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domingo, 16 de abril de 2017

Dia Mundial da Voz



No Dia Mundial da Voz, conheça dicas de cantores e especialistas para preservar melhor a sua

"Quando eu soltar a minha voz/Por favor, entenda/
Que, palavra por palavra/Eis aqui uma pessoa se entregando",
canta Gonzaguinha em "Sangrando".


Não há dúvidas de que cantar envolve muita emoção. Mas nem só de paixão vive um cantor: é essencial cuidar de seu “instrumento”. Comemorado em 16 de abril, o Dia Mundial da Voz — que foi criado no Brasil, onde é celebrado desde 1999 — tem por objetivo conscientizar a população sobre a importância da voz. A data é uma boa desculpa para se pensar numa rotina saudável para o bem mais precioso de muitos artistas.



Uma unanimidade é que o cuidado com a voz passa pelo cuidado com a saúde em geral. "Dormir e se alimentar bem, hidratar-se, procurar ter momentos de relaxamento mental e físico são essenciais para estar bem consigo mesmo, e todo esse equilíbrio vai se refletir no uso que fazemos do nosso corpo, e, por consequência, da nossa voz. O cantor é um atleta, usa e precisa de seu corpo de uma forma diferente das pessoas 'normais', por isso precisa estar sempre atento às suas necessidades e cuidados", destaca a cantora, regente e professora de canto Maíra Martins, que, além de ter um trabalho solo, integra os grupos Ordinarius, Cria e Projeto Magu.

Pouco álcool, muito sono

No dia a dia, nem sempre é possível seguir todas as recomendações, mas os artistas buscam manter alguma rotina, como conta o cantor e vocalista João Cavalcanti. "Tento não beber ou comer muito, sobretudo cerveja e queijo, logo antes dos shows. Tento também dormir o melhor possível na véspera. Mas, confesso, não sou muito disciplinado com os aquecimentos e desaquecimentos vocais", confessa João Cavalcanti.

Maíra Martins acredita que cada um sabe o que funciona para si. "Não sigo aquelas regras do tipo 'não tomar gelado', 'fazer repouso vocal antes de cantar' ou 'comer maçã'. Acredito que precisamos conhecer nosso próprio corpo e estar sempre atentos ao que nos faz bem ou não. Criar nossas próprias regras. Eu, por exemplo, evito dormir com ar-condicionado ligado, pois não me faz bem, e posso dormir com o ventilador na cara sem sentir nenhum desconforto. Seria mais fácil se as regras fossem iguais para todos, mas infelizmente (ou felizmente) não é tão simples assim", analisa. "Um ritual que tenho sempre que me apresento é de fazer exercícios de relaxamento corporal e respiração, que funcionam pra mim como aquecimento para as músicas", conta.

Rotina própria

A cantora Érika Martins, vocalista do grupo Autoramas, também é do time que acha que cada um deve ter seus próprios cuidados. "A minha relação com a voz é muito intuitiva, nunca fiz aula. Acredito muito em a gente escutar o corpo. Durante a minha vida inteira, fui vendo o que funcionava e o que não funcionava para mim. Então, sei que, se eu sair no dia anterior a um show e for para algum lugar muito barulhento — com certeza você acaba falando mais alto, fica forçando para falar com as pessoas e fica com a voz mais desgastada, até rouca. Tento evitar isso", exemplifica ela. "Eu não gosto muito de comer muito antes de show, por questão de movimento de palco e para respirar para cantar, então tento fazer uma refeição mais leve antes do show. Mas depois da apresentação caio matando (risos), gasto muita caloria, fico esfomeada", diverte-se.

Alimentação Adequada

A fonoaudióloga Maria Luíza Araújo, que trabalha a voz de cantores e atores, frisa que uma alimentação adequada é muito importante para os cantores. "Principalmente na época próxima às apresentações, é bom evitar comida muito pesada, para não sobrecarregar a ação diafragmática, evitar consumo excessivo de bebidas alcoólicas, refrigerante, essas coisas. Podem gerar um pouquinho de refluxo e atrapalhar o rendimento", frisa Maria Luíza. "É importante comer carboidrato também, principalmente se a pessoa vai fazer um show de duração. Carboidrato 'do bem', como frutas, uma alimentação saudável que vire energia imediatamente. A maçã ajuda, porque não só é adstringente, mas trabalha também a musculatura da face, para você articular melhor ao cantar ou falar. Mas, se a pessoa tiver refluxo muito forte, por ser ácida pode comprometer um pouquinho", diz.

Atividade física

Atividade física é outro hábito que deve ser incorporado à rotina. "É importante para dar uma equilibrada. Pode ser caminhada, ioga, muay thay...", enumera a fonoaudióloga. "Trabalho com cantores líricos que fazem musculação exatamente para ganhar bastante atividade e fortalecimento da região do diafragma, que sustenta os pulmões. Isso vai dar um rendimento e maior sustentabilidade de uma emissão vocal", exemplifica ela. João Cavalcanti é um adepto. "O Casuarina fez recentemente uma turnê de mais de dois meses pelos Estados Unidos, e o que me salvou a vida foi uma rotina de exercícios que eu mesmo desenvolvi. Exercícios simples, possíveis de serem feitos no próprio quarto do hotel ou no camarim dos teatros. Consegui controlar a ansiedade (e a obesidade, já que não há muitas opções saudáveis para comer) à base de abdominais, flexões e corridas", lembra.

Maria Luíza Araújo ainda frisa a importância de evitar molhos, condimentos, coisas tipo amendoim, pipoca, que podem dar um certo prurido na hora de se apresentar, “porque podem ficar grudados na amídala”, explica. Já o cigarro deve ser banido da vida de um cantor, ela avisa. "É preciso eliminar de vez o fumo, qualquer um que seja, o legal ou não: eles interferem bastante, porque queimam muito a mucosa das pregas vocais", diz.

EXERCÍCIOS VOCAIS: POR QUE FAZÊ-LOS

Os exercícios vocais são importantes, diz a fonoaudióloga. "Sempre recomendo um aquecimento vocal bem rápido, de no máximo 5 ou 10 minutos — eu faço aquecimento fisiológico, geralmente o aquecimento mais preparatório vem dos professores de canto", esclarece. "O desaquecimento vocal também é importante, para você voltar ao registro vocal confortável de voz. Você faz algumas praticas em que vai descer a laringe e o registro vocal, e assim volta à voz normal de fala, uma voz confortável”, comenta Maria Luiza.

Por fim, ela recomenda consultas periódicas com um otorrino. "Sempre que possível, fazer uma avaliação, com videolaringoscopia, para saber se tem alguma coisa, se tem algum componente que possa desenvolver uma lesão por esforço repetitivo", diz. "Uma avaliação de fonoterapia também é importante. Tenho clientes que já atendo há 10 anos, e eles continuam vindo a mim a cada oito a 12 meses: 'O que você tem de novidade?' E eu mesma aviso: 'Olha, estou com umas técnicas de aquecimento mais rápidas, mais eficazes, e eles sempre dão um jeitinho de no máximo a cada dois anos dar uma retrabalhada, reavaliar", ensina.


FONTE

http://www.ubc.org.br/Publicacoes/Noticias/7261

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