- USP FM - 93,7 (SP): Especial sobre o cantor Gordurinha
Conforme me informou o Waldeck Luiz Macedo de Souza, neto do Gordurinha, o Laert Sarrumor, do grupo Língua de Trapo e apresentador e produtor do programa "Rádio Matraca", na Rádio USP FM, em São Paulo, e o Ayrton Mugnaini Jr fizeram um programa especial de uma hora sobre o Gordurinha, que irá ao ar neste sábado, 28 de agosto/2010, das 17h às 18h pela USP FM - 93,7, em São Paulo. Mas pode ser ouvido pelo site
O programa pode ser ouvido nesse link:
Gordurinha também foi tema da "Dica do Sarrumor", comentário que o Sarrumor faz às sextas-feiras, dentro do programa "Via Sampa", que vai ao ar das 11h às 12h, pela Rádio USP, e também pode ser ouvido pelo site
Ouvi o programa. Gostei do mini-documentário sobre GORDURINHA porque ele transmite aquele TOQUE de humor bem apropriado a vida e obra deste grande brasileiro. Vale ressaltar que entre os maiores sucessos do humorista, compositor e cantor Gordurinha, estão: "Chicletes com Banana", "Súplica Cearense", "Baiano Burro Nasce Morto", "Baiano Não É Palhaço", "Orora Analfabeta", "Mambo da Cantareira", "Súplica Cearense" e "Vendedor de Caranguejo".
Algumas de suas músicas foram regravadas (depois de sua morte) com grande êxito, como: "Chiclete com Banana", presente em "Expresso 2222", disco de Gilberto Gil, e "Vendedor de Caranguejo", também gravada por Gil no disco "Quanta".
PARABÉNS AOS IDEALIZADORES DESTA HOMENAGEM!
As súplicas e o bebop no samba de um satirista - por JOSÉ TELES
Gordurinha recebeu uma homenagem do governo do Estado da Bahia (através de sua Secretaria de Cultura), que reuniu parte de sua obra no CD A Confraria do Gordurinha. Além do próprio homenageado, em uma faixa, participam do disco os conterrâneos do grupo vocal Confraria da Bazófia, Marta Millani e Gilberto Gil (que atraiu atenção a Gordurinha ao incluir Vendedor de Caranguejo, no CD Quanta).
O disco traz 14 faixas, uma bem cuidada escolha de repertório, que mesclou músicas manjadas com outras quase obscuras. Estão no CD desde Baiano Burro Nasce Morto ("O pau que nasce torto, não tem jeito morre torto/ Baiano burro, garanto que nasce morto"), a Poema dos Cabelos Brancos ("Mamãe os seus olhos são claros, talvez de chorar tanto, tanto/ Quero beijar os seus cabelos, mamãe/ Quero enxugar o seu pranto").
- HUMOR NA VEIA
Gordurinha foi um inovador, tanto nas melodias - seus forrós e cocos experimentavam harmonias pouco comuns ao gênero. As letras que escrevia tanto podiam ser simplesmente jocosas, quanto pungentes alertas para os desníveis sociais do país. Sua passagem pelo Recife, em 1951, inspirou-lhe a clássica Vendedor de Caranguejo ("Caranguejo çá / Caranguejo çá / Apanho ele na lama e boto no meu caçuá /Tem caranguejo, tem gordo guaimum/ Cada corda de dez eu dou mais um").
A sazonal bagunça pluviométrica que assola o Nordeste, onde ou não chove ou chove em demasia, recebeu dele duas canções antológicas. Umas são pouco conhecidas como: "Pedido a Padre Cícero", "Se Chovesse no Nordeste"; outra é bem conhecida como: Súplica Cearense ("Oh, Deus perdoe esse pobre coitado/ Que de joelhos rezou um bocado/ Pedindo pra chuva cair sem parar").
Sua veia engraçada soltava-se em músicas como: "Orora Analfabeta" ("Eu arranjei uma dona lá em Cascadura/ Que boa criatura, mas não sabe ler/ Nem escrever... Ela fala aribu, arioprano e motocicreta/ Diz que adora feijoada compreta/ Ela é errada demais!/ Vi uma letra O bordada na blusa dela/Eu disse é agora/Perguntei seu nome/ela disse: - Orora"; e "Meu Amigo Oliveira" (Meu amigo Oliveira/ é uma fábrica de asneira/ quando abre a boca/ ou entra mosca, ou sai besteira/ Ele disse que comprou uma vitrola/ De alta "finalidade"/ com som "esferográfico"). Mais que um compositor de músicas nordestinas, Gordurinha era um cronista de sua época, e não se enquadrava em regionalismos.
Entre os autores baianos, ele é o próprio antinarciso. Nada do elogio puro e simples das tão decantadas maravilhas soterpolitanas. "Um baiano é uma boa pedida/ Dois baianos é uma coisa divertida/Três baianos é uma conversa comprida/ Quatro baianos é um discurso na avenida", canta ele em Baianada.
Sua Bahia estende-se aos demais estados nordestinos. Ele faz a defesa dos migrantes contra a discriminação dos sulistas em "Baiano não é palhaço" ("Até parece que estou num outro país/ Vê que piada infeliz inventaram agora/ Ajude a manter a cidade limpa/ Matando um baiano por hora").
