A cantora, compositora e percussionista Karina Buhr, iniciou sua carreira musical em 1994 como baiana do maracatu Piaba de Ouro e batuqueira do maracatu Estrela Brilhante. De lá pra cá foram inúmeros os grupos dos quais participou, entre eles as bandas Eddie, Bonsucesso Samba Clube, DJ Dolores, entre outros, além de trabalhos expressivos em dança e teatro.
À frente do grupo Comadre Fulozinha desde 1997, fez várias turnês brasileiras e se apresentou em diversos palcos da Europa, Canadá e EUA, recebendo os melhores elogios da crítica especializada. Ainda com a Comadre Fulozinha gravou três CDs.
Nas palavras da jornalista Patrícia Palumbo: “Karina é uma compositora talentosa, singular, de poesia tocante. Seu sotaque ao cantar confere uma nota especial ao só”.
De meia rendada, sapatinho de menina, presilha no cabelo, maquiagem colorida, Karina Buhr quase engana um incauto com uma carinha tímida. Logo seus olhos meio esverdeados se lançam sobre a platéia e saem da boca dessa figura doce que “uma fúria odiosa já está na agulha” ou uma canção de ninar pras crianças de Bagdá que diz ”dorme logo antes que você morra, está chovendo fogo e as ruas estão queimando”.
Karina trabalha com o espontâneo e o inusitado de quem diz que quer passar a tarde estourando plástico bolha mas com um conteúdo muitas vezes inusitado. Suas imagens não são comuns e há qualidade na construção: “o céu embaixo das nuvens, a terra por baixo do asfalto, o centro da Terra que puxa a gente, a gente pula contra a vontade do chão”. Até pra falar de amor o discurso poético não é óbvio: “fria, não miro a ira, não miro mas te acerto no peito, quando mudo meu amor de endereço.
Karina nasceu na Bahia, mas foi criada em Pernambuco onde viveu intensamente a música de raiz, as pastoras, o cavalo marinho, o maracatu. E traz de lá esse colorido em suas músicas e letras. Tem qualquer coisa de sonho a impressão que fica ao ouvir seu disco, ao ver seu show. Uma nuvem te envolve. E eu acredito que esse barato se dá pela originalidade de seu discurso que está nas letras, na postura de palco, na concepção musical contemporânea, livre da definição de gêneros e estilos. A diversidade é hoje uma realidade cultural e Karina Buhr é um talento em destaque nessa cena.
Karina Buhr é diferente. “Eu Menti pra Você” é seu disco de estreia em carreira solo depois de anos no Comadre Fulozinha e já é uma das melhores coisas de 2010. Os músicos são o que há de melhor nessa geração: Bruno Buarque (bateria, base mpc), Mau (baixo), Guizado (trompete), Dustan Gallas (teclados e piano) e as guitarras mais incríveis do país Edgard Scandurra e Fernando Catatau.
Vem do Recife uma das melhores surpresas do início de 2010. A cantora e percussionista Karina Buhr, nascida em Salvador, foi para Recife aos 8 anos. Lá, respirou os ares de Chico Science e Nação Zumbi, do maracatu e da música de raiz.
A baiana Karina Buhr tinha oito anos de idade quando começou a beber do caldo cultural que só Recife (PE) tem. Dançou no balé popular da cidade, cantou e batucou nos maracatus Piaba de Ouro e Estrela Brilhante, nas bandas Véio Mangaba e Eddie e criou a Comadre Fulozinha com outras amigas em protesto ao predomínio masculino na música popular da região. E são todas essas Karinas --e algumas mais-- que aparecem sob a voz doce e a língua afiada da multiartista em seu primeiro trabalho solo.
No final dos anos 90, depois de ter passado por diversos grupos da cidade, como o Eddie, fundou o "Comadre Fulozinha", que resgata o folclore brasileiro regado a cantigas de roda e a ''bichogrilice'' contemporânea.
Em seu primeiro álbum solo, entretanto, Karina é outra mulher. "Queria fazer um trabalho mais agressivo, mais esquisito", confessa. Moradora de São Paulo há cinco anos, Karina veio à cidade depois de ser convidada pelo diretor Zé Celso Martinez Correa para integrar a trupe do Teatro Oficina - e ainda mantém o sotaque do Recife, tanto quando fala como quando canta.
"É claro que meus cinco anos de Teatro Oficina foram referência para o meu CD. Mas digo que a principal influência dele é o carnaval de Recife. Não exatamente um ritmo como o forró ou maracatu, mas a possibilidade de misturar diversos ritmos e gêneros", explica a cantora.
Para se ter uma ideia do que encontrar em "Eu Menti Pra Você", Karina compôs sua banda com Bruno Buarque (bateria), Mau (baixo), Guizado (trompete), Dustan Gallas (teclados e piano), Otávio Ortega (teclados e bases eletrônicas) e Marcelo Jeneci (acordeom e piano), além da própria cantora, que toca percussão.
"O CD não teria guitarra, mas depois de gravar todos esses instrumentos, percebi que ela daria uma unidade maior às canções." Karina chamou Fernando Catatau (Cidadão Instigado) e Edgard Scandurra (ex-Ira!) para completar o time.
Para investir em sua veia musical, Karina deixou o Teatro Oficina para se dedicar de corpo e alma ao novo trabalho. "O título do meu disco tem conexão com essas várias pessoas que tenho dentro de mim. É também uma forma de dizer que não sei definir meu som. Posso falar, mas é tudo mentira", conta, rindo.
