domingo, 7 de novembro de 2010

Gordurinha: Tirando o Brasil Musical da Gaveta

"Ganhar um troféu é passar por todo um caminho cheio de obstáculos! É cruzar toda a passarela do sucesso, depois de ter enfrentado cara-a-cara, mil dificuldades. Ganhar um troféu é ter passado pelo mutismo da platéia dos primeiros dias. É ter ouvido piadas de corredores... e ter conquistado finalmente o aplauso daqueles que silenciavam ontem, e hoje resolveram gritar freneticamente". (Gordurinha - referindo-se ao Troféu Luiz Gonzaga recebido pelo Trio Nordestino)

Waldeck Artur de Macedo - Gordurinha - entrou para a Imortalidade

Se tivesse que descrever Gordurinha com mais uma qualidade dentre tantas que já lhe são atribuídas, eu diria: resiliente. Gordurinha passou por várias percas, desesperava, chorava, foi ao chão diversas vezes, mas agarrou-se a sua vontade de vencer e renasceu sempre que a vida assim dele exigiu, dando continuidade aos ideais que davam sentido a sua vida.

Aos 4 anos Gordurinha sofreu a perda de seu pai e contou com o apoio de seu avô para receber uma educação de qualidade. Na adolescência escrevia poemas, aprendeu os primeiros acordes de violão. Confiante posicionou-se no caminho que apontava a direção da realização de seu sonho: ser um artista. Na juventude empolgou-se com as primeiras apresentações como cantor do conjunto Caídos do céu; e em sua atuação na rádio como comediante tendo como parceiro o compositor e humorista Dulphe Cruz; e depois como integrante de uma pequena troupe de artistas mambembes. Gordurinha misturou os melhores ingredientes e pronto. Fez conhecido o artista que era.


Descobri fatos incríveis pesquisando a vida e obra de Gordurinha. Ri e chorei lendo o livro "Gordurinha: Baiano Burro Nasce Morto", escrito por Roberto Torres. E reconheço, é palpável a ideia de que o que aproxima o artista de seu público é saber o que se guarda na gaveta, ou seja aquelas preciosidades ao alcance apenas dos familiares e dos amigos. Fatos corriqueiros, curiosidades, dúvidas e certezas... Então, parafraseando Rolando Boldrin que diz: "Vamos tirar o Brasil Musical da Gaveta". Vamos tirar as Memórias Musicais de Gordurinha da Gaveta! Aprendi que sempre que compartilhamos fatos memoráveis adicionamos a estes doses de carinho, emoções e um pouco mais de história.

Em visita aos Blogs de familiares e amigos de Gordurinha percebo o quanto é contagiante as lembranças da vida e obra deste artista. Cada um deles tem um arquivo pessoal a compartilhar. E posso dizer que a paixão de Gordurinha pela palavra falada, escrita e musicada antes uma semente, encontrou terreno fértil e propagou-se em flores e frutos. Uns fazem rádio, cantam, outros escrevem. E assim diante de tamanha efervecência artistica eu como tantos outros que não tiveram o prazer de assistir as apresentações de Gordurinha... sentem como se o tivessem conhecido pessoalmente. De modo que vou citar aqui duas situações distintas que confirmam tal afinidade.

Outro dia a Leide Warthon, filha do Gordurinha, reuniu-se com amigos, e remexeu suas memórias guardadas carinhosamente em uma gaveta e cantou com os amigos "SÚPLICA CEARENSE", de Gordurinha e Nelinho, tendo o cantor-compositor e músico Zé Di acompanhando-os ao violão. Não estive presente mas vi as fotos e o vídeo do que se pode chamar de um dia agradável; e imaginei todo o saudosismo que impregnou aquela reunião.


Sintonia semelhante se faz notar nas poesias escritas por Waldeck Luiz. Algumas de suas poesias e o Blog que fez em homenagem a seu avô permitem ao apreciador fazer uma releitura da emoção, história e cultura presentes na vida e obra de Gordurinha. Suas memórias musicais ao saírem da gaveta ampliam-se em significantes e significados, como na poesia:

GORDURINHA
Waldeck Luiz

QUEM SABE UM DIA OS MALES SERÃO CURADOS
E OS ERROS DO PASSADO SERÃO PASSADO
QUEM SABE UM DIA ESSA CORDILHEIRA DE ÓDIOS COMO FOI DITO
SEJA FINALMENTE DISSIPADA COM O CALOR DA PAZ

ESSA CATARATAS DE LÁGRIMAS SEQUE
COMO ERA SECO SEU SERTÃO
E DEUS FAÇA CHOVER COMO FEZ CHOVER
NA SUA SUPLICA CEARENSE
QUE DEUS NOS FAÇA MELHOR COM SUA
PRECE PARA SEM OS HOMENS DEUS

QUE SEJAMOS TÃO FELIZES
QUE POSSAMOS MISTURAR
CHICLETES COM BANANA
VIAJAR NA CANTAREIRA

QUE ESSA PRECE SEJA OUVIDA
QUE MEU FILHO APRENDA
COM UMA CARTA DE ABC NA MÃO
AH, JÁ VIU
ELE NÃO VAI ENTENDER BULUFAS
E VAI CASAR COM UMA ORORA ANALFABETA

DEIXO ENTÃO
MEU POEMA DOS SEUS NÃO CABELOS BRANCOS
E ACEITE
O MEU GOOD BYE".

