domingo, 20 de novembro de 2011

Zé do Norte

Zé do Norte (Alfredo Ricardo do Nascimento) jogava nas onze. Cantor, compositor, poeta, folclorista e escritor, mas antes de desenvolver tantas atividades intelectuais, trabalhou desde os nove anos na enxada, no sertão de Pernambuco, depois foi apanhador de algodão e tropeiro. Sempre cantou mas não imaginava que isso iria tornar-se uma atividade profissional.

Em 1921, foi para Fortaleza, alistou-se no Exército e acabou indo servir no Rio de Janeiro, morando, mais tarde, próximo ao morro de Mangueira.

Em 1938, durante uma apresentação em um show na Feira de Amostras do Rio de Janeiro, Joracy Camargo e Rubens de Assis viram a cantoria de Alfredo Ricardo, que era fiscal de feira. Eles o convidaram, então, para apresentar-se ao lado dos consagrados Sílvio Caldas e Orlando Silva. Cantou, então, para uma platéia de cerca de 20 mil pessoas que vibrou, pedindo para que ele repetisse diversas vezes a embolada "Errou o tiro", em que debochava do capitão que matou Lampião.

Em 1939, foi convidado por Lacy Martins, irmão de Herivelto Martins, para cantar na Rádio Tupi, adotando, então, o nome artístico de Zé do Norte. Passou a apresentar o programa "Noite da roça", que lançou diversos artistas e no qual apresentaram-se, entre outros, Alvarenga e Ranchinho, o sanfoneiro pernambucano Luiz Gonzaga, este ainda em começo de carreira.

Convidado por Joracy Camargo, atuou no show Aldeia Portuguesa, obtendo grande sucesso com uma embolada de sua autoria. Acabou sendo levado para a Rádio Tupi onde cantou adotando o pseudônimo de Zé do Norte, em 1940.

Em 1941, foi para a Rádio Transmissora Brasileira (atual Rádio Globo) e participou de programas, como Desligue, Faz Favor e Hora Sertaneja. Tendo trabalhado em diversas estações, teve de afastar-se do rádio em 1942, devido a problemas na garganta que o deixaram afônico.

Em 1947, ingressou nas rádios Fluminense, Clube do Brasil, Guanabara (onde teve como sanfoneiro um iniciante João Donato) e Tamoio – nessa última, atuando como animador, organizador, cantor e declamador.

Zé do Norte publicou o livro Brasil Sertanejo em 1948. Em 1950, gravou o xote "Vamos rodar" e a valsa "Prazer do boiadeiro", ambas de sua autoria.

Na mesma época, foi convidado pelo diretor Lima Barreto para fazer a trilha sonora do filme "O Cangaceiro" (1953). Também atuou como consultor do linguajar nortista no filme. Sua música Mulher Rendeira (sobre motivo atribuído a Virgulino Ferreira, o Lampião) ficou mundialmente conhecida após ser incluída no referido filme. Mulher rendeira, um clássico da MPB, é tão enraizada no imaginário coletivo, que a maioria das pessoas a vêem como herança folclórica, de domínio público e autor desconhecido.

Demônios da Garoa - Mulher Rendeira (1953)

Nesse mesmo filme, Zé do Norte também lançou a música Lua Bonita - gravada em 1953 por Zé do Norte, autor da canção em parceria com Zé Martins - para a trilha sonora do clássico de Lima Barreto, "O Cangaceiro", que foi considerado o melhor filme de aventura do Festival de Cannes daquele ano. A trilha do filme, que tem parte das músicas de outros autores, em muito contribuiu para tornar a música de Zé conhecida em todo mundo - Europa, EUA, União Soviética. Dedicando-se aos trabalhos do filme, retirou-se do rádio.

Da trilha sonora de O Cangaceiro, destacaram-se: "Sodade, meu bem, sodade", gravada com a atriz Vanja Orico (nome artístico de Evangelina Orico - Rio de Janeiro, 15 de novembro de 1931 - cantora, atriz e cineasta brasileira), "Lua bonita", "Mulher rendeira" e o coco "Meu pião". O sucesso do filme, premiado no Festival de Cannes, rendeu a Vanja o reconhecimento internacional, tanto que ela fez
apresentações na Europa, na África, no Caribe e nos Estados Unidos. Gravou discos na França e foi recordista de vendas no Brasil. Foi capa das principais revistas da época.


Em 1953, impetrou ação na justiça contra a empresa cinematográfica Vera Cruz pois o seu nome não foi incluído na apresentação do filme "O cangaceiro" pedindo uma indenização de 300 mil cruzeiros.


Pelas mãos de uma escritora e jornalista renomada, a cearense Rachel de Queiroz, Zé do Norte foi indicado para a equipe da produção cinematográfica de O Cangaceiro, filme dirigido pelo paulista Lima Barreto, como consultor de prosódia sertaneja. Terminou sendo o "autor" da trilha sonora, que incluiu o clássico Mulher Rendeira. O sucesso da fita em Cannes elevou Zé do Norte ao Olimpo do cancioneiro popular nacional.

Existem controvérsias sobre a sua autoria de Mulher Rendeira. Diz-se que Mulher Rendeira já era cantada nos sertões nordestinos antes de Zé do Norte chegar ao Rio de Janeiro nos anos 1940. Há quem diga que seu autor é Virgolino Ferreira da Silva, o temido cangaceiro Lampião. Mas é mais provável que tenha sido adaptada e recebido acréscimos ao longo do tempo. E não é de todo improvável que algumas estrofes tenham sido de fato criadas pelo talentoso Zé do Norte.


Em 1955, Inezita Barroso gravou "Mineiro tá me chamando", adaptação de Zé do Norte para tema do folclore mineiro.

Em 1956, voltou a fazer um programa na Rádio Tupi, a convite de J. d'Ávila, permanecendo, entretanto, por pouco tempo, por não adaptar-se aos programas gravados, já que queria apresentá-los ao vivo.

Em 1957, gravou com seu Conjunto Nordestino os cocos "Mudança na capitá" e "Na Paraíba".

No ano seguinte, com o mesmo grupo, gravou o coco "No boero da usina" e a toada "Vaca Turina".

Em 1959, Luiz Vieira gravou o baião "Milho verde". Ainda em 1959, Vanja Orico interpretou Mulher Rendeira na Itália.


Nos anos de 1970, o roqueiro Raul Seixas regravou a toada "Lua bonita".

Suas músicas foram interpretadas por uma gama variada de artistas, incluindo Raul Seixas (ele gravou uma bela versão de Lua Bonita, no disco A Pedra do Gênesis, de 1988), Caetano Veloso (ele inseriu a música Sôdade, Meu Bem, Sôdade, no disco Transa, de 1972, ao longo da execução de sua música It's a Long Way), Geraldo Azevedo (Meu Pião) e Joan Baez.

Entre suas mais de 100 composições, a segunda mais famosa é Sodade Meu Bem, Sodade (1955), sua primeira composição, aos 11 anos de idade, motivada por uma desilusão amorosa, mais tarde se tornaria a famosa "Sodade, meu bem, sodade", sofrendo modificação no ritmo quando ele passou a trabalhar na Rádio Tupi. Regravada por vários intérpretes, como Nana Caymmi, Eduardo Araujo, Maria Bethânia, Nalva Aguiar, Marlui Miranda...

Em 2010, a cantora e compositora Socorro Lira acaba lançou um álbum em homenagem a Zé do Norte. São apenas 12 músicas, escolhidas entre mais de 100 assinadas pelo compositor, mas suficientes para dar ideia do poder criativo do artista.

FONTE

Cliquemusic

Wikipédia

dicionário MPB

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