domingo, 9 de janeiro de 2011

Helena Meirelles


Helena Meirelles (Campo Grande/MS, 13 de agosto de 1924 — Campo Grande, 28 de setembro de 2005) foi uma violeira, cantora e compositora brasileira, reconhecida mundialmente por seu talento como tocadora da denominada viola caipira (às vezes denominada simplesmente viola).

Helena aprendeu a tocar viola e violão sozinha, por volta dos oito anos de idade, na Fazenda Jararaca, onde vivia, ouvindo viola tocada pelos convidados nas reuniões musicais promovidas pelo avô, que era paraguaio. Seu tio Paterno Leôncio, reconhecido violeiro, foi seu grande inspirador.

Quando menina, fazia cordas de viola com a linha de carretel que pegava da mãe e reproduzia sons guardados na cabeça. Sua primeira música em família aconteceu aos oito anos, quando desafiou o tio e pediu para tocar uma música. O tio ameaçou uma surra se ela fizesse feio. Helena deixou o tio estarrecido com a sua apresentação.

Enfrentando a oposição dos pais que não a queriam tocando viola, na opinião deles, atividade que não era para mulher, teve que fugir de casa sem aprender a ler nem escrever.

Sua música é reconhecida pelas pessoas nativas do Mato Grosso do Sul, como expressão das raízes e da cultura da região. Sua primeira apresentação profissional em um teatro foi quando tinha 67 anos, e gravou dois discos em seguida.

Sua música é reconhecida pelas pessoas nativas do Mato Grosso do Sul, como expressão das raízes e da cultura da região. Desde a juventude, tocava de graça em festas, bailes e bares. Sua música é centrada em ritmos sul mato-grossenses com influências paraguaias, entre eles, chamamé, rasqueado e polca.


Já na década de 1980, foi apresentada por Inezita Barroso no programa "Mutirão", que a cantora comandava pela rádio USP de São Paulo. Inezita Barroso, nessa oportunidade apresentou a violeira tocando ao vivo e mostrando seu trabalho. Em seguida, Inezita também apresentou a violeira em seu programa "Viola, minha viola", na TV Cultura. Na passagem dos anos 1980/90, gravou uma fita que não recebeu grande atenção em diversas rádios.


Em 1992, se apresentou ao lado de Inezita Barroso e da dupla Pena Branca e Xavantinho no Teatro do Sesc, em São Paulo. Mas seu reconhecimento seria pontificado em 1993, quando a revista norte-americana Guitar Player a escolheu como Instrumentista Revelação do Ano, com o Prêmio Spotlight, depois que um sobrinho enviou para lá a fita com gravações feitas em um pequeno estúdio.

A revista americana Guitar Player (com voto de Eric Clapton), como uma das 100 melhores instrumentistas do mundo, por sua atuação nas violas de seis, oito, dez e doze cordas.

Nesse mesmo ano tocou num show em São Paulo com a dupla Tonico e Tinoco. A partir daí, tornar-se-ía também notoriedade para os noticiários em geral, sendo localizada na cidade onde vivia há muitos anos no Mato Grosso.

Em 1994, ano em que completou 70 anos, a gravadora Eldorado lançou seu primeiro CD, "Helena Meirelles". Neste CD, interpretou composições de sua autoria, como "Fiquei sozinha" e "Quatro horas da madrugada", o clássico "Chalana", de Mário Zan e Arlindo Pinto, e "Araponga", de domínio público.

Também conta "causos" vistos e vividos na Fazenda Jararaca. No mesmo ano, a revista Guitar Player publicou um poster em que a incluiu entre as 100 melhores palhetes do mundo em todos os tempos, ao lado de nomes como B. B. King, Eric Clapton, Keith Richards e Jimi Hendrix.

Em 1995, foi convidada especial do Festival de Música do Mercosul, realizado no Palácio Popular da Cultura, em Campo Grande, partindo o convite da Secretaria de Cultura do Mato Grosso do Sul.

Em 1996, foi lançado seu segundo CD, "Flor de guavira", no qual interpretou, entre outras, "Saudades do meu velho pai" e "Chuíta", de sua autoria. No ano seguinte, foi lançado "Raiz pantaneira", no qual toca junto com Sérgio Reis a composição "Guiomar", de Haroldo Lobo e Wilson Batista. Interpretou ainda "Epitaciana", de sua autoria. Em seus shows, tocava violão e viola, acompanhada do filho Francisco e do primo Aílton.

Em 1998, foi uma das atrações da Expo Mercosul, em Canelas, no Rio Grande do Sul. Em 1999, apresentou-se no show do Dia das Mulheres, em Campo Grande, no Mato Grosso. Com a fama e o prestígio obtidos a partir da reportagem na revista Guitar Player, ficou hospedada no Hotel Othon, em São Paulo, em temporada, por conta da gravadora Eldorado. Seus discos, todos os três em catálogo, já venderam mais de 80 mil cópias.

Em 2002, gravou CD ao vivo durante o show "Helena Meirelles volta à estrada pantaneira", em Campo Grande, MS, lançado pela gravadora Sapucay, no qual interpretou canções inéditas e canções de seus discos anteriores. No mesmo ano apresentou-se no Sesc Tijuca no Rio de Janeiro durante o Festival de Música Latino Americana.