Os mesmos resquícios memoriais encontramos nas poesias: "Sociedade Falida"; "Baião para Americano Ver". Tais palavras trazem uma assinatura que identifica o artista que a inspirou: Gordurinha. A cada geração suas palavras podem até ganhar novos frascos, mas a essência é sempre a mesma.

Gordurinha mais que uma referência aos iniciados e iniciantes na arte, foi exemplo de talento, perfeição, genialidade e criatividade. Capaz de "rasgar seu espaço" criou personagens humorísticas peculiares, meio matuto, cheios de sabedoria popular e perspicácia, como Seu Abóbora. Compôs samba, coco, baião, mambos. Mencionou a bossa-nova o tropicalismo... Disseminou protestos sutis, implícitos e explícitos. E isso em plena ditadura, dias em que anonimato, discrição, omissão significavam: ter casa, emprego; e principalmente manter-se vivo...


Síntese do artista completo. Gordurinha foi um dos mais dinâmicos artista de circo, teatro, rádio, televisão, cinema. Cantava, tocava, atuava, apresentava, divertia. Admirável compositor-cantor, suas letras trazem a "bagagem" de suas vivências, ao mesmo tempo em que divertiam também combatiam a intolerância e o preconceito. Autor de obras primas da nossa música, como: "Súplica Cearense" e "Chicletes com Banana".


Ator cativante, basta ver sua participação na comédia musical "Titio não é Sopa" (1959), de Eurídes Ramos lançada pela Atlantida Cinematográfica. Como produtor musical ajudou a produzir um dos melhores discos do Trio NordestinoAcima de tudo, Gordurinha deixa registros de um cidadão engajado as causas sociais. Prenunciou o manguebeat de Josué de Castro e Chico Science na emblemática "Vendedor de Caranguejo".


Gordurinha eternizou-se deixando um legado impar na memória sócio-cultural brasileira, com a profundidade necessária para criar raízes e também atrair prestígio de "um cartaz internacional", como dizia a letra de "Calouro Teimoso", composição de Gordurinha e Nelinho.


Viva Gordurinha!

                                                                     **by Elizabeth Nogueira

Cenas do filme: "Titio não é Sopa" 

Gênero: Comédia - SINOPSE
O advogado Luiz se despede da família que vai em férias para Poços de Caldas. Ele é muito amigo de Paulo, um músico e dono da boate "Casablanca", montada com o dinheiro que o tio Gregório lhe mandou para a construção de um abrigo de idosos. Paulo, que deveria ter a profissão de corretor de imóveis, fica apavorado quando Luiz lhe entrega uma carta de Gregório comunicando que virá ao Rio com Verinha. Ele faz um acordo com o amigo que, por 10 p.cento da herança do tio rico, passará por dono da boate. Gregório quer verificar as obras do abrigo. Julie, namorada de Paulo, o chama ao telefone para surpresa de Vera. Como desculpa, ele diz que é uma possível compradora de um apartamento. Numa obra, ele acerta com Azevedo para que ajude na farsa da obra do abrigo. Na boate, Julie trama com o amante para que Paulo assine alguns papéis que lhe permitam entrar de posse na boate. Para surpreza de Paulo, ele se encontra com Vera na boate; ela diz que não contará nada ao tio desde que possa se apresentar ali. Julie chega neste momento e chantageia o namorado, dizendo que vai contar tudo ao tio. Paulo leva Gregório em visita à obra, sendo ajudado na farsa pelo mestre de obras, Azevedo. Amaro, sogro de Luiz, volta ao Rio para resolver um negócio interrompido. Gregório o manda para a cozinha, onde Luiz se passava por mordomo. Paulo e Vera chegam à casa depois do ensaio, sendo que Paulo estava arrependido pelo que tinha feito com o dinheiro do tio. Gregório vai até a obra sem Paulo, e diz ao engenheiro que deseja ampliar uma parte da construção. O engenheiro o toma por louco e explica que a obra é uma fábrica de biscoito. Azevedo confirma o engodo. Gregório descobre então a verdade sobre Paulo ao ligar para a boate. O tio vai disfarçado como o americano Charles até a boate e pede ao garçom para conhecer os donos, já que está disposto a comprar o local. Vera e Paulo trocam beijos no camarim, enquanto ele se mostra mais uma vez arrependido. Gregório sai para receber informações de um detetive sobre Paulo e Julie e não volta para o almoço. Todos ficam preocupados. À noite chega Gregório disfarçado de Charles. Durante a conversação, Gregório revela sua personalidade verdadeira e perdoa o sobrinho. Luiz e Amaro o cumprimentam pela bondade e o primeiro retoma sua posição de dono da casa. O filme termina com a perseguição de Luiz e Amaro, fantasiados para o baile do Bola Preta, pela esposa e filha que retornaram de viagem.

