Em 2010, Roberto Paiva - um dos maiores cantores do Brasil, um dos maiores patrimônios de nossa música - recebeu bela homenagem do programa “Alô, Rio”, (Seg. a Eex. das 08 às 11h - na Rádio Nacional, a partir das 8h), comandado por Hilton Abi-Rhian. O programa traz jornalismo, cultura, a música de ontem e de hoje, prestação de serviços, as histórias do Rio, reportagem nas ruas, esportes e a bronca dos ouvintes. A cidade em revista.
No quadro “Conversa de Bambas”, Hilton entrevistou Roberto Paiva, e ele sempre com sua costumeira simpatia e bom humor, brindou a todos com histórias fantásticas, de quem de fato viveu momentos importantes da MPB.
Paiva disse que, certo dia, o produtor de Aloysio de Oliveira, um dos mais importantes do Brasil, pediu que ele fosse ao apartamento de Tom Jobim para escolher uma música. Que ele escutasse algumas canções, e escolhesse alguma para gravar. Paiva, imaginem só, disse ao Aloysio que não iria, que, magine só, ficava mal, chegar na casa de um cidadão que ele não conhecia pessoalmente, pedir para ouvir uma música e, se não gostasse, ter que dizer que nao queria nenhuma. Mas o Aloysio insitiu. E o Roberto Paiva foi.
Chegando á casa do maestro, Paiva pediu para ouvir umas musiquinhas, que o Aloysio tinha falado, e coisa e tal, e Tom Jobim mostrou a ele “Se todos fossem iguais a você”. Depois de ouvir a música, Paiva exclamou:
- Essa é minha! Vou gravar. Tem outra?
O maestro então tocou mais uma. Paiva disse: “Essa eu quero! Vou gravar também!” E o maestro tocou outra. E Roberto: “Vou gravar!”
“Sei que, quando sai de lá, éramos grandes amigos, e eu gravei cinco sucessos do filme “Orfeu da Conceição”, contou Paiva. Detalhe: o próprio Jobim regeu os músicos da orquestra e as vozes do esplêndido coro da Odeon. (Diário do Osmar - aqui)
Um mês depois desse encontro, reuniam-se no estúdio da Odeon no Rio com 35 músicos, coro, Luiz Bonfá ao violão e regência do próprio Tom. Bastou um dia para gravar todas as músicas do disco. E um detalhe. O estúdio onde as canções foram gravadas estava tecnicamente condenado, mas era o único disponível. “Quem fez a avaliação tinha se enganado, pois o som saiu perfeito”, conta Paiva.
Paiva gravou cinco músicas do LP Orfeu da Conceição: Se Todos Fossem Iguais a Você, Um Nome de Mulher, Eu e o Meu Amor, Lamento no Morro e Mulher Sempre Mulher.
Maysa - Se Todos Fossem Iguais a Você
BIO
Nascido e criado no Rio de Janeiro, Helim Silveira Neves - 8/2/1921 Rio de Janeiro/RJ. Embora de discreta atuação, sempre foi considerado um cantor correto. E, por isso, muito requisitado pelos compositores. A tal ponto, que registrou em 1956 o histórico LP original "Orfeu da Conceição", com músicas iniciais de Tom Jobim e Vinícius de Moraes.
Em 2010, cinquenta e quatro anos depois, uma nova montagem do musical Orfeu, sob direção de Aderbal Freire-Filho, chega ao Rio (em superprodução de 2,2 milhões de reais) a ser exibida em mais cinco capitais. A trama de amor, ciúme e vingança do mito negro grego, transposto para o carnaval num morro carioca, tem como ponto central a paixão de Orfeu (Érico Bras) e Eurídice (Aline Nepomuceno), que desperta ódio em Mira (Jéssica Barbosa) e Afisteu (Milton Filho). Ex-namorados do casal, eles decidem se vingar, assassinando Eurídice.
O elenco, de 16 atores negros, conta ainda com Isabel Filardis, Thatiana Pagung, Wladimir Pinheiro, Maria Salvadora, Eduardo Canto, Dandara Mariano, Édio Nunes, Márcio Vieira, Patrícia Costa, Pedro Lima, Rodrigo França e Verônica Bomfim. Nessa nova versão, o texto original e a trilha sonora foram mantidos, com o acréscimo de canções de Tom e Vinicius. Outra novidade é a inclusão de personagens e cenas.
Paiva foi o primeiro cantor a gravar as composições da parceria entre Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes. Em 1954, o então pianista da noite carioca e o poeta se reuniram pela primeira vez e comporam as canções da peça que Vinicius arquitetara como um sonho. Com Orfeu da Conceição, o poeta imaginava traduzir para o mundo dos morros cariocas a tragédia grega universal de Eurídice.
A peça, na qual todos os protagonistas eram negros, foi levada à cena do Theatro Municipal do Rio em setembro de 1956. O sucesso foi tanto que, três anos depois, virou filme pelo francês Marcel Camus. Orfeu Negro ganhou Palma de Ouro em Cannes em 1959, Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1960 e Globo de Ouro no mesmo ano, em idêntica categoria.
O sucesso motivou a gravadora Odeon a registrar as músicas da peça ainda em 1956. O desafio era encontrar um cantor de bela voz para interpretar as canções. Aloysio de Oliveira, que tinha liderado o Bando da Lua, namorado Carmen Miranda, feito uma bela carreira de produtor nos Estados Unidos e então dirigia a gravadora, lembrou-se de Paiva, uma das maiores estrelas da Era do Rádio, sucesso desde quando ela começou, em 1938.
Quando a Mayrink Veiga era a melhor do Rio, ele estava lá. Quando a Rádio Nacional estabelecia o mais alto padrão de profissionalismo no rádio brasileiro, Paiva integrava seu elenco. Parecia natural que o ex-líder do Bando da Lua convocasse o funcionário para a tarefa.
Cantor eclético, das canções românticas às marchas carnavalescas, lançou Se Todos Fossem Iguais a Você, Oh! Minas Gerais e Menino de Braçanã, que revelou Geraldo Pereira e Nelson Cavaquinho diz que fez tudo a que tinha direito em sua vida...com sua sensibilidade interpretativa e bom gosto na escolha do repertório, o cantor Roberto Paiva marcou a história da MPB.
"Fui um típico cantor de rádio". Quem se define assim é o veterano Roberto Paiva. De fato, sua época áurea foi do final dos anos 30 (quando começou a gravar, com apenas 17 anos de idade) ao começo dos 50 - exatamente o período áureo do rádio no Brasil.
Pra Machucar Meu Coração
Ainda adolescente, Helim Silveira Neves (verdadeiro nome de Roberto Paiva) inscreveu-se em um programa de calouros da Rádio Clube Fluminense, em Niterói (RJ), cantando a valsa "A Você" (sucesso de Francisco Alves), obtendo o primeiro lugar.
Pouco depois, ajudado pelo cantor Cyro Monteiro, foi contatado para atuar no programa Picolino, de Barbosa Júnior, na Rádio Mayrink Veiga. Enturmou-se com grandes cartazes da época, como o pianista Nonô e o violonista Laurindo de Almeida. Este último o levou à gravadora Odeon, onde em 1939 lançou seu primeiro 78 rpm, justamente com músicas desses amigos: "Último Samba" (Laurindo) e a valsa "Jardim das Flores Raras" (Nonô e Francisco Mattoso).
No mesmo ano, revelou o grande sambista Geraldo Pereira em disco, com "Se Você Sair Chorando" (com Nelson Teixeira). Pouco depois, foi para a Rádio Educadora e na mesma época gravou seu primeiro grande sucesso, o samba "O Trem Atrasou" (Paquito/ Artur Vilarinho/ Estanislau Silva) na RCA Victor.
O TREM ATRASOU
Na década de 40, lançou várias canções de Roberto Martins, como: "Devagar com a Louça" (com Oswaldo Santiago), "A Valsa dos Noivos" (com Mário Rossi) e "Leva Meu Coração" (com Mário Lago).
Em 1949, excursionou pelo Brasil e foi para a Rádio Guanabara. Dois anos depois, transferiu-se para a Tupi.
Roberto Paiva também emplacou uma versão (de Paulo Roberto) que virou hino estadual, Vienne sul mare ("Ó Minas Gerais"). "Foi a maior praga da minha vida. Nunca fui a uma cidade, por menor que fosse, que não me pedissem para cantá-la", confessou numa entrevista em 1979, ao Jornal do Brasil.
Guiando-se sempre pela intuição na escolha das músicas dos mais variados estilos, ele também lançou Nelson Cavaquinho ("o nome não aparece nos discos porque ele vendia os sambas") e Luís Vieira (Alguém que Não Vem, um samba-canção, e depois o estouro, Menino de Braçanã). A canção Menino de Braçanã de 1953, foi o primeiro sucesso do cantor, compositor e radialista brasileiro, o cantador Luis Vieira, na voz de Roberto Paiva; e depois a música foi gravada também pelo cantor Ivon Curi.
Gramophone: O Menino de Braçanã - Ivon Curi
Emplacou ainda sucessos como Tagarela (1946), do xará Roberto Martins, o compositor que mais gravou (16 músicas), ao lado de Paquito (o do Trem e de outro sucesso, A Marcha do Conselho, de 1957), com 10, e Geraldo Pereira (8).
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