quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Fátima Guedes


PALADAR
by Fátima Guedes

Onde foi que você perdeu sua crítica
O seu paladar?
Como foi, porquê foi que não soube me amar?
Quando eu estava perto.

O amor morre de cansaço e renasce um carinho do seu

Ressentimento de ainda estar sozinho
Mas não se engane,
Não chame, despeito de saudade

Você não perdeu nem um pouco o costume de me incomodar
Me tirar do sossego pra eu admirar
Sua infelicidade

E logo agora que eu aprendi a conviver com a minha
Eu já morei com medo de acabar sozinha
E agora você pede pra voltar... me humilha mais uma vez
Pensa que eu vou voltar
Me humilha
Por quê será que o amor se considera imune?

Você não perdeu nem um pouco o costume de me incomodar?
Me tirar do sossego pra eu admirar
Sua infelicidade

E logo agora que eu aprendi a conviver com a minha
Eu já morei com medo de acabar sozinha
E agora você pede pra voltar...
Me humilha mais uma vez
Pensa que eu vou voltar

VIDA E OBRA

Fátima Guedes (Rio de Janeiro, 6 de maio de 1958) é uma cantora e compositora brasileira.

Iniciou carreira de compositora em 1973, e três anos depois, sua música "Passional" ficou em primeiro lugar consecutivo no Festival de Música da Faculdade Hélio Alonso.


Autora de trilhas sonoras para teatro, compôs Onze fitas, para a peça O dia da caça, de José Louzeiro. Sua musica Bicho medo foi gravada por Wanderléia, e Meninas da cidade interpretada no show Transversal do tempo, por Elis Regina.


A canção "Onze fitas" (1978) foi gravada por Elis Regina no seu especial de final de ano e fez parte da trilha sonora da peça de teatro O dia da caça, de José Louzeiro. Assinou com a gravadora Odeon em 1979, que lançaria os três primeiros discos.


O primeiro sucesso radiofônico foi "Mais uma boca" (1980), que concorreu no Festival MPB/Shell.


Em 1981 lançou Lápis de cor, com a composição Arco-íris, e chamou a atenção de toda a critica musical.


Em 1983 saiu Muito prazer, em que se destaca Absinto; e, em 1985, Sétima arte, com a composição de mesmo nome. Seu CD "Pra bom entendedor...", conta com composições suas (Minha senhora e Mãos de jardineiro) e da dupla Guinga e Aldir Blanc. Tem musicas gravadas por Elis Regina (Onze fitas), Nana Caymmi (Chora brasileira), Zizi Possi, Joanna e Simone (Condenados).


O álbum Coração de louca (1988) foi um dos pioneiros do selo independente Velas, que seria lançada três anos depois pela dupla Ivan Lins/Vitor Martins, lançando ainda os três álbuns subsequentes: Pra bom entendedor... (1993), Grande tempo (1995), que teve duas canções indicadas para o extinto Prêmio Sharp de 1996 na categoria MPB, e Muito intensa (1999).

Diversos cantores têm no repertório músicas de Fátima Guedes, dentre os quais Simone, Maria Bethânia, Joanna, Zizi Possi, Leila Pinheiro, Ney Matogrosso e Nana Caymmi. Dentre as muitas composições, destacam-se: Flor de ir embora, Condenados, As pessoas, Pelo cansaço, Muito intensa, Absinto, Eu, Lápis de cor, Chora brasileira, Onze fitas, Arco íris, Passional, Cheiro de mato, A vida que a gennte leva, Lápis de cor, Muito intensa, Mais uma boca, Ar puro, A bailarina, entre outras.


O mais recente CD é Outros tons (2006), somente com canções esquecidas de Tom Jobim. A cantora e compositora Fátima Guedes recupera e trata bem temas poucos conhecidos de Antônio Carlos Jobim no cd "Todos os Tons", da gravadora Rob Digital, recriando com um misto de nostalgia e modernidade.


