segunda-feira, 21 de março de 2011

Catulo da Paixão Cearense


Luar Do Sertão
(Catulo da Paixão Cearense / João Pernambuco)
Não há, ó gente, oh não
Luar como este do sertão (bis)
Oh que saudade do luar da minha tema
Lá na serra branquejando
Folhas secas pelo chão
Esse luar cá da cidade tão escuro
Não tem aquela saudade
Do luar lá do sertão

A gente fria desta terra sem poesia
Não se importa com esta lua
Nem faz caso do luar
Enquanto a onça, lá na verde capoeira
Leva uma hora inteira,
Vendo a lua a meditar
(refrão)

Ai, quem me dera que eu morresse lá na serra
Abraçado à minha terra e dormindo de uma vez
Ser enterrado numa grota pequenina
Onde à tarde a surunina chora sua viuvez
(refrão)

Catulo da Paixão Cearense (São Luís do Maranhão, 8 de outubro de 1863 — Rio de Janeiro, 10 de maio de 1946) foi um poeta, músico e compositor brasileiro. Seus versos, voz e violão logo despertou a atenção nas rodas de seresta e modinha que freqüentava.

Sua composição mais famosa, "Luar do Sertão" (1910), tem até hoje autoria discutida, atribuída ao violonista João Pernambuco, que teria se inspirado num tema do folclore. Catullo colocou letra ainda em outros temas musicais alheios (não raro assinando a autoria completa ou trocando o título original), como "Flor Amorosa" (polca de Joaquim Callado) e "Ontem ao Luar", que no original de Pedro de Alcântar chamava-se "Choro e Poesia".

Maranhense de São Luís, morou dos 10 aos 17 anos no Ceará, e mais tarde no Rio de Janeiro, onde desenvolveu sua bem-sucedida carreira artística. Filho de Amâncio José Paixão Cearense (natural do Ceará) e Maria Celestina Braga (natural do Maranhão). Mudou-se para o Rio em 1880, aos 17 anos, com a família. Trabalhou como relojoeiro. Seu pai faleceu em 1 de agosto de 1885.

Catulo foi autodidata autêntico. Suas primeiras letras foram ensinadas por sua mãe e toda sua cultura foi adquirida em livros que comprava e por sua franquia à Biblioteca do Senador do Império, por ser professor dos filhos do Conselheiro Gaspar da Silveira.

"Aprendi musica, como aprendi a fazer versos, naturalmente", dizia o Velho Marruêro.

Aos 19 anos, Catulo interrompeu os estudos e abraçou o violão, instrumento naquela época, repelido dos lares mais modestos. Iniciante tocador de flauta, a trocou pelo violão, pois assim, podia cantar suas modinhas.

Nesse tempo passou a escrever e cantar as modinhas como: "Talento e Formosura", "Canção do Africano" e "Invocação a uma estrela".

Catulo da Paixão Cearense conheceu vários chorões da época, como Anacleto de Medeiros e Viriato Figueira da Silva, quando se iniciou na música. Integrado nos meios boêmicos da cidade, associou-se ao livreiro Pedro da Silva Quaresma, proprietário da Livraria do Povo, que passou a editar em folhetos de cordel o repertório de modinhas da época.

Catulo passou a organizar coletâneas, entre elas: O cantor fluminense e O cancioneiro popular, além de obras próprias. Vivia despreocupado, pois era boêmio, e morreu na pobreza.

Em algumas composições teve a colaboração de alguns parceiros: Anacleto de Medeiros, Ernesto Nazareth, Chiquinha Gonzaga, Francisco Braga e outros. Como interprete, o maior tenor do Brasil, Vicente Celestino .

Suas mais famosas composições são 'Luar do Sertão', de 1908, que na opinião de Pedro Lessa é o hino nacional do sertanejo brasileiro, e Flor amorosa (sem data). Também é o responsável pela reabilitação do violão nos salões da alta sociedade carioca e pela reforma da "modinha".


Em 1908, deu uma audição no Conservatório de Música. À medida que envelhecia mais se aprimorava. Catulo homem, não se modificava, sempre fiel ao seu estilo. "...Com gramática ou sem gramática, sou um grande Poeta.."

Catulo da Paixão Cearense moralizou o violão levando-o aos salões mais nobres da capital. Dois eventos são apontados como marcos nesse processo de aceitação do violão: em 1908 Catulo apresentou-se no Instituto Nacional de Música, a convite do maestro Alberto Nepomuceno, e em 1914 no Palácio do Catete, a convite da então primeira-dama Nair de Tefé.

