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sexta-feira, 23 de maio de 2008

Alaíde Costa


Cantora, que participou do primeiro disco do Clube da Esquina, criou estilo que mescla, com elegância, jazz e MPB.
Com um canto suave e sussurrado, Alaíde Costa Silveira Mondin Gomide, cantora e compositora brasileira considerada uma das perfeitas vozes do país, nasceu no Rio de Janeiro/RJ em 8 de dezembro de 1935, ficou conhecida apenas como Alaíde Costa.


Se você não me queria
Não devia me procurar
Não devia me iludir
Nem deixar eu me apaixonar
Evitar a dor
É impossível
Evitar esse amor
É muito mais
Você arruinou a minha vida
Me deixa em paz

VIDA E OBRA

Alaíde Costa começou a cantar em programas infantis do radio. Começou no programa Arraia Miúda de Renato Murce. Com 13 anos, Alaíde venceu um concurso de melhor cantora jovem, promovido por Paulo Gracindo, no seu programa Seqüência G3, da Tupi, do Rio de Janeiro, e, no ano seguinte, participou do Arraia Miúda, apresentado por Renato Murce, na Radio Nacional.


A partir de 1952, Alaíde passou a frequentar os programas de calouros A Hora do Pato e Pescando Estrelas, este apresentado por Ary Barroso na Radio Clube do Brasil, pela qual foi contratada.


Em 1957, gravou seu primeiro 78 rpm, pela Odeon, Tarde demais (Hélio Costa e Anita Andrade), que !he valeu o prêmio de Revelação do Ano. Ainda em 1957, lançou outro 78 rpm com Conselhos (Hamilton Costa e Richard Frano) e Domingo de amor (Fernando César), também na Odeon.


Uma das grandes referências musicais do movimento surgido em 1957, a Bossa Nova, Alaíde Costa frequentava a boemia do Beco das Garrafas, em Copacabana.

Ouvindo-a, João Gilberto procurou atrai-la para o movimento musical que estava sendo formado, conseguindo que, em 1959, gravasse músicas da bossa nova no seu primeiro LP na RCA, Alaíde canta suavemente, onde foram incluídas Estrada branca (Tom Jobim e Vinícius de Morais), Lobo bobo (Carlos Lira e Ronaldo Bôscoli), grande sucesso, e Minha saudade (João Donato e João Gilberto).

Na mesma época, Alaíde participou de vários shows de bossa nova no Rio de Janeiro. Em 1960 teve sua primeira oportunidade em São Paulo/SP, participando do show Festival nacional da bossa nova, realizado no Teatro Record.

Casando-se em 1962, Alaíde mudou-se para São Paulo, onde, dois anos mais tarde, recebeu verdadeira consagração no show O fino da bossa, realizado no Teatro Paramount, cantando Onde está você (Oscar Castro Neves e Luverci Fiorini), musica das mais marcantes em seu repertório, que lhe valeu um contrato por dois anos com a TV Record.

Com o sucesso, vieram os convites e as apresentações de 1964 e 1965: temporada no teatro Santa Rosa, no Rio de Janeiro, com Oscar Castro-Neves, participação no I Festival Universitário da TV Tupi, de São Paulo, apresentação no recital de canções renascentistas Alaíde alaúde, com o maestro Diogo Pacheco, no Teatro Municipal de São Paulo.

Johnny Alf e Alaíde Costa - "Ilusão à toa" - 1969

A partir de 1966, problemas de saúde (sua audição, cada vez pior, interferia no canto), e uma acentuada fidelidade ao tipo de música que havia cantado até então, levaram-na a se afastar da vida artística, voltando a aparecer em 1972, quando participou da faixa "Me deixa em paz", do LP Clube da Esquina, de Milton Nascimento, com quem realizou também varias apresentações no Teatro Teresa Raquel e na Sala Cecília Meireles, no Rio de Janeiro.

