sábado, 27 de agosto de 2011

Amilson Godoy

Minhas férias estão acabando... resolvi passar o sábado na companhia da boa música...


(Aquarela do Brasil, de Ary Barroso - Com arranjo e regência do Maestro Amilson Godoy, a Orquestra Sinfônica Arte Viva apresenta Aquarela do Brasil, de Ary Barroso, no Teatro Solis, em Montevideo. Direção: Tiago Godoy - TVG FILMES)

Amilson Teixeira de Godoy (17/5/1946 Bauru, SP) Instrumentista (pianista). Arranjador. Maestro. Compositor. Professor. Nascido em uma família de instrumentistas, sendo irmão dos músicos Adilson Godoy e Amilton Godoy, iniciou sua formação musical ainda menino, com Meire Raal, Nida Marchioni e depois com Ilza Antunes. Em seguida, estudou na Escola Magda Tagliaferro, em São Paulo, onde foi aluno de Nellie Braga.

Aos 14 anos de idade, mudou-se para a capital.

Amilson Godoy é filho do casamento de duas famílias absolutamente musicais. “A música fez parte da formação da minha família, tanto do lado paterno como materno. Meu avô paterno tocava violão. Meu pai, músico profissional, tocava trompete e violino. Meu tio João Godoy tocava trompete e foi um excelente professor e músico na época dos cassinos no Brasil. Meu avô materno também tocava violão. Minha mãe tocava piano e era regente de coral. Meu tio Célio Felício, era pianista e foi durante muitos anos maestro da TV Rio”.

Assim, é fácil deduzir que as primeiras lembranças musicais de Amilson estejam relacionadas ao cotidiano de sua infância. “Quando criança me recordo dos ensaios na igreja do Coral Nossa Senhora da Aparecida, em Bauru, tendo minha mãe como regente. Aos 11 anos comecei a trabalhar nesta mesma igreja tocando em casamentos. Lembro dos ensaios em casa dos conjuntos comandados por meu tio João, tendo meus irmãos Adilson e Amilton Godoy, como acordeonista e pianista do conjunto”.

Amilson começou estudar música antes mesmo de se alfabetizar.

Aos 5 anos comecei a estudar. Tive uma pequena interrupção aos 6 anos e recomecei aos 7 e nunca mais parei. Minha primeira professora de piano foi Meire Raal. Aos 7 anos passei a estudar com Dona Nida Marchioni, que me indicou aos 11 anos para Ilza Antunes que, por sua vez, me encaminhou para a Escola Magda Tagliaferro, em São Paulo”.

Aos 12 anos, Amilson viajava de trem para São Paulo toda semana para ter aulas com dona Nellie Braga, a assistente chefe da Escola. “Quando dona Magda Tagliaferro vinha ao Brasil, participava de suas aulas públicas”.

A Escola Tagliaferro possuía uma metodologia própria desenvolvida pela grande mestra Magda Tagliaferro e ainda hoje é uma escola personalizada. Além de seus próprios exercícios voltados para as diversas possibilidades de execução pianística, tem como grande sustentação técnica a metodologia adaptada para um livro intitulado ‘Exercícios Diários Beringer’ (“Exercícios Técnicos Diários”, Oscar Beringer, Ed. Vitale)”.

A rotina de viagens semanais entre Bauru e São Paulo durou dois anos, até que em 1960, aos 14 anos, Amilson mudou-se definitivamente para a capital.

Sobre o aspecto mais útil e agradável de seu aprendizado, Amilson é preciso. “Disciplina. Esta é a palavra mágica”.

Disciplina que Amilson herdou daquela que considera a pessoa fundamental em sua formação. “Minha professora Nellie Braga, da Escola Tagliaferro. Pela sua dedicação, paciência e delicadeza. Pelo rigor e austeridade, quando necessários. Pelo amor ao ofício. Por ter me mostrado como o professor é importante na vida de uma pessoa sem precisar proferir nenhuma palavra a respeito”.