- O Problema é Seu:
De vida sentimental atribulada, Gordurinha faz uma rara incursão pelo romantismo (amargo, frise-se) em O problema é seu ("Se a saudade apertar/O problema é seu/ Eu já fiz tudo pra evitar/ Um rompimento entre nós dois"). Curiosamente este samba tem semelhanças com Mancada, uma das primeiras composições de Gilberto Gil, intéprete de O problema é seu, neste disco.
- CURIOSIDADE:
"Lembro-me de que certa vez estava na casa do Luiz Gonzaga, na Ilha do Governador – lá por 1969, – quando entrou Gordurinha, muito pálido, arfante, olhos levemente esbugalhados. Gonzaga suspirou fundo ao ver o amigo naquele estado e me disse: “Esse cabra aqui me faz inveja duas vezes. A primeira, ter escrito a “Súplica cearense”, que eu adoraria ter assinado.” E, baixando a voz, para evitar ser ouvido pela mulher Helena: “A segunda coisa que eu não tive coragem de fazer e que esse cabra fez foi sair pra tomar um café, dizer à mulher que voltaria em instantes e só ter regressado há pouquinho tempo, três anos depois.”
- "Oróra Analfabeta", de Gordurinha no Filme: Minervina vem aí
A música "Oróra Analfabeta", de Gordurinha e Nascimento Gomes, interpretado por Jorge Veiga integrou os números musicais do filme "Minervina Vem Aí" (1959), de Eurides Ramos e Victor Lima, baseado na peça teatral "O poder das massas", de Armando Gonzaga.
ORORA ANALFABETA
(Gordurinha / Nascimento Gomes)
Eu arrumei uma dona boa lá em Cascadura
Que boa criatura, mas não sabe ler
E nem tão pouco escrever
Ela é bonitona, bem feita de corpo
É cheia da nota
Mas escreve gato com "j"
E escreve saudade com "c"
Ela disse outro dia que estava doente
Sofrendo do "estrombo"
Levei um tombo... Cai durinho pra trás
Isso assim já e demais!
Ela fala "aribu", "arioprano", "motocicreta".
Diz que adora feijoada "compreta".
Ela é errada demais!
Viu uma letra "O" bordada na blusa
Eu disse é agora
Perguntei seu nome ela disse "Orora"
E sou filha do "Arineu"
Mas o azar é todo meu...
MINERVINA VEM AÍ! - 1959 - Brasil / Rio de Janeiro - 93 minutos - Comédia - Preto e branco - Direção: Eurides Ramos. Companhia produtora: Cinelândia Filmes / Cinedistri. Companhia distribuidora: Unida Filmes / Cinedistri. Produção: Oswaldo Massaini - Produtor associado: Alípio Ramos e Eurides Ramos - Diretor geral de produção: Alípio Ramos - Assistente de produção: João Macedo - Roteiro e argumento: Eurides Ramos e Victor Lima, a partir da peça teatral "O poder das massas", de Armando Gonzaga - Fotografia e montagem: Hélio Barrozo Netto - Câmera: Antônio Gonçalves - Cenografia: Benedito Macedo - Assistente de cenografia: Wilson Monteiro - Sonografia: Antônio Smith Gomes -Coreografia: Helba Nogueira - Música: Alexandre Gnatalli - Anotadora: Arlete Lester - Estúdios: Atlântida Cinematográfica.
- Números musicais:
*"Deusa do asfalto" (Adelino Moreira), com Nelson Gonçalves;
*"Adeus, América" (Haroldo Barbosa e Geraldo Jacques), com o Trio Irakitan;
*"Apito no samba" (Luiz Bandeira - Luiz Antônio), com o Trio Irakitan;
*"Chá-chá-baby" (Luiz Rico), com orquestra.
*"Oróra analfabeta" (Waldeck Arthur de Macedo (Gordurinha) e Nascimento Gomes), com Jorge Veiga.
Intérpretes: Dercy Gonçalves (Minervina), Magalhães Graça (Pereira), Zezé Macedo (dona Melita), Norma Blum (Nini), Humberto Catalano (Demócrito), Cataldo (doutor Barbosa), Luiz Carlos (Alberto), Rosa Sandrini (Francisca-cozinheira), Cézar Viola (juiz de paz), Wilson Grey (senhor Pimenta), Grijó Sobrinho (Horácio), Carlos Costa (Gentil Paz), Armando Ferreira (Gonçalves-padeiro), Pedro Farah (marinheiro americano), Evelyn Rio (Aurora), Josué Morais (escrivão), Nelson Gonçalves, Trio Irakitan, Jorge Veiga
Sinopse: A empregada de uma família nobre decadente cai nas graças de um homem simples mas rico. Por equívoco, pensa-se que a paixão desse homem rico é pela sobrinha da velha senhora nobre. Depois de muitas confusões, ele se casa com Minervina, a empregada, que se torna milionária enquanto seus ex-patrões entram em total decadência.
