Grupo vocal formado no Rio de Janeiro em 1942, Os Cariocas fizeram escola na arte de cantar música popular em vocal, misturando polifonia e efeitos rítmicos, fazendo grande sucesso com o repertório de bossa nova, e a maneira inovadora de interpretar o estilo.
Influenciados por outros grupos vocais como o Bando da Lua, Anjos do Inferno e Quatro Ases e Um Coringa, Os Cariocas estrearam no programa de calouros de Renato Murce, na Rádio Mundial, o estilo arrojado do grupo não conseguiu vencer um assobiador (excelente, por sinal) e teve que contentar-se com o segundo lugar.
Samba de Verão
Renato Murce, extraordinário descobridor de talentos, percebeu que ali estava um conjunto destinado ao sucesso. Recomendou nova inscrição e aí deu-se o esperado: Os Cariocas tiveram sua primeira vitória, logo seguida de outra, no programa que reunia os vencedores de cada mês; sendo então contratados pelo diretor da Rádio Nacional, Radamés Gnattali, em 1946 para participar do programa Um Milhão de Melodias.
A versatilidade do conjunto permitia-lhe integrar os vários tipos de programação da emissora, apresentando-se tanto nos programas de estúdio, como: "Um Milhão de Melodias", "Canção Romântica" e "Quando canta o Brasil" quanto os de auditório, como o Cesar Alencar , o Manoel Barcelos e o Paulo Gracindo.
Os Cariocas" iniciou sua participação no cenário fonográfico, gravando seu primeiro disco na gravadora Continental, um 78 rpm com "Adeus América", de Haroldo Barbosa e Geraldo Jaques e "Nova Ilusão", de José Menezes e Luiz Bittencourt, que teve grande sucesso, tanto que as canções se tornaram clássicos da música popular brasileira, intepretados até hoje por artistas famosos.
Outros discos foram produzidos na mesma gravadora, obtendo o mesmo êxito. "Cadê a Jane?", "Sinceridade" e "Juazeiro" destacaram-se também nessa fase na Continental. Sob o mesmo selo, Os Cariocas se juntaram à famosa Marlene e produziram "Qui nem Giló" e "Macapá", de Luiz Gonzaga e Humberto. As apresentações desses números ao vivo movimentaram o auditório da Rádio Nacional.
O conjunto foi, em seguida, contratado pela RCA Victor onde, entre vários discos de sucesso, lançou "Podem Falar", uma das primeiras gravações da grande dupla Ismael Neto e Antonio Maria. Ismael Neto firmou-se logo como compositor de prestígio, produzindo jóias, como "Marca na Parede", com Mário Facini, e "Canção da Volta" e "Valsa de uma Cidade", com Antonio Maria.
Os Cariocas ficaram na Rádio Nacional por 20 anos. Ismael Neto, um de seus fundadores (ao lado de Severino Filho, Salvador e Tarquínio), passou a compor nos anos 50, produzindo sucessos como "Valsa de uma Cidade", com Antônio Maria, sendo o principal arranjador do grupo. Quando Ismael faleceu, aos 30 anos, os arranjos passaram a ser assinados, em sua maioria, por Severino Filho, seu irmão.
Os Cariocas tiveram o privilégio de gravar essas e outras músicas de grande beleza de seu lider. "Valsa de Uma Cidade" inegavelmente divide com "Cidade Maravilhosa" as honras de hino de sua cidade.
Na RCA, Os Cariocas também se destacaram com o lançamento de músicas típicas do período junino, como "La vem a Rita" e "Botaram fogo na bomba", de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira.
Também na Victor foi gravada a valsa "O último Beijo", de Ismael Neto e Nestor de Holanda. Essa melodia, de beleza extraordinária, ganhou de Ismael arranjo vocal tão singular, que Flávio Cavalcanti colocou a gravação como prefixo de seu famoso programa "Discos Impossíveis". Convidado, mais tarde, a ingressar na Sinter, que detinha o selo Capitol no Brasil, o conjunto manteve o lançamento de músicas juninas, como "Baile na Roça", do próprio Ismael Neto e "Pula Fogueira", da famosa dupla Haroldo Lobo e Milton de Oliveira.
Entre outras gravações de Os Cariocas nesse selo, destaca-se o grande sucesso "Tim-tim por tim-tim", de Haroldo Barbosa e Geraldo Jaques, talvez o número pioneiro do ingresso do grupo na bossa nova, gravado, mais tarde, por outros artistas, entre os quais João Gilberto, que, dando ao número as nuances de seu famoso estilo, manteve, contudo, as linhas principais do arranjo de Ismael.
Tim-tim por tim-tim
Os Cariocas regravaram esse número em fase posterior - e o apresentam até hoje em seus shows - com Severino Filho, atual arranjador do grupo, acrescentando seu toque pessoal no trabalho original e transformando-o, assim, em obra "a quatro mãos", dos dois irmãos.