Pela importância que dá ao mestre, Amilson não acredita em autodidatismo. “Ninguém aprende nada sozinho. O aprendizado sempre chega às pessoas por alguma forma de comunicação. Os nossos mestres podem estar presentes, ou mesmo ocultos, mas eles sempre existirão”.

Apesar da afirmação categórica, Amilson reconhece que aprendeu música popular “de ouvido”. “No meu caso, a música popular foi desenvolvida pelas informações recebidas auditivamente, pois na minha época não havia nenhum tipo de ensino voltado a esta vertente musical. O embasamento erudito fez com que eu deduzisse comportamentos musicais extraídos de audições de pianistas e grupos de jazz, de tirar nota a nota o improviso de alguém, analisar o comportamento harmônico e melódico das composições e improvisações, e concluir as observações com experimentos”.

E numa família musical como a sua, Amilson recebia informações constantes e qualificadas. “Devo muito aos meus irmãos, que me ensinaram os primeiros acordes ‘dissonantes’ e me mostraram o ‘depois daqui, vem pra cá...’. O que vim a saber depois e identificar como as primeiras progressões de acordes”.

Artista atento, a dificuldade em encontrar bons cursos de música popular fez com que Amilson direcionasse parte de seu tempo e trabalho para o ensino da música, criando um método pioneiro. "Esta dificuldade de acesso ao aprendizado me fez desenvolver um processo de ensino com o intuito de buscar uma forma que promovesse a convivência pacífica entre os gêneros popular e erudito. Introduzi esta metodologia como coordenador musical, num ensino pioneiro de música, em uma escola que se tornou referência de ensino, que foi a Fundação das Artes de São Caetano do Sul”.



Como pianista de música erudita, Amilson Godoy conquistou inúmeros prêmios em concursos de piano e atuou como solista junto a diversas Orquestras Sinfônicas do Brasil.

Como pianista de música popular, atuou com vários músicos e orquestras, brasileiros e internacionais, como Ray Conniff, Dizzy Gillespie, Shirley Bassey e Sadao Watanabe.

Ao lado de Jurandir Meirelles (contrabaixo) e José Roberto Sarsano (bateria), integrou o Bossa Jazz Trio, com o qual lançou, em 1965, o LP “Bossa Jazz Trio”, contendo as faixas “Preconceito”, “Sou sem paz” e “Só de saudade”, todas de Adylson Godoy, “Maria Moita” (Carlos Lyra e Vinicius de Moraes), “Disa” (Johnny Alf e Maurício Einhorn), “Resolução” (Edu Lobo e Lula Freire), “Reza” (Edu Lobo e Ruy Guerra), “Balanço Zona Sul” (Tito Madi), “Saudade” (Sílvio César), “Amor de nós dois” (Luiz Chaves) e “Raízes” (Denis Brean).

Ainda com o Bossa Jazz Trio, lançou, em 1966, o LP “Bossa Jazz Trio – vol, 2”, contendo as canções “Canto de Ossanha”, “Deixa” e “Labareda”, todas de Baden Powell e Vinicius de Moraes. “Dá-me”, “Ternamente”, “Zero Hora” e “Desesperança”, todas de Adilson Godoy, “Amanhã” (Walter Santos e Tereza Souza), “Sonho de um Carnaval” (Chico Buarque), “Vim de Santana” (Theo de Barros), “É de manhã” (Caetano Veloso) e “O amor em paz” (Tom Jobim e Vinicius de Moraes).

Também com o Bossa Jazz Trio, acompanhou a cantora Elis Regina no Brasil e no exterior.

Em 1972, apresentou, com a Orquestra Filarmônica de São Paulo, sob a regência do Maestro Simon Blech, o “Concerto em Fá, para Piano e Orquestra”, de George Gershwin, e, em primeira audição no Brasil, o “Concertino para Orquestra e Quinteto de Jazz”. de Otto Ketting.

Ainda na década de 1970, foi diretor musical do programa “Vila Sésamo” e diretor musical de vários espetáculos, entre os quais: “Missa Leiga” (1972), de Chico de Assis e Claudio Petraglia, dirigida por Ademar Guerra; “Lulu” (1976), dirigida por Ademar Guerra, contemplada com o Prêmio Molière de Música; “O duelo” (1977), dirigida por Roberto Vignati; “Apenas América” (1977), dirigida por Roberto Vignati.

