terça-feira, 3 de junho de 2008

Ataulpho Alves



Ataulfo Alves de Souza (Miraí, 2 de maio de 1909 — Rio de Janeiro, 20 de abril de 1969) foi um compositor e cantor de samba brasileiro, um dos sete filhos de um violeiro, acordeonista e repentista da Zona da Mata chamado "Capitão" Severino.

Antes de se dedicar à música, Ataulpho Alves fez um pouco de tudo. Aos oito anos de idade, já escrevia versos. Foi leiteiro, condutor de bois, carregador de malas, menino de recados, engraxate, marceneiro e lavrador, ao mesmo tempo em que frequentava a escola. Aos dez anos, perdeu o pai e sua mãe foi, com os filhos, morar no centro de Miraí.

Aos dezoito anos, fixou residência no Rio de Janeiro acompanhando um médico para o qual trabalhava dia e noite como ajudante de farmácia. Aos dezenove anos tocava violão, cavaquinho e bandolim. Casou-se com Judite, vindo o casal a ter cinco filhos.

Tornou-se prático de farmácia e à noite, no Rio Comprido, onde morava, acompanhava as rodas de samba. Aos 19 anos tocava violão, cavaquinho e bandolim.

Aos 19 anos, Ataulpho Alves Jr. se casou com Judite. Organizou um conjunto e animava as festas do bairro.

Aos 20 anos (1929), Ataulpho começou a compor e se tornou diretor de harmonia de um bloco organizado pelos moradores do bairro, o Fale Quem Quiser.

"O mais elegante", diziam de Ataulfo. Gentil e refinado. Conta o compositor: "Quando fui apontado como um dos dez mais elegantes pelo Ibrahim (Ibrahim Sued, colunista social), eu aparecia na fotografias com um terno de dez anos atrás. É que, naquela época, eu não podia pagar um bom alfaiate. Mas depois de eleito, surgiram grandes alfaiates que, interessados em ganhar publicidade, ofereciam-se para me fazer roupas de graça..."

Sexta-Feira foi sua primeira composição a ser gravada. Era o ano de 1933. Bide, que fazia sucesso com Agora é Cinza (c/ Marçal), ouviu algumas músicas de Ataulfo e apresentou-o a Mr. Evans, diretor americano da Victor. E Almirante gravou Sexta-Feira.

Conta Ataulfo: "OK, OK. Mr Evans me olhava e só dizia OK, OK. Eu não entendia bem. Mas o americano lá pelas tantas disse: ‘Vou telefonar pra cantora, para ouvir as suas músicas’. Veio a Carmen Miranda. Ela ouvia, ouvia e me olhava, até que disse: - Você não é aquele rapaz lá da farmácia? ­ Perfeitamente. ­ Mas você não era compositor! ­ Mas você não era cantora!" E os dois deram boas gargalhadas.

Em 1935, por intermédio de Almirante e Bide, Floriano Belham gravou seu primeiro sucesso, Saudade do meu Barracão. Menina que Pinta o Sete (c/ Roberto Martins) foi gravada pelo Bando da Lua, ainda no ano de 1935.

Sílvio Caldas (Saudade dela, 1936, e a valsa A Você, feita em parceria com Aldo Cabral) e Carlos Galhardo (Quanta Tristeza, feito com André Filho, 1937) foram os responsáveis por seus maiores sucessos. Galhardo viria a ser um de seus mais fiéis intérpretes.

Foi parceiro de Bide, Claudionor Cruz, João Bastos Filho e Wilson Batista (com este último venceu os carnavais de 1940 e 1941, com Oh!, Seu Oscar e O Bonde de São Januário e, ainda Eu Não Sou Daqui, Papai Não Vai, Terra Boa).

Orlando Silva foi outro grande intérprete de Ataulfo. Errei, Erramos, foi por ele gravado em l938.

Como intérprete, as primeiras gravações de Ataulfo foram Leva Meu Samba... e Alegria na Casa de Pobre (com Abel Neto).

Em 1942, as dificuldades financeiras e o desinteresse dos intérpretes em gravar suas músicas, fizeram com que ele gravasse, para o Carnaval Ai, que Saudades da Amélia (c/ Mário Lago). A música foi feita a partir de 3 quadras que Mário Lago lhe dera. Ataulfo fez algumas alterações na letra original para adaptá-la. Mário Lago não gostou.


A gravação contou com o acompanhamento do grupo Academia do Samba, um grupo organizado pelo compositor e com a abertura de Jacob do Bandolim. Foi um enorme sucesso. Três meses depois, Ataulfo voltaria a Odeon para nova gravação, agora com orquestra. Com Mário Lago comporia ainda "Atire a Primeira Pedra" (Carnaval de 1944) e Capacho e Pra que Mais Felicidade (1945).