CURIOSIDADES DAS FILMAGENS

Peça teatral
O filme é baseado na peça teatral "Titio não é sopa" (também conhecida como "Aí vem a Aurora", "Seu Gregório chegou", "Espírito de porco" e "Amigo da onça"), de Henrique Marques Fernandes.

Números musicais
"Quero beijar-te as mãos" guarania (Arcênio de Carvalho e Lourival Faissal) com Anísio Silva; "Mamãe eu quero" fantasia (Jararaca - Arranjo de Vicente Paiva e José Calazans, com orquestração de Pachequinho) com Eliana Macedo; "Baiano burro nasce morto" (Waldeck Artur de Macedo) com Gordurinha e Mário Tupinambás.








Identidades/elenco:
Ferreira, Procópio (Gregório)
Macedo, Eliana (Verinha)
Lupo, Ronaldo (Luiz)
Rossano, Herval (Paulo)
Montez, Nancy (Julie)
Stuart, Afonso (Amaro)
Policena, José (Engenheiro)
Moema, Grace (Emengarda)
Guimarães, Zélia (Isaltina)
Morais, Sonia (Aurora)
Carvalho, Rafael de (Azevedo)
Grijó Sobrinho (Vizinho)
Carvalho, Paulo de (Gaspar)
Mello, Angelito (Paranhos)
Gomes, Delfim (Pedreiro)
Ivantes, Azelita (Beatriz)
Mazzei, Luis (Garçon)
Chiquinho (Garçon)


             Abaixo registro a origem do texto "Gordurinha: Tirando o Brasil Musical da Gaveta"...Waldeck Luiz: Obrigada pelo Carinho e pelo Convite.

Por vezes fico observando o quanto a internet aproxima as pesssoas... São tantas histórias.

Há dois anos e alguns dias me inscrevi no site de Letras.com com aquela certeza de que minha participação ali seria contribuir para que biografias, fotos, curiosidades, letras de músicas de cantores, grupos e afins fossem ali encontradas com mais facilidade.

O fato é que não fico satisfeita diante de "coisas por fazer". Sou inquieta, mesmo. E pesquisando no Google sobre MÚSICA a toda momento minhas buscas me levavam ao citado site, mas ao abrir a página indicada: SURPRESA. Decepção. As informações estavam incompletas. Então, percebi que o site era alimentado por pessoas ali inscritas, então me inscrevi.

Comecei assim, inserindo uma informação aqui outra ali. Me aborrecia quando errava... o site não te dá a opção de corrigir o que foi enviado. Quer ver ainda um exercício de paciência é esperar que suas postagens sejam aprovadas. Uma eternidade... Contudo, através do site fiz várias amizades. E entre estes conheci o Gordurinha-neto, o Waldeck Luiz... uma pessoa apaixonada por palavras, como seu avô...

Esta semana vi que o Waldeck fez referência aos meus textos no Blog que fez em homenagem a Gordurinha, me surpreendi e fiquei muito feliz. Surpresa maior foi receber o seu convite pra escrever um texto sobre seu avô a ser postado em seu Blog. Aceitei. Vou escrever sim. Gordurinha é de uma biografia admirável. Espero que consiga responder positivamente a suas expectativas.

Escrever é uma arte, diga-se de passagem. Ser lida e conquistar aprovação além de gratificante é inspirador. Reconhecimento pra mim significa uma autêntica demonstração de amizade e carinho... atitudes que mostram o quanto algumas pessoas são especiais em sua forma de ser, estar e permanecer e de como são bem-vindas as suas ações. Muito obrigada pelo convite.


A poesia "Gordurinha", de Waldeck Luiz, menciona várias músicas de sucesso de seu avô, como: "Súplica Cearense"; "Prece para os Homens Sem Deus";  "Chicletes com Banana";  "Mambo da Cantareira"; "Carta de ABC"; "Órora Analfabeta"; e ainda outras entremeadas de um desabafo e de uma palavra que traz referências a vida pessoal do poeta. Bom vou ter o cuidado de não destacá-la antes de confirmar minhas suspeitas...


Deixo aqui uma SUGESTÃO. Pesquise as músicas do Gordurinha citadas na poesia de Waldeck Luiz; e depois releia a poesia. Vai por mim, conhecer a fonte que inspirou a estrutura poética é gratificante, pois amplia o seu sentido.



FONTE

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