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segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Milton Nascimento


Nos dias 19 e 21 de outubro de 1967 - no palco do  II Festival Internacional da Canção, realizado no Maracanãzinho/RJ - o cantor, violonista e compositor Milton Nascimento, poucos dias antes de completar 25 anos, não poderia imaginar que suas três músicas: “Travessia”, “Morro Velho” e “Maria, Minha Fé” –, fariam tamanho sucesso.

O tempo passou, vai música e vem música e eu temho pra mim que dificilmente você vai encontrar alguem que não tenha uma ou mais músicas de Milton Nascimento elencadas entre as suas músicas preferidas. "Bola de Meia, Bola de Gude" é a minha preferida.



Bola de Meia, Bola de Gude
Milton Nascimento
Composição: Milton Nascimento

Há um menino
Há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto balança
Ele vem pra me dar a mão

Há um passado no meu presente
Um sol bem quente lá no meu quintal
Toda vez que a bruxa me assombra
O menino me dá a mão

E me fala de coisas bonitas
Que eu acredito
Que não deixarão de existir
Amizade, palavra, respeito
Caráter, bondade alegria e amor
Pois não posso
Não devo
Não quero
Viver como toda essa gente
Insiste em viver
E não posso aceitar sossegado
Qualquer sacanagem ser coisa normal

Bola de meia, bola de gude
O solidário não quer solidão
Toda vez que a tristeza me alcança
O menino me dá a mão
Há um menino
Há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto fraqueja
Ele vem pra me dar a mão



Depois vem "O SOL"...música lindissima e que tem tudo haver comigo. Não fico tempo mais que o necessário insistindo com a dor, procuro logo me ocupar daquilo que me faz feliz. A vida é muito curta pra ser disperdiçada...


O SOL
Composição: Antônio Júlio Nastácia

Ei, dor!
Eu não te escuto mais
Você não me leva a nada

Ei, medo!
Eu não te escuto mais
Você não me leva a nada...

E se quiser saber
Pra onde eu vou
Pra onde tenha Sol
É pra lá que eu vou... (2x)

E se quiser saber
Pra onde eu vou
Pra onde tenha Sol
É pra lá que eu vou...
É pra lá que eu vou... (3x)


As músicas do Milton Nascimento trazem letras e melodias poéticas e me fazem lembrar uma pessoa que eu amo e que sempre compartilha suas músicas comigo.... tanto carinho que eu me pergunto se existe algum mistério em termos nos conhecido... e a resposta eu encontro nas palavras de Gustave Flaubert: "Por que nos conhecemos? Por que o acaso o quis? Foi porque através da distância, sem dúvida, como dois rios que correm a unir-se, nossas inclinações particulares nos impeliram um para o outro".

Voltando ao texto. Parece que eu não consigo terminar minha lista de músicas preferidas, não é mesmo?! Então, eu prometo. Prometo que vou destacar apenas mais duas ou três. Talvez quatro. "Caçador de Mim"; "Teia de Renda"; "Vendedor de Sonhos"; "Quem Sabe Isso Quer Dizer Amor"...

Quem Sabe Isso Quer Dizer Amor



Quem sabe isso quer dizer amor
Milton Nascimento
Composição: Márcio Borges e Lô Borges

Cheguei a tempo de te ver acordar
Eu vim correndo à frente do sol
Abri a porta e antes de entrar
Revi a vida inteira

Pensei em tudo que é possível falar
Que sirva apenas para nós dois
Sinais de bem, desejos vitais
Pequenos fragmentos de luz

Falar da cor dos temporais
Do céu azul, das flores de abril
Pensar além do bem e do mal
Lembrar de coisas que ninguém viu
O mundo lá sempre a rodar
E em cima dele tudo vale
Quem sabe isso quer dizer amor,
Estrada de fazer o sonho acontecer

Pensei no tempo e era tempo demais
Você olhou sorrindo pra mim
Me acenou um beijo de paz
Virou minha cabeça

Eu simplesmente não consigo parar
Lá fora o dia já clareou
Mas se você quiser transformar
O ribeirão em braço de mar

Você vai ter que encontrar
Aonde nasce a fonte do ser
E perceber meu coração
Bater mais forte só por você
O mundo lá sempre a rodar,
E em cima dele tudo vale
Quem sabe isso quer dizer amor,
Estrada de fazer o sonho acontecer


VOCÊ SABIA??!


