Luiz Américo Lisboa Júnior (11/9/1960 Salvador/BA). Pesquisador musical. Escritor. Professor. Nascido em Salvador, passou a residir depois na cidade de Itabuna. Pedogogo e Historiador. Professor de Filosofia da Educação, História da Educação, e Especialista em História pela Universidade Estadual de Santa Cruz, a UESC. Começou seu trabalho como pesquisador musical em 1975.
Em 1983, realizou o curso "História da Música Popular Brasileira" no Instituto de Música da Universidade Católica de Salvador, sendo a primeira pessoa a ministrar um curso sobre a História da MPB em uma Universidade baiana.
Um panorama da história da Música Popular Brasileira, desde 1870, passando pela década de 1970 até os dias atuais. Dentre os temas estão: uma viagem do nascimento do Choro, as primeiras gravações em disco, os grandes nomes do início do século, o Samba, o lançamento do Baião por Luiz Gonzaga, Os grandes programas de rádio, Tropicália, A influência da censura na música popular, O surgimento de Raul Seixas, Trio elétrico e a invasão da música Axé, Os movimentos de vanguarda e a MPB hoje.
De 1983 a 1990, ministrou cursos de História da Música Popular Brasileira na UFBA, a Universidade Federal de Alagoas, Universidade Federal de Goiás, Universidade Nacional de Brasília e Universidade Estadual de Santa Cruz em Ilhéus (BA), além de cursos e palestras em escolas de ensino fundamental e médio da Bahia. Publicou diversas matérias em jornais da Bahia e de outros estados e do exterior.
Ainda em 1983, escreveu seu primeiro livro, intitulado "Resumo da História da música popular brasileira de 1870 aos nossos dias", que teve prefácio de Dulce Calmon, na ocasião Diretora do Instituto de Música da UCSAL.
Em 1990, publicou o livro "A presença da Bahia na música popular brasileira", no qual reuniu e analisou praticamente todas as musicas cujo tema é a Bahia. O livro contou com prefácio do compositor Walter Queiroz e orelha feita pelo historiador paraense Vicente Salles.
Em agosto de 2000, lançou seu terceiro livro denominado "81 temas da música popular brasileira" , que contou com prefácio do pesquisador Abel Cardoso Junior. Participando ativamente na Bahia de diversos projetos de pesquisa de música popular, possui um amplo acervo com mais de 10.000 discos de M.P.B. entre LPs e 78 rotações, mais de 400 horas de CDR com gravações completas das obras dos nossos maiores intérpretes como Carmen Miranda, Carlos Galhardo, Orlando Silva, Anjos do Inferno, Bando da Lua, Aracy de Almeida dentre outros. Possui também depoimentos e shows dos mais significativos nomes da M.P.B, diversos programas de rádio das décadas de 1940 e 1950, uma biblioteca com cerca de 600 volumes só de Música Popular Brasileira, além de grande coleção de jornais e revistas sobre o tema.
Teve matérias publicadas nos mais renomados jornais do país, como A Tarde, Folha de São Paulo, O Globo, Estado de São Paulo, sendo colaborador há mais de dez anos do Jornal Agora de Itabuna.
Desde 2000, tem participado de importantes projetos musicais na Bahia como o CD duplo, "Do lundu ao axé", produzido por Paulinho Boca de Cantor e Edil Pacheco, comemorativo aos cem anos de música baiana, onde realizou a pesquisa histórica das músicas.
Em 2001 participou do Encontro Nacional de Pesquisadores da MPB realizado na Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Em fevereiro de 2002, participou da produção do CD "Resgatando", com as melhores canções do acervo da gravadora JS, a primeira da Bahia, fundada por Jorge Santos em Salvador.
Produziu, coordenou e idealizou o projeto do CD "O carnaval Azul Turquesa da Bahia - Bloco do Jacu", com todas as 23 músicas do bloco lançadas de 1973 a 1983 compostas por Walter Queiroz, cujo lançamento se deu no dia 4 de abril de 2003 na Livraria Civilização Brasileira, do Shopping Barra em Salvador.
Seu nome faz parte do Dicionário de Autores Baianos publicado pela Secretaria de Cultura e Turismo do Estado da Bahia em 2006.