Criou o grupo Ataulfo Alves e suas Pastoras quando se definiu por interpretar ele mesmo suas canções. O nome foi sugestão de Pedro Caetano. Com Olga, Marilu e Alda, a primeira formação do grupo, lançou os sucessos Inimigo do Samba (c/ Jorge de Castro, 1943), Todo Mundo Enlouqueceu (c/Jorge de Castro), Boêmio Sofre Mais (c/ Floriano Belham, 1945) , Vá Baixar Noutro Terreiro (c/Raul Marques, 1945) e Infidelidade (c/ Américo Seixas, 1947). "Fim de Comédia" e "Errei, Sim", foram gravadas na década de 1950 por Dalva de Oliveira, relatando o fim de seu casamento com Herivelto Martins.


Em um show realizado na boate Casablanca, em 1954, lançou o samba "Pois É". Inspirado na música, Pancetti pintou um quadro e o ofereceu ao compositor.


Em contrapartida, Ataulfo compôs, com J. Batista, a música "Lagoa Serena", em homenagem a Pancetti. Este fez outro quadro dedicado ao compositor, com o mesmo nome "Lagoa Serena". A música "Pois É" só foi gravada em 1955, pela Sinter, por problemas de contrato com a Victor. Na Sinter, foi gravado o LP Ataulfo Alves e suas Pastoras (1956). No ano seguinte ele compôs Vai, Mas Vai Mesmo, grande sucesso do Carnaval de 1958.


Meus tempos de Criança, composto ainda em 1957, no qual relembra sua infância e as pessoas que o influenciaram (Que saudades da professorinha/ Que me ensinou o bê-a-bá ...) mostra o lado nostálgico do compositor. Floripes Argenta de Souza era a professorinha. Uma bela e lírica canção.

Em 1961 foi para a Europa, convidado por Humberto Teixeira, integrando uma caravana de divulgação da música popular brasileira. Interpretou Mulata Assanhada e na Cadência do Samba. Um fato interessante ocorrido na excursão, narrado por Ataulfo: "Numa boate em Estocolmo entrei em cena sozinho, como estava ensaiado. Antes que começasse a falar, algumas vozes começaram a cantar: ‘Nunca vi fazer tanta exigência...’ Senti um nó na garganta, sem saber o que fazer. Aí lembrei-me de Chico Alves, que me dizia que nessas horas era bom se contrair todo e fazer figa. Assim que pude peguei o violão e comecei a cantar Amélia, com todos me acompanhando. Quando saí do palco, chorei de emoção".


Ainda em 1961 fundou a ATA (Ataulfo Alves Edições) e editava suas próprias músicas. Data dessa época o fim de Ataulfo Alves e suas Pastoras, então já integradas por Nadir, Antonina, Geralda e Geraldina.

Fez uma temporada no Top Club, no Rio de Janeiro, em 1964. Sentiu agravar-se uma úlcera no duodeno, mas voltou ao exterior em 1966 como representante do Brasil no I Festival de Arte Negra, em Dacar, Senegal.

O surgimento da bossa-nova e do iê-iê-iê nacional foram assimilados por Ataulfo. De outro lado, os jovens gostavam de suas músicas.

Assim, em 1967, veio um novo sucesso com Laranja Madura. Roberto Carlos gravou Ai, que Saudades da Amélia. E Ataulfo fez parceria com Carlos Imperial "Você passa e eu Acho Graça", "Você Não é Como as Flores" e sua última música, Mandinga, foram feitas com Carlos Imperial, que concluiu Mandinga, já que uma intervenção cirúrgica, em decorrência de sua úlcera, o impediu de terminar. Foi-se o grande sambista carioca, nascido em Minas. Clara Nunes, também carioca, nascida em Minas, gravou Mandinga e Você passa e eu Acho Graça, pela Odeon.



Os filhos de Ataulfo, Adeilton, o mais velho, e Ataulfo Alves Junior, o mais novo, disputaram a herança artística deixada pelo pai. Adeilton lembrava uma frase sempre repetida pelo pai: "Os filhos são como música: os mais velhos, mais estimados, os mais novos, mais mimados".

E acompanhava o pai com passista-ritmista. Mas o lenço branco com o qual regia seu conjunto foi entregue simbolicamente pelo compositor a Ataulfo Júnior para que ele defendesse "o que é nosso, de geração em geração".

Era uma competição sadia, como diria Adeilton., o primeiro a alcançar sucesso com Esperanças Perdidas, lançada em um compacto, O Filho do Mestre.

Vendeu mais de 100.000 cópias, interpretada pelos Originais do Samba. Uma das músicas, Herança, afirma: "Vi em sonho o seu ‘aceito’/ Vi em sonho que é direito/ Ocupar o seu lugar".