"Eu Menti Pra Você" é um álbum com treze capítulos de fábulas e contos e sonhos e desejos tão independentes entre si que se tornam inseparáveis. "Tem muita música com tema diferente, uma fala de amor, outra de guerra, e nesse título cabe de tudo, a pessoa pode entender o que ela bem quiser", explica Karina.
Não à toa, ela abre o disco com a malemolente faixa-título, uma confissão desencanada, na letra e na levada --"Eu sou uma pessoa má/ Eu menti pra você", canta Karina dando de ombro. Da mesma forma, confessa uma vontade de não fazer nada na simpática canção "Plástico Bolha", canção que encerra o álbum. Do começo ao fim, tudo é muito bem amarrado e trilhado por Bruno Buarque (bateria e MPC), Mau (baixo), Guizado (trompete), Dustan Gallas (teclados e piano), Otávio Ortega (teclados e bases eletrônicas), Marcelo Jeneci (acordeon e piano) e Edgard Scandurra e Catatau (guitarras).
No meio de tanta malemolência há os esbravejos, ardidos e doces como sua voz, capazes de provocar um certo desconcerto. "Dorme logo antes que você morra, está chovendo fogo e as ruas estão queimando" é o refrão desesperado de "Nassira e Najaf", uma das músicas bélicas de "Eu Menti Pra Você". "Logo que começou a guerra no Iraque eu passei a acompanhar tudo e fiquei bastante desesperada com a história toda. Teve um dia que eu estava assistindo ao jornal e vi a notícia de que essas duas cidades, Nassira e Najaf, tinham sido bombardeadas, e foram nesses lugares onde mais morreram crianças. Essa notícia ficou se repetindo, e eu vendo aquelas imagens, fiz essa música".
Outro registro bélico, a faixa "Soldat", Karina fez pensando em seu tio-avô e na história de guerra da parte alemã de sua família. "Ele teve que ir para a Segunda Guerra aos 16 anos, na época que só sobraram os velhos e as crianças. E ele morreu ano passado, aos 82 anos, super lúcido. É uma história bem louca", lembra.
As raízes alemãs vêm à tona também em "Telekphone", uma conversa "meio surreal" em alemão por telefone, que conta com a participação da atriz alemã Juliane Elting, com quem trabalhou no Teatro Oficina, de Zé Celso.
Pois é, teatro. Em 1999, Zé Celso levou duas de suas peças para um festival de teatro de Recife. Entre um espetáculo e outro, foi ao show de Comadre Fulozinha e gostou de Karina. "Quando acabou o show, ele veio falar comigo e me convidou para atuar em 'Bacantes'", conta. "Foi bem emocionante para mim porque eu sempre quis ser atriz, mas nunca corri atrás disso. O balé popular tinha muita coisa de teatro, na banda Véio Mangaba tinha o pastoril. Esse era meu teatro, na verdade".
Entre idas e vindas à capital paulista para as empreitadas de Zé Celso, ela decidiu se fixar de vez na cidade em 2004, quando já tinha engatado uma jornada que duraria cinco anos no Teatro Oficina. "Nessa época eu pensava em lançar o trabalho solo, mas eu não tinha muito tempo para pensar nisso. Tinha música que eu escrevia e guardava. Depois que 'Os Sertões' acabou, eu quis sair e viver essa história".
Ah, Karina também desenha. A veia artística da cantora também se ramifica para as artes plásticas. Autora das ilustrações do encarte de seu CD e das capas de Comadre Fulozinha, ela até começou um curso de educação artística, mas diz que ficava mais no bar do que na sala de aula. "Só serviu para fazer um monte de amigo legal, minha universidade mesmo foi a rua, o maracatu".
Sobre Chico Science, a artista lembra que foi ele que, em 2007, apresentou a Comadre Fulozinha pela primeira vez ao público de Recife. Antenada, moderna, sem a necessidade de se autoexplicar, Karina desponta como um dos grandes nomes da nova década que acaba de começar.
CURIOSIDADES
A talentosa cantora e compositora Karina Buhr conversa com o crítico de música de VEJA Sérgio Martins sobre seu novo trabalho solo e sua antiga banda, a Comadre Fulozinha, suas performances no palco e rótulos musicais. Ela também faz um pocket-show exclusivo para VEJA.com, com músicas de sua autoria e dois covers: 'Wooden Heart', que ficou famosa na voz de Elvis Presley, e 'Sorri pra Bahia', de Luiz Melodia.
*A criatividade e pluralidade da música contemporânea brasileira estão em "Riffs, Grooves e Beats", série que o CCBB - Centro Cultural Banco do Brasil, de São Paulo, estreiou dia 04 de janeiro/2011, com shows de Cidadão Instigado e Karina Buhr na abertura.
Para o projeto, os organizadores selecionaram artistas de diferentes partes do Brasil, buscando misturar referências e influências em apresentações que exploram a transformação constante da música. Riffs de guitarra exclusivos, grooves originais e beats inusitados formam a combinação que dá nome à ideia.
O festival terminou no dia 25, dia do aniversário de São Paulo. Além de Karina Buhr e Cidadão Instigado, o público conferiu: Scandurra e Tigre Dente de Sabre (11/01); Maquinado e Retrofoguetes (18/01); Nação Zumbi e Ava Rocha (25/01)
Mesmo cantando num local pequeno e intimista, Karina se portou como se estivesse num estádio. Correu pelo palco, se atirou no chão, foi até o meio da plateia. Sua forte presença deu mais força a boas músicas como "Eu Menti pra Você" e "Ciranda do Incentivo".
FONTE
ESTADÃO
guiadafolha
Tramavirtual
eband
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