O compositor Synval Machado da Silva, ou simplesmente Synval Silva (Juiz de Fora -14 de março de 1911 / Rio de Janeiro -14 de abril de 1994) , é homenageado pela cantora Fernanda Cunha, nos dias 18,19 e 20 de março de 2011 no Teatro Café Pequeno, no Rio de Janeiro, através de um show em homenagem ao Centenário de Synval Silva...
*Dentre os fundadores da Escola de Samba 'Império da Tijuca', desponta o nome de Synval Silva, compositor de méritos, agraciado com o título de Bacharel da Música Popular Brasileira pelo Conselho da MPB do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro(recebeu um anel de sambista), por ser um dos expoentes máximos de nossa música popular. Embora seja até considerado o 'Patriarca' do Morro da Formiga, e tenha recebido o título de Cidadão Carioca em 1967, Synval nasceu em Juiz de Fora-MG.
Filho de um clarinetista da Banda Euterpe Mineira, de Juiz de Fora, Synval Silva aprendeu a tocar viola ouvindo as aulas dadas por um professor ao seu irmão. Muito cedo, Synval começou a tocar em festas na cidade natal. Embora tenha aprendido muito cedo a tocar violão, instrumento no qual se desenvolveu num bom nível, despontou inicialmente aos olhos do público como clarinetista, tocando o instrumento na banda sinfônica da cidade.
Além disso, para garantir o sustento, Synval tornou-se mecânico de automóveis e também motorista particular. Compôs sua primeira música em 1927, a valsa "Lua de Prata".
Em 1930, mudou-se para o Rio de Janeiro, indo morar no Morro da Formiga. Tocou violão no Regional de Jorge Nóbrega que era contratado da Rádio Mayrink Veiga e fez parte também do Regional Good-Bye, na mesma emissora.
Nessa época, conheceu Assis Valente que, em 1934, o apresentou àquela que iria mudar para sempre a sua vida: Carmen Miranda.
Synval tornou-se o compositor favorito de Carmen - a primeira canção gravada por ela foi "Ao Voltar do Samba", ainda em 34, fazendo um grande sucesso.
Carmen prometeu dois contos de réis (um dinheirão para a época)se Synval lhe fizesse um samba que alcançasse metade do prestígio conseguido por "Ao Voltar... o resultado foi "Coração", sucesso em 1935.
Coração - 1E99 / CENTENÁRIO CARMEN MIRANDA
Coração, Governador
Da embarcação do amor,
Da embarcação do amor,
Coração, meu companheiro
Na alegria e na dor,
Na alegria e na dor,
A felicidade procurada corre,
E a esperança
é sempre a última que morre.
é sempre a última que morre.
(bis)
Coração que não descansa noite e dia,
Sempre aguardando uma alegria,
Esperando no mar desta vida,
Embarcação à procura,
De um porto feliz de salvação....
Carmen então ofereceu três contos de réis por nova composição, resultando dessa vez em "Adeus Batucada".
Adeus adeus meu pandeiro de samba
Tamborim de bamba
Já é de madrugada
Vou-me embora cantando
Com meu coração chorando
E vou deixar todo mundo
Valorizando a batucada
Adeus, adeus
Meu pandeiro de samba,
Tamborim de bamba
Já é de madrugada
Vou-me embora cantando
Com meu coração chorando
E vou deixar todo mundo
Valorizando a batucada
Em criança com samba
eu vivia sonhando
eu vivia sonhando
Acordava estava tristonha chorando
Jóia que se perde no mar
só se encontra no fundo
só se encontra no fundo
Samba e Mocidade sambando
sibosa neste mundo
sibosa neste mundo
E do meu grande amor
sempre me despedi cantando
sempre me despedi cantando
Mas da batucada
agora despeço chorando
agora despeço chorando
E guardo no lenço
uma lágrima sentida
uma lágrima sentida
Adeus batucada,
adeus batucada querida
adeus batucada querida
A Pequena Notável gravou ainda "Saudade de Você" e "Gente Bamba".
Outros cantores também começaram a gravar suas músicas: Aurora Miranda cantou a marcha "Amor!Amor!", Orlando Silva interpretou o samba "Agora é Tarde", Odete Amaral gravou "Alma de um Povo" e o Trio de Ouro registrou o samba "Madalena se Zangou", feito em parceria com Ubenor Santos.
Synval participava ativamente da vida do morro e em 1940 foi um dos fundadores da Escola de Samba Império da Tijuca.
Nesse mesmo ano, Ataulfo Alves gravou o samba "Geme Negro", que fez em parceria com Synval.
No início dos anos 50, o compositor esteve durante seis meses nos Estados Unidos e participou de um show, juntamente com Carmen Miranda,que percorreu todo o país, do Atlântico ao Pacífico, divertindo os soldados hospitalizados e aqueles que iriam embarcar para a Guerra da Coréia.
Voltando ao Brasil, sem conseguir viver apenas de direitos autorais, Synval voltou a trabalhar como mecânico. Com o samba "Marina", defendido por Noite Ilustrada, o compositor participou da I Bienal do Samba, da TV Record, em 1968.
"Taí o samba que você pediu, Marina/taí, eu fiz tudo e você desistiu, Marina/taí, meu amor, toda a minha afeição/e você vai me matando pouco a pouco de paixão..." Era 1968, ano da I Bienal do Samba, na TV Record, e, com essa outra "Marina", bem mais espevitada no ritmo e no proceder que a de Caymmi, Synval Silva, com a interpretação de Noite Ilustrada, brilhava numa das eliminatórias da contenda musical, ganha por Elis Regina com "Lapinha", de Baden Powell e Paulo César Pinheiro.
