segunda-feira, 9 de maio de 2011

Trio Mocotó


Trio Mocotó, a banda de samba-rock (ritmo brasileiro) foi formada em 1968 na Boate Jogral, onde Fritz "Escovão", João "Parahyba" e Nereu Gargalo trabalhavam. Na época, a boate paulistana era o grande ponto de encontro da música brasileira e os três contratados da casa trabalhavam como banda de apoio para nomes como Clementina de Jesus, Nelson Cavaquinho, Cartola, Paulo Vanzolini, Manezinho da Flauta, além das históricas "canjas" com artistas brasileiros e outros ilustres visitantes como Duke Ellington, Oscar Peterson, Earl Hines.

Uma dessas canjas começou a se tornar frequente: Jorge Ben no violão, Fritz na cuíca, Nereu no pandeiro e Joãozinho com sua mistura de timba e bateria. Nessa época Jorge Ben estava morando em São Paulo e estava sem gravadora. A batida que nasceu desse encontro, se transformou em marca registrada e levou Jorge Ben e o trio definitivamente ao estrelato. E foi essa batida que trouxe à luz a expressão samba-rock.

Na Boate Jogral, Jorge e o trio assinaram com a Philips para a gravação de seu novo disco. O trio acompanhou Jorge em praticamente todas as faixas incluindo: Que Pena, Domingas, Take It Easy My Brother Charles e País Tropical.

Em 1969 a moda havia, literalmente, descoberto a perna feminina, subindo as saias bem acima dos joelhos. Enquanto a minissaia escandalizava em seu sucesso, o joelho feminino ganhava um apelido: mocotó. Como o trio estava sempre brincando com a gíria nova e comentando as belas moças de "mocotós" expostos que frequentavam o Jogral, começaram a ser chamados informalmente de Trio Mocotó.


A gíria "oficial" escondia também uma brincadeira de artistas como Wilson Simonal que frequentavam o Jogral. O mocotó, para eles, podia designar tanto o joelho, quanto partes íntimas femininas.

A partir daí, Jorge Ben compôs "Eu também quero mocotó" com título de duplo sentido. No mesmo ano o nome do grupo teve de ser oficializado por causa da participação no Festival Internacional da Canção. Os três subiram ao palco ao lado de Jorge e defenderam "Charles, Anjo 45" debaixo das vaias de um Maracanãzinho lotado.


O próprio Jorge já havia composto a música "Eu Também Quero Mocotó", que foi defendida no mesmo festival por Erlon Chaves e a Banda Veneno com Jorge e o Trio Mocotó como convidados. Além disso, o Trio Mocotó participou da antológica gravação de Toquinho e Vinicius de Moraes da música "A Tonga da Mironga do kabuletê", e de Chico Buarque em "Samba de Orly", do disco "Construção", de 1971.

Alguns anos depois deu-se o Bebop no samba - encontro histórico do Trio Mocotó com Dizzy Gillespie, registrado no Brasil, em 1974, (dado como perdido ou esquecido este disco só saiu do baú após quase quatro décadas...). Neste disco Dizzy com seu conjunto e o grupo Trio Mocotó botam bee bop no samba... e fazem a confusão preconizada na música "Chiclete com Banana", de Gordurinha e Almira Castilho, apesar desta música não fazer parte do disco...

Fiéis escudeiros de Jorge Ben Jor no álbum homônimo de 1969, nos sucessores Força Bruta e Negro é Lindo, e no ao vivo On Stage in Japan With Trio Mocotó, armado de seu suingue irresistível, o Trio Mocotó ajudou a impulsionar o genial compositor carioca ao grande sucesso popular dos anos 1970. Bem-sucedido em seus primeiros experimentos de fusão da bossa nova com o samba - em êxitos internacionais como Mas que Nada e Chove Chuva -, depois dessa união feliz, Benjor assumiria de vez o posto de herói da negritude brasileira.


Sempre bem acompanhado, antes de aderir a esse trio de forte síncopa formado por Nereu Gargalo (pandeiro), Fritz Escovão (cuíca), e João Parahyba ("baterista" de um inusitado e econômico set, que trazia uma timba no lugar do bumbo), Benjor foi assessorado por músicos do primeiro time do samba-jazz que infectava os inferninhos do Beco das Garrafas com doses geniais de improviso. Uma turma da pesada que incluía o Copa 5, do saxofonista J.T. Meirelles e do baterista Dom Um Romão, e músicos do calibre do pianista Luiz Carlos Vinhas, egresso do Bossa Três. A parceria com o Mocotó fez com que essa sofisticação desse lugar à força percussiva, e o violão ritmado de Benjor chega ao ápice.


Com a popularidade de clássicos instantâneos como Bebete Vãobora, Take it Easy My Brother Charles e País Tropical, não tardou para o próprio Trio Mocotó ser merecedor de seus próprios títulos e assinar pérolas do sambalanço (nome dado ao hoje cultuado samba-rock), registradas em Muita Zorra (...São Coisas que Glorificam a Sensibilidade Atual!), o debut do trio, lançado pela Philips em 1971, e o segundo e homônimo álbum de 1973, produzido pelo maestro Rogério Duprat.

Em agosto de 1974, quando o trio foi convidado pela Philips para uma inusitada empreitada: acompanhar o trompetista Dizzy Gillespie, um dos maiores nomes do jazz e um dos pais do bebop, em algumas sessões no Estúdio Eldorado.