"Minervina vem Aí"
- "Súplica Cearense" faz parte do filme e CD Os Trapalhões na Serra Pelada
A música "Súplica Cearense", de Gordurinha e Nelinho, faz parte do filme e CD Os Trapalhões na Serra Pelada, de 1982. Filme de gênero comédia infantil, dirigido pelo cineasta J. B. Tanko é estrelado pela trupe humoristica Os Trapalhões.
Sinopse
Os amigos Curió, Boroca, Mexelete e Bateia aventuram-se em busca de ouro no garimpo de Serra Pelada. A região é controlada pelo estrangeiro Von Bermann, cujas ordens são executadas pelo capanga Bira. Sedento por poder, o gringo contrabandeia o ouro e deseja apoderar-se das terras do brasileiro Ribamar, que se recusa a fazer negócio antes da chegada do filho Chicão.
Curiosidades
Os Trapalhões na Serra Pelada teve locação em Serra Pelada e no Sítio do Capim Melado, no Rio de Janeiro. O filme foi comercializado para Moçambique e Angola em 1983. Teve bilheteria de cinco milhões de espectadores na época de seu lançamento, sendo que até hoje permanece como o oitavo filme de maior bilheteria da história do cinema brasileiro.
FONTE
LP Os Trapalhões na Serra Pelada
Os Trapalhões - 1982 - Os Trapalhões na Serra Pelada
Som Livre - 403.6269
01. Cavaleiro Alado (Renato Aragão - Paulinho Tapajós)
02. Procurei Tereza (Renato Aragão)
03. Perdi Minha Nega num Forró (Renato Aragão)
04. Folha Seca (Renato Aragão - Sivuca) instrumental
05. Cavaleiro Alado (Renato Aragão - Paulinho Tapajós) instrumental
06. Forroteca - Prece ao Vento (Gilvan Chaves - Alcyr Pires Vermelho - Fernando Luiz) - Suplica Cearense (Gordurinha - Nelinho) - Ultimo Pau-de-Arara (Venâncio - Corumbá - José Guimarães)
07. Rapaz Alegre (Renato Aragão - Luiz de França Guilherme de Queiroz)
08. Trem das Onze (Adoniran Barbosa)
09. Mentiroso (Renato Aragão - Sergio Sá)
10. Embolando na Serra (Bráulio Fernando Tavares Neto - Oswaldo Lenine Macedo Pimentel)
- GORDURINHA E A TROUPE JOVAL RIOS E SEUS ARTISTAS
"Foi sob a lona colorida, pulando de cidade em cidade, que ele (Gordurinha) adquiriu sua natureza mambembe, traço de uma personalidade nômade. Da experiência circense levou consigo a capacidade de entreter o respeitável público por horas e a trabalhar o humor como válvula da arte, cunhando bordões e expressões que deixariam marcas indeléveis no simbolismo popular." (Júnior, Jairo Costa - Gordurinha -Waldeck Artur de Macedo - Integra o Filé da Casta de Cronistas Nordestinos" - Correio da Bahia, 15/02/2004)
Joval Rios nasceu em Ilhéus (BA), no dia 22 de abril de 1919. Filho do comerciante de cereais Antonio Queiroz Pereira e Ermância Queiroz Pereira. Leda Rios – Durvalina Feitosa Pereira - nasceu em 11 de maio na Vila da Pedra (AL) . Filha de Luiz Feitosa de Alcântara e Maria Isabel de Alcântara. Ele desde criança teve vontade de conhecer o mundo, pessoas, lugares diferentes. Ela amava sua terra natal, mas como ele, queria conhecer o mundo.
Aos 14 anos, ele começou a trabalhar como operador do Cine Teatro Ilhéus, onde aprendeu a desenhar cartazes de filmes, habilidade que lhe valeria sua entrada no circo, pois, no ano de 1937, seguiu com o Circo Havaí como pintor de cartazes. Assim Joval começava a realizar seu grande sonho: correr mundo. E, correndo mundo, Joval se formou na escola do circo como trapezista e palhaço.
Em 1941, já com Circo J. Lima, chegou a Vila da Pedra (AL), e na sua primeira exibição no trapézio, avistou Durvalina, no esplendor dos seus 20 anos. Morena faceira, Durvalina tinha muitos encantos. Um deles, que conquistou Joval de vez, foi sua voz aveludada que aliada a uma sensibilidade musical rara fazia dela uma cantora em potencial. Quinze dias depois de se conhecerem, no dia 7 de agosto de 1941, eles se casaram. Com Joval, que na época já atuava como ator, Durvalina virou então a cantora Leda Rios:
"- Cantei com muita paixão um repertório bem variado, do romântico ao samba rasgado. Me vesti de baianas e cetins, e sentia no palco uma emoção grande, dessas que arrepiam a pele da gente".
Os dois trabalharam no Parque de Diversões Versailles, quando ela estava esperando seu primeiro filho: Tairone Feitosa. Depois, eles montaram a Troupe Versailles e continuaram suas andanças em plena 2ª Guerra Mundial, sobrevivendo com o que podiam adquirir no trabalho.