No mesmo ano, participou como pesquisador e autor de alguns textos, do livro, "Bahia terra da felicidade", do autor Ubaldo Marques Porto Filho, editado pela Bahiatursa, órgão oficial de turismo da Bahia.
Ainda em 2006, seu nome passou a constar do Dicionário Houaiss Ilustrado/Musica Popular Brasileira, editado em parceria pelo Instituto Cultural Cravo Albin, e pelo Instituto Antonio Houaiss, ambos do Rio de Janeiro.
Em dezembro de 2007, participou como convidado da Universidade Federal da Bahia, para compor mesa de palestras e debates, no salão nobre no Palácio Rio Branco, em Salvador, por ocasião do Dia do Samba, comemorado em 2 de dezembro.
No mesmo ano, lançou o livro "Compositores e intérpretes baianos - De Xisto Bahia a Dorival Caymmi", editado pela EDITUS, Editora da Universidade Estadual de Santa Cruz e Via Litterarum.
Em 2008, lançou pela Via Litterarum, o livro "MPB em textos - História e crítica". Luiz Américo nos brinda com excelentes comentários sobre os mais diversos artistas nacionais; dedica à Bahia um capítulo específico, resgatando valores musicais baianos, em mais uma contribuição à memória musical de sua terra, o que reafirma o titulo de ser o seu maior historiador neste campo, em função dos seus diversos trabalhos publicados sobre o tema.
Com um texto ágil e de boa compreensão literária, aliado a uma rigorosa e minuciosa pesquisa, Luiz Américo Lisboa Junior, neste seu novo livro, também se revela um excelente crítico analisando com muita lucidez e acuidade intelectual os mais diversos aspectos de nossa música popular. Por tudo isso, e muito mais que esta obra pode oferecer, trata-se, portanto, necessária como fonte de consulta permanente para pesquisadores e amantes da música popular da Bahia e do Brasil.
No mesmo ano, participou do programa "Aprovado" do professor Jorge Portugal na Rede Bahia de Televisão, abordando o tema "A influência do samba na nossa cultura local e nacional".
BAHIA, BERÇO e TRADIÇÃO
Bahia, berço e tradição da música popular brasileira. A história musical baiana começa com a vinda do primeiro bispo nomeado para a Bahia pela Coroa Portuguesa, D. Pero Fernandes Sardinha que aqui chegou em 1 de janeiro de 1552 trazendo consigo um musico, Mestre de Capela, para ensinar música aos alunos do Colégio dos Jesuítas. Mais adiante o irmão do poeta Gregório de Matos, Eusébio de Matos, também conhecido como Frei Eusébio da Soledade, nascido na Bahia em 1629, um exímio tocador de harpa e viola, compondo hinos religiosos e cantos profanos tornou-se o responsável pela formulação das primeiras regras de ensino de música na Bahia.
O tempo passa e no início do século XIX através de uma carta régia expedida por D. João VI é criada na “cidade da Bahia” em 30 de março de 1818 uma cadeira de música, nomeando José Joaquim de Souza Negrão como seu primeiro instrutor e diretor.
Terra inspiradora de grandes artistas a Bahia do século XIX produz e consagra nomes como José Joaquim de Souza Negrão também conhecido pela alcunha de Cazuzinha, Tito Lívio, ambos nascidos na cidade de Cachoeira e por fim o notável artista Xixto Bahia, nascido em Salvador a 5 de dezembro de 1841 que conquistou o Brasil com seu insuperável talento, falecendo em Caxambu, estado de Minas Gerais em 30 de outubro de 1894. Dentre suas obras de maior relevo destacam-se a modinha Quis Debalde Varrer-te da Memória com versos de Plínio de Lima e o lundu Isto é Bom que veio a ser a primeira música gravada no Brasil em 1902 pela Casa Édison do Rio de Janeiro, selo Zon-O-Phone, interpretada por Manuel Pedro dos Santos, popularmente conhecido pelo apelido de Baiano, nascido na cidade de Santo Amaro da Purificação em 1870, tornando-se o cantor de maior prestígio no Brasil nas duas primeiras décadas do século XX. Portanto conclui-se que a indústria fonográfica brasileira desde o seu nascedouro recebeu as bênçãos da Terra de Todos os Santos.
