sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Centenário de nascimento de Adoniran Barbosa


Dia 06 de agosto/2010, comemora-se o centenário do nascimento do compositor Adoniran Barbosa, que imortalizou, em suas músicas, bairros como o Bexiga e o Jaçanã, em São Paulo. Um brinde ao talento deste artista que nasceu há exatamente 100 anos.

Adoniran Barbosa (João Rubinato, na certidão de batismo) foi poeta, ator, humorista, cantor e, acima de tudo, um compositor que marcou de modo único a música popular brasileira.


Descendente de imigrantes italianos, Adoniran cresceu frequentando o bairro do Bexiga, em companhia de personagens que inspiraram os tipos e situações imortalizados em clássicos como Samba do Arnesto, Saudosa Maloca, Iracema e Trem das Onze. As letras caricaturavam, com deliberado exagero, o modo de falar dos moradores dos bairros de imigrantes, e quase sempre celebravam a bem-humorada aceitação do inevitável.

Em 1978, Adoniran e Elis Regina se juntaram no Bexiga para cantar alguns sucessos do grande tradutor da alma paulistana. Acompanhe o vídeo com a música "Tiro ao Álvaro" que traz a performance da dupla.

A lembrança de Adoniran Barbosa em São Paulo vai além de suas composições, está no Museu Adoniran Barbosa, localizado na Rua XV de Novembro, 347; no Ibirapuera, o Albergue Adoniran Barbosa para desportistas; em Itaquera existe a Escola Adoniran Barbosa; no bairro do Bexiga, Adoniran Barbosa é o nome de uma rua famosa e na praça Don Orione há um busto do compositor; Adoniran Barbosa é também um bar e uma praça; no Jaçanã existe uma rua chamada "Trem das Onze"...

Adoniran deixou cerca de 90 letras inéditas que, graças a Juvenal Fernandes (estudioso da MPB e amigo do poeta), foram musicadas por compositores do quilate de Zé Keti, Luiz Vieira, Tom Zé, Paulinho Nogueira, Mário Albanese e outros. O paulista Passoca (Antonio Vilalba) lança o CD Passoca Canta Inéditas de Adoniran Barbosa. As 14 inéditas de Adoniran foram zelosamente garimpadas entre as 40 já musicadas. Outra boa notícia é que entre os primeiros 25 CDs da série Ensaio (extraídos do programa de Fernando Faro da TV Cultura) está o de Adoniran em uma aparição de 1972.


A gravadora Kuarup lançou um CD com a gravação de um show de Adoniran Barbosa realizado em março de 1979 no Ópera Cabaré (SP), três anos antes de sua morte. Além do valor histórico, o disco serve também para mostrar música menos conhecidas do compositor, como: Uma Simples Margarida (Samba do Metrô), Já Fui uma Brasa e Rua dos Gusmões.


Você Sabia?
*"Trem das Onze" (1964), seu maior sucesso. Em 1965 foi premiada no Carnaval do Rio de Janeiro. Além dos Demônios da Garoa, o samba recebeu uma versão da cantora baiana Gal Costa. Em 2000, foi escolhida pela população de São Paulo, em um concurso organizado pela Rede Globo, como a música que mais representa a cidade.

*Adoniran, o grande representante da música popular paulistana, ganhou um museu, localizado na Rua XV de Novembro, 347. No Ibirapuera, um albergue de desportistas levou seu nome. Há um busto seu na Praça Don Orione (bairro do Bexiga). Virou também escola, praça, bar e no bairro do Jaçanã, há uma rua chamada Trem das Onze.

*Na década de 30, por muito insistir, tornou-se cantor e apresentador de rádio; nas décadas de 40 e 50 foi ator de rádio, dando voz a vários personagens cômicos que ficaram famosos; na década de 50 foi ator de cinema e todos esqueceram que ele era cantor; na década de 60 todos se espantaram ao descobrir que ele era compositor; e na década de 70, já consagrado como cantor e compositor, virou garoto-propaganda de cerveja ("Nóis viemo aqui pra bebê ou pra conversá?").



Principais composições:
Abrigo de vagabundo, Adoniran Barbosa, 1959
Acende o candieiro, Adoniran Barbosa, 1972
Agüenta a mão, Hervê Cordovil e Adoniran Barbosa, 1965
Apaga o fogo Mané, Adoniran Barbosa, 1956
As mariposas, Adoniran Barbosa, 1955
Bom-dia tristeza, Adoniran Barbosa e Vinícius de Moraes, 1958
Despejo na favela, Adoniran Barbosa, 1969
Fica mais um pouco, amor, Adoniran Barbosa, 1975
Iracema, Adoniran Barbosa, 1956
Joga a chave, Osvaldo França e Adoniran Barbosa, 1952
Luz da light, Adoniran Barbosa, 1964
Malvina, Adoniran Barbosa, 1951
Mulher, patrão e cachaça, Osvaldo Moles e Adoniran Barbosa, 1968
No morro da Casa Verde, Adoniran Barbosa, 1959
O casamento do Moacir, Osvaldo Moles e Adoniran Barbosa, 1967
Pafunça, Osvaldo Moles e Adoniran Barbosa, 1965
Prova de carinho, Hervê Cordovil e Adoniran Barbosa, 1960
Samba do Arnesto, Alocin e Adoniran Barbosa, 1953
Samba italiano, Adoniran Barbosa, 1965
Saudosa maloca, Adoniran Barbosa, 1951
Tiro ao Álvaro, Osvaldo Moles e Adoniran Barbosa, 1960
Tocar na banda, Adoniran Barbosa, 1965
Trem das onze, Adoniran Barbosa, 1964
Viaduto Santa Efigênia, Nicola Caporrino e Adoniran Barbosa
Vila Esperança, Ari Madureira e Adoniran Barbosa, 1968