*Recentemente o cantor norte-americano Jason Mraz esteve no Brasil para gravar uma das faixas do repertório de seu próximo disco de inéditas com Milton Nascimento. Os dois gravaram a música "Simplesmente Tudo", que terá versões em inglês e português.

*"...E A GENTE SONHANDO" o novo disco de Milton Nascimento, reuniu 25 jovens músicos da mineira Três Pontas, cidade onde ele cresceu. Longe de ser um retorno ao passado, do tempo do Clube da Esquina, o álbum traz marcas do presente.  Nele Milton amplifica em poesia a metáfora da vida. Sua música reflete essa sua capacidade de transformar o momento atual em arte...


VIDA E OBRA


O cantor e compositor Milton Nascimento, reconhecido como um dos mais influentes e talentosos cantores e compositores da Música Popular Brasileira, nasceu no Rio de Janeiro em 26 de outubro de 1942, mas considera-se: Mineiro de coração

Milton ficou conhecido quando a canção "Travessia", composição dele e  de Brant, conquistou  a segunda posição no Festival Internacional da Canção, de 1967.

Milton Nascimento - Travessia


Wayne Shorter, Pat Metheny, Peter Gabriel, Gal Costa, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Elis Regina, e outros já fizeram parceria com Milton em shows e gravações e outros já regravaram várias de suas canções.

Em 1998, Milton Nascimento ganhou o Grammy de Best World Music Album in 1997. Foi nomeado novamente para o Grammy em 1991 e 1995. Milton já se apresentou na América do Sul, América do Norte, Europa, Ásia e África.

Conhecido também pelo apelido de Bituca, Milton filho de Maria do Carmo Nascimento, uma empregada doméstica, foi adotado pelo casal Josino Campos (dono de uma estação de rádio) e Lília Silva Campos (professora de música). Mudou-se para Três Pontas, em Minas Gerais, antes dos dois anos e aos treze anos já cantava em festas e bailes da cidade.

Milton gravou a primeira canção "Barulho de trem", em 1962. Em Três Pontas, integrava, ao lado de Wagner Tiso, o grupo W's Boys, que tocava em bailes.



Em Belo Horizonte, pra onde mudou para cursar Economia,  Milton também passou a tocar em bares e clubes noturnos, passando a compor com mais frequência; datam dessa época as composições: "Novena" e "Gira Girou" (1964), ambas com Márcio Borges.

Na pensão onde foi morar na capital, no Edifício Levy, Milton conheceu os irmãos Borges, Marilton, Lô e Márcio. Dos encontros na esquina das Ruas Divinópolis com Paraisópolis surgiram os acordes e letras de canções como Cravo e Canela, Alunar, Para Lennon e McCartney, Trem azul, Nada será como antes, Estrelas, São Vicente e Cais. Aos meninos fãs do The Beatles e do The Platters vieram juntar-se Tavinho Moura, Flavio Venturini, Beto Guedes, Fernando Brant, Vermelho, Toninho Horta.

Em 1972 a EMI gravou o primeiro LP - Duplo "Clube da esquina", apresentando um grupo de jovens que chamava a atenção pelas composições engajadas, a miscelânea de sons e riqueza poética.

O Clube da esquina escreveu um dos mais importantes capítulos da história da MPB. Chamou a atenção dos músicos brasileiros e estrangeiros, dada a sua ousadia artística e criatividade inovadora.

Contudo, a crítica não teve a capacidade de entender o que estava acontecendo e fez comentários severos a respeito da obra. Pouco tempo depois o disco teve reconhecimento internacional e ganhou o prestígio merecido aqui no Brasil também.

