segunda-feira, 6 de junho de 2011

Moreira da Silva


Antônio Moreira da Silva (Rio de Janeiro, 1 de abril de 1902 — Rio de Janeiro, 6 de junho de 2000) foi um cantor e compositor brasileiro, também conhecido como Kid Moringueira. Filho mais velho de Bernardino de Sousa Paranhos, trombonista da Polícia Militar e de dona Pauladina de Assis Moreira.

Aos 9 anos foi para a escola. Mas logo deixou o Colégio Barão de Pilares, na Tijuca, e foi à luta para ajudar a família. “Filho de pobre, quando morre o pai, a coisa fica preta". Criança, vendeu doce nas ruas do Rio, entregou marmita e catou papel.

Na adolescência, trabalhou numa fábrica de meias, em Botafogo. "Andava oito quilômetros a pé por dia, com uma comidinha muito fraca, que mal dava para enganar o estômago. Eu estava muito longe da minha mãe, que era cozinheira. Minhas irmãs foram morar na casa de umas tias e eu fiquei sozinho no barraco. Meu almoço era geralmente um bolo de milho e bananada", contou Moreira à revista Fatos e Fotos com seu jeito galhofeiro. "Depois, água por cima. Inchava o estômago, e eu passei a sofrer do fígado".

Levou a vida nesse sufoco até que, aos 19 anos, arrumou um emprego na fábrica de cigarros Souza Cruz, onde começou a trabalhar como ajudante de motorista. Por essa época, já se apresentava em festas de conhecidos e fazia serestas em que cantava modinhas de Hermes Fontes e Cândido das Neves.


Em 1923 tirou a carteira de motorista e, antes de virar artista consagrado, foi chofer de táxi e, a partir de 1926, motorista de ambulância, acumulando as funções durante algum tempo para sustentar uma irmã e a mãe. "Fui pedir emprego na Assistência Municipal e, com meu modo de falar, modéstia à parte, consegui. Fiz um exame superficial e fui aprovado", conta Moreira. Ficou lá por doze anos.


Considerado o criador do samba-de-breque. Cantar numa época em que as ondas do rádio eram dominadas por canários como Chico Alves e Sílvio Caldas, intérpretes sutis como Mário Reis e afetados como Carmen Miranda, - "no tempo em que cantor tinha que esticar a veia do pescoço" - era um desafio gigantesco para Moreira. Mas encarnando a imagem dos malandros autênticos, terno de linho branco HJ-S 120, sapato bicolor (“de pelica, ou botinha com botões de madrepérola”) e chapéu panamá, o marido de dona Mariazinha convenceu e cavou seu lugar ao sol.

Moreira levou as melodias sincopadas de Geraldo Pereira ao radicalismo do samba-de-breque em clássicos como Na Subida do Morro. Ele mesmo atribuía pouca importância à sua criação. "Eu queria mesmo era ser advogado, ter o dom de falar como o Carlos Lacerda".

Dizia que foi por acidente que o breque apareceu, durante um show num cinema do subúrbio carioca do Méier, em 1936. "Foi por acaso, como quase todas as descobertas dos cientistas. Eu estava cantando um samba fraquinho e decidi interromper e improvisar umas falas só para brincar com a platéia", disse.

"O Tancredo Silva me deu um samba de quatro linhas (Jogo Proibido) e eu improvisei em cima: ‘Meto a solingen na garganta do otário e ele geme, ai, ai, meu Deus. Não posso mais. Vou me acabar’. Aí nasceu o breque", declarou ao Jornal do Brasil, em 1972. "O público aplaudiu de pé, e eu pensei: é aí que está o petróleo, malandro. Vou meter a sonda".

Em 1939, levado pelo cantor português Manuel Monteiro, viajou a Portugal, onde se apresentou no teatro Politeama (“O navio jogava mais que viciado em corrida de cavalo”). Foi um sucesso: “Abafei, com meu passinho de malandro”. Agradou tanto que fez uma participação no filme A Varanda dos Rouxinóis.

A década mudou e ele embarcou numa seqüência de sucessos. Gravou Amigo Urso, em 1941, Fui a Paris (Moreira e Ribeiro Cunha) e Dormi no Molhado (Moreira), em 1942. No ano seguinte, gravou Conversa de Camelô, de T. Silva e S. Valença.

Em 1950 foi contratado pela rádio Tupi, do Rio, e lançou seu primeiro long-play, pela gravadora Santa Anita.

Em 1958 fez um novo retorno à Odeon, onde gravou o segundo LP, O Último Malandro, em que se destaca o clássico Na Subida do Morro (Moreira e Ribeiro Cunha). Moreira canta Na Subida do Morro com Roberto Carlos.

