terça-feira, 17 de maio de 2011

Mário Barbará


Mário Barbará é um compositor gaúcho. Sua música de maior sucesso foi "Desgarrados", vencedora da 11ª Califórnia da Canção Nativa de 1981, em Uruguaiana. Coautor de clássicos da canção gaúcha como Desgarrados, Retirante e Era uma Vez, Mário Barbará apresenta nesta terça (17/05) seu novo disco, Memória, em show gratuito no Teatro de Câmara Túlio Piva, às 20h.


O título do álbum não é nada casual: Barbará está revisitando canções que fizeram história no cenário sulista. Duas delas – Roda Canto, parceria com Apparicio Silva Rillo, e Desgarrados, com Sergio Napp – foram vitoriosas no maior dos festivais do Estado, a Califórnia da Canção Nativa de Uruguaiana, respectivamente em 1975 e 1981. Outras – Colorada, Retirante, Era uma Vez – também ajudaram a inscrever o nome do são-borjense na lista dos maiores compositores gaúchos.

E dos mais inovadores. Também autor de sambas, canções, marchinhas, boleros, Barbará, 56 anos, sempre buscou expandir o universo da canção regional, eventualmente se voltando ao pop. Um exemplo foi a parceria com o Musical Saracura, no início dos anos 1980. O grupo porto-alegrense gravou canções dele, como Xote da Amizade e Bolero-Lero, e foi com ele à Califórnia de 1982 para defender a canção Campesina, com bateria e tudo – para estranhamento dos mais tradicionalistas.

– Com o tempo, o repertório dos festivais pendeu mais para o lado campeiro, o pessoal está cantando o cavalo, o campo, com ênfase. Acho válido, mas minha música nunca foi assim – analisa Barbará, falando por telefone a Zero Hora.

Essa fusão entre o regional e o urbano, conta Barbará, era deliberada – e não era:

– Olha, tchê, era espontâneo. E eu também procurava não fazer uma música campeirona, era de propósito. Eu sempre quis uma coisa nova, com os pés no chão.

A experiência deu certo. Desgarrados – escrita, segundo ele, sem muita demora (“vi a melodia na própria poesia”) – já conta mais de 30 gravações e virou quase um hino informal dos gaúchos. Outras músicas também são periodicamente lembradas – Era uma Vez, por exemplo, está no DVD do projeto Rock de Galpão, lançado em 2010. Mas Memória, dirigido pelo amigo e admirador Chico Saratt, inclui também composições mais recentes, como O Inverno e a faixa-título, parcerias com Rodrigo Bauer. Sobre as releituras, diz Saratt:

– Exigi manter os arranjos dos festivais. Tem muitas pessoas mais jovens que não conhecem a obra do Barbará.

Barbará assume que o momento é de retomada da carreira. Nas últimas duas décadas e meia – curiosamente, um período em que os festivais de música regional perderam muito em impacto cultural –, o compositor andou meio desgarrado dos palcos e dos estúdios, às voltas com problemas de saúde e perdas na família. Fazia shows eventuais e lançava discos ainda mais esporádicos – o mais recente foi Equilíbrio, de 2005. Agora, ele está disposto a voltar à estrada:

– Eu não andava muito concentrado na música. Agora, desde o Equilíbrio, estou voltando. Pretendo fazer mais shows.

Desgarrados


Eles se encontram no cais do porto pelas calçadas
Fazem biscates pelos mercados, pelas esquinas,
Carregam lixo, vendem revistas, juntam baganas
E são pingentes das avenidas da capital
Eles se escondem pelos botecos entre cortiços
E pra esquecerem contam bravatas, velhas histórias
E então são tragos, muitos estragos, por toda anoite
Olhos abertos, o longe é perto, o que vale é o sonho

Sopram ventos desgarrados, carregados de saudade
Viram copos viram mundos, mas o que foi nunca mais será

Cevavam mate,sorriso franco, palheiro aceso
Viraram brasas, contavam casos, polindo esporas,
Geada fria, café bem quente, muito alvoroço,
Arreios firmes e nos pescoços lencos vermelhos

Jogo do osso, cana de espera e o pão de forno
O milho assado, a carne gorda, a cancha reta
Faziam planos e nem sabiam que eram felizes
Olhos abertos, o longe é perto, oque vale é o sonho

Sopram ventos desgarrados, carregados de saudade
Viram copos viram mundos, mas o que foi nunca mais será

FONTE


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