A ideia inicial de Gillespie era ambiciosa. Pretendia gravar acompanhado de mais de cem ritmistas e chegou a ensaiar com a Mocidade Alegre de Padre Miguel, mas logo foi convencido de que não haveria viabilidade técnica de registrar sessões que envolviam tamanha complexidade.

Os Originais do Samba entraram em cena, mas, insatisfeito com os resultados, Gillespie acabou acertando a fórmula com o Trio Mocotó e outros ritmistas. Somaram-se ao grupo o cantor e compositor Branca Di Neve, no comando do surdo, Teo, fazendo uma segunda cuíca, e Carlinhos, que dividiu pandeiro com Nereu.


As sessões ainda reuniram músicos da banda de Gillespie, como o guitarrista Al Gafa, o contrabaixista Earl May e o baterista Mickey Rocker. Convidada para interpretar Evil Gal Blues, parceria do crítico americano Leonard Feather e do vibrafonista Lionel Hampton, a cantora Mary Stallings fechou o time que, em três dias, produziram essa pequena pérola, que ficou guardada.
 

Em 2003, o Trio Mocotó grava a música "Chiclete com Banana", de Gordurinha e Almira Castilho - no álbum "BELEZA! BELEZA! BELEZA!!" - FAIXAS: 1. Beleza Beleza Beleza (Nereu Gargalo); 2. Onde Anda o Meu Amor; 3. Coqueiro Verde (Roberto Carlos / Erasmo Carlos); 4. Olha Eu Aí (Nereu Gargalo); 5. De Hoje Não Passa (Nereu Gargalo); 6. Replay (O Meu Time É a Alegria da Cidade) (Roberto Corrêa / Jon Lemos); 7. Lírio Para Xangô (Nereu Gargalo / João Parahyba); 8. Ziriguidum (Monsueto); 9. Chiclete Com Banana (Gordurinha e Almira Castilho); 10. Dingue Li Bangue (J. D. San / Mac Donys); 11. Marinella (J. Gomes / Fabek); 12. Eu Também Quero Mocotó; (Jorge Ben "Jorge Benjor"); 13. Capcaloei (Nereu Gargalo / João Parahyba).

Em 10/10/2006 o Trio Mocotó participou do Programa Sr. Brasil.
Então, esquecida por quase quatro décadas a gravação de Gillespie e o Trio Mocotó foi recentemente "descoberta" e lançada pelo selo Biscoito Fino, com esforços do produtor suíço Jacques Muyal, que topou com as fitas máster em 2009, e do jornalista Jotabê Medeiros, que ajudou Muyal a desenterrar a história por trás das gravações, o CD Dizzy Gillespie no Brasil com o Trio Mocotó apresenta deliciosos temas como Samba, do pianista de Gillespie, Mike Longo, Behind the Moonbeam, do guitarrista Gafa, e Rocking with Mocotó, uma divertida improvisação assinada por Gillespie. Como atesta o produtor suíço no encarte do CD, e é impossível contestar: "Sim, é muuuuito bom!".

Encontro inusitado entre Dizzy Gillespie e o Trio Mocotó é lançado 36 anos após sua gravação... "Estou com a impressão de que o meu trabalho gravado aqui vai superar os inúmeros outros realizados na minha terra (...). Entre os brasileiros reencontrei a sonoridade ideal (...). Música boa é aquela que de um modo ou de outro tem cor negra, como ocorre entre americanos (spirituals, blues e jazz) e brasileiros, do samba à bossa nova."


Infelizmente, a impressão do trompetista Dizzy Gillespie - em 1974, após gravar no Estúdio Eldorado, em São Paulo, seis faixas com seu grupo e o paulistano Trio Mocotó - não coincidiu com a de seu empresário e produtor, Norman Granz (então dono do selo Pablo), que não teria visto apelo "comercial".

Gillespie, na época com 56 anos e já uma lenda como um dos inventores do bebop e pioneiro na fusão de jazz e ritmos afro-cubanos, simplesmente guardou a fita e, perto do fim da vida (ele morreu em 1993), entregou-a a um amigo brasileiro, o produtor Arlindo Coutinho.

Em 2008, finalmente, um CD chegou às mãos do produtor suíço Jacques Muyal, trazendo na capa feita à mão apenas uma foto do trompetista e a frase "Com o Trio Mocotó". Muyal saiu em campo e, aos poucos - com a ajuda de, entre outros, o percussionista Parahyba (do Mocotó) e o jornalista Jotabê Medeiros -, identificou músicos, repertório, autores e estúdio para poder trazer à vida esse disco, lançado por seu selo, Groovin' High Records, e, no Brasil, pela Biscoito Fino. O Mocotó era completado por Nereu Gargalo (pandeiro) e Fritz Escovão (cuíca), enquanto Gillespie contava com Al Gafa (guitarra), Earl May (baixo) e Mickey Roker (bateria).

Pode não ser o melhor disco de Gillespie, mas, seguramente, tem apelo comercial e estabelece uma ponte entre seu jazz e a música brasileira, principalmente nas duas faixas aparentemente criadas durante as sessões, "Dizzy's shout/Brazilian improvisation" e "Rocking with Mocotó" - ambas creditadas ao trompetista. Outro destaque é o dueto com a cantora Mary Stallings, em "Evil gal blues" (Feather e Hampton).





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