quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Ciro de Souza


Ciro de Souza (Ciro Moura de Souza), cantor e compositor, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 30/12/1911, e faleceu na mesma cidade em 06/01/1995. Filho do flautista e mestre de banda Belarmino de Souza conviveu na infância com vários músicos de choro, que frequentavam sua casa. Aos 19 anos, fez a primeira composição, um samba para um bloco carnavalesco do bairro de São Cristóvão.

Em 1933 iniciou carreira de cantor, começando também a compor para colegas como Moreira da Silva, Jaime Vogeler e Luís Barbosa. No ano seguinte, teve sua primeira música gravada, a marcha Olha pro céu.

Atuou por mais de dez anos nas orquestras de Fon-Fon, Napoleão Tavares e Simon Bountman. No Carnaval de 1938, alcançou grande sucesso com o samba Tenha pena de mim (com Babaú), gravado por Araci de Almeida.

Freqüentadores do Café Nice faziam, vez por outra, incursões a um tal Clube da Malha, que ficava num barracão no alto do Morro de Mangueira. Lá bebiam e confraternizavam com os boêmios do lugar, formando animadas rodas de samba. Como nessas reuniões bebia-se muito, estava sempre a postos um rapaz, empregado da birosca que reabastecia o grupo. Para isso tinha, a todo o momento, que descer e subir o morro, pois a birosca ficava lá embaixo.

O tal rapaz - que se chamava Waldomiro José da Rocha, mas era conhecido como Babaú (e depois Babaú da Mangueira) - tinha vocação musical e, um dia, aproveitando a presença dos visitantes, mostrou ao compositor Ciro de Souza um esboço de samba de sua autoria. Ao contrário do que acontece geralmente, o samba do principiante era muito bom: "Ai, Ai meu Deus / tenha pena de mim /(...)/ trabalho não tenho nada / não saio do miserê / ai, ai meu Deus/ isso é pra lá de sofrer...".

Então, Ciro (segundo depoimento que realizou para o Arquivo da Cidade do Rio de Janeiro, em 09.08.84) deu uma ajeitada nos versos, acrescentou-lhe uma segunda parte e logo o samba do Babaú estava fazendo sucesso no carnaval, cantado por Araci de Almeida. Tanto sucesso que até provocou um protesto de Sílvio Caldas, inconformado com o fato de Ciro de Souza ter entregue a música a Araci. Uma curiosidade: o nome original do samba era "Ai, Ai Meu Deus", que foi substituído por "Tenha Pena de Mim" por recomendação da censura, que vetava a palavra "Deus" em títulos de canções.

Ai, ai meu Deus / Tenha pena de mim!
Todos vivem muito bem / Só eu quem vive assim
Trabalho, não tenho nada / Não saio do miserê
Ai, ai meu Deus / Isso é pra lá de sofrer
Sem nunca ter / Nem conhecer felicidade
Sem um afeto / Um carinho ou amizade
Eu vivo tão tristonha / Fingindo-me contente
Tenho feito força / Pra viver honestamente

Na década de 1940, Ciro de Souza viveu sua melhor fase, quando lançou sucessos como A mulher que eu gosto, Beijo na boca, Vai trabalhar, Cho-chô e Juraci, este com o cantor Vassourinha, cujo início de carreira incentivou.


Ciro Monteiro

Lá vem a mulher que eu gosto
De braço com meu amigo
Ai, meu Deus
Até parece castigo
É uma dupla traição
Ao meu pobre coração
Eu gosto dessa malvada
E ele é meu camarada

Há muito tempo ela sabe
Que eu lhe tenho um grande amor
Preferiu o meu amigo
Fez de mim um sofredor
Ele também é culpado
Da nossa situação
Pois sabia que ela era
Dona do meu coração


Composição de Antônio Almeida e Cyro de Souza.

Desde o dia em que eu te vi, Juracy
Nunca mais tive alegria
Meu coração ficou daquele jeito, dando pinotes dentro do meu peito

Mas agora eu quero, eu quero saber, qual a sua opinião
Pra resolver nossa situação
Pode ser ou tá difícil, coração?

Eu trabalhei durante o ano inteiro
E consegui juntar algum dinheiro
Fiz uma casa que é um amor
Botei rádio, geladeira e tem ventilador

Nossa casinha lá na Marambaia
Fica a dois passos da beira da praia
E se você achar que lhe convém
Eu lhe garanto tudo isso e o céu também.

A partir da década de 1950, Ciro de Souza passou a compor esporadicamente, dando preferência às canções infantis, como o Rock do ratinho, lançado por Carequinha (George Savalla Gomes, palhaço, compositor e cantor, nasceu em Rio Bonito-RJ - 18/7/1915; e faleceu no Rio de Janeiro-RJ - 5/4/2006). Carequinha foi o primeiro a gravar um rock infantil no Brasil.

Rock do ratinho - Ciro de Souza

Era uma vez um ratinho pequenino
que namorava uma ratinha pequenina
e os dois se encontravam todo dia
num buraquinho na esquina

rock rock rock rock rock
é o rato e a ratinha namorando
rock rock rock rock rock
é o rato e a ratinha se beijando

o ratinho lhe trazia todo dia
um pedaço de toucinho fumeiro
um tiquinho de manteiga, um queijinho
e um pouquinho de manteiga no focinho

rock rock rock rock rock
é o sino da igreja badalando
rock rock rock rock rock
é o ratinho e a ratinha se casando...


Obra

Beijo na boca (c/Augusto Garcez), samba, 1940; Cabrocha bonita (c/Marino Pinto), s.d.; Cho-chô (c/Antônio Almeida), toada, 1941; Conversa pra estrangeiro, samba-choro, 1939; Duas mulheres e um homem (c/Jorge de Castro), samba, 1943; Du-vi-de-o-dó (c/Antônio Almeida), samba, 1941; Ganha-se pouco mas é divertido (c/Wilson Batista), samba, 1941; Juraci (c/Vassourinha), samba-choro, 1941; A mulher que eu gosto (c/Wilson Batista), samba, 1941; A nossa vida hoje é diferente, samba-choro, 1939; Olha pro céu, marcha, 1934; Onde é que você anda, samba, 1938; Palacete no Catete (c/Herivelto Martins), marcha, 1946; Rock do ratinho, 1961; Tenha pena de mim (c/Babaú), samba, 1938; Vai trabalhar, samba, 1942.







FONTE

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