Mas a Bahia era incansável na produção de talentos e temos nessa primeira fase o dançarino e compositor Antonio Lopes do Amorim Dinis, mais conhecido por Duque, popularizador da dança do Maxixe na Europa, principalmente em Paris, o cantor Arthur Budd Castro de grande popularidade em todo o país e o violonista e compositor Josué de Barros, que junto com Arthur Budd gravaram na Alemanha em Berlim na gravadora Bekka, cerca de 140 discos de música brasileira, tornando-se provavelmente os primeiros artistas brasileiros a gravarem e fazerem sucesso além de nossas fronteiras.
Corre o tempo..., e chegamos nos anos trinta quando surge Assis Valente, baiano da melhor qualidade dando a todos Boas Festas, vestindo uma Camisa Listrada, para logo em seguida um seu conterrâneo, Humberto Porto fazer todos dançarem ao som da Jardineira em 1939, juntamente com outro talento da Bahia, o jovem Dorival Caymmi mostrar ao Brasil inteiro O que é que a baiana tem.
Mas se no Rio de Janeiro nossos artistas ganham fama nacional, a cidade do Salvador na década de 40 assiste o surgimento da primeira geração de sambistas baianos como Batatinha, Panela e Riachão, é o tempo dos programas de auditório da Rádio Sociedade, a Bahia esta em festa. Senhores ouvintes, sintonizem seus receptores, pois está no ar o programa Parada de Calouros Eucalol!
Os talentos se sucedem numa quantidade e qualidade de dar inveja a qualquer um. No início dos anos 50 um pau elétrico, uma fobica e uma dupla do barulho muda a história do carnaval. O Trio Elétrico de Dodô e Osmar esta nas ruas da cidade! Da pequena Cairu no recôncavo baiano o Brasil vê surgir o violão de Clodoaldo Brito, o Codó e sua Yayá da Bahia, Aristeu Queiroz sai de Jacobina e vai cantar no sul maravilha o seu Jangadeiro de Itapoã, Aldemar Brandão encanta a todos com suas canções que falam de nossas festas e tradições e todos cantam A lavagem do Bonfim, Anísio Silva com seu romantismo enamorado conquista corações, Alguém me Disse, Waldeck Arthur de Macedo, nosso Gordurinha diz a todo mundo que Baiano Burro Nasce Morto e Armando Sá e Miguel Brito fazem furor nos bailes de carnaval com uma Colombina que vem a ser a nossa eterna musa nas festas de Momo. Enquanto isso de Juazeiro um rapaz chamado João Gilberto, muda a história da música popular brasileira, com sua batida no violão, dando boas vindas a Bossa Nova e a moderna M.P.B. Bim Bom!
Se tudo isso não bastasse chegamos ao ano de 1960 e a Bahia resolve registrar a música produzida em seu solo, é um momento glorioso, surge a gravadora JS iniciais de seu idealizador, Jorge Santos, que registra em seu primeiro disco um grupo de jovens cantoras da cidade de Ibirataia, intituladas de As Três Baianas, que seriam no futuro o Quarteto em Cy.
O Brasil ouve e vive a Bossa Nova com João Gilberto e a Bahia ainda faz surgir para o resto do país o Governador do Teclado, Carlos Lacerda e o público aplaude e delira as composições e os dedos mágicos de nosso herói. Ah! linda Giboeirinha! É o tempo também de Alcyvando Luz, Carlos Coqueijo, Roberto Santos, Walter Levita, Jairo Simões e Oswaldo Fahel com sua Morena do Rio Vermelho e ainda a nossa musa da Bossa que a Bahia deu ao Brasil e ao mundo, a graciosa Astrud Gilberto. Os festivais de música carnavalesca tomam impulso e abraçam com aconchego a chegada de Um Rio de Lágrimas do jovem Ederaldo Gentil e sua intérprete Raquel Mendes, que juntamente com outros talentos locais fazem a história da música da baiana não parar de crescer. Que saudade do Trio Xangô, Trio Piatã, Os Imperiais, Inema Trio e do Quarteto Sanauá! Quer mais, pois, Quem Samba Fica na lembrança do querido Tião Motorista.