Ainda em 1972, Alaíde voltou a gravar, lançando dois compactos: um simples, com Diariamente (Paulo César Girao e Gerson) e Antes e depois (Oscar Castro-Neves); e um duplo com Diz (Walter Santos e Teresa Sousa), Enlouqueci (Luís Soberano, Valdomiro Pereira e João Sales), Ansiedade (Paulinho da Viola) e E a gente sonhando (Milton Nascimento).

Lançou no ano seguinte, na Odeon, o segundo LP, produzido por Aluísio de Oliveira, que se intitulou Alaíde Costa & Oscar Castro-Neves, cantando, entre outras, Retrato em branco e preto (Chico Buarque e Tom Jobim) e Sabe você (Carlos Lira e Vinícius de Morais).

Outro compacto duplo foi lançado, em 1974, com Calvário (Marcos Calazans e Cau Pimentel), Avenida fechada (Elton Medeiros, Cristóvão Bastos e Antônio Valente), Primavera (Carlos Lira e Vinícius de Morais) e O rei da França na ilha da assombração (Zé Di), samba-enredo do Salgueiro.

Regravou "Onde está você", em 1975, num compacto simples. Um ano depois, lançou o LP Coração, pela Odeon.

Alaíde Costa - Catavento (1976)

Em 1982, Alaíde Costa gravou "Águas vivas", produção independente que mais tarde daria origem ao CD Alaíde Costa e João Carlos Assis Brasil (1995), lançado no Brasil e na França pela WEA.

Lançou em 1988 o LP independente "Amiga de verdade", em que canta ao lado de Paulinho da Viola, Milton Nascimento, Ivan Lins, Egberto Gismonti e outros.

Três anos mais tarde estreou em São Paulo os espetáculos Coração violão, acompanhada por Paulinho Nogueira, e Alaíde Costa canta Tom Jobim.

Em 1994 apresentou-se no Rio de Janeiro, ao lado do pianista João Carlos Assis Brasil; o espetáculo foi registrado em CD e lançado pela Movieplay em 1995.

Em setembro de 1997, José Miguel Wisnik convidou-a para participar do evento Rumos Musicais, do Instituto Cultural Itaú, de São Paulo. Como compositora, fez letra e musica de Afinal, e parcerias com Vinícius de Morais, Geraldo Vandré, Johnny Alf, Paulo Alberto Ventura e Hayblan.

Grande marco da voz, que embalou casais. Com quinze discos gravados em cinqüenta anos de carreira, Alaíde Costa participou dos principais programas de televisão e de rádio no eixo Rio-São Paulo. Tema de reportagens de jornais e revistas, participou de festivais internacionais e recebeu importantes prêmios e homenagens de expoentes da música popular brasileira.

Alaíde apresentou-se no Rio de Janeiro no Vinícius Bar, em 1999, e no Mistura Fina, no ano seguinte.

Em 2000, Alaíde lançou o CD "Falando de amor", registrando canções como a faixa título (Tom Jobim e Vinicius de Moraes), "Amor é outra liberdade" (Sueli Costa e Abel Silva) e "Tudo se transformou" (Paulinho da Viola), entre outras.

Gravou em 2001 o CD "Rasguei Minha Fantasia", no qual interpreta no seu estilo suave e intimista grandes clássicos carnavalescos.

Em 2004 gravou "Tudo que o Tempo Me Deixou".

Em 2006, Alaíde grava outro CD ao lado de João Carlos Assis Brasil, "Voz & Piano".

Seu disco seguinte, "Amor Amigo - Alaíde Costa Canta Mílton", foi lançado em 2008, onde ela canta somente composições de Mílton Nascimento, como: "Cais", "Sentinela", "Travessia", "Morro velho" e "Canção do sal", além de "Beijo partido", de autoria de Toninho Horta, porém gravada com sucesso por Mílton na década de 70.