O álbum virou disco de cabeceira de músicos no mundo inteiro, tornando-se referência estilística e estética da música contemporânea, e levou Milton Nascimento a ser convidado por Wayne Shorter a gravar um disco com ele, em 1975. O disco chamou-se "Native Dancer" e serviu para projetar Milton de uma vez por todas no mercado norte-americano.

Milton transcendeu o anonimato como cantor gravando um LP no Rio de Janeiro em 1966.

Em 1967, segundo o trecho da contracapa do disco Milton e Tamba Trio: Milton Nascimento entrou no estúdio acompanhado pelo 'Tamba Trio', no Rio de Janeiro, em 1967, para gravar seu primeiro disco.

O encontro de 'Milton & Tamba' com os arranjos de Luizinho Eça fazem de 'Travessia' um álbum definitivo e eternamente moderno. No mesmo ano, a composição Canção do Sal foi gravada por Elis Regina. A convite do músico Eumir Deodato, gravou um LP nos Estados Unidos (Courage), onde se destacam Catavento e uma versão de Travessia chamada Bridges.

Em 1970, Milton realiza temporadas no Rio de Janeiro e em São Paulo com o conjunto Som Imaginário, destacando-se desse período Para Lennon e McCartney (1970, com Fernando Brant, Márcio Borges e Lo Borges) e Clube da Esquina. No disco Sentinela (1980), foi um grande sucesso a composição Canção da América.

No ano seguinte, estourou a canção "Caçador de Mim", composição de Luiz Carlos Sá e Sergio Magrão. Milton também participou e compôs a trilha sonora de filmes, como: Os Deuses e Os Mortos (1969, direção de Ruy Guerra), e Fitzcarraldo (1981, direção de Werner Herzog).



Entre outros sucessos, destacam-se Maria, Maria (1978, com Fernando Brant), e a interpretação de "Coração de Estudante" (Wagner Tiso), que se tornou o hino das Diretas Já (movimento sócio-político de reivindicação por eleições diretas, 1984) e dos funerais de Tancredo Neves (1985).

Milton Nascimento Coração de Estudante - 1984


Posteriormente, a "Canção da América", que versa sobre a Amizade, foi o tema de fundo dos funerais de Ayrton Senna (1994).

Canção da América - Amigo é coisa pra se guardar...


Originalmente idealizado para a montagem do ballet teatro do Balé Teatro Guaíra (Curitiba, 1982), o espetáculo O Grande Circo Místico foi lançado em 1983.

Milton Nascimento integrou o grupo seleto de intérpretes da MPB que viajaram o país durante dois anos apresentando o projeto, um dos maiores e mais completos espetáculos teatrais já apresentados, para uma plateia de mais de 200 mil pessoas.

Milton interpretou a canção "Beatriz", composta pela dupla Chico Buarque e Edu Lobo.



O espetáculo conta a história de amor entre um aristocrata e uma acrobata e a saga da família austríaca proprietária do Grande Circo Knie, que vagava pelo mundo nas primeiras décadas do século.

Valendo-se ainda do filão engajado da pós-ditadura, cantou no coro da versão brasileira de "We are the world", o hit americano que juntou vozes e levantou fundos para a África ou USA for Africa. O projeto Nordeste já (1985) abraçou a causa da seca nordestina, unindo 155 vozes num compacto, de criação coletiva, com as canções Chega de mágoa e Seca d'água. Elogiado pela competência das interpretações individuais.

O estilo musical de Milton pode ser classificado como Música Popular Brasileira, surgido de um desdobramento do movimento da bossa nova, com fortes influências desta, do jazz, do jazz-rock e de grandes expoentes do rock, como os Beatles, Bob Dylan e com pitadas tanto da música hispano-americana de Mercedes Sosa, Violeta Parra e Victor Jara, quanto dos sons caribenhos de Pablo Milanes e Silvio Rodrigues. Ao mesmo tempo, o estilo de Milton Nascimento não deixa de beber nas fontes regionais brasileiras, nos cantos folclóricos de Minas Gerais e de outros estados.