Mais tarde Ataulfo Junior lançaria um LP cujo nome era uma sugestiva resposta: "O Herdeiro Sou Eu". Na verdade, somos todos nós os privilegiados herdeiros da música de Ataulfo Alves.

Sua musicografia ultrapassa 320 canções, sendo uma das maiores da música popular brasileira, tendo como intérpretes importantes que fizeram versões de suas músicas Clara Nunes e os grupos Quarteto em Cy e MPB-4.

Faleceu em decorrência do agravamento de uma úlcera, após uma intervenção cirúrgica, no Rio de Janeiro, poucos dias antes de completar 60 anos de idade. Era chamado - no meio artistico - de "garnizé", provavelmente por ter estatura baixa. Garnizé é uma espécie de galo de menor porte.

O SAMBA DE ATAULFO ALVES, EM SEU CENTENÁRIO
com Ataulpho Alves Jr

O pesquisador Luizito Pereira conta a interessante história da feitura de “Ó, seu Oscar”. “Wilson Martins entregou a Ataulpho a primeira parte do samba com a letra e a música prontas. O mestre [Ataulpho] mostrou ao parceiro que havia um buraco muito grande da frase ‘logo a vizinha me chamou’ até ‘está fazendo meia hora’, pedindo um breque neste espaço. Wilson Batista ficou bravo, discordou do mestre, dizendo para ele não mexer na música, e que fizesse a segunda parte com a mesma perfeição que ele fez a primeira. Ataulpho ficou aborrecido com a resposta do parceiro e no bonde que o levava ao Méier, cantava repetidamente a melodia, achando que faltava o breque”.


Já em sua casa, Ataulpho pegou o violão e começou a tocar, pensando na música de Wilson Batista e acrescentou um trechinho que mudou tudo: “Cheguei cansado do trabalho/Logo a vizinha me chamou:/Ó seu Oscar”. Luizito Pereira diz, com razão, que “o encaixe do ‘Ó seu Oscar’ era o que faltava, o breque certo, ao ponto de o samba, que deveria chamar ‘Está fazendo meia hora’, passou a ser ‘Ó seu Oscar’.

Ataulpho procurou Ciro Monteiro, ensaiou com ele a música, foi feita a gravação que resultou no maior sucesso do ano [1940], mas Wilson Batista nunca tocou no assunto, nem para parabenizar o parceiro”. O caso é interessante, pois, como costuma dizer o brilhante músico Joachim Decker, as pessoas tendem a pensar que a letra é tudo e que a música é apenas o colorido. Não fosse o breque, uma frase com nove palavras, o destino da música de corno teria sido outro.

Ataulpho também fez mudanças acertadas em “Amélia”, deixando Mário Lago, inicialmente, contrariado. Feministas entenderam a música de modo errado. Não se trata de um hino à submissão, e sim à solidariedade e à compreensão mútua entre um casal. Já a belíssima “Laranja Madura”, que as feministas deveriam ter adotado como hino, é uma crítica ao machismo, ao fato de o homem dizer que sustenta a mulher.

Em turnê pelo Brasil, Louis Armstrong foi convidado para um almoço com o presidente Juscelino Kubitschek, no Palácio das Laranjeiras. Entre os convivas Ataulpho.

ATAULPHO ALVES JUNIOR NAS ESCOLAS


Ataulpho Alves Junior faz um trabalho muito importante com a Prefeitura e a Secretaria Municipal de Educação há 5 anos, onde leva a Música Popular Brasileira nas Escolas Municipais, com o seu Projeto:
"Bate Papo Musical nas Escolas do Município."

O trabalho cultural, educativo e social consiste na apresentação da professora Maria Luiza Alves(nora do mestre Ataulpho Alves) contando a vida de um grande compositor, e Ataulpho Alves Junior ilustrando musicalmente os sucessos do homenageado, juntamente com os instrumentistas do Sexteto Ataulfo: Cacau de Castro(percussão) –

Wallace(violão 6 cordas) - Marlon(violão 7 cordas) – Abel Luiz(cavaquinho e viola de 12 cordas) – Caca(bateria) – Zé Luiz Maia(contra-baixo) e, pesquisa(Ataulpho Alves Neto)

A partir de setembro, as apresentações serão nas Escolas Municipais do RJ. O nome do Projeto será, - Chorando e Valseando nas Escolas Municipais. Ataulpho Jr. e sua equipe contarão a historia do chorinho e valsas para as crianças, e ilustrarão musicalmente choros e valsas, falando de Jacob do Bandolim - Pixinguinha - Waldir Azevedo - Luperçe Miranda - Abel Ferreira - Dilermando Reis e outros chorões.

Contato: 2205-4212 / 9921-5925 / 8797-4212 ataulphos@yahoo.com.br


FONTE

atauphoalvesjr

revistabula

Wikipédia-Atauphoalves

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