Belmácio Pousa Godinho foi um importante futebolista, músico e comerciante paulista, que nasceu em Piracicaba, mas destacou-se na cidade de Ribeirão Preto. Nascido no dia 27 de maio de 1892 na cidade de Piracicaba, interior do estado de São Paulo, era o segundo entre nove irmãos, que vinham de um pai espanhol, que trabalhava como pedreiro, e uma mãe portuguesa, que trabalhava como costureira.
Ganhou sua primeira flauta de uma tia, quando ainda era criança, e aprendeu suas primeiras melodias com um dos irmãos. Ganhou sua primeira flauta profissional de um amigo chamado Patápio Silva, que trouxe o instrumento da Itália.
Em 1913, a família de Belmácio comandava o Esporte Clube Vergueirense, um time de futebol amador da cidade de Piracicaba. No dia 15 de novembro do mesmo ano, sua família concretizou a fusão do EC Vergueirense com outro time amador da cidade, o 12 de Outubro, comandado por outra tradicional família piracicabana, os Guerrini. Está fusão deu origem ao Esporte Clube XV de Novembro, que ficaría conhecido como XV de Piracicaba.
Belmácio formou-se professor primário, na Escola Normal de Piracicaba, em 1914. Mas, apesar de sua formação, destacou-se na juventude como jogador de futebol. Belmácio era ponta-direita ou atacante, e jogava muito bem.
Em 14 de julho de 1917, Belmácio foi contratado para integrar a equipe de futebol do Commercial Football Club (atual Comercial FC), de Ribeirão Preto. Mudou-se para Ribeirão na mesma data.
Quando chegou em Ribeirão Preto, no dia 14 de julho de 1917, além de ser recebido pela diretoria do Commercial, também foi saudado pela Sociedade Legião Brazileira (um grupo filantrópico da alta sociedade ribeirãopretana cujo nome escrevia-se desta maneira), onde pode, na ocasião da festa, tocar algumas músicas de própria autoria.
Como jogador do Commercial, Belmácio foi vice-campeão do Campeonto Paulista - Divisão do Interior da APEA, em 1919, além de fazer parte do elenco comercialino que fez uma histórica excursão ao norte e nordeste barsileiro, em abril de 1920, conquistando o título de "Leão do Norte" para o Commercial.
Além da profissão de jogador de futebol, exerceu outras atividades, como comerciante e músico.
Casou-se em Ribeirão Preto com Tanina Crisci Innechi, uma moça que conheceu dentro da Sociedade Legião Brazileira.
Fundou em 1919 uma loja de artigos e instrumentos musicais, chamada A Musical, que por mais de 60 anos funcionou na Rua General Osório, no centro de Ribeirão Preto.
Foi seresteiro, tocou em festas litúrgicas, companhias de revistas e óperas, festas escolares e na "Orchestra Lozano", também teve suas pequenas orquestras que tocavam em bailes de formatura, reuniões cívicas, atividades artísticas e cinemas, quando os filmes ainda eram mudos.
Começou a editar suas composições provavelmente depois de 1910, e em 1916 suas partituras já eram anunciadas em jornal. A revista carioca O Malho publicou muitas delas.
Presenteou muitos fregueses com suas composições, de melodias simples e fácil memorização. Compôs músicas sertanejas, jingle para propaganda, polcas, mazurcas, choros, dobrados, valsas, fox-trots, scottiches, enfim, o que era popular na época.
Benedito Gomes da Costa, professor de língua portuguesa piracicabano, foi letrista da maioria das suas músicas.
Muitas de suas composições foram gravadas por Alberto Calçada e seu Conjunto, sucessos como: Supremo Adeus, Ilusão que Morre, Suspiros e Lágrimas, Mar de Rosas, Jamais Voltarei, Ideal Desfeito e Dor Secreta.
Theodorico Soares gravou: Saudades do Meu Velho Braz e Dor Secreta, acompanhado pelo conjunto Poly.