A vida não era fácil, mas eles estavam felizes. As viagens eram verdadeiras aventuras, pois iam desde os caminhões, barcos, troles e trens até o lombo de cavalos, a exemplo da época da Guerra, quando iam aos lugares mais estranhos para fazerem apresentações, como cemitérios, alojamentos de soldados que estavam combatendo na guerra, e tantos outros. Anos depois, Joval, assim resumiria a vida circense:
- O “raiar do Sol e o suspender da Lua” traduzem de forma primorosa a vida circense: O raiar do Sol – é a dura realidade da vida: armar e desarmar, torcer por público, esperar, esperar... O suspender da Lua é a magia do espetáculo, é a luz da ribalta, é o aplauso...
Em 1946, Joval e Leda Rios ingressaram no Circo Teatro Fekete, onde fizeram grandes amigos como Bob, Charles, Eros Arruda, Nini, Raquel e, principalmente Alberto Fekete que, de certa forma foi um mestre, lapidando-os na arte de interpretar. Segundo Joval Rios, poucos teatros no Brasil tinham a qualidade de montagem de peças teatrais como o Circo Fekete. Grandes épicos eram levados como Os Miseráveis e A Queda da Bastilha.
Deixando o Fekete, o casal montou novamente a sua Troupe – agora com o nome Joval Rios e seus Artistas. Mais maduros, montavam esquetes e pequenas inserções teatrais. Dessa Troupe surgiram nomes de destaque na música brasileira, como é o caso de Waldeck Artur Macedo – o Gordurinha – autor da música "Súplica Cearense", Bianor Batista e Nelson Roberto.
Gordurinha estava com 19 anos quando conheceu o palhaço, trapezista e ator Joval Angélico Pereira e entrou para a pequena troupe de artista mambembes de Joval, uma das personalidades mais importantes da trajetória de Gordurinha. Ele teve influência direta em sua formação artística. Entre eles surgiu uma grande amizade. Joval Rios foi como um irmão mais velho para Gordurinha, e também o grande incentivador da fase inicial de sua carreira.
Na troupe de Joval Rios, Gordurinha entrou como cantor e violonista. Mas em pouco tempo já fazia de tudo um pouco: cantava, tocava violão, apresentava espetáculos, representava. A troupe de Joval foi uma grande escola para Gordurinha. Seus professores eram artistas mambembes como Nelsom Roberto, Bianor Batista, o próprio Joval, e tantos outros artistas que iam passando.
Durante as excursões da troupe, além de cantar e tocar, Gordurinha passou a participar como ator, fazendo dupla com Zebedeu, personagem vivido por Joval Rios, de esquetes e passagens cômicas. Quando começou a fazer a dupla com Zebedeu, Gordurinha ainda era Waldeck Artur Macedo. Ainda não existia o apelido famoso com que viria marcar seu nome na história da nossa música popular. Mas como Waldeck era um nome que soava pomposo demais para fazer parte de uma dupla de humoristas, eles começaram a bolar um nome artistico, um apelido mais apropriado.
Um certo dia, ao vê-lo sem camisa durante um ataque de asma, Joval teve a ideia: Gordurinha! Disse o amigo, entre risadas, aproveitando o paradoxo entre o apelido e a figura física. Inicialmente, Waldeck não gostou da brincadeira, resistiu, mas depois concordou, incorporando definitivamente o apelido que iria acompanhá-lo pela vida inteira. A dupla Zebedeu & Gordurinha fez grande sucesso nas praças onde se apresentou.
FONTE
*Gordurinha - Coleção Gente da Bahia - Torres, Roberto. 2ª ed. 2009.
- A Hora e A Vez de Grandes Nomes da MPB
A pesquisa crítica de Manuel Veiga apresentada em novembro/2006 a Universidade Federal da Paraíba (UFBA-João Pessoa) em cumprimento as exigências do Programa de Pós-Graduação em Música traz uma crítica inspiradora a respeito dos dicionários musicais brasileiros. Inspiradora porque ao mesmo tempo que arrebata-nos os sentidos de nossas memórias musicais, também nos entusiasma a questionar a ausência de grandes nomes da MPB nesta fonte (dicionários) que para uns se faz completa, pra outros insuficiente e a tantos outros sinaliza apenas como uma miragem sugestiva de que as atualizações farão jus ao objetivo que um dicionário musical se propõe... e corresponderão a sede que temos de informações completas sobre o passado e o presente da nossa música, referências estas necessárias para "especularmos" quanto ao seu futuro.
Em nome de familiares, amigos, fãs de Gordurinha agradeço a Manuel Veiga a relevância de sua pesquisa, a lembrança e a consideração ao valor da obra de Waldeck Artur de Macedo: o Gordurinha.
A importância dos dicionários musicais está no resgatar, classificar e registrar influências, hábitos e façanhas, um misto de fatos e curiosidades, melodias e letras... informações necessárias a contextualização das "origens" e da multifacetada contribuição de Gordurinha e de tantos outros nomes, de A a Z, na construção da história da música popular brasileira. Assim sendo, aqui indico a leitura completa da pesquisa de Manuel Veiga (vide fonte da postagem).
