"O Brasil é um absurdo/ Pode ser um absurdo/ Até aí tudo bem/ Nada mal/ O Brasil é um absurdo/ Mas ele não é surdo/ O Brasil tem um ouvido musical/ Que não é normal..." Com estes versos o compositor baiano Caetano Veloso faz um elogio à musicalidade da cultura brasileira em "Love, Love, Love".
De fato, nosso país é muito rico em ritmos musicais, que aqui se originaram e se tornaram conhecidos internacionalmente, como o: frevo, maracatu, forró, xaxado, xote, coco, lundu, maxixe, chorinho, samba-canção, pagode, samba de breque, samba enredo, bossa nova, baião, rojão.
"A Vingança do Berimbau", de Miguezim de Princesa (codinome de Miguel de Lucena - Delegado da Polícia Civil do Distrito Federal, jornalista e poeta de cordel), menciona essa multiplicidade da cultura musical brasileira destacando nomes, como: Maria Bethânea, Caetano, Gilberto Gil, Armandinho, Dodô e Osmar, Gal Costa, Morais Moreira, Batatinha, Caymmi, João, Novos Baianos, Gordurinha e tantos outros...
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A poesia "A Vingança do Berimbau" surgiu diante da polêmica criada por Antônio Dantas...
Em 2008, o reitor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Naomar Almeida, pediu afastamento do coordenador do curso de Medicina, Antônio Dantas. A medida foi tomada depois que o coordenador, ao analisar o péssimo resultado que o curso de Medicina obteve no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), declarou à imprensa que o baiano não é inteligente. E o coordenador é baiano.
As declarações polêmicas foram publicadas em um jornal de circulação nacional. Na entrevista, o coordenador do curso de Medicina da UFBA, Antônio Dantas, atribuiu o baixo desempenho dos alunos de Medicina, que tiraram nota 2 no Enade, ao baixo QI - índice de inteligência dos baianos. Ele disse ainda que o baiano só toca berimbau bem porque o instrumento tem uma corda. Se tivesse mais não conseguiria... (leia mais aqui)
Tom Zé leva a coisa meio meio na pilhéria, já começa perguntando se Antônio Dantas é baiano. Depois, dá uma aula sobre o berimbau:
“O berimbau faz parte de uma cultura que enriquece a Bahia e o fato dele ter uma corda só é um dado complicador que fala bem dos que tocam esse instrumento ao invés de falar mal. É uma exigência maior de sensibilidade para tocar o berimbau, é uma exigência maior de sensibilidade e adequação. Precisa compreender qual é a função dele dentro da mítica da capoeira porque o berimbau tem uma microtonalidade especialmente difícil para pessoas educadas na escala diatônica ocidental. O berimbau é uma coisa muito mais complexa do que essa coisa de uma corda só. A riqueza timbrística dele e a funcionalidade dele…o berimbau não foi feito para tocar música ocidental, foi feito para outra concepção de mundo. É isso que se precisa compreender.”
A vingança do Berimbau
by Miguezim de Princesa
Superado pelo tempo,
Ensinando muito mal,
Fabricando mil diplomas
Para entupir hospital,
O doutor da faculdade
Botou, com toda maldade,
A culpa no berimbau.
II
Disse o doutor Natalino
Que o baiano é um mocó,
Sem coragem e inteligência,
Preguiçoso de dar dó,
Só liga pra carnaval
E só toca berimbau
Porque tem uma corda só.
III
O sujeito ignorante
Não conhece o berimbau,
Que atravessou o mundo
Com toda a força ancestral.
Na fronteira da emoção,
Traz da África a percussão
Da diáspora cultural.
IV
Nem Baden Powel resistiu
À percussão milenar,
Uma corda a encantar seis
Na tristeza camará
De Salvador da Bahia.
Quem toca e canta poesia
Na dança sabe lutar.
V
O doutor, se estudou,
Na certa não aprendeu nada:
Diz que o som do Olodum
Não passa de uma zoada
E a cultura baiana
É uma penca de bananas,
Primitiva e atrasada.
VI
Jimmy Cliffi, Michael Jackson,
Paul Simon e o escambau
Se renderam ao Olodum
Com seu toque genial,
Que nasceu no Pelourinho
E hoje abre caminho
No cenário mundial.
VII
O baiano é primitivo?
Veja só o resultado:
Ruy foi o Águia de Haia;
Castro Alves, verso-alado
De poeta condoreiro,
E gente do mundo inteiro
Se curvou a Jorge Amado.
VIII
Bethânea, Caetano e Gil,
Armandinho, Dodô e Osmar,
Gal Costa, Morais Moreira,
Batatinha a encantar
Caymmi,João, Bossa Nova,
Novos Baianos são prova
Da grandeza do lugar.
IX
Glauber, no Cinema Novo;
Gregório, velha poesia;
Gordurinha, no rojão;
Milton, na Geografia;
Anísio, na Educação;
Dias Gomes, na encenação;
João Ubaldo e Adonias.
X
Menestrel da cantoria
Temos o mestre Elomar,
Xangai, Wilson Aragão,
Bule-Bule a improvisar,
Roberto Mendes viola
A chula - semba de Angola,
Nosso samba de além-mar.
XI
Se eu fosse citar todos
Que merecem citação,
Faria um livro de nomes
Tão grande é a relação.
Desculpe, Afrânio Peixoto,
Esse doutor é um roto
Procurando promoção!
XII
Com vergonha do que fez:
Insultar toda a Nação,
O tal doutor Natalino
Pediu exoneração
E não encontra ninguém,
Nem um nazista do além,
Para tomar a lição.
XIII
O baiano é pirracento,
Mas paga com bem o mal:
Dá uma chance a Natalino
Lá no Mercado Central
De ganhar alguns trocados
Segurando o pau dobrado
Da corda do berimbau.
FONTE
Gordurinha Ainda Tá na Praça
Beto's Blargh
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