Em 1978, participou da temporada de shows da cantora Shirley Bassey, no Brasil e Argentina. Nesse mesmo ano, gravou com Dizzy Gillespie.

No ano seguinte, executou o “Concerto em Fá”, de George Gershwin, sob a regência do Maestro Ronaldo Bologna, com a Orquestra Sinfônica de São Paulo.

Em 1980, assinou a direção musical e compôs as músicas da peça “Bent”, dirigida por Roberto Vignati.

Ao lado de Heraldo do Monte (guitarra, bandolim e violão), Cláudio Bertrami (baixo) e Chico Medori (bateria e percussão), integrou o Grupo Medusa, com o qual lançou, em 1981, o LP “Grupo Medusa”, contendo as faixas “Baiana”, “Zeby”, “Caminhos” e “Ponto de fusão”, todas de Cláudio Bertrami, “Medusa” e “Pé no chão”, ambas de Chico Medori, e ainda “Asa delta” e “Uma viagem”, ambas de Cláudio Bertrami e Chico Medori. O disco contou com a participação de Theo da Cuíca e Jorginho Cebion nas percussões.

Ainda com o Grupo Medusa, desta vez ao lado de Olmir Stocker (guitarra e violão) e ainda com Cláudio Bertrami (baixo), Chico Medori (bateria e percussão) e Theo da Cuíca (percussão), lançou, em 1983, o CD “Ferrovias”, contendo as faixas “Fantasia”, “Cheiro verde”, “Picadeiro” e “Beija-flor”, todas de Cláudio Bertrami, “Aduba-Lé”, “Pouso em Congonhas” e a canção-título, todas de Chico Medori, “Nordestina” (Alemão) (Olmir Stocker) e “Lamentos” (Pixinguinha e Vinicius de Moraes). O disco contou com a especial de Dominguinhos (acordeom).

Em 1987, sob a regência do Maestro Julio Medaglia, gravou para a série “Grandes Concertos” (TV Cultura), o “Concerto em Fá”, de George Gershwin.

No ano seguinte, participou, como arranjador e maestro, do LP “Made in Coração”, de Toquinho e Sadao Watanabe.

Participou das trilhas sonoras dos seguintes filmes: “O cangaceiro”, de Aníbal Massaini, como maestro e arranjador, e “As feras”, de Walter Hugo Cury, como autor.

Dificilmente Amilson Godoy esquecerá a noite de 16 de março de 1989. No Town Hall, um dos templos musicais de Nova Iorque, lhe coube uma imensa responsabilidade: abrir a programação do "The Sound of Brazil", o projeto que a etiqueta Som da Gente levou com o apoio do Bamerindus para entrar, "pela porta da frente" - como dizia, na ocasião, a produtora Teresa Souza - no difícil mercado americano.

Além da responsabilidade de se apresentar para um público exigente - na platéia, mais de 30 críticos de jornais e revistas, convidados de várias partes dos Estados Unidos - Amilson enfrentava um problema de última hora: o acordeonista Dominguinhos e o guitarrista Natan Marques que deveriam participar do espetáculo, afinados que estavam com dezenas de horas de ensaios e a participação do elepê recém gravado, não puderam viajar. Alemão (Olmir Stocker) substituiu a Natan e mesmo com a perda do happening a parte que seria a presença do acordeonista Dominguinhos, Amilson Godoy e seu grupo agradaram - e muito...