Nessa segunda formação com Severino Filho e Hortensia Silva - irmã de Severino e Ismael, o conjunto manteve seu vínculo com a Rádio Nacional e, de imediato, prestou homenagem a seu fundador e ex-lider, gravando LP antológico, denominado "Os Cariocas a Ismael Neto" , com arranjos vocais e orquestrais de Severino Filho para doze composições de seu irmão. O lançamento se deu pela Columbia, mais tarde CBS.
Na Columbia, sob a direção do produtor Roberto Corte Real, o conjunto foi praticamente obrigado a fazer infrutíferas tentativas de ingressar em um gênero cujas características não condiziam com seu estilo. Assim, sob a égide do argumento de que o disco é afinal produto de indústria a ser comercializado ("a cultura, a arte e a beleza são considerados dados anti-comerciais", já na época), Os Cariocas cometeram faixas como "Born too late" "Cha-cha-cha baiano" (número engraçado que até fazia grande sucesso nos programas de auditório) e "Always and Forever", classificada no selo do disco como "rumba-calipso".
Esses dados talvez não fossem importantes se o conjunto não tivesse conseguido colocar do outro lado de um desses 78 rpm nada mais nada menos que "Chega de Saudade", de Tom e Vinicius, com João Gilberto ao violão. Foi uma das primeiras gravações desse famoso hit do gênero bossa nova que iniciava a sua trajetória vitoriosa, no Brasil e no exterior. E foi com ela que Os Cariocas deram seu passo definitivo em direção à bossa nova.
Contudo, isso não evitou a saída do conjunto do elenco da Columbia. Os Cariocas voltaram, então, à sua primeira gravadora, a Continental, onde gravaram "Criticando", primeira gravação de Carlos Lyra, com o clássico "Foi Ela", de Ary Barroso, do outro lado do 78 rpm.
Antes da volta, porém, o grupo foi convidado a gravar na Mocambo, com sede em Recife, uma música que Billy Blanco tinha recentemente composto e que versava sobre a mudança da capital do país para Brasília. O estilo irreverente do grande compositor - co-autor da "sinfonia do Rio de Janeiro", com Tom Jobim, de cuja gravação, na Continental, Os Cariocas também participaram - produziu gostoso samba , com versos de muita graça: "Eu não sou índio nem nada - não tenho orelha furada - nem uso argola pendurada no nariz - não uso tanga de pena - e a minha pele é morena - do sol da praia onde nasci e me criei feliz - não vou, não vou prá Brasilia - nem eu nem minha família - mesmo que seja prá ficar cheio da grana - a vida não se compara - mesmo difícil e tão cara - quero ser pobre sem deixar Copacana".
A Continental e a Columbia, lançaram compilações dos trabalhos de Os Cariocas. A série "Mestres da MPB" mostra um resumo de todo o trabalho do grupo na gravadora, com um CD de 21 gravações. Já a Columbia ficou no vinil, com um LP de 14 trabalhos.
Hortensia Silva resolveu deixar o grupo em fins de 1959, tendo Severino Filho optado por continuar com o quarteto restante , que teve a primazia de gravar "Zelão", famosa composição de Sérgio Ricardo.
Destacou-se também nessa fase a gravação de "Tudo é bossa", hilariante composição de Miguel Gustavo e Alcir Pires Vermelho, glosando a polêmica estabelecida na época sobre o gênero então emergente, e "Preto-Velho Bossa Nova", de Norival Reis e Jorge Duarte, sobre o mesmo assunto. Essas gravações foram ainda sob o selo Continental.
Em 1962, o conjunto recebeu convite de Aloisio de Oliveira para participar de show na boate "Au Bon Gourmet", ao lado de Tom Jobim, Vinicius de Moraes e João Gilberto. O convite foi logo aceito, mas uma substituição forçada teve que ser feita na formação, pois Waldir Viviani adoecera e não poderia estar apto na data de estréia do espetáculo. Assim, Luiz Roberto, cantor, vocalista, violonista e contrabaixista, foi chamado a compor o grupo que integrou o elenco do show "O Encontro", o qual teve, ainda, Milton Banana na bateria e Otávio Bailey no contra-baixo.
Tom, Vinicius, João Gilberto & Os Cariocas - Garota de Ipanema / Devagar com a Louça
O extraordinário espetáculo de 45 dias apresentou pela primeira vez em público canções que se tornaram verdadeiros cartões de visita da música popular brasileira, como: "Samba do Avião", "Samba de uma nota só", "Só danço samba", "Corcovado", "A benção", "Garota de Ipanema", e outras.
