quinta-feira, 14 de julho de 2011

Thaís Gulin


Quando era criança, a curitibana Thaís Gulin não gostava de Chico Buarque. “Eu tinha agonia dele porque ficava ouvindo suas músicas no carro com a minha mãe. Ela sempre negociava: uma do Balão Mágico e outra do Chico”, revela a cantora.

Na multidão de cantoras que assoma na MPB quase diariamente, a paranaense Thaís Gulin destaca-se de imediato. Não apenas pela voz clara de emissão segura, mas desde logo pela escolha criteriosa do repertório, com viés de vanguarda de que ela participa também como autora. (Tárik de Souza)

Surpreende, então, a estréia da curitibana Thaís Gulin, que busca um repertório nada fácil, que esbarra na vanguarda paulistana e na tropicália, ao mesmo tempo em que se mostra compositora promissora. (...) - Com boa voz, composições e escolhas, Thaís Gulin é desde já uma das grandes apostas do ano. (Bruno Yutaka Saito - FOLHA DE SÃO PAULO)


O título, "ôÔÔôôÔôÔ", pode dar a ideia que o segundo trabalho da cantora paranaense Thaís Gulin é mais carnavalesco do que realmente é - o fato da primeira música, que dá nome ao álbum, começar com o verso "eu vou cair nessa avenida" só reforça essa impressão. Mas o clima de folia é apenas um dos ingredientes deste bom disco, que ainda tem luxuosas participações especiais de Tom Zé ("Ali Sim, Alice") e Chico Buarque ("Se Eu Soubesse"). Ambos não apenas cantaram no álbum como contribuíram com músicas inéditas, feitas especialmente para Thaís.

"As participações dos dois aconteceram naturalmente", conta a cantora, modesta. Ela já havia gravado músicas dos dois em seu primeiro disco, as inesperadas "Hino de Duran" (de Chico Buarque) e "Defeito 10: Cedotardar" (de Tom Zé). "Na época, recebi feedback dos compositores que tinha gravado, eles inclusive. Como era meu primeiro disco, achei que era uma coisa normal. Depois me falaram que isso era raro", ri.

"Se Eu Soubesse" foi um oferecimento de Chico para ela. "Um dia ele simplesmente me disse 'vou fazer uma música para o seu disco'. E eu respondi 'obrigada'", lembra.


No caso de Tom Zé, foi Thaís quem pediu uma canção. "Liguei para a casa dele, disse que estava entrando em estúdio e perguntei se ele não queria participar. Alguns dias depois ele apareceu com uma música". Os créditos do disco ainda incluem uma composição de Adriana Calcanhotto ("Encantada") e uma parceria com Ana Carolina ("Quantas Bocas").


Poderia haver ainda uma faixa inédita composta por Thaís e Jards Macalé, mas ela não ficou pronta a tempo de entrar no álbum. Ela então gravou "Revendo Amigos", faixa do primeiro disco do músico carioca, de 1972. É uma versão cheia de personalidade, que mistura rock e reggae. E a colaboração entre os dois vai render mais frutos num futuro próximo. "Acabei de gravar 'Hotel das Estrelas' para o DVD que o Macalé está fazendo. Se não me engano, a direção é do Eryk Rocha (cineasta e filho de Glauber Rocha)", adianta.

  • Coincidências
Quando a música "ôÔÔôôÔôÔ" foi disponibilizada na internet, no início de março, aconteceu uma coincidência inesperada: Marcelo Camelo havia lançado, menos de uma semana antes, uma canção de nome quase idêntico, "Ô Ô". Segundo Thaís, a experiência foi "surreal e engraçada". "No princípio, eu não acreditei. Mas depois dei risada", explica. "Depois disso, comecei a acreditar que artistas realmente captam coisas no ar. Eu não sabia da música dele, ele não sabia da minha, mas mesmo assim elas aconteceram."

Thaís conta ainda que o processo de criação deste segundo disco foi completamente diferente do primeiro. "No primeiro eu ainda estava procurando minha identidade. Tanto que demorei à beça para produzir", explica. "Neste segundo foi o inverso: tinha algo preso no meu pescoço e precisava deixar sair de mim". De acordo com ela, era preciso fazer desse jeito, "por mais que todo mundo odiasse". "Se não fizesse o disco agora com essa liberdade, nunca mais teria essa chance de novo. As pessoas podem até achar que sou louca, mas precisava fazer assim."

Exagero de Thaís. "ôÔÔôôÔôÔ" é realmente um trabalho mais pessoal que seu disco de estreia, mas isso não significa que ele não seja acessível. "ôÔÔôôÔôÔ" e "Água" têm um apelo pop inegável, "Revendo Amigos" é uma bela versão de uma das obras-primas de Macalé, e "Se Eu Soubesse" e "Encantada" são composições inspiradas de Chico Buarque e Adriana Calcanhotto. Em resumo, é mais um belo representante do que a crítica vem chamando de "MPB indie".


FONTE

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