Um curiosidade nas composições da Dama da Viola, como ficou conhecida, é que ela não se preocupava em dar nome às músicas que fazia, o que era feito pelo filho, o violonista Francisco da Costa Machado, que a acompanhava nos shows. Seu talento e fama de grande violeira, mereceu o reconhecimento de mestres como Roberto Correia e Almir Sater.

Em 2003, lançou no Rio de Janeiro, seu quarto CD, "Ao vivo - De volta ao Pantanal", com oito música inéditas, com destaque para "Flor pantaneira" e "Samba do Zé".

Em 2004, foi protagonista do filme "Helena Meirelles, a dama da viola", um documentário em longa metragem do cineasta Francisco de Paula, que contou com narração do ator Rubens de Falco e traçou a trajetória da instrumentista, percorrendo vários episódios de sua vida.

As filmagens começaram em 2001 e o filme ficou pronto em janeiro de 2004, estreando no dia do aniversário da violeira, 13 de agosto, em Campo Grande, cidade onde nasceu. A trilha sonora foi escolhida por ela própria, e não sofreu intervenção alguma da direção. O filme foi aplaudido de pé, após sua exibição na mostra Prèmiere Brasil, no Festival Rio de Cinema, ocorrida no Cine Odeon, no Rio de Janeiro e também participou do Festival de Trieste, na Itália.

Em novembro do mesmo ano, o filme foi exibido no Cineclube Directv 2, na 28a. Mostra BR de Cinema, sendo encaminhado, em seguida, para participar do festival de Brasília e Cuba. O filme teve um orçamento perto de R$ 300 mil e levou quase seis anos para ficar pronto.

Ainda em 2004, participou da coletânea "Os bambas da viola", lançada pela Kuarup, que reuniu, num CD, 6 renomados violeiros, para representar a viola das regiões do Brasil. Nesse album, além dela, o CD traz as violas de Renato Andrade, Almir Sater, Haroldo do Monte, Roberto Corrêa e Chico Lobo.

Nesse álbum, interpretou duas canções de domínio público, "Guaxo", na qual tocou viola, e contou com participações de Milton Araújo, no violão e baixo, Francisco Machado e Montanhês nos violões; e "Tropeiro", na qual tocou viola e contou com participações de Francisco Machado no violão e Pedrão no baixo.

Seu falecimento, em 2005, repercutiu como perda de um patrimônio cultural, levando a seu sepultamento inúmeras personalidades ligadas à viola e violeiros, que tocaram juntos, num concerto improvisado, em sua homenagem.

Nessa ocasião, vários deles deram declarações, atestando a importância da violeira, entre eles, Almir Sater, Pereira da Viola, Rolando Boldrin e o violeiro pesquisador Roberto Corrêa que disse em entrevista ao Jornal do Brasil: "Helena representava aquela região fronteiriça do Paraguai, norte da Argentina e o Mato Grosso do Sul, que culturalmente é uma região só, repleta de estilos como a polca, os chamamés, as guarânias e os rasqueados. Ela trazia os sons da fronteira, do ermo, de um lugar desconhecido. Sua maneira de tocar era simples, mas sua música não".

Helena Meirelles foi casada três vezes, a primeira, aos dezesete anos, separando-se com dois filhos. Aos 21, casou-se pela segunda vez, ficando 32 anos desaparecida da família. Teve onze filhos paridos sem auxílio algum, com uso apenas dos ensinamentos que teve dos índios caiapós, com quem conviveu na infância, seus parentes por parte da mãe... Viveu 40 anos com seu terceiro marido, Constantino Machado, violonista que a acompanhava em suas gravações e apresentações, vivia no Pantanal com ele e um de seus filhos. Faleceu aos 81 anos, de complicações decorrentes de uma pneumonia, em setembro de 2005, após duas semanas de internação na Santa Casa de Campo Grande/MS.

Em agosto de 2006, o longa- metragem "Helena Meirelles, a dama da viola" entrou em cartaz no Cinemark, em Campo Grande, marcando a aproximação do aniversário de falecimento da violeira. Tendo sido apresentado em mais de 20 festivais e ganhado cópia legendada em francês, quando participou do ano Brasil-França em 2004, o documentário, que mostra a cultura sul-mato-grossense para o mundo, foi indicado para participar, em 2006, de mais duas mostras internacionais: o Festival de cinema brasileiro em Londres e Festival da América Latina em Paris.

O Cinemark colocou o filme em sua programação oficial, com uma sala exclusiva e seis sessões diárias, a ser apresentado por seis semanas em Campo Grande, seguindo, depois para Brasília e interior de São Paulo.


Álbuns

1994 - Helena Meirelles
1996 - Flor de guavira
1997 - Raiz pantaneira
2002 - Ao vivo (também conhecido como De volta ao Pantanal)
2004 - Os bambas da viola (CD com a participação de Helena Meirelles)



Filme

Helena Meirelles, a dama da viola


FONTE


Um comentário:

Miguelito Blanco disse...

Buenísimo!!! Felicitaciones!!! Nunca me canso de escucharla!!!