Ao longo de sua carreira, Alaíde participou de discos de outros artistas, como "Borges" (Lô Borges e Milton Nascimento), " Clube da Esquina" (Milton Nascimento e Lô Borges), "No Tom da Mangueira" (Tom Jobim e Velha Guarda da Mangueira), "Songbook Tom Jobim", "Pouco pra mim" (Carlos Navas) e "Milton Nascimento - Sua vida, sua música".

Alaíde Costa - Estrada do Sertão (2005)

Em 2009, a oportunidade de cantar pela primeira vez acompanhada do guitarrista mineiro Toninho Horta, de 60 anos, faz a carioca Alaíde Costa, de 73, vibrar. “Esperei tanto por este momento”, confessa a cantora, que está em Belo Horizonte especialmente para os ensaios do show "Aqui oh", que os dois estreiam nacionalmente na capital, em apresentações na Mezanino da Travessa e no Capim Limão.

A intérprete, que gravou apenas três composições do guitarrista (Teus olhos, meu lugar; Meu canário vizinho azul e, mais recentemente, Beijo partido), diz que Toninho tem algo “muito especial e diferente” em sua música. “Eu não canto muitas canções dele, mas curto muito”, diz a única voz feminina a marcar presença no fechado Clube da Esquina, que reuniu os mineiros em torno do líder do movimento, Milton Nascimento.

Além de orgulhosa pelo convite, o Clube da Esquina proporcionou a minha volta ao disco porque, na época, eu estava havia muitos anos sem gravar”, recorda Alaíde, que faz duo com Milton na faixa Me deixa em paz, de Monsueto, no disco inaugural do movimento, de 1972. Antes, a convite de João Gilberto, a carioca de timbre afinadíssimo foi uma das privilegiadas que participavam das famosas reuniões da turma da bossa nova na casa de Bené Nunes e Nara Leão, no Rio.


Sem se filiar a qualquer vertente da MPB, Alaíde acabaria construindo um estilo próprio de interpretação, com um fio de voz que toca direto ao coração do ouvinte. “A Alaíde canta com o coração”, constata Toninho Horta, fã de carteirinha da cantora, lembrando que, por se tratar de uma mulher altamente musical – além de cantar, compõe e toca piano –, Alaíde Costa leva vantagem sobre as demais cantoras. “Ela canta na mais pura beleza da melodia”, garante Toninho.

Para Alaíde, além de mestre das harmonias, como instrumentista Toninho Horta é o máximo. “Não tem melhor”, elogia. A ideia de reunir os dois em show é dos produtores Geraldo Rocha e Fred Gapile, da Mina d’Água Produções Artísticas. Depois de uma larga experiência no Rio, onde trabalhou com Maria Bethânia, Nana Caymmi, Jards Macalé, Tito Madi, Miúcha, Bebel Gilberto, Fátima Guedes e outros artistas, Geraldo, que é mineiro do Vale do Aço, resolveu voltar a investir na produção artística de Minas Gerais.

O jazz precisa de uma casa em Belo Horizonte. Trata-se de um gênero de gueto que, além de vozes e melodias, exige ambiente intimista, iluminação especial e, claro, ouvidos especiais, de anjos e arcanjos”, justifica o produtor. Sob sua curadoria, deverão se apresentar nas duas casas nos próximos meses Jessé Sadock Trio (em um tributo a Louis Armstrong), Leo Gandelman e Fátima Guedes, entre outros.


“A Lalá é a nossa última dama da MPB”, diz o produtor a respeito de Alaíde. Além de produzir um show da cantora, ao lado de Fátima Guedes, que deverá resultar em CD e DVD gravados ao vivo, no Teatro Rival, do Rio, ele é o autor do projeto de uma fotobiografia da intérprete, que deverá ser lançada no ano que vem. A propósito, além de ser uma das principais personagens do recém-lançado livro As cantoras negras do Brasil, de Paulo Gonçalo dos Santos, Alaíde Costa terá uma biografia produzida pela Editora da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, dentro da série Aplauso.

