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sábado, 26 de novembro de 2011

Voz do Sertão


Voz do Sertão foi um conjunto vocal e instrumental criado em 1927 pelo bandolinista Luperce Miranda e do qual também fazia parte o cantor de emboladas e compositor Minona Carneiro.

"Entre 1928 e 1929, veio em excursão para o Rio um conjunto pernambucano, com um repertório especializado em ritmos nordestinos, os Turunas da Mauricéia, tendo como destaques o extraordinário cantor e compositor Augusto Calheiros, apelidado muito a propósito de Patativa do Norte, e o genial violonista cego Manoel de Lima, entre vários outros músicos notáveis. Eles tocavam uma grande variedade de ritmos, praticamente desconhecidos do público carioca, cocos, emboladas, trizadas, baiões, martelos... Tinham uma série de apresentações marcadas para o Teatro Lírico, no Largo da Carioca, como uma curiosidade e só. Mas o sucesso foi tão retumbante, as platéias ficaram de tal modo tão arrebatadas pelo grupo, que novas apresentações e excursões foram rapidamente marcadas por todo o Sul. Naturalmente as rádios também os contataram e o que fora até então um grande sucesso transformou-se numa febre, num autêntico delírio coletivo. Essa demanda excitada atraiu outro grupo nordestino, Voz do Sertão, encabeçado pelo cantor Minona Carneiro e o violonista Romualdo Miranda. A vibração do público só ampliava e se multiplicava. Mas agora as gravadoras e emissoras de rádio já sabiam o caminho. Não foi o rádio que lançou a música popular, foi o contrário” (História da Vida Privada no Brasil, vol. 3, pág. 593)


Em 1927, os Turunas chegavam ao Rio de Janeiro, mas Luperce somente veio reunir-se ao grupo  alguns meses depois. Cantavam emboladas, cocos, ritmos até então desconhecidos na cidade, e trajavam roupas sertanejas, com chapéus de abas largas erguidas na frente, onde se podia ler: "Guajurema", "Riachão", "Periquito" e "Patativa do Norte".

No final de 1927, gravaram 20 músicas para a Odeon, sendo três de sua autoria e Augusto Calheiros: os sambas "Pinião" e "O pequeno Tururu" e a canção "Belezas do sertão". Note-se que "Pinião", uma embolada foi lançada como sendo samba.

Nesse mesmo ano, animado com o sucesso dos Turunas, Luperce organizou em Recife um novo conjunto: Voz do Sertão, no qual tocava bandolim e era integrado por Meira (violão), José Ferreira (cavaquinho), Robson Florence (bandolim) e o cantor de emboladas Minona Carneiro (voz) e, pouco depois, Romualdo.
Minona Carneiro (Severino de Figueiredo Carneiro), cantor e compositor, nasceu em Recife/PE, em 23/11/1902, e faleceu na mesma cidade em 1936. Freqüentador das rodas boêmias de Recife, cantava modinhas e canções, chegando a participar de um conjunto regional organizado por Pedro Alves.

Com a voz afetada por problemas de saúde, viu-se obrigado a procurar um novo estilo, passando a se dedicar à emboladas. Numa reunião no bairro de Casa Amarela, conheceu Manezinho Araújo, que com ele aprendeu a cantar emboladas. Começaram a se apresentar juntos em festas.

Em 1927 integrou o conjunto Voz do Sertão, organizado pelo bandolinista Luperce Miranda, que incluía ainda Meira (violão), José Ferreira (cavaquinho) e Robson Florence (bandolim). Com o conjunto foi para o Rio de Janeiro em 1928.

No início de 1930 gravou na Brunswick, Dedé (Nelson Ferreira). No mesmo ano gravou três discos na Parlophon, com as emboladas Passarinho molhado (Francisco Santoro), Óia lá (Altamiro Godinho), O amor da caboca, Ai seu Mané, Chô, bicho e O perigo da muié (estas últimas de sua autoria).

Compôs também outras emboladas, como O trem vai chegá, Chô, juriti (com Luperce Miranda), Comigo não, João, Cajueiro, e sambas, como Achei um ninho, Sertão do Surubi, Penera asas (todos com Luperce Miranda).

Com a saúde debilitada, retornou pouco depois à capital pernambucana, onde morreu.

Meira (Jaime Tomás Florence), instrumentista e compositor, nasceu em Paudalho PE em 1/10/1909 e faleceu no Rio de Janeiro RJ em 8/11/1982. Aprendeu a tocar violão com o irmão Robson, com quem seguiu para o Rio de Janeiro em 1928 no conjunto Voz do Sertão, organizado por Luperce Miranda ainda em Recife, em 1927, e integrado também por Minona Carneiro (cantor) e José Ferreira (cavaquinho).

Foi vizinho de Noel Rosa, que compunha os primeiros sambas.