Samba do Avião
O conjunto já ingressara no elenco da gravadora Philips. Waldir Viviani cedera sua posição definitivamente a Luiz Roberto. Severino Filho promoveu, então, a reformulação na estrutura instrumental do conjunto. Assumiu ele próprio o piano, com Badeco permanecendo no violão.
Luiz Roberto encarregou-se da parte de contrabaixo, ficando Quartera com a seção ritmica, caixa, pratos e contra-tempo. A estrutura vocal foi mantida e, assim, Os Cariocas gravaram o LP "A Bossa dos Cariocas" o primeiro de uma série de seis "Mais Bossa com Os Cariocas", "A Grande Bossa dos Cariocas", "Os Cariocas de 400 bossas" (400 anos do Rio de Janeiro), "Arte/Vozes" e "Passaporte".
Ela é Carioca
Nesses discos foram lançadas canções do gênero Bossa Nova que se tornaram famosas e mantêm-se até hoje muito executadas em todo o mundo, exemplos seguros de músicas não descartáveis. Nesse grupo de jóias da música popular brasileira que o conjunto "Os Cariocas" se orgulha de haver criado em disco, destacam-se:
Prá que chorar - (Baden e Vinicius)
Rio - (Menescal e Boscoli)
Samba de uma Nota só - (Tom Jobim e Newton Mendonça)
Samba do Avião - (Tom Jobim)
Só danço samba - (Tom Jobim e Vinicius)
Desafinado - (Tom Jobim e Newton Mendonça)
Vivo Sonhando - (Tom Jobim)
Ela é Carioca - (Tom e Vinicius)
Também quem mandou - (Carlos Lyra e Vinicius)
A minha Namorada - (Carlos Lyra e Vinicius)
Inútil Paisagem - (Tom Jobim e Aloisio de Oliveira)
Só tinha de ser com você - (Tom Jobim e Aloisio de Oliveira)
Domingo Azul - (Billy Blanco)
Preciso Aprender a ser só - ( Marcos e Paulo Sérgio Vale)
Samba da Pergunta - (Pingarilho e Marcos Vasconcelos)
Tim-Tim por Tim-Tim - (Haroldo Barbosa e Geraldo Jaques)
Samba de Verão - (Marcos e Paulo Sérgio Vale)
Roda Gigante - Se não a primeira, uma das primeiras músicas de CHICO BUARQUE gravadas.
Telefone - (Menescal e Boscoli)
O sucesso dessas e outras gravações de Os Cariocas nesse período, iniciado em 1962 e estendido a 1967, deveu-se, além, claro, da beleza das obras, à originalidade das interpretações e dos arranjos, esses muito seguidos pelos artistas que incluiram esses números em seu repertório.
A Philips foi sucedida pela Poligram que, recentemente, passou a denominar-se Universal. A empresa, consciente da importância dessas gravações na história da música popular brasileira, tem lançado várias compilações em CD, algumas até no exterior, como o recente lançamento em Tóquio do CD "A Bossa dos Cariocas".
Os Cariocas eram participantes obrigatórios de espetáculos de bossa nova, em universidades e, principalmente, no famoso Beco das Garrafas, de onde saíram inúmeros músicos e intérpretes de grande sucesso e prestígio, como Elis Regina. Com esse ícone da nossa música, o conjunto atuou seguidamente no programa "O Fino da Bossa", da TV Record.
Elis adorava participar dos números interpretados pelo conjunto, quase sempre passando a incluí-los em seu repertório. Na coleção de 3 CDs recentemente lançada pela gravadora Velas com gravações originais de Elis no "Fino da Bossa", Os Cariocas estão presentes, com a fabulosa companhia do gênio, no arranjo original de "Telefone", de Menescal e Boscoli.
O sucesso dessa fase de Os Cariocas estendeu-se ao exterior, com várias viagens à Argentina para atuações em boates e televisão. Em 1965, o conjunto iniciou em Porto Rico uma excursão que se prolongaria a Nova York e Washington, com atuação em memorável show no Carter Barron, anfiteatro de 4000 lugares, do qual participaram também Astrud Gilberto e Paul Anka.
Em Nova York, Os Cariocas foram convidados a participar do famoso "To-Night Show", de Johnny Carson, na NBC, tendo voltado na semana seguinte , tal o sucesso alcançado. Os integrantes do grupo se recordam com orgulho dos entusiásticos aplausos recebidos dos componentes da famosa orquestra de Skitch Henderson, que estava atuando no programa "talk-show", pioneiro do gênero, era assistido por 35 milhões de tele-espectadores, de costa a costa dos Estados Unidos, o que constituia uma fábula para a época.