"Marina" é um samba que o próprio Synval regravou, aos 61 anos, na faixa de abertura do único elepê que lançou, em 1973, com arranjos de Nelsinho e Peruzzi, pela série Documento da RCA.
Em 72, apresentou-se em São Paulo como integrante do Batuk-Show, ao lado de Mano Décio da Viola e Xangô da Mangueira.
Gravou, em 73, um LP para a RCA, no qual interpretava sete músicas antigas e mais "Amor e Desencontro", composto com Marilene Amaral.
Nessa época se afastou da vida artística.
Synval Silva morreu em 14 de abril de 1994.
CURIOSIDADES
O disco "Cadáver Pega Fogo Durante o Velório", gravado em 1983, foi alvo de censura e tinha apenas nove faixas, todas assinadas por Fernando Pellon. Os sambas, interpretados por Cristina Buarque, Nadinho da Ilha, Synval Silva e outros, falavam basicamente de tragédias urbanas: suicídios, traições, crimes, doenças e atropelamentos. O disco é, por assim dizer, uma versão cantada do jornal Notícias Populares – aquele que, espremido, vertia sangue.
O texto de apresentação do encarte dizia o seguinte:
"Artificialmente limpa pelo processo Olivetti de tecladismo estéril, a MPB ultimamente não tem correspondido à violência do país que a produz. (...) Fernando Pellon vai chocar essa hipocrisia generalizada vendida com rótulo de bom gosto e status. 'Nunca gostei de eufemismo', vai logo cantando ele. E dá nome às doenças, como fazia Augusto dos Anjos, com um requinte de morbidez que ainda perde, no entanto, para a crueldade exibida diariamente por nossas autoridades mais altas. Quem quiser se assuste com Pellon, que também recobra tradições estabelecidas por arautos das campas tão divergentes quanto Nelson Cavaquinho e Vicente Celestino. Para isso, basta ouvir 'Flores de plástico ao amanhecer'. Já o nosso recente Aldir Blanc também poderia ter assinado algo tão flagrante como 'Carne no Jantar'. E por aí afora, só para que não se pense que Fernando Pellon é um estranho no ninho, ou alienista fugaz”. (AQUI)
Em 22-11-83, o professor Roberto M. Moura escreveu em O DIA:
LIBERAÇÃO DE INDEPENDENTE JÁ DEMORA MAIS DE OITO MESES
"Pronto desde março deste ano, o elepê independente de Fernando Pellon, “Cadáver Pega Fogo Durante o Velório”, atravessa desde então os sombrios e complicados desvãos da Censura Federal, com uma de suas faixas vetadas sob alegações nebulosas e pobres de detalhes. Se situação semelhante já seria difícil para uma gravadora tradicional, imagine-se o transtorno que deve estar causando ao compositor que investiu mais de dois milhões de cruzeiros num produto indiscutivelmente cultural – a começar pela participação especialíssima de artistas como Sinval Silva, Cristina Buarque de Holanda, Nadinho da Ilha, Rafael Rabello, Helvius Vilela e João de Aquino, este o autor de praticamente todos os arranjos do disco. A música censurada “Com Todas as Letras” narra a história de um suicida, contada a partir do instante em que ingeriu “uma dose letal de veneno” e sabe que “tudo está consumado”. Liberado, então, de todos os vínculos com a vida, este suicida sai pelas ruas da cidade, “blasfemando contra a vontade de Deus, contra a Pátria e a Propriedade”, num desespero bastante compreensível em quem optou pelo gesto extremo. É possível, diz Fernando Pellon, que a Censura tenha implicado com os versos “sempre gostei do vermelho, a cor do pavilhão é a cor do nosso coração”, atribuindo-lhe peso ideológico. Cândida prevenção: americano convicto, o compositor quis apenas homenagear o seu time e saudar Lamartine Babo, citando-lhe a letra do hino famoso. Impossibilitado de vender o disco, de divulgá-lo junto à imprensa ou às emissoras de rádio, anda Pellon às voltas com requerimentos, recursos, protocolos, num ir e vir interminável, que começa na Av. Venezuela e não acaba em Brasília. Membro do Conselho Superior de Cultura, Ricardo Cravo Albin interessou-se pelo disco e é provável que este apoio favoreça a liberação da faixa na próxima reunião do Conselho, marcada para dezembro. Apresentado por um texto do crítico Tárik de Souza, que saúda no novo artista o fato de “não ser um estranho no ninho ou um alienista fugaz”, Fernando Pellon é dono de uma obra compacta no estilo e original na forma, lembrando por vezes a morbidez refinada que caracterizava as poesias simbolistas de Augusto dos Anjos, mas voltada de modo ácido para a realidade atual. Seus temas são as fraquezas mais escondidas da natureza humana, que ele descobre como um cirurgião, homenageando Ernesto Narazeth sem ocultar seu fim trágico de louco; recusando-se a chamar lepra de hanseníase e justificando: nunca gostei de eufemismo. Para “vestir” musicalmente estas idéias, este geólogo de 27 anos manobra com ritmos exclusivamente nacionais: compõe sambas, choros, até uma música em forma de samba-enredo (“Flores de Plástico ao Amanhecer”), comentando com humor a indignação de um cadáver a quem a ex-amada oferta flores artificiais no Dia de Finados. O tema lúgubre torna-se inescapavelmente engraçado pelo tratamento inteligente que lhe dá o até agora clandestino Fernando Pellon, que já pensa em gravar o segundo elepê e, paradoxalmente, ainda não pode lançar o primeiro".
http://www.youtube.com/watch?v=6--Q3K-pBPk - Cicatrizes
FONTE
Agenda do Samba Choro
Rac
*Extraído do livro "Sambistas Imortais" de J. Muniz Jr.
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