A canção O Mulatinho (maxixe) tornou-se conhecida internacionalmente pelas gravações de Gaó e sua Orquestra Brasileira nos EUA e Roberto Inglez e Sua Orquestra, na Inglaterra. Gravaram-na também Alberto Semprini, pianista italiano, Hebe Camargo, cantora de MPB e Dante Santoro e seu conjunto. Roberto Inglez orquestrou O Mulatinho e veio a Ribeirão Preto conhecer Belmácio, que lhe ofereceu muitas outras partituras. Outros intérpretes: Jayme Costa, Os Garridos, Batesta Jr., Jazz-Band Moderno, Os Oito Batutas, Vicente Celestino e Orchestra Andreozzi (Cine Odeon do RJ).
Belmácio também compôs a música do hino do Comercial FC, que recebeu a letra feita por Daniel Amaral de Abreu.
(Hino do Comercial Futebol Clube executado pela Orquestra Filarmônica da USP Ribeirão Preto sob a regência do Maestro Rubens Ricciardi em comemoração aos 155 anos da cidade e 100 anos do Comercial. Partitura original de Belmácio Pousa Godinho, de 1920.)
Belmácio conseguiu, em 1924, ser na região de Ribeirão Preto, representante e importador exclusivo dos pianos alemães da marca Niendörf, e devido ao seu sucesso nas vendas, ganhou da fábrica um piano de presente, onde a marca foi substituída pelo seu próprio nome, gravado a ouro.
Assumiu pela primeira vez a presidencia do Comercial FC em 1955, quando substituiu o títular Oscar de Moura Lacerda, porém, ficou no cargo menos de um ano. Voltou ao cargo em 1957, onde ficou até 1958, levando o clube ao título do Campeonato Paulista da Segunda Divisão (em 1958), título esse, que fez com que fosse concretizada a idéia de construir um novo estádio para o Leão do Norte, porém, devido alguns impasses e problemas fincanceiros, o estádio só acabou sendo construído entre 1961 e 1964, e ganhou o nome de Estádio Dr. Francisco de Palma Travassos.
Belmácio, católico e devoto de Santo Expedito (protetor dos desportistas) faleceu em 1980, deixando uma herança incalculável para música paulista.
Sua família ainda mantém a loja de pianos fundada por Belmácio, a Belmácio Pianos, localizada na Avenida Independência, em Ribeirão Preto.
Na década de 1980, a professora de música e memorialista, Miriam Strambi, começou a escrever um livro sobre a vida de Belmácio, onde o nome da biografia seria Supremo Adeus, composição preferida do músico, feita por ele para homenagear Piracicaba. Mas, esse livro nunca chegou a ser publicado.
CURIOSIDADES:
A biografia de Belmácio foi mais tarde publicada na Enciclopédia da Música Brasileira, Art. Editora/PubliFolha, porém, encontra-se um pequeno erro de edição da enciclópédia, que acabou publicando o nome do músico como "Belmácio Pessoa Godinho", quando na verdade é Belmácio Pousa Godinho.
No livro História de Ribeirão Preto - Volume I, do escritor Rubem Cione, é possível encontrar nas páginas 280 e 281, um trecho narrado por João Palma Guião, onde ele descreve a excursão feita pelo Commercial Football Club ao norte e nordeste brasileiro em abril de 1920. Nesse trecho encontra-se o nome de Belmácio Pousa Godinho no elenco do alvi-negro.