A sua casinhola em Engenho de Dentro, afundada no meio do mato era histórica. Alí recebia seus admiradores, escritores estrangeiros, acadêmicos nacionais, sempre com banquetes de feijoada e o champagne nunca substituía o paratí, por mais ilustre que fosse o visitante.

As paredes divisórias eram lençóis e sempre que previa a presença de pessoas importantes, dizia para a mulata transformada em dona de casa. "Cabocla , lave as paredes amanhã, que Domingo vem gente!"

Sua primeira modinha famosa "Ao Luar" foi composta em 1880. As músicas de Catulo foram gravadas por diversos cantores de renome, como Orlando Silva, Vicente Celestino, Paulo Tapajós, mas ele morreu pobre, em uma casa de subúrbio no Rio.

Catulo morreu aos 83 anos de idade, em 10 de maio de 1946,a rua Francisca Meyer nº 78, casa 2. Seu corpo foi embalsamado e exposto a visitação pública até 13 de maio, quando desceu a sepultura no cemitério São Francisco de Paula, no Largo do Catumbí, ao som de "Luar do Sertão".


Catulo deixou inúmeras obras, tais como:

Canções musicadas
- Luar do Sertão
- Choros ao Violão
- Trovas e Canções
- Cancioneiro Popular
- A Canção do Africano
- O Vagabundo
- Entre outras...


Livros de Poemas:
- Meu Sertão
- Sertão em Flor
- Poemas Bravios
- Mata Iluminada
- Poemas Escolhidos
- O Milagre de São João
- Etc....

Obras teatrais:
- O Marroeiro
- Flor da Santidade
- E o clássico "Um Boêmio no Céu".



Comentaram pró Catulo personalidades como: Julio Dantas, Ruy Barbosa, Machado de Assis, Clóvis Beviláqua, Francisco Braga, Humberto de Campos, Monteiro Lobato, Ignácio Raposo, Heitor Vila Lobos, Assis Chateaubriand, Bastos Tigre, Amoroso Lima, João Barros, Roquete Pinto, Pedro Lessa, Mário José de Andrade e outros.


Você Sabia?

*Catulo, que tinha fama de mulherengo, um dia encontra em seu quarto uma moça semi-despida que faz um verdadeiro escândalo se dizendo violentada pelo poeta. Depois de uma passagem na delegacia e outra na igreja, Catulo se casa. Só depois fica sabendo que tudo não havia passado de brincadeira de amigos. Era uma farsa, sendo que seu casamento nem constava nos assentamentos da igreja paroquial.


*Bastos Tigre, em texto publicado no livro Noite de São João, conta que há tempos não via o poeta Catulo, então o dia que o viu achou remoçado e que o ar de mocidade"provinha-lhe da ausência de cabelos brancos, pois ele trazia o crânio raspado a máquina duplo-zero". Respondendo o porquê daquilo, Catulo disse a Bastos Tigre que o seu busto no jardim do Monroe (onde funcionava o Senado Federal), não mais se parecia com ele. "E como eu amo e respeito todas as artes, faço o possível para me parecer com o busto. O meu crânio assim raspado dá mais a impressão de granito, você não acha?".


*O cancioneiro de Catulo, com letras que exprimem a ingenuidade e pureza do caboclo, cativou a sensibilidade do povo e levou Mário de Andrade a classificar o autor como "o maior criador de imagens da poesia brasileira".


*Catulo matriculou-se no Colégio Teles de Meneses, onde estudou português, matemática e francês, chegando a traduzir poetas famosos, como Alphonse de Lamartine (1790-1869) e outros. Fundou um colégio no bairro da Piedade, passando a lecionar línguas.



*Convidado para uma festa na casa do senador Gaspar de Silveira Martins, ele agradou e, a mulher de Silveira Martins, em retribuição, quis ajudá-lo. Catulo arriscou um pedido de emprego. Ganhou um convite para ser professor dos filhos do casal. Aceitou o emprego e mudou-se para a casa do senador, na Gávea.


* João Pernambuco compunha músicas de inspiração nordestina, baseadas em cantigas folclóricas. É o caso do hino Luar do Sertão, composto em 1911, seu maior sucesso, não creditado pelo parceiro letrista Catulo da Paixão Cearense, que ficou como o único autor.