Dicionários musicais brasileiros e a perplexidade das províncias
by Manuel Veiga (UFBA)
Resumo: Dicionários musicais ditos “brasileiros” são uma fonte perene de desarmonias, posto que consideram o Brasil do ponto de vista exclusivo do Rio de Janeiro e de São Paulo. A perplexidade do “resto”, fruto de preconceitos e de certo grau de etnocentrismo, é considerável. Exemplos são dados de erros e omissões que vão desde equívocos pitorescos, à criação de personalidades inexistentes e multiplicação de obras por perversa cissiparidade, quando não se trata de omissões irresponsáveis e letais, ao gosto de “críticos” auto-indicados. Propõe-se uma coordenação nacional de projetos limitados regionalmente, mas desenvolvidos em profundidade, de embasamento teórico semelhante, por uma instituição como o IBICT. Palavras-chave: Lexicografia musical. Erros e omissões. Necessidade de coordenação.
Logo na introdução, Manuel Veiga explica os objetivos de sua crítica-construtiva:
"São sempre as mais ingratas, principalmente se a matéria a ser tratada envolve críticas. Ainda mais se essas críticas se dirigem a esforços admiráveis de pessoas às quais devemos respeito e temos de ser gratos. Ainda mais, se essas críticas muitas vezes se deterão em erros e omissões de maior ou menor monta, quando elogios são merecidos por dezenas de outras colaborações e inclusões de alta categoria que não serão citadas. Peço desculpas por tudo isso, porquanto se o que busco aqui nada tem de desrespeitoso a pessoas ou trabalhos (com uma única exceção oportunamente identificada), nem por isto pretende passar, por exemplo, de isenção ou neutralidade científica. Por outro lado, se críticas não forem feitas, no caso, sob a ótica das províncias, jamais alcançaremos a obra brasileira de referência que todos queremos. O fato da maioria das observações recair sobre essa ou aquela obra já é um indicador de seu mérito, fique isto bem claro".
Veiga destaca que propondo-se a Enciclopédia de Música Brasileira a ser também Popular e Folclórica, algumas são desconcertantes: Não há um verbete sobre “Samba de roda”, hoje declarado patrimônio da humanidade, nem referência significativa sobre o assunto no verbete “Samba”. O verbete “Carnaval” nada diz sobre Bahia e Pernambuco. Nada há sobre “Trios elétricos”, nem sobre “Axé music”, nem sobre “Blocos afros”, nem sobre “Capoeira”, nem sobre “Lavagem”, nem sobre “Novenas”, nem sobre personagens populares dos últimos vinte anos, como: “Luiz Caldas”, nem sobre “É o Tcham” com seus mais de 10 milhões de discos vendidos (nem o peso da indústria cultural se sobrepõe à omissão deliberada?).
Que aconteceu com “Zé Trindade (Milton da Silva Bittencourt)” que rivalizava com Oscarito no próprio Rio de Janeiro? Uma simples visita ao setor de música da Fundação Biblioteca Nacional acrescenta. 21 itens ao acervo de Zé Trindade, não incorporados ainda ao banco de partituras do Núcleo de Estudos Musicais [NEMUS].
Que fazer de “Gordurinha (Waldeck Artur de Macedo)”? “Baiano não é palhaço”, “Cabra macho”, “Boca de siri”, “Quando o divórcio chegar”, “Quero me casar”, “Torcida organizada” estão entre outras e outros aguardando vez na EMB (Enciclopédia da Música Brasileira).
E o que ocorreu com Walter Levita, ainda vivo, que gravou tantos discos nos seus tempos de sucesso? A EMB ainda veicula data de falecimento errada para “Domingos de Faria Machado”, mesmo tendo o óbito ocorrido sob condições suspeitas de envenenamento (em 1865, não sete anos mais tarde).
Passamos, infelizmente, do pitoresco para o irresponsável e o letal quando, de omissão por desconhecimento ou descuido, a Enciclopédia passa ao capricho dos críticos, ou seja, ao mundo da censura.
O texto mais expressivo sobre o assunto pertence ao antropólogo Hermano Vianna, autor do muito elogiado O Mistério do Samba e de O Mundo Funk Carioca (Zahar), entre outras obras. Condenação Silenciosa: desprezo a gêneros como axé e pagode revela o despreparo e a intolerância da mídia foi um especial publicado pela Folha de São Paulo (Domingo, 25 abril 1999). Tão importante é o texto de Vianna que faremos aqui uma longa citação, ainda assim lamentando por não podermos anexar o valioso artigo por inteiro:
A “Enciclopédia da Música Brasileira” é uma obra fundamental, essencial, dessas que não podem faltar em nenhuma biblioteca. O lançamento de sua segunda edição atualizada, no final do ano passado, deve ter sido saudado como um dos mais importantes acontecimentos editoriais do país. Tendo comprado um raro exemplar da primeira edição num sebo, sua consulta foi de enorme valia para inúmeros trabalhos que fiz desde então. Não existe outra publicação que traga tantas informações sobre tantos gêneros da música erudita, popular e folclórica produzidos no Brasil. Como tantos outros fãs dessa enciclopédia, eu esperava ansioso a sua atualização. Valeu a pena esperar.
