", "Bartira", "Monções", Tema de São Paulo", "Capital do Tempo", "O Dinheiro", "Coisas da Noite", "O Céu de São Paulo", Amanhecendo", "O Tempo e a Hora", "Viva o Camelô", "Pro Esporte", "São Paulo Jovem", "Rua Augusta" e Grande São Paulo".

Em "Monções", destaca-se o carimbó épico, e em "O Tempo e a Hora", a fusão entre bossa e pop. O jornal O Estado de S. Paulo definiu o refrão de "Tema de São Paulo" como o "que mais define o paulistano". Desde o ano em que foi concluída a suíte, essa música, a mais famosa da suíte, faz parte da trilha sonora do Jornal da Manhã, noticiário matutino da Rádio Jovem Pan. Depois de passar uma temporada no Forte de Copacabana durante a ditadura brasileira, Billy Blanco compôs "Canto Livre".


(Cenas do DVD ao vivo "Billy Blanco, o compositor". Lançado em 2009 e gravado no Theatro da Paz pela TV Norte Independente sob direção de Carmen Ribas, este foi um dos últimos trabalhos de Billy Blanco em vida).

Estava em plena atividade dedicando-se a música gospel, até sofrer um derrame e ser internado no Rio de Janeiro no segundo semestre de 2010. Apesar do quadro estável, em dezembro ainda não conseguia se comunicar oralmente. Em 8 de julho de 2011 o cantor e compositor morreu, aos 87 anos. Ele estava internado no Hospital Panamericano, na Tijuca, na Zona Norte da cidade.

De acordo com informações do hospital, Blanco estava na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e teve parada cardíaca. Ele deu entrada na unidade em outubro de 2010, quando um acidente vascular cerebral (AVC).


Suas canções têm sido constantemente regravadas por nomes como Maria Bethânia, Emílio Santiago e Zé Renato, além de serem utilizadas em trilhas de comerciais e novelas. A mais recente foi Desencanto, parceria com Sebastião Tapajós, um dos temas da novela da Globo, Uma história de amor, na voz de Ana Lemgruber.

Desencanto
Billy Blanco e Anna Lemgruber
De: Billy Blanco

Se queres, eu prossigo, amigo
Usa o pranto em hora bem mais triste
Eu não mereço tanto
Te quero como amigo.
Porque, como já viste,
O nosso amor não deu.
Se queres, eu me entrego,
Só não sei até quanto
Te valerá a pena tua vida está passando
Sou coisa tão pequena
Que nem valho, eu garanto,
Um desencanto teu.

Amigo, me perdoa,
Se dói sinceridade,
É bem melhor que o medo
De te ferir a toa
Porque mais tarde ou cedo
E como o tempo voa
A gente se esqueceu

CURIOSIDADES

* Quando Billy Blanco apareceu, foi comparado a Noel Rosa pela graça com que fazia crônicas musicais do Rio de Janeiro. Ele, que nos descreveu tantos personagens, também se fez uma figura do Rio; anda sempre de branco, em respeito ao próprio nome, com bigodão e rabo-de-cavalo, por Copacabana, onde faz suas caminhadas matinais, puxa papo, conta piadas e é cavalheiro. A impressão que se tem é que ele, depois de criar três filhos e um nome respeitável na arquitetura e na música, não se leva muito a sério; ri das próprias mazelas da idade.

*Quando João Gilberto foi chamado para tocar no Carnegie Hall, não tinha violão e ninguém se arriscava a emprestar um a ele. Mesmo não indo, Billy ofereceu o seu, João aceitou, tocou em Nova York e foi aquele sucesso todo. João voltou, devolveu o pinho, e de alguma forma retribuiu, anos depois, gravando a bela Esperança Perdida.


*Billy Blanco dominava completamente a arte de compor. Doutor paraense que se fez bamba no samba carioca, envereda pela bossa, pelo carimbo, pela toada. Tem gosto especial em compor suítes populares em homenagem a cidades. Além da Sinfonia do Rio de Janeiro, fez sozinho a Guajará, suíte de- Arco-Íris, para Belém, com arranjos de Gilson Peranzetta – interpretada por Leila Pinheiro, Pery Ribeiro, Lucinha Bastos, MPB4 e Quarteto em Cy e Paulistana, Retrato de uma Cidade.

A Paulistana, concluída em 1974, trabalhada durante dez anos, consiste em quinze músicas, que foram cantadas por Elza Soares, Pery Ribeiro, Cláudia, Claudete Soares, Nadinho da Ilha, Coro do Teatro Municipal e Miltinho. Produzida por Aloysio de Oliveira e orquestrada pelo maestro Chico de Moraes, destaca-se na Paulistana o carimbó-épico Monções, e a original fusão bossa-pop em O Tempo e a Hora, cujo refrão retrata a correria do dia-a-dia das cidades: “Vambora, vambora, olha a hora! Vambora!” Billy trabalha no momento em mais uma homenagem: As Alagoas.

*O velho coração de Billy sofreu um enfarte em 95, que o levou “às portas do céu”, como ele conta na bem-humorada Canta Coração. Foi recusado na entrada por que esqueceu o “passaporte carimbado” e voltou para fazer mais “uns sambas pro povo”. 



*Billy Blanco foi homenageado com uma grande noite no Teatro Rival, por ocasião do lançamento do CD Tributo a Billy Blanco, pela Leblon Records, no projeto A Grande Chance idealizado pelo radialista José Messias, reunindo dez canções de Billy: Tributo foi cuidadosamente produzido por Ana Duarte, esposa de seu grande amigo Pery Ribeiro.

*Em 96, Billy lançou o livro Tirando de Letra e Música, pela editora Record, já na 2. edição. Misto de autobiografia, livro de letras e songbook, com casos, curiosidades e um pouco da estória da MPB. Também é de 96 seu mais recente CD: Billy Blanco Informal, gravado ao vivo no Vinícius Bar, com arranjos de Célia Vaz, pela gravadora CID.


*Em 1964, por ocasião do arquivamento da democracia e suas liberdades no país, regime de recessão que proporcionou a vários intelectuais uma temporada de veraneio nos quartéis e no exterior, Billy, depois de pagar sua cota de inteligência reprimida, foi para Nova Iorque por sessenta dias em companhia do então governador do Rio de Janeiro, Dr. Carlos Lacerda (que logo seria também execrado pelo regime), a fim de traduzirem a peça “How to succeed in business without really trying”, que virou no Brasil “Como vencer na vida sem fazer força”.


Foi Alfredo Machado, então presidente da Editora Record, que iria produzir com Oscar Ornstein a peça no Brasil, quem mandou Billy para os EUA com a incumbência de assistir quantas vezes fossem necessárias a peça, para se concretizar a adaptação (não simplesmente a versão) das 18 músicas da peça. Os diálogos estavam a cargo de Carlos Lacerda. Em seguida foi feito o mesmo processo para “Sound of Music” que tomou no Brasil o título de “Música, Divina Música”, esta em parceria coma Marise Murray.


Escreveu para cinema e teatro, destacando-se o musical ‘Chico do Pasmado” com Aurimar Rocha – “Rio de Janeiro a Janeiro” de parceria com Tom Jobim para o show de Carlos Machado na boite Night and Day. Teve músicas no filme “Carnavais Atlântida” filmados no Rio; e no filme de Hugo Christensen “Crônica da Cidade Amada”.

FONTE
WIKIPÉDIA

A BOSSA DE BILLY BLANCO

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