Humberto Cavalcanti Teixeira (Iguatu, 5 de janeiro de 1915 — Rio de Janeiro, 3 de outubro de 1979) foi um advogado, deputado federal e compositor brasileiro. Nacionalmente conhecido como parceiro de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, um grande sucesso da dupla é a composição Asa Branca, lançada em 1947. Foi advogado, político, instrumentista, poeta, compositor, fundador e Presidente da Academia Brasileira de Música Popular. Da união com Margarida Teixeira, nasceu a atriz Denise Dumont, mãe de seu único neto - filho de Denise e o ator Cláudio Marzo.
VIDA E OBRA
Era filho de João Euclides Teixeira e Lucíola Cavalcante Teixeira. Desde cedo apresentava aptidões para a música; aos seis anos, aprendeu a tocar musete - versão francesa da gaita de foles. Aprendeu também flauta e bandolim. O seu tio Lafaiete Teixeira, foi o responsável pelos seus primeiros ensinamentos musicais, era maestro e tocava vários instrumentos.
Aos 13 anos, depois de ter editado sua composição Miss Hermengarda, tocava flauta na orquestra que musicava os filmes mudos no Cine Majestic de Fortaleza. Aos 15 anos radicou-se no Rio de Janeiro onde, aos 18 anos, em 1934, foi premiado com Meu Pecadinho pela revista O Malho num concurso de música carnavalesca.
Em 1943, formou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Nesta época já tinha composto sambas, marchas, xotes, sambas-canções e toadas. Em 1944, teve gravada a primeira música, em parceria com Lírio Panicalli, o samba apoteótico Sinfonia do Café, cantado por Deo. Compôs Kalu, para a cantora Dalva de Oliveira e Adeus, Maria Fulô, com Sivuca, para Carmélia Alves.
Seu encontro com Luiz Gonzaga se deu em agosto de 1945. Em conversa animada surgiu a intenção de valorizar o ritmo nordestino, onde o xote e o baião tinham prioridades. Surgiu o primeiro sucesso da dupla, denominado No Meu Pé de Serra.
No ano de 1954, Humberto Teixeira candidata-se a deputado federal, passando dois meses fazendo campanha no sertão cearense, ao lado de Luiz Gonzaga. Estiveram em Iguatu para dar uma força ao candidato a prefeito, Dr. Meton Vieira, a quem presentearam com uma música para a campanha.
Humberto Teixeira elegeu-se deputado com cerca de 12 mil votos. Teve destaque na Câmara Federal, quando do seu empenho na defesa dos direitos autorais. Conseguiu aprovar a Lei Humberto Teixeira, que permitia maior divulgação da música brasileira no exterior, através de caravanas musicais financiadas pelo Governo Federal. Humberto Teixeira levou para o exterior Valdir Azevedo, Francisco Carlos, Dalton Vogeler, Leonel do Trombone, o guitarrista Poly, a cantora Marta Kelly, o acordeonista Orlando Silveira, o Conjunto Radamés Gnatalli, o maestro Quincas e seus Copacabanas, Vilma Valéria, Carmélia Alves, Jimmy Lester, Léo Peracchi, Sivuca e muitos outros.
As canções de Humberto Teixeira foram interpretadas principalmente por Luiz Gonzaga, mas outros cantores de expressão nacional também tiveram este privilégio; foram eles: Dalva de Oliveira, Carmélia Alves, Geraldo Vandré, Gilberto Gil, Fagner, Caetano Veloso, Gal Costa, Elba Ramalho, etc.
Eleito por três anos consecutivos o melhor compositor do Brasil, de Humberto Teixeira se disse: O Doutor do Baião, quebrando rotinas e cânones, imprimiu novos rumos à seresta nacional. Com o baião, fincou-se um novo marco na evolução da música popular brasileira.
Representou o Brasil na Noruega, França e Itália, como delegado especial junto ao XVIII Congresso Internacional de Autores e Compositores.
Em sua homenagem e reconhecimento, foi batizada com seu nome a Rodovia CE-021 (que liga Iguatu a Fortaleza), a Agência do banco do Nordeste do Brasil de Iguatu e o Centro Cultural Iguatuense.
Filme
Em 2008 foi lançado o documentário O homem que engarrafava nuvens, dirigido pelo cineasta Lírio Ferreira e produzido por Denise Dumont. O filme estreou no Brasil na edição daquele ano do Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro.
Na mansão Mandalai, construída nos arredores do bairro de São Conrado (RJ) – perto das montanhas, da floresta e da Pedra da Gávea –, as nuvens ficam tão baixas que é possível tocá-las. Lá, uma menina viu o pai repetir dezenas de vezes, quando questionado se havia abandonado a vida pública, que continuava compondo, mas “o que gostava mesmo era de ficar ali com a filha, engarrafando nuvens”.