Nessa ocasião, o conjunto foi apresentado ao fabuloso Quincy Jones, a quem deu uma audição particular nos estúdios da Mercury. Resultou desse encontro, o lançamento de Os Cariocas em disco nos Estados Unidos, com o LP "Introducing The Cariocas", com uma seleção de bossa nova produzida por Quincy Jones, que declarou na contra-capa "The Cariocas" - a fresh new sound from Brazil - the first vocal quartet blending bossa nova rhythms and melodies with modern jazz harmonies".
De volta ao Brasil, o conjunto acertava com o empresário Monte Kay e produtores de discos a gravação de um novo LP em que as canções seriam apresentadas inicialmente em português, seguindo-se versão em inglês, a fim de torná-lo mais digerível pelo público norte-americano, quando surgiu a oportunidade de uma grande excursão pelo México.
A temporada foi iniciada na cidade do México no início de 1967 e vinha obtendo grande sucesso de público e de crítica, quando teve que ser interrompida por problemas de saúde. Após 30 dias de atuação no Salón Carnaval do Sheraton, com grande público, o grupo regressou ao Brasil. As atividades só puderam ser reiniciadas seis meses depois. Em julho de 1967, Os Cariocas gravaram no canal 11 de Buenos Aires quatro programas, mostrando toda a beleza da nova música popular brasileira que conquistava o mundo.
Um novo recesso, destinado a durar pouco tempo, acabou inesperadamente estendendo-se por 21 anos. É explicável: os integrantes dedicaram-se individualmente a outras atividades e a retomada dos trabalhos do conjunto se tornou cada vez mais difícil.
No final de 1987, Badeco comunicou aos integrantes do conjunto que o grande pianista Alberto Chimeli havia bolado uma harmonia extraodinária para o sucesso "Da cor do pecado", de Bororó. Chimeli convidava o pessoal para uma ida a sua casa em Ipanema para ouvir a criação e declarava que tinha um sonho: ouvir aquela harmonização nas vozes de Os Cariocas.
Ao ouvir os acordes que Chimeli tinha destinado àquela linda canção de Bororó, Severino Filho entusiasmou-se e rapidamente preparou o arranjo vocal com base neles. Era o impulso que faltava. O número foi aprovado com distinção, pois, além da beleza, serviu também para a verificação de que as vozes ainda estavam em forma. Iniciaram-se, assim, os ensaios para a volta de Os Cariocas.
Os primeiros meses de 1988 destinaram-se a intensivos ensaios, pois não é da noite para o dia que se consegue reensaiar arranjos vocais como os de Os Cariocas, depois de uma parada de 20 anos.
A volta aos palcos aconteceu em setembro de 1988 na boate Jazzmania, em Ipanema, local especializado na apresentação de nomes famosos do jazz e da bossa nova. Diante da casa superlotada, Os Cariocas fizeram desfilar seu repertório de clássicos da bossa nova, além, claro, do arranjo de "Da Cor do Pecado", arranque decisivo da volta.
O sucesso foi tão grande que os três dias programados não foram suficientes para atender à grande demanda. Em consequência, o Jazzmania abriu espaço em sua concorrida agenda para programar duas semanas no mês seguinte.
No dia 20 de outubro, abriu-se a nova temporada de Os Cariocas. Tudo corria maravilhosamente, casa novamente superlotada, muitos aplausos. Houve o intervalo, o grupo iniciou o segundo set e, na quarta música, Tema para Lúcia, uma homenagem de Severino Filho à sua filha, a grande atriz Lucia Veríssimo, Luiz Roberto pediu inesperadamente um novo intervalo, concedido sob aplausos. Luiz dirigiu-se ao camarim, seguido pelos demais músicos do grupo e por dois médicos que se encontravam na platéia, um deles seu cardiologista assistente. Dez minutos depois morria Luiz Roberto.
A notícia apareceu na primeira página dos principais jornais do país do dia 21. O Globo fez a manchete "No camarim, a morte de Luis, um 'Carioca'. Na primeira página do Segundo Caderno, Diana Aragão escreveu "Um dos melhores shows deste ano", Ruy Castro, na primeira página do Caderno 2 de O Estado de São Paulo, noticiou " O silêncio na canção da volta dos Cariocas. O coração traiu Luiz Roberto no palco do Jazzmania, Rio, na volta do mais influente conjunto vocal da MPB depois de um afastamento de 21 anos". E lançou a pergunta: e agora?
Edson Bastos, exímio contrabaixista e vocalista, assumiu a posição deixada por Luiz, pois sentia-se a avidez do público em continuar a deliciar-se com a arte de Os Cariocas.
Iniciou-se, então, a fase da 5 ª formação de Os Cariocas , sem o extraordinário talento de Luiz, mas com a vontade de todos de manter o padrão de qualidade que trouxe ao conjunto o prestígio e o sucesso.