No início da década de 1930 teve editada uma música sua, Falando ao teu retrato (com De Chocolat), gravada em 1935 por Augusto Calheiros.

Teca Calazans & Heraldo do Monte - Falando ao Teu Retrato

A estréia de Meira, em disco,  ocorreu em 1934, quando Benedito Lacerda e seu regional lançaram o choro Primavera.

Em 1937 substituiu o violonista Carlos Lentine no Regional de Benedito Lacerda, o qual, com Dino (violão de sete cordas), formou uma das mais duradouras duplas violonistas da música popular brasileira. Com o regional, acompanharam os grandes cantores populares da época, em apresentações e gravações.

Na década de 1940, apareceu com algumas composições que alcançaram êxito, como Aperto de mão (com Dino e Augusto Mesquita), gravada por Isaura Garcia na Victor, em 1943; Deixa pra lá (com Augusto Mesquita), choro gravado pela mesma cantora em 1945; e Amar foi minha ruína (com Augusto Mesquita), lançado por Gilberto Alves em 1947.

Em 1950, quando Benedito Lacerda abandonou as atividades artísticas, permaneceu no grupo, que passou a se chamar Regional do Canhoto, realizando durante a década de 1950 muitas gravações com choros dos seus integrantes, além de acompanhar outros artistas.

Com Augusto Mesquita, Meira lançou o samba-canção Molambo, grande sucesso nas gravações de Roberto Luna e Cauby Peixoto.



Molambo
Composição: Jaime Florence / Augusto Mesquita

Eu sei que vocês vão dizer
Que era tudo mentira, que não pode ser
Que depois de tudo o que ela me fez
Eu jamais deveria aceitá-la outra vez
Pensei que assim procedendo
Me exponho ao desprezo de todos vocês
Lamento, mas fiquem sabendo
Que ela voltou e comigo ficou
Ficou pra matar a saudade
A tremenda saudade que não me deixou
Que não me deu sossego um momento sequer
Desde o dia em que ela me abandonou
Ficou pra impedir que a loucura
Fizesse de mim um molambo qualquer
Ficou desta vez para sempre
Se Deus quiser...

Em 1965 tomou parte no show Samba pede passagem, organizado por Sidney Muller, e participou da gravação do LP Rosa de Ouro, pela Odeon. Atuou em gravações de novos sambistas e, a partir de 1970, também de discos de choro, além de lecionar violão no Rio de Janeiro. Altamente reconhecido por sua atividade didática, iniciou no violão grandes artistas como Baden Powell, João de Aquino, Raphael Rabello e Maurício Carrilho.

Em 2003, teve regravadas pelo flautista Alexandre Lacerda as músicas "Arranca toco" e "Minha flauta de prata", no CD "Benedito Lacerda - 100 anos". Nesse ano, "Molambo" foi regravada por Zezé Gonzaga. Em 2004, o samba "Aperto de mão", foi incluído na gravação feita nos anos 1950 por Dircinha Batista no CD "Linda e Dircinha Batista" lançado pela BMG.





Em 1928, o grupo Voz do Sertão lançou pela Odeon seis composições de Luperce Miranda: o fox "Primoroso", a valsa-choro "Lindete", os sambas "Sacode a saia morena", "Samba da meia-noite" e "Sertão do Surubim" e a embolada "Minas Gerais", as quatro últimas com Minona Carneiro.

Nesse mesmo ano, outras composições suas como a valsa "Alma do sertão", a marcha "Lúcia" e o choro "A farra o Olegário" foram gravadas pelo grupo Voz do Sertão. As emboladas "Xou, juriti", "Ai, Maria" e o choro "Cavaquinho de ouro", de autoria de Luperce Miranda e Minona Carneiro.

Em 1928, o grupo realizou diversas gravações; e depois se dissolveu.
  • Grupo Voz do Sertão - Composições
A farra do Olegário (Luperce Miranda)
Achei um ninho (Luperce Miranda e Minona Carneiro)
Aguenta meu bem (Luperce Miranda)
Ai, Maria (Luperce Miranda e Minona Carneiro)
Alma e coração (Luperce Miranda)
Cananéa (Luperce Miranda e Minona Carneiro)
Cavaquinho de ouro (Luperce Miranda e Minona Carneiro)
Lúcia (Luperce Miranda)
Lucinete (Luperce Miranda)
Não fui eu (Luperce Miranda)
Não gosto de você (Luperce Miranda)
Me deixa, Xavier (Luperce Miranda)
Meu samba novo (Luperce Miranda)
Não te arrecebo (Luperce Miranda)
Penera as asas (Luperce Miranda e Minona Carneiro)
Prá frente é que se anda (Luperce Miranda)
Samba de São João (Luperce Miranda)
Xou, juriti (Luperce Miranda e Minona Carneiro)

FONTE


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