O estilo foi inaugurado com a inesquecível interpretação da canção Arrastão (Edu Lobo / Vinícius de Moraes), pela novata Elis Regina, na estreia do I Festival de Música Popular Brasileira. Até agora,Milton Nascimento já gravou trinta e quatro álbuns.

Cantou com dúzias de outros artistas, incluindo Angra, Maria Bethânia, Elis Regina, Gal Costa, Jorge Ben Jor, Caetano Veloso, Simone, Chico Buarque, Clementina de Jesus, Gilberto Gil, Beto Guedes, Paul Simon, Peter Gabriel (com quem co-escreveu a música Breath after Breath do Duran Duran), Herbie Hancock, Quincy Jones e Jon Anderson.

Elegeu Elis Regina como a grande musa inspiradora para quem compôs inúmeras canções. A filha de Elis, Maria Rita, teve sua carreira catapultada pelo padrinho Milton Nascimento com a participação no álbum Pietá, cantando as faixas Voa Bicho, Vozes do Vento e Tristesse.

"Sou fascinado pela minha família, acho que eu não poderia ter tido mais amor, educação e liberdade em nenhuma outra família no mundo. Eles moldaram a minha vida. Meu primeiro instrumento foi uma harmônica dada pela minha avó. Ela me deu um acordeão, e foi aí que minha vida musical começou."
Milton Nascimento

Em 2010, Milton Nascimento foi o homenageado do Festival Internacional de Corais (FIC) de Belo Horizonte. No encerramento do festival Milton esteve presente e recebeu uma homenagem de mais de mil vozes que cantaram "A Voz Coral",  composição de Fernando Brant e Leonardo Cunha.




***C U R I O S I D A D E***



**Consta na biografia oficial do cantor, “Travessia: a Vida de Milton Nascimento”, de 2006, escrita por Maria Dolores. Em 1988, depois de finalizar uma turnê pelos Estados Unidos, Milton Nascimento resolveu tirar uma folga em Nova Iorque e ficou hospedado num hotel chamado Mayflower, perto de um ap onde estavam Xuxa e Simone. Milton ia visitá-las constantemente para ouvir música e ver filmes e tal. Numa dessas vezes, viram ser anunciado para mais tarde um filme chamado Conta Comigo, de Rob Reiner, e resolveram assistir, mas acabaram esquecendo. Quando Milton voltou pro seu quarto de hotel, o filme já havia começado.

Ao ver River Phoenix na tela, Milton sentiu algo, uma ligação, uma sensação que não conseguia explicar. Milton cita muito os olhos, sempre os olhos de Phoenix como catalisadores de um sentimento original, qualquer coisa arrebatadora à qual ninguém ainda havia dado um nome. Ficou atento aos créditos e depois de ver “River Phoenix” se acender na tela, sentiu não ter dúvida de que aquele era o nome do garoto que o encantara. Milton procurou a programação da TV, localizou os horários em que Conta Comigo seria reprisado, e passou a ver e rever o filme todas as vezes que podia. Acabou escrevendo uma música.



Já de volta ao Brasil, Milton queria que a música para Phoenix abrisse o lado A do seu disco “Miltons” (1989), e resolveu batizá-la com o nome do ator. No entanto, precisava da autorização de River. Seu agente conseguiu o telefone da mãe do ator, Arlyn “Heart” Phoenix (que era quem cuidava da sua carreira), e Milton ligou contando o que havia ocorrido. Arlyn, que nunca ouvira falar dele, achou que era mais um fã doido e desligou.

Ao saber o que havia acontecido, River correu ligar de volta para Milton, dizendo que, recentemente, quando estava hospedado no hotel Mayflower em Nova Iorque, resolveu entrar numa loja de discos na mesma rua e, sem saber por que, comprou um disco de Milton Nascimento, cantor brasileiro de quem ele nunca havia ouvido falar. Quando ouviu o disco, se apaixonou perdidamente. River Phoenix veio ao Brasil, a convite de Milton, e ficou hospedado na sua casa. Os dois tornaram-se amigos.


                                          Conta Comigo (Rob Reiner, 1986)


FONTE:
Milton Nascimento - Wikipédia

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