O Jazzmania não abriu mão de apresentar a "volta da volta", que aconteceu em julho de 1989. A ressurreição aconteceu e empolgou, quando se verificou que o mito Os Cariocas mantinha o mesmo padrão de técnica e inspiração que o consagrara. Shows foram agendados em todo o Brasil, tal a curiosidade criada em torno da volta e dos acontecimentos que determinaram o início da nova fase.
Em setembro de 1990 o conjunto foi convidado a fazer uma apresentação no Memorial da América Latina, em São Paulo, acompanhado pela Orquestra Jazz Sinfônica da Universidade Livre de Música.
Os maestros Severino Filho, Luiz Arruda Paes, Edson José Alves e Cyro Pereira prepararam magníficos arranjos orquestrais para "Adeus, América", "Minha Namorada", "Ela é Carioca", "Águas de Março", "Sampa" e "Trem das Onze" (transformado em trem-bala, segundo a crítica).
Além dos arranjos de acompanhamento do conjunto, Severino Filho apresentou magnífico arranjo orquestral reunindo "Corcovado" e "Valsa de uma Cidade". Por fim, Os Cariocas cantaram à capela o clássico "Insensatez", de Tom e Vinicius. Foi noite memorável em que cerca de dois mil apreciadores de boa música puderam deliciar-se e aplaudir de pé um espetáculo de primeira classe.
Em julho de 1990, o Centro Cultural Banco do Brasil convidou o conjunto para um show de grande repercussão: homenagem a Vinicius de Moraes pela passagem do décimo aniversário da sua morte. O espetáculo foi de beleza extraordinária, com o desfile das lindas canções do grande poeta que Os Cariocas tiveram o privilégio de gravar. Foi apresentada com grande emoção, uma canção quase inédita que Carlos Cola e Mauricio Duboc compuseram no momento em que tiveram notícia do falecimento de Vinicius.
Em 1992, Os Cariocas conquistaram mais um prêmio Sharp, com o disco "Reconquistar", que teve a participação de Tom Jobim (Bebel) Caetano Veloso (Sampa), Ivan Lins (Reconquistar) João Bosco (Terra Dourada) e Guilherme Arantes (Vôo - São Conrado).
O repertório compunha-se, ainda, de "Luiza", de Tom Jobim," Amei Demais" de Cartier e Marco Aurélio, "O Sol Nascerá", de Cartola e Elton Medeiros, "Capim", de Djavan, "Vagamente", de Menescal e Boscoli, "Tarde em Itapoã", de Toquinho e Vinicius, "Tema do Bill", de Severino Filho, "Travessia", de Milton Nascimento e "Pretaporter de Tafetá", de João Bosco e Aldir Blanc. O disco foi lançado também nos Estados Unidos e, embora esteja fora de catálogo no Brasil, pode ser encontrado à venda pela Internet.
Em outubro de 1993, o conjunto apresentou-se na Sala Cecília Meireles, com a Orquestra Brasileira Luiz Eça, dirigida por Marinho Boffa, em outro espetáculo de grande repercussão.
A convite do produtor Almir Chediak, Os Cariocas tem tido participação constante nos CDs anexos aos songbooks de nomes famosos da música popular brasileira: Ary Barroso, Noel Rosa, Vinicius de Moraes, Antonio Carlos Jobim, Dorival Caymmi, João Donato e Chico Buarque de Holanda (recentemente . No CD da obra de Ary Barroso, foi gravado o famoso samba exaltação "Brasil Moreno". "Palpite Infeliz" foi o número selecionado para o CD de Noel Rosa.
Para o poema inédito de Vinicius de Moraes, musicado por João Bosco, o "Samba do Pouso ", Os Cariocas juntaram-se a Bosco. No CD de Caymmi, a famosa "Saudade da Bahia". A participação de Os Cariocas nos CDs de João Donato , "Lua Dourada", e Chico Buarque de Holanda ,"Pois é", de Chico e Tom, foi com a formação atual.
A gravação do grupo no CD de Antonio Carlos Jobim, "Chansong", está comentada em outro local. Em setembro de 1994, o conjunto assumira o compromisso de apresentar-se no baile anual "Parece que foi 'Hontem'", no Clube Monte Líbano, e tinha um problema: Badeco estava temporariamente impossibilitado de cantar.
Eloi Vicente, músico polivalente, fazia suas apresentações no Álibi, no centro do Rio, quando foi convidado para a "missão' de, provisoriamente, substituir Badeco. Num curtíssimo espaço de tempo, o repertório foi ensaiado e o conjunto pôde apresentar-se com grande sucesso no show do baile. Cabe aqui uma explicação: Eloi, por ser filho de Aloisio Teixeira e Nininha, irmã de Quartera, ouvia e admirava Os Cariocas desde criança. As músicas e os arranjos do conjunto eram-lhe familiares, literalmente.