Coincidentemente ao projeto "The Sound of Brazil", em Nova Iorque, a etiqueta Som da Gente ali fez o lançamento do elepê de Amilson, em CD, primeiro trabalho solo do tecladista, compositor e arranjador - de uma família musical (irmão dos também pianistas Aylton e Amilton Godoy, este do Zimbo Trio), ex-integrante do grupo Medusa (um elepê feito pelo Som da Gente, há dez anos), e participação em inúmeras gravações. Mas foi com este disco - agora lançado no Brasil em versão convencional e também em CD - é que temos aquilo que Amilson considera o seu primeiro elepê solo. (continue lendo aqui)

Em 1989, lançou o LP “Amilson Godoy”, contendo suas composições “Teu nome não” (c/ José Luiz Namour), “Um abraço, Seu Domingos”, “Quatro estações”, “Colorindo”, “Desequilibrando” e “Bons tempos”, além de “Ilha Bela” (Walter Santos), “Viva Tuca” (Amilton Godoy), “Encontro” (João Roth), “De repente” (Dominguinhos) e “Eu sonhei que tu estavas tão linda” (Francisco Mattoso e Lamartine Babo). O disco foi produzido por Carla Popovic.

Como educador, desenvolveu um sistema de aprendizado pioneiro, que introduziu na Fundação das Artes de São Caetano do Sul, onde foi coordenador musical. Ao lado do irmão Amilton Godoy, colaborou na criação da metodologia do CLAM (Centro Livre de Aprendizagem Musical), escola de música do Zimbo Trio.

Em 1995, lançou, com Nivaldo Ornelas, o CD “Brasil Musical”, contendo suas composições “Florada”, “Quatro estações”, “Nós dois”, “Colorindo” e “Chorinho de brincadeira”, entre outras. O disco, produzido por André Geraissati, foi gravado ao vivo no Sesc Pompéia (SP).

Como maestro do Grupo Sinfônico Arte Viva, em 1999 realizou concertos com vários artistas, entre os quais Gilberto Gil, Elba Ramalho, Arthur Moreira Lima, Zimbo Trio, Toquinho, Dominguinhos, Alceu Valença e Maria Bethânia.

Nesse mesmo ano, apresentou-se com a Orquestra Sinfônica Nacional, executando o “Concerto em Fá”, de George Gershwin, sob regência da Maestrina Ligia Amadio.

Em 2000, foi responsável pela realização dos espetáculos orquestrais em comemoração aos 500 anos do Brasil, reunindo artistas brasileiros e portugueses.

No ano seguinte, o Grupo Sinfônico Arte Viva, sob sua regência, arranjos e concepção, participou do projeto “Rock Sinfônico”, realizado em São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza e Brasília.

De 2002 a 2005, dedicou-se às atividades da Arte Viva Produções Artísticas e do seu Grupo Sinfônico Arte Viva, com o qual atuou em projetos especiais ao lado de vários artistas, como Ivan Lins, Yamandú Costa, Gal Costa, Maria Rita, Daniela Mercury, Zimbo Trio, Toquinho, Elba Ramalho, Dominguinhos, Milton Nascimento, Gilberto Gil , Zelia Duncan, Stanley Jordan e Mônica Salmaso, entre outros.

Em 2007, além de sua atuação no cenário musical brasileiro, apresentou, com o Grupo Sinfônico Arte Viva e participação de Zimbo Trio e Toquinho, o espetáculo “Gala Brasil” no Teatro Polis, em Montevidéu, a convite da Embaixada do Brasil no Uruguai. Nesse ano, foi nomeado pelo Governo Federal membro do CNPC (Conselho Nacional de Política Cultural).

No ano seguinte, promoveu o reencontro do Bossa Jazz Trio, com sua formação original, e apresentou-se em duo com o baixista Arismar do Espírito Santo no Festival de Jazz de Lapataia, em Punta del Este, e na Semana Cultural Brasileira, em Buenos Aires.

Como arranjador conquistou, vários prêmios, entre os quais o de Melhor arranjador do 26º. Festival Internacional da Canção de Viña del Mar, no Chile. Participou da criação e atuou como arranjador e maestro da Orquestra Jazz Sinfônica do Estado de São Paulo.

Ativo representante de classe, como presidente da União Brasileira dos Músicos (UBM) e da Associação de Intérpretes e Músicos (ASSIM), trabalhou pelos direitos conexos e de arranjador. Como presidente da Comissão de Música do Estado de São Paulo, participou da implantação da Universidade Livre de Música Tom Jobim.



FONTE


Nenhum comentário: