domingo, 20 de novembro de 2011

Luis de França


Compositor popular, Luís de França nasceu a 25/05/1911, no bairro do Torreão, Recife, onde ainda adolescente tornou-se ídolo, cantando as suas composições. Foi um dos grandes divulgadores do Coco, gênero musical por ele preferido.

Luís de França, que também era conhecido como Luís Boquinha, iniciou sua carreira ainda adolescente no bairro do Torreão, onde ganhou fama.

Trabalhou durante 35 anos como carpinteiro na Aeronáutica e durante 16 anos participou de programas de auditório na Rádio Clube de Pernambuco, onde também apresentou o programa "A Reportagem da Semana", que interpretava os acontecimentos através de músicas.

Autor de vários folhetos de Cordel, entre os quais "O Caranguejo que Perdeu a Cabeça por Causa da Camarada" e "A Discussão de Luís Boquinha (seu apelido) e Zé Henrique Alagoano".

Sua canção de maior sucesso é "Eu Vou Pra Lua", gravada, entre outros, por Ari Lobo, Jackson do Pandeiro, Genival Lacerda e Elba Ramalho.

Eu vou pra lua
Luís de França (Luís Boquinha) & Ary Lobo
Eu vou pra lua, eu vou morar lá
Sair no meu Sputnik do campo do Jiquiá

Já estou enjoado aqui da terra
Onde o povo a pulso faz regime
A indústria do roubo, a fome, o crime
Onde os preços aumentam todo dia
O progresso daqui, a carestia
Não adianta mais se fazer crítica
Ninguém acredita na política
Onde o povo só vive em agonia
Eu vou pra lua, eu vou morar lá
Sair no meu Sputnik do campo do Jiquiá

Na lua não tem nome abreviado
IPSEP, IPASE, nem CASEP
Nem IPEP, nem CPMF
Nem contrabando de mercadoria
Lá não falta água,
não falta energia
Não falta hospital, não falta escola
É fuzilado lá quem come bola
E morre na rua quem faz anarquia
Eu vou pra lua, eu vou morar lá
Sair no meu Sputnik do campo do Jiquiá

Lá não tem juventude transviada
Os rapazes de lá não têm malícia
Quando há casamento é na polícia
A moça é quem é sentenciada
Porventura, se a mulher for casada
E enganar o marido, a coisa é feia
Ela pega dez anos de cadeia
E o conquistador não sofre nada

Eu vou pra lua, eu vou morar lá
Sair no meu Sputnik do campo do Jiquiá

Em 1960 teve a marcha "A mulher, o dinheiro e o verbo", parceria com Denari Costa e o samba "Rei é sempre rei", parceria Luiz Guilherme e Denari Costa gravados pelo cantor Paulo Tito.


Em 1962, Genival Lacerda gravou de sua autoria o rojão martelo "Eu vou prá lua" e Ademilde Fonseca a marcha "Pé de meia", parceria com Nahum Luiz.

No mesmo ano, o Bloco Mixto Inocentes do Rosarinho gravou na Mocambo a marcha de bloco "Panorama de folião" e Miro de Freitas, o samba "Bonita demais" e o samba canção "Confissão", ambas também na Mocambo. Ainda em 1962, compôs com Jackson do Pandeiro e Nivaldo Lima o samba "Passe na Lapa", gravado por Jackson do Pandeiro na Philips.


Em 1979 teve a música "Sabiá", parceria com João do Vale e José Cândido gravada por Dércio Marques no disco "Canto forte - Coro da primavera", pela Copacabana.

Outras canções de sucesso: "Filho do Rico", gravada por Genival Lacerda em 1958; "Mulher Peixão", gravada pela dupla Tonico e Tinoco; "A Gata Gay", e o frevo Panorama do Folião. Também escreveu 16 romances, lançados de forma artesanal, por ele mesmo datilografados.

Mulher Peixão


Morreu no dia 05/06/2008 o compositor e escritor Luís de França. O corpo do artista, que estava com 92 anos, foi enterrado no dia seguinte por volta das 11h no cemitário de Santo Amaro.

O cantor e compositor Luís de França é o que se podia chamar de “testemunha ocular da história”, não apenas dos Carnavais, como da vida artística do Recife nos últimos 70 anos. A memória, que ele se queixava de estar fraca, era prodigiosa. Luís de França era capaz de cantar um coco que compôs na década de 20, louvando as maiores edificações da Capital Pernambucana na época: “Quando levantaram o prédio do Grande Hotel, com seis andares, ali em frente da pracinha, todo mundo só chamava de arranha-céu, aquilo causava admiração. Então fiz o coco Vinte prédios bonitos, que Nelson Ferreira sempre vivia me pedindo para gravar (ele cantou, em seguida, o coco, fazendo o ritmo tamborilando com os dedos no braço da cadeira de balanço, onde se espalhava).

Relembrando os compositores do passado, citou Pedro Cego, do bloco Lira do Charmion, e fez uma revelação, que mexe com um ícone da música popular brasileira. Falava-se da prática comum, que perdura, com menor intensidade, até hoje, de se vender composição, e ele cita uma das mais conhecidas canções da MPB: “esta música, Carinhoso, aqui todo mundo conhecia o choro, que nem tinha nome, e que foi feito por Pedro Cego. Este Pedro Cego era um grande compositor, depois ele foi para o Rio de Janeiro, conheceu Pixinguinha e o choro dele acabou como Carinhoso”. Curioso é que Carinhoso, embora composta em 1917, segundo o próprio Pixinguinha, somente foi gravada, pelo intérprete Orlando Silva, em 1930. Coincidentemente, Pedro Cego mudou-se para o Rio de Janeiro em 1929)

Desde os seis anos que fiquei conhecido por Luís Boquinha. Um dia eu tava comendo umas bananas e coloquei duas de uma só vez na boca. Então, os colegas me apelidaram assim, eu quis brigar, mas não adiantou”. Música, Luís Boquinha começou a fazer com sete anos, na base do improviso: “Eu ficava sentado, lavando os pés numa bacia e danava a cantar. Mamãe não gostava porque eu descobria os podres dos vizinhos”.

