sábado, 17 de setembro de 2011

Léo Belico


Filho de amantes da música, Belico dava os primeiros passos ao lado do pai gaitista e da mãe que tocava muito bem o bandolim em Ponte Nova. Léo no violão e mais nove irmãos e irmãs alegravam os saraus da família. Bancário do Credireal e depois do Banco Mineiro da Produção (posteriormente o Bemge), teve na máquina de escrever a alavanca para uma carreira que começou como office-boy na cidade natal, chegando a contador em Belo Horizonte. Entretanto a burocracia bancária demandava uma válvula de escape para Léo Belico.

Em BH ele encontrou-se com dois conterrâneos, os irmãos Bolívar e Vladimir com os quais formou o Trio Aymoré que apresentava-se no Cassino da Pampulha, nas horas dançantes dos elegantes Iate Clube e Minas Tênis e nos bailes da capital.


Sucesso na cidade, a orquestra do maestro Deley precisou de um crooner e acabou chamando Léo para integrar a equipe. Era o finalzinho da década de 1940 e Belico entrou para o rádio. A Guarani tinha então um dos melhores casts da cidade: Jáder de Oliveira, Delfino Santa Rosa, Rômulo Paes e Orlando Pacheco.

Que emocion que mencionas a Leo Belico. Cuando yo tenia alrededor de 8 años mi mama me llevo a verlo a Radio El Mundo porque yo estaba enamorada de el y me firmo un autografo que todavia lo conservo hasta hoy. Gracias por el recuerdo”, comenta uma quase anônima Marta em um blog argentino. E foi por um capricho do destino que Léo Belico chegou em Buenos Aires.

Um prêmio em uma das festas de final de ano do Banco Mineiro da Produção presenteou o competente contador com uma passagem para a capital portenha. “Eu tinha um dinheirinho guardado que ganhei com a música em Belo Horizonte. Isso permitiria que eu passasse uma semana por lá”, relembra Belico. Uma semana ? Que nada.


Na primeira oportunidade que teve, Léo deu uma “canja” numa casa noturna. Suficiente para ser “descoberto” por um produtor musical da El Mundo que lançou a “bomba” no mercado argentino. Patrocinado pela única filial da elegante loja Harrods fora de Londres, Léo Belico conheceu a fama e a idolatria do rádio nos anos dourados. Também passou por outras duas grandes rádios da época, a Rádio Belgrano e a Splendid. Fez sucesso no cinema, participando de um número musical no filme “Romeo y Julita” (1954 - direção Enrique Carreras).


Léo Belico teve a admiração de Eva Perón e participou de inúmeros shows no território argentino para a fundação social que a toda-poderosa Evita comandava. Uma vez, convidado para noite de gala na Casa Rosada, sede do governo argentino, aproximou-se de um grupo de brasileiros que conversava com o presidente Perón. O líder do grupo fazia um comentário orgulhoso sobre o “nosso” artista brasileiro que faz sucesso, ao que Perón respondeu: “Bueno, es verdad que hace éxito, pero el Negro Belico es de nosostros”. O sucesso de “La voz de Brasil em Buenos Aires” – só cantava em português – levou Léo Belico por toda América do Sul, inclusive Colômbia onde chegou a ter que pedir escolta policial para locomover-se.



Com saudades do Brasil, Léo Belico regressou em agosto de 1960, aos 35 anos de idade. A partir daí faria apenas temporadas na Argentina. Irrequieto, ainda participou de programas na rádio Record de São Paulo e na mítica Nacional do Rio de Janeiro na qual apresentava-se sempre no programa do lendário César de Alencar, convivendo com os astros e estrelas da época: Marlene, Emilinha, Ângela Maria, Lúcio Alves, Jorge Veiga, Jorge Goulart, maestro Chiquinho e os irmãos Cyl e Dick Farney, entre outros tantos.

