Surpreende, então, a estréia da curitibana Thaís Gulin, que busca um repertório nada fácil, que esbarra na vanguarda paulistana e na tropicália, ao mesmo tempo em que se mostra compositora promissora. (...) - Com boa voz, composições e escolhas, Thaís Gulin é desde já uma das grandes apostas do ano. (Bruno Yutaka Saito - FOLHA DE SÃO PAULO)
"As participações dos dois aconteceram naturalmente", conta a cantora, modesta. Ela já havia gravado músicas dos dois em seu primeiro disco, as inesperadas "Hino de Duran" (de Chico Buarque) e "Defeito 10: Cedotardar" (de Tom Zé). "Na época, recebi feedback dos compositores que tinha gravado, eles inclusive. Como era meu primeiro disco, achei que era uma coisa normal. Depois me falaram que isso era raro", ri.
"Se Eu Soubesse" foi um oferecimento de Chico para ela. "Um dia ele simplesmente me disse 'vou fazer uma música para o seu disco'. E eu respondi 'obrigada'", lembra.
No caso de Tom Zé, foi Thaís quem pediu uma canção. "Liguei para a casa dele, disse que estava entrando em estúdio e perguntei se ele não queria participar. Alguns dias depois ele apareceu com uma música". Os créditos do disco ainda incluem uma composição de Adriana Calcanhotto ("Encantada") e uma parceria com Ana Carolina ("Quantas Bocas").
Poderia haver ainda uma faixa inédita composta por Thaís e Jards Macalé, mas ela não ficou pronta a tempo de entrar no álbum. Ela então gravou "Revendo Amigos", faixa do primeiro disco do músico carioca, de 1972. É uma versão cheia de personalidade, que mistura rock e reggae. E a colaboração entre os dois vai render mais frutos num futuro próximo. "Acabei de gravar 'Hotel das Estrelas' para o DVD que o Macalé está fazendo. Se não me engano, a direção é do Eryk Rocha (cineasta e filho de Glauber Rocha)", adianta.
- Coincidências
Thaís conta ainda que o processo de criação deste segundo disco foi completamente diferente do primeiro. "No primeiro eu ainda estava procurando minha identidade. Tanto que demorei à beça para produzir", explica. "Neste segundo foi o inverso: tinha algo preso no meu pescoço e precisava deixar sair de mim". De acordo com ela, era preciso fazer desse jeito, "por mais que todo mundo odiasse". "Se não fizesse o disco agora com essa liberdade, nunca mais teria essa chance de novo. As pessoas podem até achar que sou louca, mas precisava fazer assim."
Exagero de Thaís. "ôÔÔôôÔôÔ" é realmente um trabalho mais pessoal que seu disco de estreia, mas isso não significa que ele não seja acessível. "ôÔÔôôÔôÔ" e "Água" têm um apelo pop inegável, "Revendo Amigos" é uma bela versão de uma das obras-primas de Macalé, e "Se Eu Soubesse" e "Encantada" são composições inspiradas de Chico Buarque e Adriana Calcanhotto. Em resumo, é mais um belo representante do que a crítica vem chamando de "MPB indie".
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