No ano de 1967 é tempo de Alegria Alegria para ir a um passeio Domingo no Parque, salve a Tropicália, viva Caetano Veloso, Gilberto Gil e a Baby Gal Costa, sejam bem vindos também Piti e João Augusto que já fazem desde logo sua Despedida, Fernando Lona com sua Porta Estandarte, o jovem Tom Zé indo para São São Paulo e a voz forte feito um Carcará da musa Maria Bethânia. O Brasil mudou, a música popular brasileira também e a nossa geração de ouro contribuiu decisivamente para essa mudança.
Adentramos nos anos 70, Maria Creuza, Se Todos Fossem Iguais a Você que era a preferida do poetinha Vinícius de Moraes! O Brasil inteiro canta Você Abusou com Antônio Carlos e Jocafi e saúda nossos Novos Baianos que juntos cantam e encantam É ferro na Boneca! Depois Moraes Moreira faz balançar o Chão da Praça, Pepeu Gomes embarca para o Planeta Vênus e Paulinho Boca de Cantor diz a todos que Valeu. Dessa turma ainda aparecem no cenário A Cor do Som pedindo uma Mudança de Estação. Do recôncavo ecoam arrebatadoras as vozes afinadíssimas dos Tincoãs, Heraldo, Mateus e Dadinho,Ô Deixa a Gira Girá.
Vamos todos juntos “ir ao jardim zoológico dar pipocas aos macacos” e buscar o Ouro de Tolo com o jovem e intrépido Raul Seixas, que pede passagem ao Filho da Bahia Walter Queiroz, que se junta com Walmir Lima e Lupa na Ilha de Maré, usando um Tamanco Malandrinho de Tom e Dito, afirmando com Nelson Rufino que Todo Menino é um Rei, pedindo a Edson Conceição e Aloísio Silva que Não Deixe o Samba Morrer e dançar ao som de um Ijexá com Edil Pacheco. É tempo ainda de Mercado Modelo, A Cobra Mordeu Caetano já dizia Chocolate da Bahia, sucesso de partido alto é Roque Fumaça e seus Partideiros do Plá que dão Nó na Cana e Cyro Aguiar que chega com tudo e faz sua Crítica, samba, amor e paixão, mistura perfeita. E ainda tem Zé Pretinho da Bahia na parada com seu Pagode na Ribeira e Firmino de Itapoã com seu Samba de malandro.
A noite da Bahia continua linda com suas estrelas, Miriam Tereza e a Flor da Laranjeira Claudete Macedo fazem a diferença. Das fileiras universitárias surge o canto forte da grande Diana Pequeno que o país inteiro ia admirar e aplaudir.
E dos sertões abrimos alas para Elomar e seu Campo Branco lá das Quadradas das Águas Perdidas vindas das Barrancas do Rio Gavião, Xangai com as Estampas Eucalol do jovem poeta Helio Contreiras e o balanço da rede do ABC do Preguiçoso que o povo fez e o violeiro e cantador popularizou, e ainda surge O Bendengó tendo Gereba à frente mirando onde o Olhar não não Mira, convidando Jorge Aragão a plantar um Capim Guiné com Sá e Guarabira tomando um banho no lago de Sobradinho e aplaudindo Fabio Paes numa justa homenagem, Salve Canudos! Viva nossos cantadores, heróis e sobreviventes.
E agora como eu acabo? Será que me esqueci de alguém! Desculpem a nossa falha! Anos 80 e 90 é com vocês Saul Barbosa, Roberto Mendes, Jorge Portugal, Raimundo Sodré o caminho da tradição. Carlinhos Brown lava a alma do gueto, Daniela Mercury é o Canto da Cidade, Luiz Caldas faz um Fricote, e Vevé Calazans com Gerônimo homenageiam a terra dos orixás, É D’Oxum.
Depois..., bem como dizia Gregório de Matos, “Triste Bahia, ó quão dessemelhante estás”. Mas nem tudo esta perdido. Por favor toquem nossos valorosos artistas nas rádios, dêem o espaço que eles merecem, a um grito entalado na garganta. Ainda tem boa música nesta terra!!! Viva a Bahia! Viva a música popular brasileira!
Texto : Luiz Américo Lisboa Junior - Itabuna, 07 de novembro 2002
FONTE
http://www.dicionariompb.com.br/luiz-americo/dados-artisticos
http://www.oocities.org/ail_br/oclichedaterra.htm
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