Ao lembrar a época, Léo Belico tenta disfarçar um pequena lágrima que corre do olho esquerdo. “É o tempo que esquece da gente, substituídos por isso que a TV mostra e o rádio toca hoje em dia. Músicas grosseiras, com palavras chulas. É o sucesso de hoje...”, lamenta Belico, talvez com saudades de uma época na qual apenas apresentava-se o artista bem trajado e que tivesse, realmente, qualidade. A mesma qualidade que levou o endereço do brasileiro – Tucumán, 320 – a tornar-se uma espécie de embaixada da cultura musical brasileira na capital argentina.


CURIOSIDADES
  • UMA SINFONIA DE BELO HORIZONTE

“Com a ida de Leo Belico para Buenos Aires, em abril de 51, o conjunto “Terceto Aymoré” se desfez. Leo viajou à Argentina de férias com um grupo de cantores mineiros, entre os quais as irmãs Neide e Nanci.

Numa noite, no Tabaris, boate elegante que ficava na Avenida Corrientes, ele foi apresentado pelos companheiros como um grande cantor de música popular. Subiu ao palco e cantou sob aplausos. Na platéia, estavam dois casais de brasileiros e um se aproximou do Leo para cumprimentá-lo e saber se ele não se interessaria em tentar o rádio na Argentina:

- Tenho um amigo que é diretor da rádio El Mundo – disse-lhe o novo admirador.

– Procure-me na embaixada brasileira, onde trabalho.

Leo levou a sério a oferta. Foi à embaixada e de lá saiu com um cartão apresentando-o a um almirante que dirigia a El Mundo (era a época de Perón, que colocou militares em várias funções civis). Fez um teste na emissora e, aprovado, ficou 11 anos na Argentina, cantando com enorme sucesso lá e em outros países sul-americanos. O nome do seu benfeitor era Arthur da Costa e Silva, então adido militar em Buenos Aires. Entre 1966 e 70, foi presidente-ditador do Brasil”. (AQUI - Jornal WebMinas - Sebastião Nery, Jornalista e escritor, escreve no Jornal WebMinas às terças, quintas e sábado.


A Música "Triste Regresso", interpretada por Leo Belico listou entre as 100 mais tocadas em 1961. Leo Belico participou do LP "Zerado" - Encontro com Dorival Caymmi (1967) interpretando a música "Maracangalha" (Leo Belico – Maracangalha (Samba, RCA Victor 80.1733B, 1957).


Participaram também da gravação Dorival Caymmi com "A lenda do Abaeté", "Saudades de Itapuã", "Sodade Matadeira"; Nelson Gonçalves com "Dora" e "Marina"; Angela Maria com "Nem eu..."; Miltinho com "Rosa Morena"; Ivon Cury com "Romances de Caymmi"; Titulares do Ritmo com "Samba da Minha Terra"; Trio do Fafá com "Saudades da Bahia".


*LEO BELICO acompanhado de Roberto e Sua Orquestra gravou, na Argentina, músicas de Ary Barroso, Herivelto Martins; João de Barro, Luiz Gonzaga, são elas: Juazeiro, Sansão e Dalila; Forasteiro e Cabelos Brancos.


01 - Faustina (Maizitelli-Molé)
02 - Esta noche sereno (Cordovil)
03 - Sassaricando (L.Antonio-Zá María-O.Magalhaes)
04 - Donna do mundo (Rizzo-Milano-Belico-Videla)
05 - Voy a bailar hasta que amanezca (Laura Maia)
06 - Pájaro enjaulado (Hervé Cordovil - Mario Vielra)
07 - Venganza (L. Rodriguez)
08 - Ana María (Soberano-Bichera)
09 - Me deixa en paz (M.C. Menezes - A. Amorín)
10 - Peixe vivo (Páez- H. de Almeida)
11 - Adeus América (Barboso - Jacques)
12 - Canción del vaquero (Luis Bonfá)
13 - El delegado quiso prender a Antonio (Lobo-M de Oliveira)
14 - Baión de Copacabana (Barboso - Lucio Alves)



FONTE

Um comentário:

AOCTAVIO disse...

Inrterssantissima essa trajetória. Parabéns pelo achado.