Em fins de 1994, a Prefeitura do Rio de Janeiro homenageou mestre Cartola com um show na praia do Leme, no Rio. Os Cariocas, ainda com Eloi Vicente no lugar de Badeco, foram convidados a estrelar o evento.
A música de Cartola, com melodias e harmonias riquíssimas, veio ao encontro do estilo do conjunto, que já havia gravado "O Sol Nascerá", do mestre com Elton Medeiros. Preparou-se, então, uma seleção primorosa para o espetáculo, que teve a participação de Zé Renato, grande cantor e vocalista do grupo "Boca Livre". Uma das canções apresentadas, "Cordas de Aço", está gravada no último trabalho em disco do conjunto, "A Bossa Brasileira".
Em 1995, nova baixa, desta vez, felizmente, não por doença: Edson Bastos deixou o conjunto. Por sorte, a saída de Edson coincidiu com a recuperação de Badeco, que já estava apto a reassumir o violão e a segunda voz. A partir daí, Eloi ganhou a "vaga de titular" no grupo, desta vez, porém, em outra posição: tocando contrabaixo e fazendo a quarta voz.
Com Eloi, Severino, Quartera e Badeco, o conjunto fez alguns shows pelo Brasil e gravou para a Lumiar, em um dos CDs da obra de Tom Jobim, "Chansong", original composição do grande maestro, em um arranjo especial de Badeco e Severino.
Foi o último e excelente trabalho de Badeco para Os Cariocas. Quando se pensava que a nova formação, com Eloi e Badeco, estaria fadada a estabilizar-se e prosseguir com a carreira de Os Cariocas, nova saída, também, felizmente, voluntária e por motivos particulares, desfalcou o grupo. Figura tradicional, de grande carisma, além da competência musical, Badeco deixou lacuna de difícil preenchimento.
A velha máxima entrou outra vez em ação. O show deveria continuar, mas como? A procura foi intensa. Eloi poderia tocar o violão ou o contrabaixo, mas deveria ser mantido na quarta voz, mais adequada ao seu timbre. Era necessário encontrar um violonista ou contrabaixista com tessitura igual ou aproximada à de Badeco.
Neil Carlos Teixeira, quase perdeu a oportunidade de fazer seu teste em face de sua pouca idade. Temia-se que o tão falado choque de gerações pudesse impedir o relacionamento de músicos jovens com outros de idade mais avançada. No entanto, o encaixe foi perfeito. Neil, estudante universitário de música, também professor, contrabaixista competente, vocalista de timbre semelhante ao de Badeco, adaptou-se tão bem ao estilo de trabalho do conjunto que firmou a formação que se encontra em atividade até os dias presentes.
Ainda em 1995, Severino Filho, Eloi Vicente, Neil Teixeira e Jorge Quartera, foi o CD "Amigo do Rei", com Tim Maia. Com a formação anterior, o grupo já havia gravado uma faixa em um dos discos do fabuloso artista, o samba "Tem dó", de Baden Powel e Vinicius de Moraes.
A partir daí, Tim ligava constantemente para as casas de Severino, Badeco e Quartera, às vezes alta madrugada, manifestando sempre seu desejo de fazer um trabalho completo com o grupo. O desejo passou à realidade em 1996, com o lançamento do disco que teve a parceria atuando em faixas do repertório de Tim Maia e dos Cariocas e duas canções inéditas:
"Amigo do Rei", de Lenine e Braulio Tavares e "Ter Você é Ter Razão", de Dominguinhos e Climério. "Essa Tal Felicidade", "Ela é Carioca", "Lindeza", "Não quero Dinheiro, só quero amar", "Telefone", "Samba do Avião", "Azul da Cor do Mar" e "Valsa de uma Cidade", completam o repertório do CD.
Com a morte de Tim, interrompeu-se uma parceria que certamente renderia muitos frutos, movida por uma grande admiração mútua.
Para os integrantes de Os Cariocas, restou o prazer de gravar com o fabuloso cantor, seu convívio agradável e divertido e a verificação de que Tim Maia era um ser humano de extrema bondade.
Em novembro de 1996, o conjunto foi convidado pela Embaixada Brasileira em Assunção, Paraguai, para inaugurar o Teatro Tom Jobim, nas dependências da própria Embaixada. Um show com as canções mais representativas da música popular brasileira lotou o teatro, com 400 lugares, em platéia composta na sua grande maioria por público paraguaio. No ano seguinte, o conjunto voltou ao teatro, atendendo a pedidos, em face do sucesso da inauguração.
Em 1997 foi lançado o CD "A Bossa Brasileira", disco considerado por muitos seu melhor trabalho e indicado para mais um prêmio Sharp. O objetivo da seleção do repertório desse CD foi incursionar por vários gêneros de música do Brasil, no próprio estilo vocal de Os Cariocas, sem deixar de lado, claro, a bossa nova.
"Brisa do Mar", gostosa composição no estilo latino de João Donato, "Diz que fui por aí", samba de muito sucesso de Zé Keti, "Choro da Bossa", composição de Severino Filho, reunindo dois dos gêneros musicais mais cariocas, o chorinho e a bossa nova. "Descobridor dos Sete Mares", grande sucesso de Tim Maia, numa interpretação à capela. "Cordas de Aço", extraordinário poema de Cartola. "Haja Fôlego", forró de Dominguinhos e Nando Cordel. "Pressentimento", clássico de Elton Medeiros e Hermínio Belo de Carvalho, aliás, autor do excelente texto do encarte. "Eu te amo", famosa valsa de Chico Buarque e Tom Jobim, tema do filme do mesmo nome.
Completam o CD outros arranjos com a marca de Os Cariocas, com destaque para "Moshi Moshi", de Marcos Valle, o samba de verão do Japão e "Pode ir", poema inédito de Vinicius de Moraes, musicado por Carlos Lira. O disco teve a participação especial de Mauro Senise, flauta e sax, Dominguinhos (acordeon) e Paulo Proença (percussão).
Moshi Moshi
Em 1998 o grupo fez shows em Miami ao lado de Leny Andrade, Wanda Sá e Roberto Menescal, e ainda em 1999 participou em uma faixa do CD "Crooner", de Milton Nascimento.
Atendendo a um honroso convite de Milton Nascimento, Os Cariocas participaram da gravação do CD "Crooner", lançado em 1999 pelo famoso compositor e intérprete, dividindo com ele as canções "Rosa Maria" e "Lamento no Morro". O conjunto foi também convidado para a apresentação dessas canções no Canecão, no Rio e no Palace, em São Paulo, por ocasião do lançamento do CD.
Severino Filho escreveu arranjo à capela para a bela composição de Milton e Fernando Brant "Encontros e Despedidas" que Os Cariocas interpretaram nas duas apresentações, emocionando Milton e emocionando-se com o resultado.
Em 1998, esteve nos Estados Unidos, ao lado de Leny Andrade, Roberto Menescal e Wanda Sá. Foram feitas duas apresentações em Miami, com grande sucesso. Entendimentos vêm sendo levados a efeito com vistas à continuação da excursão, com os mesmos artistas, desta vez com início em Nova York.
Em 2001 lançaram o cd "Os Clássicos Cariocas", muito bem recebido pelo público e pela crítica, vencedor do prêmio Caras na categoria grupo de MPB.
Em 2002 o conjunto esteve no Japão (Tókio) e nos EUA (Washington, Filadélfia e Nova York) lançando o Cd - "oscariocas.com.bossa", indicado para o prêmio Tim.
Em 2003 em show realizado em Montevideo, Uruguai, foram convidados pelo maestro Frederico da Orquestra Filarmônica de Montevideo para retornar a cidade para realização de show com a Orquestra.
Em 2004 foram convidados a participar dos festejos do dia da Independência na Embaixada do Brasil em Asuncion, Paraguai.
Em 2010, Fabio Luna, segunda voz, flauta e bateria, entrou para o grupo completando a formação atual. Em função do sucesso junto ao público o grupo vem sendo constantemente convidado a participar de shows abertos nas ruas, praias e parques onde são aplaudidos por milhares de pessoas. Do mesmo modo se apresentaram em Montevidéu, Uruguai (2003), Lugano na Suíça (2005) e Asuncion em 2006.
SEVERINO FILHO, arranjador, pianista, primeira voz é o remanescente das primeiras formações do grupo. ELOI VICENTE, violonista, quarta voz e solos vocais, NEIL TEIXEIRA, baixista e terceira voz e FABIO LUNA, segunda voz, flauta e bateria completam a atual formação do conjunto. Juntos, continuam mostrando sua técnica vocal e instrumental em importantes eventos musicais no Brasil e no exterior.
Um artigo assinado pelo influente escritor brasileiro Rui Castro, publicado no jornal “O Estado de São Paulo”, descreve uma dessas apresentações. O título da matéria dá uma idéia do poder de criação do grupo: “A constelação de sons de Os Cariocas”.
Esta formação gravou os CDs Os Cariocas, disco promocional da Diebold e o disco de carreira “Bossa Carioca” de 2004, lançado pela Albatroz / Sony-BMG. Participou também da gravação de quatro DVDs: “Bossa in Concert” – EMI, “Casa da Bossa” – Universal, “Carlos Lyra - 50 anos” – Biscoito Fino e “Nova Bossa - Carol Saboya” – Aosis Records.
OS CARIOCAS
Severino Filho (piano, instrumental and vocal arrangements, vocals)
Badeco (violao, vocals)
Quarteta(drums, vocals)
Luiz Roberto(bass, vocals)
CURIOSIDADES
*Ismael tinha um violão e aprendeu logo a tocar o instrumento, procurando nele os recursos para dar vazão ao seu inusitado e inato talento para a harmonização. Os acordes de 3 sons usados pelos grupos brasileiros não o satisfaziam. Para ele, faltava algo. Ao dedilhar os acordes, verificava que eles se compunham de até 5 sons diferentes. Ouvindo orquestras, constatou também que os naipes "cantavam" as melodias todas harmonizadas em 4 ou 5 "vozes". Rapidamente, levou sua descoberta para a prática: juntou-se, com seu irmão, Severino, a alguns amigos, colegas de colégio e vizinhos e começou a experimentar suas idéias. Estava criado o estilo vocal que "Os Cariocas" adotariam e que os trouxe até os dias atuais.
*Em fevereiro de 1946, na presença de Haroldo Barbosa, Paulo Tapajós e do próprio Radamés, em um estúdio da Rádio Nacional, o grupo cantou dois números de seu pequeno repertório, acompanhado apenas pelo violão de Ismael, sendo informado de que o resultado do teste sairia em 30 dias. A surpresa foi grande. No dia seguinte, veio a convocação para uma reunião com vistas à participação do grupo em um dos principais programas musicais da emissora. Na semana seguinte, Os Cariocas estreavam no programa "Um milhão de Melodias", cantando com acompanhamento da grande orquestra da Rádio Nacional, sob a regência do fabuloso Radamés Gnatalli.
*Emmanoel Furtado, o Badeco, vocalista e violonista - integrou ao grupo indicado pelo amigo Rui Rei, iniciando-se, assim, definitivamente, o trajeto de sucesso na grande emissora, com a primeira formação oficial : Ismael Neto, arranjador, primeira voz e violão; Severino Filho, segunda voz e percussão; Emmanoel Furtado, o Badeco, terceira voz e violão; Waldir Viviani, solista, percussão e quinta voz e Jorge Quartarone, o Quartera, quarta voz e percussão.
*Os grandes maestros da Rádio Nacional, principalmente Radamés Gnatalli e Lirio Panicali, mostravam-se admirados com o estilo vocal de Os Cariocas, até então inédito no Brasil, e, segundo testemunho de músicos que conviviam com o legendário Villa-Lobos, até este citava o conjunto em suas aulas, como exemplo de afinação e bom gosto harmônico. Esse clima, altamente prestigioso, estimulou os integrantes do grupo ao estudo de música, no objetivo de aperfeiçoar cada vez mais o seu trabalho.
*Com a morte de Ismael em 1956, o conjunto teve que reorganizar-se: Severino Filho, seu irmão, já em fase adiantada em seus estudos superiores de música, com o Professor Joachim Koelreuter, assumiu a condição de arranjador e lider musical, e, aproveitando o fato de que Ismael fazia a primeira voz em falsete (imitação de voz feminina), convocou Hortensia Silva - irmã de ambos e conhecedora de todos os arranjos, pois era fã e também dotada de grande talento - para assumir o lugar dele na estrutura vocal do grupo.
*As músicas Meditação, Gente Humilde e Vivo sonhando faziam parte de uma suíte para violão composta por Aníbal Augusto Sardinha, o Garoto, em 1945. Fato curioso é que todas ganharam letra posteriormente, as duas primeiras de um poeta mineiro que optou pelo anonimato e a terceira de Badeco, ex-integrante do conjunto vocal Os Cariocas. Vivo sonhando foi interpretada pelo cantor cearense Gilberto Milfont no programa “Um Milhão de Melodias” já com a letra de Badeco. A acompanhá-lo estava a Orquestra Brasileira de Radamés Gnattali e Garoto ao violão.
*De todos os grandes programas da Rádio Nacional, “Um Milhão de Melodias” era o maior deles: tinham seus ensaios gravados em discos de alumínio cobertos com acetato, cuja finalidade principal era a de corrigir o posicionamento dos microfones para o intérprete e a orquestra. Com o fim daquela emissora, os acetatos foram empilhados sem muito cuidado e depos transferidos para o Museu da Imagem e do Som, grande parte deles foi danificada.
*Emmanoel Barbosa Furtado, o Badeco, integrava em 1944 o conjunto “Os Irapurus”. Entusiasta do violão, assistia sempre aos programas em que Garoto participava na Rádio Nacional, surgindo assim uma grande amizade que se consolidou no ano seguinte. Depois disso, Badeco integrou o conjunto “Os Tupiniquins” e finalmente Os Cariocas. Nestes conjuntos, todos com nomes indígenas, ele atuara como vocalista e violonista.
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