“Naquela manhã fria do dia 27 de abril de 1920 a antiga estação da Mogiana (...) regorgitava uma multidão (...). Era o Comercial F. C. que partia para os campos de Pernambuco e Bahia para uma excursão sem precedentes. (...) A Embaixada comercialina compunha-se dos futebolistas: Alvino Grota, Antonio Dantes, Lourenço Parera, Timóteo Grota, José Franco, João Palma Guião, Belmacio Pousa Godinho, João Fernandes, Benedito Rodrigues Santos (Zé Macaco), Joaquim Marques Carvalho (Quinin), Sebastião Rodrigues Moraes (Zico), Augusto Ache, Alberto Lorenzon, Orestes Moura Pinto, José Guimarães (...). Os resultados foram os seguintes: 1o no jogo contra o selecionado de Pernambucanos Natos empatamos por 1 a 1. 2o jogo contra o Esporte Clube Recife, ganhamos por 2 a 1. 3o jogo contra o Náutico Capiberibe ganhamos por 2 a 0. 4o jogo contra o Santa Cruz ganhamos por 1 a 0 (...). O 5o jogo contra o América F.C., que era o tri-campeão do Norte e era denominado o Leão do Norte, ganhamos por 4 a 1 e o 6o jogo contra o Selecionado da Liga Pernambucana de Futebol, ganhamos por 5 a 2. De regresso, ao passar pela capital da Bahia, enfrentamos o Selecionado da Liga Baiana de Futebol e vencemos por 2 a 1, trazendo inúmeras taças, bronzes, prêmios, cartões conquistados nas disputas. A imprensa do Rio de Janeiro, São Paulo e de todo o Brasil saudou o inédito feito do Comercial, por ser o único clube que até então e por muitos anos depois a fazer uma excursão invicta, sem precedentes. A recepção ao regresso da Embaixada foi estrondosa, com Bandas de Música, Arcos de Triunfo, multidões da cidade e da região, vindas para aplaudir com entusiasmo vibrante os vitoriosos leoninos (...).” [o time ganhou o apelido de Leão do Norte nesta ocasião]
Ao voltar do norte, Belmácio compôs na flauta a melodia do hino do Comercial F. C.. Esse mesmo time, em 1921, goleou o Palestra Itália por 5 a 2 pela Taça Círculo Italiano, empatou com a Seleção Argentina por 1 a 1 em 1923, e em 1927 venceu o Peñarol, do Uruguai, em amistoso. Belmácio foi eleito seu presidente em 1960. Devoto de Santo Expedito, padroeiro dos desportistas, construiu no estádio Dr. Francisco de Palma Travassos, que fica na avenida Plinio de Castro Prado, uma capela para o santo.
Obra
Adeus, escola (com Benedito Costa), 1967; Alma de caipira (com Benedito Costa), tanguinho, 1918; Alvorecer, 1972; O amor faz chorar , schottisch, 1914; Baile da saudade (c/Benedito Costa), valsa, 1943; Balada, 1971; Beijando flores, valsa, 1920; Brisas de maio, 1970; Catando conchinhas, tanguinho à carioca, s.d.; Chega pra cá (c/L. B.), tanguinho sertanejo, 1918; Conquistadô (c/Benedito Costa), tanguinho, 1919; Cristina, valsa, 1971; Elegia, 1966; Encanto, 1970; Enlevo (c/Benedito Costa), valsa, s.d.; Esporte Clube XV de Novembro, s.d.; Eu e ela, valsa, 1914; Fantasia, 1973; Flor de mi vida (c/Angel Castroviejo), tango, s.d.; Hino do Comercial Futebol Clube, s.d.; Humoresque, 1971; Imagem, 1971; Intuições poéticas, 1970; Jamais voltarei (com Benedito Costa), valsa, s.d.; O mulatinho (c/Felipe Tedesco), maxixe carioca, 1924; Never More, 1918; Pontevedra, valsa espanhola, 1967; Sinval, choro, s.d.; Um sonho, uma ilusão (c/Ariovaldo Pires), tango, 1943; Supremo adeus (c/Benedito Costa), valsa, 1917; Surpresa, tanguinho brasileiro, 1970; Suspiro dolente, valsa, 1913; Tango, 1961; Tango brasileiro, s.d.; Teu nome, valsa, 1913; Viola afamada (com J. Guimarães), tanguinho, s.d.
FONTE
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