Já autor de algumas canções e toadas sertanejas, e conhecedor de inúmeras outras do folclore nordestino, João Pernambuco conheceu Catulo da Paixão Cearense, com quem começou a compor cantigas baseadas nesse folclore, como o coco Engenho de Humaitá, de 1911, que se transformaria na famosa toada Luar do sertão, dois anos depois, e a toada Caboca de Caxangá, de 1913, sucesso no Carnaval do ano seguinte.


Inspirado numa toada que João lhe mostrara e que teria melodia do violonista, composta sobre versos populares, Catulo escreveu extensa letra para a toada Caboca de Caxangá impregnada de nomes de árvores (taquara, oiticica, imbiruçu...), animais (urutau, coivara, jaçanã...), localidades (Jatobá, Cariri, Caxangá, Jaboatão...) e gírias do sertão nordestino, daí nascendo em 1913 a embolada Caboca de Caxangá, classificada no disco como batuque sertanejo. E nasceu para o sucesso, que se estenderia ao carnaval de 1914, para desgosto de Catulo, que achava depreciativo o uso da composição pelos foliões.

Pixinguinha certificou em sua entrevista no Museu da Imagem e do Som que ele ouviu João Pernambuco tocá-la antes de Catulo colocar a letra. João e Catulo apresentavam-se juntos em reuniões da classe alta carioca.


A toada "Luar do Sertão" é um dos maiores sucessos de nossa música popular em todos os tempos. Fácil de cantar, está na memória de cada brasileiro, até dos que não se interessam por música. Como a maioria das canções que fazem apologia da vida campestre, encanta principalmente pela ingenuidade dos versos e simplicidade da melodia. Embora tenha defendido com veemência pela vida afora sua condição de autor único de "Luar do Sertão", Catulo da Paixão Cearense deve ser apenas o autor da letra.


A melodia seria de João Pernambuco ou, mais provavelmente, de um anônimo, tratando-se assim de um tema folclórico - o côco "É do Maitá" ou "Meu Engenho é do Humaitá" -, recolhido e modificado pelo violonista. Este côco integrava seu repertório e teria sido por ele transmitido a Catulo, como tantos outros temas. Pelo menos, isso é o que se deduz dos depoimentos de personalidades como Heitor Villa-Lobos, Mozart de Araújo, Sílvio Salema e Benjamin de Oliveira, publicados por Almirante no livro No tempo de Noel Rosa.


Há ainda a favor da versão do aproveitamento de tema popular, uma declaração do próprio Catulo (em entrevista a Joel Silveira) que diz: "Compus o Luar do Sertão ouvindo uma melodia antiga (...) cujo estribilho era assim: 'É do Maitá! É do Maitá"'. A propósito, conta o historiador Ary Vasconcelos (em Panorama da música popular brasileira na belle époque) que teve a oportunidade de ouvir "Luperce Miranda tocar ao bandolim duas versões do 'É do Maitá': a original e 'outra modificada por João Pernambuco', esta realmente muito parecida com Luar do sertão".

Ontem Ao Luar
Marisa Monte
Composição: Catulo da Paixão Cearense/Pedro de Alcantara.


Ontem ao luar
Nos dois em plena solidão
Tu me perguntaste
O que era dor de uma paixão
Nada respondi
Calmo assim fiquei
Mas fitando azul do azul do céu
A lua azul e te mostrei
Mostrando a ti dos olhos meus correr senti
Uma nívea lágrima e assim te respondi
Fiquei a sorrir por ter o prazer de ver
a lágrima nos olhos a sofrer
A dor da paixão não tem explicação
Como definir o que só sei sentir
É mistér sofrer para se saber
O que no peito o coração não quer dizer
Pergunto ao luar travesso e tão taful
De noite a chorar na onda toda azul
pergunto ao luar do mar a canção
Qual o mistério que há na dor de uma paixão
Se tu desejas saber o que é o amor
Sentir o seu calor
O amaríssimo travor do seu dulçor
Sobe o monte a beira mar ao luar
Ouve a onda sobre a areia lacrimar
Ouve o silêncio a falar da solidão
De um calado coração
A penar a derramar os prantos seus
Ouve o choro perenal a dor silente universal
E a dor maior que a dor de Deus
Se tu queres mais
Saber a fonte dos meus ais
Põe o ouvido na rósea flor do coração
Ouve a inquietação da melancória pulsação
Busca saber qual a razão
Porque ele vive assim tão triste a supirar
A palpitar em desesperação
Na queima de amar de um insensível coração
Que a ninguém dirá no peito ingrato em que ele está
Mas que ao sepulcro fatalmente o levará

FONTE

SITE LETRAS





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