Especial Roberto Carlos 1976 - RC & Moreira da Silva + RC & Isaurinha Garcia

  
Moreira vira Kid Morengueira

Seu último sucesso, já na década de 60, foi o samba O Rei do Gatilho, de Miguel Gustavo, cuja letra falava de um caubói que, como o Zorro americano, tinha por companheiro fiel um índio. Era o Kid Morengueira, que passou a ser o apelido que o acompanhou pelo resto da vida. Miguel Gustavo compôs outros sambas em seqüência à série que falava das aventuras do herói brasileiro: O Último dos Moicanos, Os Intocáveis, Moreira Contra 007 e O Seqüestro de Ringo.

Moreira da Silva no filme "Maria 38" (de Watson Macedo - 1960)

Foi um renascimento do sambista, que graças à parceria com Miguel Gustavo reconquistou as ondas do rádio, "já agora junto ao público mais sofisticado da Zona Sul do Rio de Janeiro, graças a letras que exploravam situações engraçadas mais próximas do interesse da chamada classe A", fuzilou o crítico José Ramos Tinhorão, com sua opinião de pedra. Mas, coincidência ou não, é nessa época (1968) que Moreira se apresenta pela primeira vez numa boate da Zona Sul, a Chez Toi.

Em 1970 a EMI-Odeon relança, pelo selo Imperial, o LP A Volta do Malandro, que abre com sua fantástica interpretação de Gago Apaixonado, de Noel Rosa, compositor a quem sempre foi fiel.

Em 1971, gravou Moreira da Silva na Academia, alugou um fardão e dirigiu-se para a Academia Brasileira de Letras. Austregésilo de Athaíde, o presidente da casa, não gostou da piada e barrou sua entrada. Sua briga com a ABL prosseguiu até 1984, quando gravou Clã dos Imortais, do jornalista William Prado, criticando o sistema fechado da entidade, que não aceitava mulheres.

Em 1973, Ivan Cardoso rodou o documentário Moreira da Silva. No mesmo ano, Moreira gravou pela CID o disco Consagração de Moreira da Silva, sem qualquer sucesso. Mas garantia que seu burro estava na sombra: "Hoje não sou rico, mas ganho cinco mil cruzeiros por mês com direito a aumento, tenho direitos autorais, fundo no banco e apartamentos, um na rua do Senado e outro onde mora minha filha".

Em 1976, o velho malandro começou uma nova fase. Retornou aos palcos ao lado de Jards Macalé ("É meu único aluno"). Apresentaram-se juntos no Projeto Seis e Meia, do Teatro João Caetano. No ano seguinte, inauguraram o Projeto Pixinguinha. Passaram a fazer shows por todos os cantos.

Ney Matogrosso e Moreira Silva - Na Subida do Morro


Em 1979, participaram de um festival promovido pela extinta TV Tupi, com o samba, única parceria da dupla, Tira os Óculos e Recolhe o Homem, que foi classificado, o que lhes valeu uma vaia da torcida dos novos artistas, que afinal eram o alvo do concurso. A vaia não o abateu, mas ficou indignado: "É a primeira vez que sou vaiado, pô!". Era fichinha para ele. Seu lugar no panteão dos grandes da música brasileira já estava garantido como o criador do samba-de-breque, um gênero que marcou época. Em 1987, voltaram a fazer show juntos, em comemoração aos dez anos do Projeto Pixinguinha - e voltam a excursionar.

Ainda em 1979 lançaria pelo selo Jangada (EMI/Odeon) o LP O Astro, "Talvez o melhor disco da carreira de Moreira", no dizer de Tinhorão. No final do mesmo ano lançou novo disco, O Jovem Moreira, pela Polygram, em que regrava Diplomata, de Henrique Gonçalves, composto em 1939 e Homenagem a Noel, de sua autoria.

Participou do histórico disco de Chico Buarque de Holanda, a "Ópera do Malandro" de 1979, fazendo dueto com o próprio Chico.

Seu próximo álbum só apareceria sete anos mais tarde, pela Top Tape: Cheguei e Vou Dar Trabalho (1986), em que inova ao oferecer 18 faixas aos seus fãs, entre elas - surpresa - A Volta do Boêmio (samba-canção de Adelino Moreira, lançado em 1956, grande sucesso na voz de Nelson Gonçalves) e Último Desejo (Noel Rosa, 1937), em que relembra seus dotes de seresteiro. Nesse disco dá nova roupagem a outro samba-canção, As Rosas Não Falam, clássico de Cartola.