Entrevista com Ernesto Pauleli - personagem do "Samba do Arnesto"

O personagem que inspirou Adoniran Barbosa no Samba Do Arnesto. Acompanhe aqui um trecho da entrevista do Ernesto Pauleli, o "Arnesto" do samba de Adoniran Barbosa.

Ernesto falou ao CBN Campinas durante o quadro "Datas & Fatos" do dia 6 de agosto de 2005, dia em que Adoniran completaria 95 anos.

'Segura essa aí. Sem mancada, não tem samba'

Aos 90 anos, Ernesto Paulelli, cantor e tocador de violão no Bexiga entre as décadas de 30 e 60, personagem do famoso Samba do Arnesto, de Adoniran Barbosa, lembra a conversa que teve com o compositor, em uma tarde de 1979. Ele guarda a partitura número 1 até hoje.

- Que história é essa, Adoniran? Você está me tachando de francesista? De quem combina e depois prega o bolo? Não tô aguentando mais tanto comentário. 

- Arnesto, segura essa aí. Se não tem mancada, não tem samba.
Naquela tarde de 1979, Ernesto Paulelli reclamou com o amigo Adoniran Barbosa. A canção O Samba do Arnesto era a maior homenagem que tinha recebido na vida, mas já não suportava tanta gente perguntando por que não havia deixado pelo menos um recado na porta avisando aos amigos que tinha saído. 

Ao ouvir a resposta de Adoniran, Ernesto desistiu de reclamar. "Olha que danado: 'Sem mancada, não há samba'. Fiquei sem saída", conta hoje, aos 90 anos. 

Morador agora da Mooca - e não mais do Brás -, ele jura que nunca deu mancada nem convidou ninguém para sua casa. E toda a história surgiu apenas da criatividade de Adoniran. Mas acabou virando hino, depois de dividir o disquinho com Saudosa Maloca. 

A partitura número 001 da música, hoje está pendurada na sala da casa onde Ernesto vive. E traz uma dedicatória histórica: "Ao acadêmico Ernesto Paulella, a quem dediquei esta composição quando do seu lançamento, em maio de 1955. Homenagem do autor, Adoniran."
Antes de ficar famoso como Arnesto, Ernesto já circulava pelas rádios com seu violão. Nos fim dos anos 30, trabalhava como vendedor quando um conhecido o convidou para tocar na Rádio Bandeirantes.
Num dia de 1939, depois de terminar um programa de músicas com Nhá Zefa, ela o convidou para dar uma canja na Rádio Record, que funcionava na Rua Conselheiro Crispiniano. Bem na entrada da emissora, encontraram Adoniran Barbosa. Nhá Zefa o apresentou a Ernesto. Começava a amizade. 

Foi na Record que aconteceu o que deu origem ao samba. Um dia, Adoniran lhe perguntou se tinha um cartão. Ernesto tirou da carteira, entregou e ele leu: Arnesto Paulelli.
- Não sou Arnesto, sou Ernesto, respondeu. 
- Você é Arnesto. Seu nome dá samba. Vou fazer um samba com seu nome. Você aduvida (sic)? 
- Olha, Adoniran, nessas alturas do campeonato não duvido de nada. 
- É assim que se fala, respondeu, apertando a mão de Ernesto e lhe dando um abraço. 

Ernesto vivia no Brás. Dez anos depois, mudaria para a Mooca, onde está até hoje e onde, em 1955, descobriu a homenagem. Conta que estava com a "patroa" no quintal de casa quando ouviram os Demônios da Garoa cantando o Samba do Arnesto no rádio.
- Alice, essa peteca é minha. 
- Que peteca, Ernesto? 
- É o samba do Arnesto que o Adoniran me fez. 

Comovidos, os dois se abraçaram para ouvir o samba. "Ela se emocionou, eu me emocionei, as lágrimas rolaram, sabe?", lembra. 
Mas levou ainda dois anos para Ernesto conseguir agradecer o presente. Foi depois de ser convidado para ser violonista de um programa na TV Record. 

"Quando cheguei, quem encontro? O Adoniran", recorda. 
- Arnesto, te fiz o samba. Você gostou? 
- Se gostei? Você me abriu no meio de emoção. 
- Então me dá um abraço. A partir de agora, você é meu compadre, disse Adoniran. 

Fonte: Jornal da Tarde, 25/01/2005

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