Ana Cañas é diferente de todas as cantoras que você já ouviu falar. Quando criança, ela não cantava em churrasco de família e não ouvia a coleção de vinis dos pais nos toca-discos de sua casa. Ela também não fez aula de canto e sempre teve o sonho de ser professora de teatro. Aos 22 anos tudo isso mudou. Ana descobriu o jazz, e com o ritmo, a sua própria musicalidade. Em 2007, aprendeu a tocar violão, lançou o primeiro disco independente e foi considerada uma das maiores revelações da MPB.
O curioso é descobrir que Ana Cañas virou cantora quase por acaso. Anos atrás, estudante de Artes Dramáticas da USP, ela foi fazer um teste para uma peça de teatro. O espetáculo trazia na trilha sonora uma canção do repertório da cantora americana Ella Fitzgerald. Ana se apaixonou pela canção e pôs na cabeça que seria cantora. Peregrinou por casas noturnas até se fixar no Baretto. Ali, chamou a atenção de Chico Buarque e Caetano Veloso, entre outros grandes nomes da MPB. (Revista Veja)
O ex-Titã Arnaldo Antunes, que assina com Ana Cañas cinco faixas do disco, era conhecido apenas “de estrada” e foi sugestão do produtor. “Da primeira vez que o vi, eu chorei. Ele é um gênio, tem muita intimidade com a palavra. É um poeta cru e quente. Bastaram alguns vinhos durante uma noite para fazermos quatro letras”, conta a artista.(Ana Cañas - G1)
O excelente disco de estréia de Ana Cañas prima por ser autoral, audacioso e distante do que se convencionou denominar MPB. Amadurecida por mais de cinco anos em jam sessions na noite de São Paulo, a cantora imprime nas canções do álbum uma atmosfera jazzística, usando e abusando de um andamento musical imprevisível e inovador.
Carismática, sua poderosa voz de contralto fez dela uma das grandes descobertas recentes da música brasileira, antes mesmo de gravar o primeiro disco, já sendo apreciada por gente como Chico Buarque, Toquinho, Seu Jorge e uma infinidade de jazzófilos que batem ponto no Baretto, muito provavelmente o melhor piano-bar do Brasil, onde Ana se apresentou nos últimos anos.
Talvez provenha do Baretto - onde os músicos cultivam o hábito de tocar por satisfação própria -, a liberdade e a autonomia que essa paulistana de 27 anos exibe não só ao cantar, como também ao compor. São dela, com seus parceiros, sete das dez faixas do muito bem-vindo “Amor e Caos”.
Nas canções, por vezes, Ana subverte modelos de cantigas infantis para tratar da condição humana falando de si com universalismo, sem se levar tão a sério, mas também sem fazer qualquer tipo de concessão comercial.
A segunda faixa, intitulada “A Ana”, por exemplo, carrega esta expressão em 25 dos 28 versos, divididos em estrofes como esta: “Foi a Ana que fez/ Foi a Ana que foi/ Foi a Ana em fá/ Foi a Ana, foi”. E a música é uma maravilha, sob todos os aspectos.
Os arranjos, que ficaram por conta de Fabá Jimenez e Alexandre Fontanetti, parceiros de Ana nas composições, esbanjam inventividade, tirando sempre que possível as sonoridades mais surpreendentes de cada instrumento. Isso desde o início da deliciosa faixa de abertura, “Mandinga não”, em que Fontanetti coloca a sua guitarra synth praticamente para silvar, no início de uma viagem que vai acabar na fantástica interpretação de Ana para “Rainy Day Women”, de Bob Dylan, em dueto memorável com o violão tenor do mesmo Fontanetti.
Além de Bob Dylan, o disco conta com uma regravação de Caetano, “Coração vagabundo”, que ficou ao mesmo tempo mais singela e arrebatadora na voz de Ana; e outra de Jorge Mautner, “Super mulher”, que conta com a luxuosa percussão de Naná Vasconcelos, outro entusiasta do trabalho da cantora, que acabou se escalando como convidado especial do álbum, depois de se encantar com a faixa “Devolve Moço”.
A propósito, “Devolve Moço” deve ter encorajado Ana a fazer um trabalho tão audacioso. Pré-lançada no Site My Space, a canção rendeu um formidável feedback obtendo em menos de três meses mais de 5 mil acessos. Mas talvez seja a impactante “Vacina na Veia” a canção que melhor traduza a coragem de Ana (“Pra onde foi? Onde ficou aquela coisa verdadeira? / O forte ficou fraco, e do homem fez-se o rato/ (...) Vacina na veia para não cair na teia (...)
Outra faceta da artista que não pode ser desconsiderada é o fato de ela ser formada em artes cênicas. Ana diz que o teatro brasileiro não perdeu nada, muito pelo contrário, com sua desistência de ser atriz para abraçar a música, mas a verdade é que ela veste e interpreta as canções de uma forma tão particular e plena que mais parece possuída por uma personagem. O vasto leque de nuances tonais da belíssima “Cadê você” explicitam esse traço da Ana cantora.
“Para todas as coisas” vale como uma auto-entrevista, em que ela cita algumas de suas admirações. Há Guimarães Rosa, Marisa Monte, Clarice Lispector e Machado de Assis, além de outras confidências tão ou mais reveladoras. Em “?” (sim é este o ‘nome’ da música), Ana também se expõe, mas só que, em vez de responder, ela apenas faz indagações. As duas canções, lado a lado no disco, corroboram o talento e a versatilidade da Ana Cañas compositora.
Enfim, “Amor e Caos” deve ser saudado como um dos melhores discos de estréia dos últimos anos da música brasileira, seja pelo surgimento da compositora, seja pela afirmação da cantora. Em 2009 lançou Hein?, que contêm o hit "Esconderijo", da trilha sonora de Viver a Vida.
FONTE
Wikipédia
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