Aos 84 anos ele já não era o mesmo cantor que encantou multidões pelas ondas do rádio. "Um tanto forçado nas passagens de nota, é verdade, mas ainda eficiente nos graves", analisaria o crítico Tárik de Souza. Mas ele seguiria em frente.


Em 1989 entrou em estúdio com músicos do naipe de Dino Sete Cordas e Mauro Senise, para gravar o LP 50 Anos de Samba de Breque, pela CID/Fama. Nesse disco regrava mais uma vez Na Subida Do Morro, O Rei do Gatilho e Acertei no Milhar. E ainda a crônica do sufoco do Rio às voltas com as enchentes em Cidade Lagoa (Cícero Nunes e Sebastião Ferreira).


Em 1992, foi tema do enredo da escola de samba Unidos de Manguinhos. Nos anos seguintes comemorou seus 90 anos com um show na boate People, e os 91 no Jazzmania, no Rio. Estava em plena atividade. Em 1993 lançou Moreira da Silva Fotografando a Cidade, o primeiro CD, em que reuniu os sucessos do período 1958-60, pela EMI/Odeon. E novamente grava Na Subida do Morro e Olha o Padilha. Regrava também Conversa de Botequim, de Noel Rosa e Pistom de Gafieira, de Billy Blanco. Em outubro, abriu a série de shows do Projeto Cultural da Caixa, no Teatro Nelson Rodrigues.

Em 1995, comemorou seus 93 anos na Ritmo, no Rio, com um show em que cantou vinte de seus sambas mais conhecidos. Durante o espetáculo, foi entrevistado pelo jornalista Sérgio Cabral. O afilhado Jards Macalé subiu ao palco mais uma vez com seu professor, para dele receber o bastão (o chapéu panamá), pois o mestre estava oficialmente abandonando os palcos. "As pernas estão ficando bambas e, se não dá para sambar, não tem mais graça", lamentava-se.

"É uma honra ser herdeiro de uma crônica viva do Rio", declarou Macalé. Fazia vinte anosque os dois haviam dividido pela primeira vez um palco, no show do Teatro João Caetano. A triste despedida de Moreira não foi triste nem despedida.



Em 1995 gravou "Os 3 Malandros In Concert" com Dicró e Bezerra da Silva, aos 93 anos de idade.



Já no ano seguinte ele cantou no pequeno palco do bar Vou Vivendo, de São Paulo, um reduto do melhor samba encravado numa esquina da Avenida Pedroso de Moraes, no bairro de Pinheiros. Embalado pelo sucesso do CD Os Três Malandros, que dividiu com os sambistas Bezerra da Silva e Dicró, seu último disco, lançado no ano anterior, Moreira não perdeu a irreverência e aproveitou para dar um chega-pra-lá no neo-samba da terra da garoa: "Só vale o balanço".

Em 1996, foi tema do livro Moreira da Silva - O Último dos Malandros. do jornalista baiano Alexandre Augusto Gonçalves, pela editora Record, baseada em depoimentos do sambista. O jornalista João Máximo chamou a obra de livro de fã. Para ele faltou a análise da música de Moreira. Máximo divide a obra de Moreira em duas fases. A dos grandes sambas com grandes parceiros - Amigo Urso, Acertei no Milhar - e a da saturação, com a repetição de falas já manjadas no momento do breque.

Nesta segunda fase a temática empobrece. "O Moreira do 007, do filme americano, do último dos moicanos, já não tinha o mesmo apelo", disse na resenha do livro. "Nos seus últimos tempos em forma, era preferível ouvi-lo reviver Cigano, de Lupicínio, a emparceirar-se com Macalés, Dicrós e Bezerras", escreveu o jornalista. Mais conhecido das novas gerações exatamente pela sua fase Miguel Gustavo, não há como negar que o melhor do Moreira é exatamente o que foi gravado na chamada época de ouro da música brasileira, os anos 30/40.


Com 98 anos de idade, ainda se apresentava em shows.



Alguns sucessos

Implorar (1935);
Jogo Proibido (1937);
Acertei no Milhar(1940);
Amigo Urso;
Fui a Paris;
Na Subida do Morro;
O Rei do Gatilho, onde surge o Kid Moringueira(1962);
O Último Dos Moicanos (sequência de O Rei Do Gatilho)(1963)


Paulinho da Viola, Beth Carvalho, Jards Macalé, Elza Soares, Bezerra da Silva e Sandra de Sá, entre outros artistas, prestaram-lhe homenagem póstuma num grande show no Canecão.

FONTE

WIKIPÉDIA

samba choro

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