A nova versão inclui verbetes como Chico Science & Nação Zumbi, Antônio Nóbrega e Ratos do Porão, além dos últimos feitos das carreiras de Hans Joachim Koellreuter, Ronnie Von e Moreira da Silva. Mas só nas últimas semanas é que notei que alguma coisa estava faltando. Tinha uma entrevista marcada com o É o Tchan. Abri a enciclopédia na letra E, quase automaticamente, como sempre faço nessas ocasiões. Nada. Achei que podia estar em Gerasamba. Nada. Fiquei cismado. Retomei minhas investigações em outros setores da chamada axé music. Chiclete com Banana... Nada. Netinho... Suspiro aliviado... Mas que nada! Tem um Netinho dos Incríveis e outro da Banda de Pau e Corda. Mudei de estilo, fui para o novo pagode. Raça Negra... Nada. Negritude Júnior... Nada. Art Popular... Nada.
Tentei imaginar as razões para tantas ausências. Sou otimista, sempre procuro justificativas razoáveis para os enganos alheios. São artistas muito recentes, pensei. Ora, mas tem Chico César, que só lançou o primeiro disco em 1995. Tem Pato Fu. Tem Gabriel, o Pensador. Busquei outras desculpas, mesmo pouco convincentes. Nenhuma delas me convenceu num grau aceitável. Tive que recorrer à pior hipótese: o silêncio é um julgamento de valor. Há artistas que, por mais discos que vendam, por mais amados que sejam pela maioria da população brasileira, não “existem” para os editores da “Enciclopédia da Música Brasileira”. *[meu grifo] *Manuel Veiga
A nova versão inclui verbetes como Chico Science & Nação Zumbi, Antônio Nóbrega e Ratos do Porão, além dos últimos feitos das carreiras de Hans Joachim Koellreuter, Ronnie Von e Moreira da Silva. Mas só nas últimas semanas é que notei que alguma coisa estava faltando. Tinha uma entrevista marcada com o É o Tchan. Abri a enciclopédia na letra E, quase automaticamente, como sempre faço nessas ocasiões. Nada. Achei que podia estar em Gerasamba. Nada. Fiquei cismado. Retomei minhas investigações em outros setores da chamada axé music. Chiclete com Banana... Nada. Netinho... Suspiro aliviado... Mas que nada! Tem um Netinho dos Incríveis e outro da Banda de Pau e Corda. Mudei de estilo, fui para o novo pagode. Raça Negra... Nada. Negritude Júnior... Nada. Art Popular... Nada.
Tentei imaginar as razões para tantas ausências. Sou otimista, sempre procuro justificativas razoáveis para os enganos alheios. São artistas muito recentes, pensei. Ora, mas tem Chico César, que só lançou o primeiro disco em 1995. Tem Pato Fu. Tem Gabriel, o Pensador. Busquei outras desculpas, mesmo pouco convincentes. Nenhuma delas me convenceu num grau aceitável. Tive que recorrer à pior hipótese: o silêncio é um julgamento de valor. Há artistas que, por mais discos que vendam, por mais amados que sejam pela maioria da população brasileira, não “existem” para os editores da “Enciclopédia da Música Brasileira”. *[meu grifo] *Manuel Veiga
FONTE
(Dicionários musicais brasileiros e a perplexidade das províncias)
- Música de Gordurinha no Ensino de Ciências
Aqui está uma excelente maneira de reunir duas artes: música e ciências. A música em sala de aula desenvolve o pensamento crítico-reflexivo e potencializa habilidades e aptidões indispensáveis a sensibilidade sócio-cultural dos envolvidos no processo ensino-aprendizagem...
O professor assistente III do Núcleo de Docência do Departamento de Ciências Biológicas, da PUC Minas, Marcelo Diniz Monteiro de Barros apresentou um Mini-curso no II Encontro Nacional de Ensino de Biologia, na Universidade Federal de Uberlândia, em Uberlândia nos dias 12 a 15 de Agosto de 2007, com o tema "A música popular brasileira e o ensino de ciências naturais". (A SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia).
A música "Vendedor de Caranguejo", de Gordurinha está entre as músicas selecionadas para serem usadas como material didático em sala de aula e nesse caso específico na disciplina de Ciências.
Pra se ter ideia da riqueza desse material basta conhecer as demais músicas que também inspiraram o planejamento destas aulas, tais como: Ciranda da bailarina de Edu Lobo e Chico Buarque; Coração de Estudante, de Wagner Tiso e Milton Nascimento; Passaredo, de Francis Hime e Chico Buarque, Passaredo, de Francis Hime e Chico Buarque; Solar, de Milton Nascimento e Fernando Brant; Querelas do Brasil, de Maurício Tapajós e Aldir Blanc; Cigarra de Milton Nascimento e Ronaldo Bastos; Sobradinho, de Sá e Guarabyra; O Relógio, de Vinicius de Moraes e Paulo Soledade; Lindo Balão Azul, de Guilherme Arantes; Rosa de Hiroshima, de Vinícius de Moraes e Gérson Conrad; O cio da terra, de Milton Nascimento e Chico Buarque; Canção do sal, de Milton Nascimento; O mundo é um moinho, de Cartola; Andorinhas, de Marcus Viana; Pombo Correio, de Moraes Moreira / Dodo / Osmar; O meu guri, de Chico Buarque; Asa Branca, de Humberto Teixeira / Luiz Gonzaga; Eu e água, de Caetano Veloso; Iemanjá Rainha do Mar, de Pedro Amorim e Paulo César Pinheiro; Beira-mar de Roberto Mendes e Capinan; Francisco, Francisco, de Roberto Mendes / Capinan; Amor à natureza, de Paulinho da Viola; Pois é pra quê?, de Sidney Miller, Amor e Sexo, de Rita Lee / Roberto de Carvalho / Arnaldo Jabor; O xote das meninas, de Zé Dantas / Luiz Gonzaga; Façamos (vamos amar), de Chico Buarque / Elza Soares; Lamento sertanejo, de Gilberto Gil / Dominguinhos; Linda juventude, de Flávio Venturini / Márcio Borges; O ouro e a madeira, de Ederaldo Gentil; A arca de Noé, de Vinícius de Moraes / Toquinho; Depende de Nós, de Ivan Lins / Vitor Martins.
