sábado, 6 de dezembro de 2008

Hervé Cordovil

HERVÊ CORDOVIL compositor, pianista e regente é autor de diversas músicas inesquecíveis. Nascido em Viçosa (MG) (1914-1979). Filho do médico Cordovil Pinto Coelho e de Maria de Lucca Pinto Coelho, que se dedicava amadoristicamente à música.

Sua musicalidade aflorou já na infância, e por volta dos cinco anos de idade já dedilhava ao piano as canções tocadas por sua mãe. Passaram a viver na cidade mineira de Manhuaçu e por volta dos 10 anos de idade Hervé transferiu-se para o Rio de Janeiro onde ingressou no Colégio Militar concluindo o curso em 1931.

Integrou a banda de música do colégio e junto a outros colegas formou um grupo de jazz que se apresentava em casas de oficiais e em bailes promovidos pelo próprio colégio. Passou a ter aulas com Romeu Malta, maestro da banda do colégio e como já compunha algumas músicas arriscou-se a apresentá-las a Eduardo Souto, diretor da Casa Edison, que o desencorajou a seguir como compositor.

Aos 17 anos, ingressou na Faculdade de Direito de Niterói, diplomando-se em 1936.

Em 1941, casou-se com Daicy Portugal Cordovil com quem teve quatro filhos, um deles o cantor, compositor Ronnie Cord, figura importante do movimento pop brasileiro que se estruturou em torno da jovem guarda, a partir de 1965. Entre 1941 e 1945, trabalhou como advogado em Manhuaçu (MG).

Formou-se em Direito e ao mesmo tempo começou a chamar atenção como pianista, na Rádio Sociedade do Rio de Janeiro e na orquestra de Romeu Silva. Logo era um dos pianistas mais solicitados da cidade, ao lado de Carolina Cardoso de Menezes, Custódio de Mesquita e Romualdo Peixoto, o Nonô.

Estreou em 1931 na Rádio Sociedade como pianista e compositor da Orquestra de Romeu Silva. Rapidamente tornou-se um dos pianistas mais requisitados pelas rádios cariocas. Em 1933, transferiu-se para a Rádio Philips. Foi compositor de jingles, e em 1934 compôs em parceria com Lamartine Babo a marcha "Madame do barril" - sátira à figura francesa "Madame Du Barry", uma de suas primeiras composições no gênero.

Nesse mesmo ano fez sucesso com a marcha "Carolina" (com Bonfiglio de Oliveira) gravada por Carlos Galhardo na época cantor em início de carreira.

Em 1935, regeu a orquestra que participou do filme "Estudantes", dirigido por Wallace Downey, passando desde então a musicar peças de teatro entre as quais "Da favela ao Catete" escrita por Freire Júnior. Neste mesmo ano destacou-se com a composição "Triste cuíca" parceria com Noel Rosa, lançada por Aracy de Almeida.

Em 1936, Hervé Cordovil compôs para o filme "Alô, alô carnaval", de Ademar Gonzaga, a marcha "Não resta a menor dúvida", parceria com Noel Rosa.

(Extraído do filme ALÔ ALÔ CARNAVAL - Cinédia - 1936 - MANHÃS DE SOL - Francisco Alves, Hervê Cordovil e orquestra).

Ainda nesse ano, transferiu-se para a Rádio Guarani de Belo Horizonte onde atuou por dois anos, cumprindo o compromisso de apresentar uma música inédita por dia.
 
Como compositor, Hervé Cordovil teve parcerias com Bonfiglio de Oliveira "Carolina", gravada por Carlos Galhardo), Noel Rosa ("Triste Cuíca", cantada por Aracy de Almeida, "Não Resta a Menor Dúvida", do filme "Alô Alô Carnaval"), Lamartine Babo ("Seu Abóbora", gravada por Carmen Miranda, "Madame do Barril"), Adoniran Barbosa ("Prova de Carinho") e Luiz Gonzaga ("A Vida do Viajante", "Baião da Garoa", "Xaxado").

A Vida do Viajante
Composição: Hervé Cordovil e Luiz Gonzaga

Minha vida é andar por esse país
Pra ver se, um dia, descanso feliz
Guardando as recordações
Das terras onde passei
Andando pelos sertões
E dos amigos que lá deixei

Chuva e sol
Poeira e carvão
Longe de casa sigo o roteiro
Mais uma estação
E a alegria no coração

Minha vida é andar por esse país
Pra ver se, um dia, descanso feliz
Guardando as recordações
Das terras onde passei
Andando pelos sertões
E dos amigos que lá deixei

Mar e terra
Inverno e verão
Mostro o sorriso
Mostro a alegria
Mas, eu mesmo, não
E a saudade no coração.

Hervé mudou-se para Belo Horizonte onde compôs a toada "Pé de Manacá" em parceria com Marisa Pinto Coelho, que foi gravada por Isaura Garcia e se tornou sucesso internacional.

(Isaura Garcia - 1950)

Na década de 40, Hervé Cordovil radicou-se em São Paulo, onde trabalhou por 26 anos na Rádio Record como pianista, arranjador e compositor. Teve muitos sucessos interpretados por Carmélia Alves, como "Me Leva", "Sabiá Lá na Gaiola" e "Cabeça Inchada".

O baião Cabeça inchada, grande sucesso em 1951, teve mais de 50 gravações diferentes na Europa.

Em 1964 compôs músicas no estilo "jovem guarda" entre as quais "Rua Augusta", "Boliche legal" e a versão da música "Biquíne de bolinha amarelinha", versão brasileira de  ("Itsy-Bitsy Teeny-Weeny Yellow Polka-Dot Bikini").