Foi no rastro dessas nuvens que a atriz Denise Dummont iniciou sua jornada em busca da história desse homem e de toda uma época marcada pelo ritmo contagiante das sanfonas. O resultado dessa odisseia pode ser visto no documentário “O homem que engarrafava nuvens”, de Lírio Ferreira, que estreou nos cinemas em circuito nacional e que conta a história do baião por meio da vida e obra do compositor cearense Humberto Teixeira, autor de clássicos como “Asa branca” e “Adeus, Maria Fulô”. Para Denise, ele era apenas “papai”; para o mundo musical, o “doutor” do baião.
OUTRAS HOMENAGENS:
Luiz Gonzaga chegou a declarar que, ao decidir dar uma forma à música em 1947, não tinha muito entusiasmo por “Asa branca”: "É muito lenta, cantiga de eito, de apanha de algodão na roça. Mas Humberto pediu para eu cantar a música, eu cantei e ele me convenceu a fazê-la". A música teria tido origem em memórias de seu pai, Januário, o homem da sanfona de oito baixos, para melodia adaptada do folclore. "Asa Branca era folclore. Eu toquei isso quando era menino com meu Pai. Mas aí chega Humberto Teixeira e coloca: ´Quando olhei a terra ardendo qual fogueira de São João’ e se conclui um trabalho sobre Asa Branca".
“Asa branca”, a cantiga nordestina que, de gênese universal, sempre mostrou vocação para ir além-fronteiras – que o digam performances como a de Hermeto Pascoal e Elis Regina, no Festival de Montreaux, na Suíça, em 1979, ou o registro em inglês feito pelo baiano Raul Seixas, que optou pelo clima country para cantar o lamento de sua “White wings”.
O Adeus da Asa Branca - tributo a Humberto Teixeira
PRIMEIRA COMPOSIÇÃO
"Um dia cheguei para o maestro Antônio Moreira, usando um artifício, e disse: Olha, maestro: encontrei lá nos alfarrábios da minha mãe uma valsa antiga e gostaria de mostrar pro senhor. E toquei aquilo na flauta. O maestro disse: "Olha, é bonita. A melodia é interessante'". Ele perguntou pela letra e eu disse que depois levaria. E ele disse: "Mas há qualquer coisa aqui. Tenho a impressão que está quebrada, não sei bem. De onde é que sua mãe tirou isso?" Então ele disse: `"Olha Humberto, vamos deixar esta história de alfarrábio, negócio de sua mãe e coisa e tal. Isso aí é um negócio que você fez, não é?" Eu digo: é sim, maestro. Ele disse: "Olha, tá muito bom, mas eu vou lhe ensinar. Tá faltando ainda a técnica da composição. Você tem que ajeitar aqui e ali e tal". Ele me ajeitou e essa foi minha primeira música impressa. Era uma valsa que fiz em homenagem à miss Hermengarda, uma moça do Ceará que foi eleita miss num dos primeiros concursos desses que houve aqui. Eu, naquele encantamento, via aquela moça como uma coisa inatingível. Eu era garoto e sonhava. E acabei fazendo a tal valsa dedicada à missa Hermengarda, uma moça da família Gurgel - Hermengarda Gurgel, uma coisa assim. O maestro me fez uma surpresa maravilhosa. Mandou aquela valsa pra São Paulo e editou. Um belo dia, numa das aulas, ele me deu de presente a música editada através de uma editora, se eu não me engano, dos irmãos Vitale, de São Paulo."
PLÁGIO
"Um marinheiro americano pegou o disco com o "Juazeiro" no Rio, levou e gravou com outro nome. O que é incrível é que ele, através de um processo tecnológico até conhecido aí, copiou o disco, tirando a letra e aí botaram em cima a letra de Peggy Lee. Você escuta no disco de Peggy Lee os acordes d'Os Cariocas. Isso é que é impressionante. Mudaram o nome, mudaram tudo. Mas o plágio não foi lá não. O plágio se estendeu à França, onde ela foi gravada com o título de "Le Voyageur", O viajante. Eu encontrei e tenho esse disco também. Nós nunca conseguimos nos ressarcir desses direitos injuriados e usurpados, nada disso. E o que é mais incrível: a Peggy Lee, numa viagem que eu fiz aos Estados Unidos, tornou-se minha amiga. Eu contei o fato pra ela e ela disse que era inocente e que tinha gravado uma música que a fábrica havia lhe dado. Ela dizia: "Não tenho nada com isso. O que você está contando me traz até remorso".
Quer saber mais Sobre Humberto Teixeira leia a entrevista dele aqui
Dono dos Teus Olhos - Humberto Teixeira
FONTE:
O homem que engarrafava nuvens por Kelly de Souza
ASA BRANCA
Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira
Quando olhei a terra ardendo
Qual fogueira de São João
Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação
Que braseiro, que fornalha
Nem um pé de plantação
Por falta d´água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão
Até mesmo o asa branca
Bateu asas do sertão
Então eu disse adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração
Quando o verde dos teus olhos
Se espalhar na plantação
Eu te asseguro, não chores não, viu
Que eu voltarei, viu, pro meu sertão
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