Vendedor de caranguejo
Composição: Waldeck Artur de Macêdo (Gordurinha)
Caranguejo Uçá
Olha o gordo guaiamum
quem quiser comprar um
cada corda de dez
eu dou mais um
Caranguejo Uçá
Caranguejo Uçá
Apanho ele na lama
E trago no meu caçuá
Eu perdi a mocidade
Com os pés sujos de lama
Eu fiquei analfabeto
Mas meus filho criou fama
Pelo gosto dos menino
Pelo gosto da mulher
Eu já ia descansar
Não sujava mais os pé
Os bichinho tão criado
Satisfiz o meu desejo
Eu podia descansar
Mas continuo vendendo caranguejo
Caranguejo Uçá
Caranguejo Uçá
Apanho ele na lama
E trago no meu caçuá
FONTE
O "Programa COMPOSITORES DO BRASIL", do Prof. José Nilton (Zé Nilton) no dia 25/02/2010, apresentou vida e obra de Gordurinha, excelente compositor brasileiro, que viveu as mais diferentes artes – cinema, teatro, música, locução radiofônica em Salvador e no centro do mundo – o Rio de Janeiro, de sua época. A pesquisa postada no site Chapada do Araripe foi atração no programa: Compositores do Brasil, da Rádio Educadora do Cariri... e aqui no Blog apresento a postagem na íntegra.
GORDURINHA
“Meu Deus
Por que é que nessa terra
Pedem paz e fazem guerra
E fazem guerra pela paz
Meu Deus
Por que é que os homens agem
Sempre em nome da coragem
A apunha-las só por trás
A fortuna correndo atrás
De quem já tem dinheiro
E o faminto se foge da fome
Ela vai atrás
Óh, meu Deus o sertão está seco
Só chove na praia
O oceano está cheio de água
Não precisa mais
Muita gente com a reza na boca
E o ódio no peito
O cristão fazendo mal feito
Com a Bíblia na mão
A ganância na terra entre os homens
Gerando conflito
E a ciência a serviço do mal
E da destruição”…
(Gordurinha: “Prece para os homens sem Deus”)
O nome Waldeck Artur de Macedo tem tudo para representar um sujeito muito sério, compenetrado e porque não dizer, sisudo e arredio. Contudo, a figura nomeada por tão pomposa graça não é nada disto. Começou a vida artística, lá pelos anos de 1938, em Salvador, como comediante e humorista, por tratar-se de uma pessoa alegre, brincalhona e de bem com a vida.
Gordurinha, que era magro e esbelto, logo ganhou notoriedade pelo jeito esculachado de ser, pela sua fina verve humorística e pelo sarcasmo que iria ser disseminado em suas letras anos mais tarde. Disse em sua música que “cabeça grande é sinal de inteligência”, e com este dom (que independe do tamanho da caixa craniana), antecipou muitos movimentos musicais.
Na letra de “Chicletes com banana”, onde declara, à guisa de Adriano Suassuna, seu desprezo pela presença americana em nossa cultura, lembra a sacada tropicalista, de fraseado antropofágico, quando sugere na letra:
“Só boto bebop no meu samba,/Quando o tio Sam pegar no tamborim/Quando ele pegar no pandeiro e no zabumba/Quando ele entender que o samba não é rumba”/…
Já na música “O vendedor de caranguejo” fala da sobrevivência no mundo do mangue, da lama, e na criação de um tipo de humanidade, o vendedor de caranguejo , preso à rotinização que acaba por configurar um tipo de sub cultura, mais tarde tão bem expressado pelo movimento mangue-beat, de Chico Science. Foi um defensor da música regional, e muito criticou os preconceitos e os estereótipos com que o sudestinos marcam os nordestinos.
Escreveu na capa do LP do Trio Nordestino, em 1972, um desabafo contra essa de que somos uns paus de arara. Disse que “Pau de Arara é a vovozinha”, música que abre um dos melhores discos dos gloriosos, Lindú, Cobrinha e Coroné.
Gozou também com a bossa nova, ridicularizando em suas rimas pobres e pouca ou nenhuma proposta. Gordurinha tinha uma predileção pelo Ceará. Cantou a secas e as enchentes cearenses, pediu clemência ao Padre Cícero, exaltou a Praça do Ferreira.