Seu filho Ronnie Cord fez sucesso com o twist "Rua Augusta". Eclético, Hervé também compôs o samba-canção pré-bossa nova "Uma Loira", sucesso na voz de Dick Farney em 1951.



Em 1966, compôs "Canto ao Brasil", peça sinfônica orquestrada por Gabriel Migliori e executada pela Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo.

Em 1977, participou do show comemorativo "30 Anos de Baião", realizado no Teatro Municipal de São Paulo, ocasião na qual também se apresentaram Luiz Gonzaga, Carmélia Alves e Humberto Teixeira.

Em 1997 saiu o livro "Hervé Cordovil — Um Gênio da Música Popular Brasileira", de Maria do Carmo Tafuri Paniago (Editora João Scortecci).

No programa Ensaio, da TV Cultura (SP), que Hervê participou e que agora virou CD (A MÚSICA BRASILEIRA DESTE SÉCULO POR SEUS AUTORES E INTÉRPRETES - HERVÊ CORDOVIL (SESC/SP), Hervê canta e conta aspectos curiosos de sua bela carreira e dos ícones da MPB que cruzaram seu caminho, como Carlos Galhardo (que estreou cantando uma canção sua, Carolina), Carmen Miranda ("Foi a primeira cantora a aparecer com um jeito diferente"), Francisco Alves (de quem foi pianista e com quem, a certa altura, brigou), Aracy de Almeida, Silvio Caldas, Isaura Garcia, Lamartine Babo (de quem Hervê foi parceiro e a quem considerava "superinteligente, lírico, humorista, de uma musicalidade impressionante").

Noel Rosa e a Rainha do Baião, Carmélia Alves - a quem Hervé se diz agradecido por ter lançado e cantado, no correr de sua carreira, tantas de suas músicas. Quais? Me Leva, Sabiá Lá na Gaiola, Pé de Manacá, Esta Noite Serenou, Baião da Garoa (recentemente regravada por Gil & Milton), Cabeça Inchada (que já foi gravada até em chinês e turco) e tantas outras.

O compositor relembra ainda outras de suas canções, como a graciosa "Inconstitucionalissimamente", lançada por La Miranda e o samba-canção "Uma Loira", lançado por Dick Farney.

DICK FARNEY - "Uma Loira" (Hervé Cordovil) 1972

"Essa música quase deu galho. Imagina um cara casado como eu fazer uma música, dizendo: 'Todos nós temos na vida, um caso, uma loira, pois eu tive também", diverte-se Hervê.

Ele conta ainda como foi parar na Banda do Colégio Militar, do Rio, onde começou a tocar dobrados e depois jazz, como foi a evolução de seu sucesso e fala sobre o processo que recebeu por ter supostamente plagiado um fox americano. Na verdade, sua composição "Samba" havia sido feita três anos antes do tal fox. Mesmo assim, desfeito o malentendido, apenas enviou uma carta explicando por que não processaria o compositor americano: "Aqui no Brasil fazemos dez canções dessas por dia. Pode ficar com a sua música!".

Hervê também explica que a polícia (censura) de sua época freava muito sua criatividade e, numa de suas músicas, ao invés de "o gostoso da Zizica", tinha que escrever "o querido da Zizica". E pensar que hoje o funk/rap carioca pode falar e 'coreografar' o que quiser. Outros tempos...

Hervê tem um repertório de prosas e canções tão vasto que nem deu tempo de ele cantar seu antológico rock "Rua Augusta", que celebrizou seu filho Ronnie Cord...

Rua Augusta
Ronnie Cord
De: Hervé Cordovil

Entrei na Rua Augusta a 120 por hora
Botei a turma toda do passeio pra fora
Fiz curva em duas rodas sem usar a buzina
Parei a quatro dedos da vitrina

Hay, hay, Johnny
Hay, hay, Alfredo
Quem é da nossa gang não tem medo
Hay, hay, Johnny
Hay, hay, Alfredo
Quem é da nossa gang não tem medo

Meu carro não tem breque,
não tem luz, não tem buzina
Tem três carburadores,
todos os três envenenados
Só pára na subida quando acaba a gasolina
Só passa se tiver sinal fechado

Toquei a 130 com destino à cidade
No Anhangabaú eu botei mais velocidade
Com três pneus carecas derrapando na raia
Subi a galeria Prestes Maia
Tremendão

Hay, hay, Johnny
Hay, hay, Alfredo
Quem é da nossa gang não tem medo
Hay, hay, Johnny
Hay, hay, Alfredo
Quem é da nossa gang não tem medo

  • Discografia

([S/D]) Polca do Fritz • Copacabana • 78
([S/D]) Não tem choro • Copacabana • 78


Ademilde Fonseca - Inconstitucionalissimamente


Permita mesmo que os diminutivos
Coloquem os conspícuos pela sua ausência
Falando em alta estrutura,
Relevo logicamente falando
E vocabularizando a frase hipotética
Estética e filosófica das criaturas
Proscrito lógica e de brincadeira
Mas que indeniza a humanidade inteira

Nos compassos panteístas da protofonia
De linguagem sambista e poemas bucólicos
Eu já fiz até a estatística
Dos inocentes e dos melancólicos
Na sintetização sutil de forças estáticas
De um microorganismo incipiente
Terminarei com essa história difícil
Inconstitucionalissimamente.

FONTE

CIFRANTIGA

DICIONÁRIO MPB

Nenhum comentário: