quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Ruy Guerra

Cineasta, compositor, Rui Guerra tem um importante trabalho como letrista de canções compostas em parceria com Chico Buarque, Carlos Lira, Edu Lobo, Francis Hime e Sergio Ricardo. Em novembro de 1971 - Chico Buarque, Tom Jobim, Edu Lobo, Ruy Guerra entre outros são enquadrados na Lei de Segurança Nacional, por terem tirado suas músicas do Festival Internacional da Canção em protesto contra a censura.

FADO TROPICAL
Chico Buarque e Ruy Guerra

Oh, musa do meu fado
Oh, minha mãe gentil
Te deixo consternado
No primeiro abril

Mas não sê tão ingrata
Não esquece quem te amou
E em tua densa mata
Se perdeu e se encontrou
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal

"Sabe, no fundo eu sou um sentimental
Todos nós herdamos no sangue lusitano
uma boa dosagem de lirismo
(além da sífilis*, é claro)
Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas
em torturar, esganar, trucidar
Meu coração fecha os olhos e sinceramente chora..."

Com avencas na caatinga
Alecrins no canavial
Licores na moringa
Um vinho tropical
E a linda mulata
Com rendas do alentejo
De quem numa bravata
Arrebata um beijo
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal

"Meu coração tem um sereno jeito
E as minhas mãos o golpe duro e presto
De tal maneira que, depois de feito
Desencontrado, eu mesmo me contesto

Se trago as mãos distantes do meu peito
É que há distância entre intenção e gesto
E se o meu coração nas mãos estreito
Me assombra a súbita impressão de incesto

Quando me encontro no calor da luta
Ostento a aguda empunhadora à proa
Mas meu peito se desabotoa
E se a sentença se anuncia bruta
Mais que depressa a mão cega executa
Pois que senão o coração perdoa"

Guitarras e sanfonas
Jasmins, coqueiros, fontes
Sardinhas, mandioca
Num suave azulejo
E o rio Amazonas
Que corre trás-os-montes
E numa pororoca
Deságua no Tejo
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um império colonial
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um império colonial

*trecho censurado pelos militares

Ruy Guerra tem entre seus parceiros ilustres compositores da MPB. Deu início às suas atividades como compositor através do Centro Popular de Cultura, no Rio de Janeiro, onde conheceu Sérgio Ricardo, com quem compôs "Esse mundo é meu". Compôs músicas com Edu Lobo, que foram incluídas nos discos do parceiro "A música de Edu Lobo" (1965/Elenco), "Edu Lobo" (1967/Philips) e "Cantiga de longe" (1970/
Elenco). Foi também parceiro de Marcos Valle e Milton Nascimento.

Participou do antológico disco "Clube da Esquina 2", lançado pela EMI em 1978, com sua parceria com Milton na faixa "E daí (A queda)".

Foi o autor da trilha de seu filme "Os deuses e os mortos", de 1971, ao lado de Milton Nascimento. Nesse mesmo ano, compôs com Edu Lobo a trilha da peça "Woyzeck", de Georg Büchner, com direção de Matilda Pedroso.

Compôs, com Chico Buarque, a trilha de "Calabar", peça escrita junto com Chico, mas que foi censurada, sendo publicada na forma de livro. As músicas foram posteriormente gravadas no LP "Chico canta", lançado pela Philips em 1974. A música "Não existe pecado ao sul do Equador", que fazia parte da trilha, fez bastante sucesso, anos depois, na voz de Ney Matogrosso, e a gravação foi tema da novela "Pecado rasgado" (Rede Globo), em 1978. Ao lado de Chico, fez também a versão intitulada "Sonho impossível", da música de J. Darion e H. Leigh, e que fez parte do show "Chico Buarque & Maria Bethânia", realizado em 1975 no Canecão (RJ).

Foi também parceiro de Francis Hime e dirigiu shows com Alaíde Costa, Baden Powell, Chico Buarque, Dory Caymmi, Dulce Nunes, Milton Nascimento, MPB-4, e o "Som Imaginário".

Em 1999, o filme "Estorvo", escrito com Chico Buarque, baseado no livro homônimo deste último, foi lançado com trilha de Egberto Gismonti.
  • Ruy Alexandre Guerra Coelho Pereira
Ruy Alexandre Guerra Coelho Pereira (Maputo, antiga Lourenço Marques, 22 de Agosto de 1931) é um realizador de cinema, poeta, dramaturgo e professor nascido em Moçambique, então território português. Vive no Brasil desde 1958.

Estudou no Institut des hautes études cinématographiques (IDHEC) de Paris a partir de 1952. Até 1958, atuou como assistente de direção, antes de se instalar no Brasil, onde dirigiu seu primeiro filme, Os cafajestes (1962).

Ingressando nas fileiras do Cinema Novo, em 1964 realizou seu melhor filme, Os fuzis, ao qual se seguiram obras notáveis como Tendres chasseurs (1969) e Os deuses e os mortos (1970). A situação política brasileira durante a ditadura militar impôs-lhe uma pausa que terminaria em 1976 com A queda.

Em 1980 regressou a Moçambique, onde rodou Mueda, Memória e Massacre, o primeiro longa-metragem desse país. Ainda em Moçambique, realizou diversos curtas e contribuiu para a criação do Instituto Nacional do Cinema. Viveu e trabalhou também em Cuba por alguns períodos.

Em 1982 rodou no México, Erêndira, baseado em A incrível e triste história da Cândida Erêndira e sua avó desalmada, de Gabriel García Márquez. Posteriormente dirigiu: o musical Ópera do malandro (1985), baseado em peça de Chico Buarque; Kuarup (1989), baseado no livro Quarup, de Antônio Callado; e o telefilme Fábula de la bella palomera, também baseado em Gabriel García Márquez.

Seu primeiro casamento foi com a cantora Nara Leão, nos anos 60, com quem não teve filhos e rapidamente se divorciaram. Mais tarde se casou com a atriz Leila Diniz com quem teve uma filha, Janaína Diniz Guerra, nascida em 1971. Alguns anos após a morte de Leila, casou-se com a atriz Cláudia Ohana com quem teve uma filha, Dandara Guerra, nascida em 1983, de quem se divorciou.
  • Filmografia
1954: Quand le soleil dort (Quando o sol dorme). Diretor e roteirista.
1957: S.O.S. Noronha. Ator.
1962: Os cafajestes. Diretor e roteirista.
1962: Os mendigos. Montador e ator.
1964: Os fuzis. Diretor e roteirista.
1968: Balada de página três. Roteirista.
1968: Benito Cereno. Ator.
1969: Ternos caçadores. Diretor e roteirista.
1970: Os deuses e os mortos. Diretor e roteirista.
1970: O senhor do tempo. Ator.
1972: Os sóis da ilha de Páscoa. Ator.
1972: Aguirre, der Zorn Gottes. Ator.
1975: As aventuras de um detetive português. Roteirista.
1976: A queda. Diretor, roteirista, compositor e ator.
1980: Mueda, memória e massacre. Diretor e diretor de fotografia.
1981: Histoires extraordinaires: la lettre volée. Diretor e roteirista.
1983: Eréndira. Diretor.
1986: Ópera do malandro. Diretor, roteirista e produtor.
1988: Fábula de la bella Palomera. Diretor, roteirista e produtor.
1989: Kuarup. Diretor, roteirista e produtor.
1992: Me alquilo para soñar (telessérie). Diretor e roteirista.
1997: Posta restante. Roteirista.
2000: Monsanto. (TV) Diretor.
2000: Estorvo. Diretor, roteirista e produtor.
2004: Portugal S.A.. Diretor.
2004: O veneno da madrugada. Diretor e roteirista.
2005: Casa de areia. Ator.
  • Teatro
Calabar: o Elogio da Traição, com Chico Buarque de Holanda.

FONTE

WIKIPÉDIA

Dicionário MPB

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