A pesquisa foi atração no programa: Compositores do Brasil, a partir das 14 horas, na Rádio Educadora do Cariri. Vamos falar de Gordurinha como uma das expressões da música nordestina cantada com a força e a graça da musicalidade baiana, de onde veio este excelente compositor brasileiro, que viveu as mais diferentes artes – cinema, teatro, música, locução radiofônica em Salvador e no centro do mundo – o Rio de Janeiro, de sua época. Dentre as músicas de seu vasto cancioneiro, selecionamos o seguinte roteiro.
Vamos ouvir e falar de:
Tenente Bezerra, de Gordurinha com Gordurinha, gravação continental de 1959.
Uma prece para homens sem Deus, de Gordurinha, com Ary Lobo, de 1969;
Trem da Central, de Gordurinha e Mary Monteiro, com Marinês e sua gente, gravação da RCA Victor, de 1960.
Bossa quase nova, de Gordurinha, com Gordurinha, gravação original pela continental de 1961.
De trás pra frente, de Gordurinha, com Gordurinha, 1962;
Baianada, de Gordurinha, com Gordurinha, gravação da continental, de 1959.
Baiano burro nasce morto, de Gordurinha, com Gordurinha, do LP. Gordurinha tá na praça, gravação da Continental de 1959;
Pedido ao padre cicero, de Gordurinha, com Gordurinha, grvação original de 1959.
Vendedor de caranguejo, de Gorduinha, com Gordurinha, gravada pela Continental em 1958;
Súplica cearense, de Gordurinha e Netinho, com Luiz Gonzaga, gravação original da continental de 1960;
Mambo da Cantareira, de Gordurinha, com Gordurinha, gravação da continental de 1960;
Pau de arara é a vovozinha, de Gordurinha, com Trio Nordestino,1972.
Chiclete com banana, de Gordurinha e Almira Castilho, com Jackson do Pandeiro, gravação original pela continental, de 1959.
Informações:
Programa Compositores do Brasil
Pesquisa, produção e apresentação de Zé Nilton
Sempre às quintas-feiras, às 14 horas
Rádio Educadora do Cariri – 1020 kz.
Apoio: CCBN.
FONTE
*Chapada do Araripe - compositores do Brasil - 2010- Por: Prof. José Niltonhttp://www.crato.org/chapadadoararipe/2010/02/25/programa-compositores-do-brasil-por-prof-jose-nilton/
- SÚPLICA CEARENSE É CITADA EM TRABALHO ACADÊMICO
Fonte: catalisecritica
O artigo "A natureza em Os Sertões" de José Leonardo Ribeiro Nascimento apresentado a disciplina de Ética e Meio Ambiente, do Prodema (Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente) em 2010 - fala sobre a maior seca já documentada no nordeste brasileiro e cita a música "Súplica Cearense", de Gordurinha e Nelinho, como referência da tragédia climática que assola aquela terra.
Em 1915 e nos anos seguintes, muitas famílias deixaram seus lares, rumando para o sul do Brasil. [...] Treze anos antes da grande seca, em 1902, Euclides da Cunha escreveu “Os Sertões – Campanha de Canudos”, baseado nas suas experiências como correspondente na campanha para o jornal A Província de São Paulo.
Ultrapassando as fronteiras da classificação como peça literária, constituindo-se obra de interesse da Sociologia, Geografia, História e Antropologia, “Os Sertões” propunha denunciar o massacre de Canudos, que foi, para Euclides da Cunha (2010, p. 20), “na significação integral da palavra, um crime.” E o autor conseguiu. Seu livro chamou a atenção para os problemas do sertão nordestino, ou do Norte, como se falava na época, e é considerado uma das maiores obras da literatura nacional.
[...] De forma antinômica, não tarda o autor a dizer que “o sertão é um paraíso” (ibidem, p. 70), bastando, tão-somente que a chuva caia sobre a vilã terra e esconda o vilão sol. Reaparecem os animais, ressurge a vida, ganham forma os rios, estes ao sabor do relevo incerto, o que gera inundações e destruição. O sertão não é um lugar de paz. Ou se sofre por falta da chuva, ou se sofre por causa dela.
Atribuindo personalidade à natureza – e uma personalidade cruel – Euclides afirma, categoricamente, que ela “compraz-se em um jogo de antíteses” (ibidem, p.73). Neste ponto é inevitável citar a música “Súplica Cearense”, do baiano Waldeck Artur de Macedo, o Gordurinha, na qual um nordestino reza para que a chuva pare, após um período longo de estiagem:
Súplica Cearense
Oh! Deus perdoe este pobre coitado
Que de joelhos rezou um bocado
Pedindo pra chuva cair sem parar
Oh! Deus será que o senhor se zangou
E só por isso o sol arretirou
Fazendo cair toda a chuva que há
Senhor, eu pedi para o sol se esconder um tiquinho
Pedi pra chover, mas chover de mansinho
Pra ver se nascia uma planta no chão [...]
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
- CUNHA, Euclides da. Os Sertões: volume I / Euclides da Cunha; estabelecimento de texto Walnice Nogueira Galvão. São Paulo: Abril, 2010. 336p.
- QUEIROZ, Rachel de. O quinze. São Paulo: Siciliano, 1993.
- MÚSICA POPULAR. Gordurinha (Waldeck Artur de Macedo). Disponível em: http://www.musicapopular.org/gordurinha
FONTE