Autor de cerca de 500 composições, a maioria inédita (que ele teve a precaução de registrar em fitas cassetes), Luís de França incursionou por todos os gêneros, mas a marcha, assim ele chamava o frevo-de-bloco, e o coco são a maioria de sua obra. Panorama de folião, uma de suas marchas mais conhecidas, composta para o clube Inocentes do Rosarinho, foi campeã num concurso em que o segundo lugar ficou com Valores do passado, de Edgar Morais: “Eu ganhei, mas se fosse votar, votava na marcha de Dega, que eu achava mais bonita do que a minha”, admite, modesto. Luís Boquinha não tem modéstia é na sua perícia como improvisador de coco: “Eu era capaz de fazer um coco por quatro horas, sem parar nem repetir um verso”, garante. Os olhos já quase não viam, mas a memória compensava a deficiência.

HISTÓRIAS – Ele viajava no tempo. Ia do bairro de Cajueiro, onde vive, para a bucólica Olinda, de 1930, no dia em que João Pessoa foi assassinado: “Fui para Olinda e encontrei um pessoal numa roda de coco. Naquele tempo, o cantador de coco precisava tirar licença na polícia. Então a gente tava na roda quando apareceu o delegado Zé Alves. Ele disse que dava o consentimento para o coco continuar se eu improvisasse sobre a morte de João Pessoa. Eu fiz na hora: Mataram covardemente o maior homem do Brasil/ A Paraíba de loa, cobriu-se toda de luto/Pela sombra do teu vulto, adeus João Pessoa".

Contemporâneo dos lendários blocos Apois Fum, Bobos na Folia e Pirilampos de Tejipió, Luís Boquinha fez marchas para vários deles. O Magnólia, ele contou que, só de marcha-regresso, teve seis composições de sua autoria. Raras delas no entanto chegaram ao disco, já que poucos compositores pernambucanos conseguiram, na época, serem gravados.


O Bode de brederode foi a primeira música de Luís França registrada em disco, já na era da Rozemblit, e ele acabou sendo mais conhecido como autor de meio de ano, sobretudo pelas músicas que fez para Ary Lobo: “Ele era um monopólio danado, não deixava ninguém gravar coisas minhas. Tem um disco de Ary, na RCA, que tem sete músicas minhas. Tem Vou pra lua, Padrinho Cícero, Mulher da saia justa, Cosme e Damião, Baião do Acre...

Vou pra lua (“Eu vou pra lua/ Mamãe eu vou morar lá/Vou no meu Sputnik, no campo do Jequiá”) foi a música que mais lhe rendeu direitos autorais: “Até hoje recebo um dinheirinho dela. Foi gravada por Genival Lacerda, na Mocambo, mas o sucesso foi de Ary Lobo”.  (© JC Online, 13.03.2000)

Saudades dos Carnavais de outrora

Marceneiro, civil, da base aérea por 35 anos, Luís de França ainda conseguia tempo para participar de programas de rádios, que o tornaram bastante popular no Recife, nas décadas de 50 e 60. Um dos seus quadros de maior audiência foi o Reportagem do Dia, na Rádio Clube, em que ele criava um coco em cima do assunto do momento.

Luís de França aliava a arte do improviso a um impagável senso de humor. Antônio Nóbrega, recentemente, gravou a divertida Mulher peixão, música de França que havia sido gravada, no início dos anos 60, por Osvaldo de Oliveira e pelo comediante Lilico. Hilário mesmo, e praticamente desconhecido, é o coco O cachorro tarado, lançado, sem repercussão, por Ivan Ferraz, na Mocambo, e merecedor de uma nova (e imediata) gravação. Luís Boquinha, do alto das suas nove décadas, esbanjou ritmo cantando as peripécias do endiabrado cachorro.

O Carnaval atual, o velho folião não vê e nem gosta: “Dos blocos, o melhor é o da Saudade, mas no coro tem só tem umas 30, 40 moças, enquanto antigamente eram umas duzentas, trezentas mulheres cantando. Carnaval de hoje é muita apelação, o pessoal só quer pular. Antigamente era que se fazia passo. Este Nascimento do Passo, que ganhou título de cidadão do Recife e um bocado de coisa, não chega nem à metade de Sibila, que jogava futebol e era gazeteiro. Nem Sibila, nem Zé Burrão. As notas da música, eles faziam com o pé. Aquilo é que era passo”.

Mesmo se desculpando pela ‘memória fraca’, ele poderia discorrer durante horas sobre os áureos tempos do rádio pernambucano, sobre as batalhas que aconteciam quando se encontravam Vassouras e as Pás (“sempre ficavam pelo menos uns três no chão”); jingles políticos (“Cordeiro é o homem do povo/ Salvação de Pernambuco/Que precisa sangue novo/Este grande brasileiro/Que tem nome de cordeiro e coragem de leão”, para a campanha de Cordeiro de Farias a Governador); músicos dos anos 30, como Antônio Sapateiro; noitadas cariocas com Nelson Cavaquinho... (© JC Online, 13.03.2000)

FONTE



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