Nem todo mundo das novas gerações sabe que a música popular já foi uma espécie de coletânea de crônicas inspiradas no cotidiano, em que as letras surgiam nos bares, nos estúdios das rádios, nos apertamentos de quarto e sala onde artistas talentosos refletiam sobre cenas passadas, vividas, imaginadas. Outros tons, mais recente CD da cantora e compositora Fátima Guedes, apresenta exemplos raros de músicas desta época, mais exatamente no período em que barquinhos, sorrisos e flores da bossa nova ainda não eram universalmente conhecidos.

Deixando de lado a porção autoral para fazer homenagem ao grande ídolo de todos os bons ouvidos da música popular brasileira, Fátima se arma de um grupo formado nos moldes daqueles que povoavam as boates da zona Sul carioca no final dos anos 1950 e início dos 60, para recuperar 12 temas do período de formação da bossa nova. Todos compostos por um certo Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, no tempo em que ganhava a vida tocando para bêbados nem sempre atentos nos bares da vida.


Armado pelo piano de Paulo Midosi, o baixo de Ronaldo Diamante e a bateria de Élcio Cáfaro, Fátima abre os trabalhos com Na hora do adeus, um samba suingado em parceria com Vinícius de Moraes, gravado originalmente por Zezinho em 1960, que trata de amante pedindo perdão à amada e a volta a seus braços. O samba-canção Faz uma semana (Tom/João Stockler, 1953) é do tempo em que Jobim trabalhava em boate todas as noites e não tinha tempo de ver a mulher. A letra, falando da semana inteira longe da amada, vem acompanhada de uma tema que traz a carga de sofisticação melódica e harmônica típica da bossa e de Tom.


Ângela Maria foi a intérprete original de A chuva caiu, parceria com Luiz Bonfá composta em 1956, que antecipa a preocupação ecológica de obras-primas como Passarim e Matita Perê, e a versão de Fátima dá o tom delicado que certamente faltou à dramática Ângela Maria. Os mesmos autores fizeram, em 1964, o samba-canção Engano, do repertório de Dóris Monteiro. O amor é chama e tema da música, tão romântica quanto a seguinte, Incerteza (Tom/Newton Mendonça, 1953), outro samba-canção que traz como curiosidade o fato de ter sido a primeira de Jobim gravada, por Mauricy Moura.


Outro samba, Sonho desfeito (Tom/Paulo Soledade/Armando Cavalcanti, 1956), traz o jovem maestro trocando influências com dois parceiros veteranos numa música que trata de dor-de-cotovelo tratada com tempero dançante para espantar a solidão. Look to the sky (Tom, 1960), o belíssimo tema instrumental registrado no disco Wave, nasceu com letra, só conhecida na gravação que Leny Andrade fez há pouco tempo. Fátima recupera o tema, com o título original, Olha pro céu, e a letra do próprio Jobim, cheia de imagens comparando o céu e os olhos da amada, típica dos grandes standards americanos.


Maysa registrou em 1959 a belíssima canção de amor Pelos caminhos da vida, na qual a pena literária de Vinícius aparece reluzente entre estradas, ventos e horas desesperadas para viver um grande amor. O disco caminha para o final com Para não sofrer, um belo samba que havia sido gravado de maneira tradicional por Nelly Martins na fase inicial da bossa nova e que agora ganha versão mais cheia de bossa de Fátima Guedes.


O samba-canção Pensando em você foi lado B do 78 RPM de Faz uma semana, de 1953, e apresenta o letrista Jobim acompanhando seu amor ao longo dos períodos do dia. Do seminal LP Canção do amor demais saiu a penúltima faixa, a praieira Vida bela (Praia branca), outra maravilha de Tom e Vinícius, que poderia estar em Passarim ou no encontro de Tom e Edu. Ou, quem sabe, no Caymmi visita Tom.


Para fechar bem a seleção cinco estrelas, Luar e batucada (Tom/Newton Mendonça, 1957), um sambão que parece dar razão à fala de João Gilberto de que a bossa nova não é nada mais que samba. Ela mesma compositora sofisticada, Fátima Guedes acerta ao apostar na garimpagem de temas do Jobim dos primeiros e férteis tempos. E de relembrar tantas histórias e cenas que trazem doses certas de nostalgia e modernidade.

FONTE

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