Carioca do Méier radicada em São Paulo há mais de 26 anos, a cantora recorda ter sofrido preconceito já no início de carreira, por não aceitar se filiar a qualquer segmento. “Eu danço conforme a música”, recorre ao imaginário popular para se autodefinir.“Há canções que eu gosto e canto, indiferentemente de pertencer a grupos. Eu sempre fui por esse caminho”, esclarece Alaíde Costa, admitindo que no início tentaram de toda forma encaixá-la como sambista. “E como tentaram!”, afirma. Ela salienta que desde o início optou por um caminho mais calmo.

"Eu nem tenho jeito para ser sambista”, admite, lembrando que o argumento de todos era de que ela precisava cantar algo “mais animadinho”. “A minha própria família, à exceção de um irmão mais moço, me cobrava isso. Até minha mãe dizia que eu cantava umas coisas muito tristes, muitos difíceis.” Longe de ser uma jazzista de formação – a origem pobre e suburbana levou-a a entrar em contato com o gênero apenas via rádio –, a intérprete diz não saber explicar o seu gosto pela música mais lenta. “Acho que vem de outras vidas”, aposta.

Uma das principais fontes de inspiração para o seu canto foi Dalva de Oliveira. “Menina ainda, adorava a Dalva. Embora não tenha nada a ver com seu estilo, ela me passava muita emoção”, justifica Alaíde, que diz ter aprendido a emocionar o público com a dama da dor de cotovelo. Entre as divas do jazz que mais a cativam estão Sarah Vaughan, Billie Holiday, Ella Fitzgerald, Julie London – “embora cantasse completamente diferente das outras”, diz de Julie – e Lena Horne.

Para construir o estilo próprio, distinto, Alaíde diz que desde o início começou a se desligar das outras cantoras. Para ela, letra e música têm de caminhar juntas em uma canção. A bossa nova, no entanto, abriu-lhe as portas. “Antes da bossa, tudo que eu queria cantar não dava certo. Como ela chegou com aquele modernismo todo, acabou me abrindo caminho.”

Gravando o segundo 78 rotações na Odeon, ela recebeu recado de João Gilberto dado por Aloysio de Oliveira. “Sabe o João, aquele que tocou no disco da Elizeth Cardoso, ele pediu para convidá-la para as reuniões que eles estão fazendo.” “A bossa nova ainda não era famosa. Não tinha nem nome”, recorda Alaíde, que passou a frequentar alguns dos famosos encontros, nos quais ela conheceu Vinicius de Moraes e Tom Jobim, dos quais ela se tornaria parceira. Com Vinicius fez Tudo que é meu e Amigo amado. Já com Tom, Alaíde fez Você é amor, que ela gravou recentemente.

Com Milton O mais recente disco da intérprete é Alaíde Costa canta Milton Nascimento, no qual ela incluiu o Beijo partido, de Toninho Horta. Para o show, além desta e das outras duas que gravou, ela vai cantar Aqui oh, Viver de amor e outras. Entre as apostas de Toninho na voz da cantora está o Canto do desalento, que o guitarrista acredita cair bem no estilo dela. Tom Jobim, Chico Buarque, Milton Nascimento, Oscar Castro Neves, Sueli Costa e Fátima Guedes também estarão no repertório. O guitarrista Marcelo Lima, filho de Alaíde, é o único convidado do show, que, segundo a produção, poderá resultar na gravação ao vivo de um disco.

Na década de 1970, Alaíde Costa passaria por um dos maiores dramas de carreira, ao lhe ser diagnosticada uma ortoesclerose. “Tive de operar os dois ouvidos, um deles por duas vezes”, diz a cantora, que ao voltar a cantar antes da hora prevista acabou tendo de repetir a cirurgia. “Comecei a ouvir tonalidades diferentes no ouvido direito. Foi uma coisa muito maluca”, garante ela, que hoje está totalmente recuperada. Os problemas de racismo, sofridos ao longo da carreira, também foram superados. “Como diz o povo, tiro isso de letra”, orgulha-se a intérprete.



FONTE

MPBNET

Wikipédia

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