sábado, 16 de abril de 2011

Henricão


Ele era Henrique Felipe da Costa, motorista de madame na rua Augusta, em São Paulo, exibido, na beleza de seus quase dois metros de altura, pela patroa orgulhosa, cuja família ele considerava sua. Nunca negou a origem humilde nem as dificuldades pelas quais passou, mesmo tendo em seu currículo sucessos nacionais – e internacionais –, além de vendagens recordes de discos para sua época.

O cantor, compositor e ator Henrique Felipe da Costa, conhecido como Henricão, foi homem de muitas andanças e participou desde o trabalho arduo na lavoura até o futebol amador, foi um ótimo goleiro do time do Radium, de Mococa (SP).

Henricão veio para São Paulo aos 16 anos de idade para treinar no Corinthians, mas pouco tempo durou essa situação. O apelo da gafieira paulistana, onde sua voz logo passou a ser requisitada, foi mais forte que o amor ao futebol.

Foi compositor, cantor, carnavalesco folião, lavador de carros, motorista, ator de telenovela e cinema. Na década de 50, Henricão interpretou o escravo rebelde Justino de "Sinhá Moça", filme de Tom Payne. Recebeu sete prêmios como ator.

Henricão (Henrique Filipe da Costa), cantor e compositor, nasceu em Itapira/SP, em 11/01/1908, e faleceu no Rio de Janeiro/RJ em 11/06/1984. Motorista de madame na rua Augusta, em São Paulo, exibido, na beleza de seus quase dois metros de altura, pela patroa orgulhosa, cuja família ele considerava sua. Nunca negou a origem humilde nem as dificuldades pelas quais passou, mesmo tendo em seu currículo sucessos nacionais – e internacionais –, além de vendagens recordes de discos para sua época.

A grande paixão era a Escola de Samba Vai-Vai, que ele viu ser fundada como cordão carnavalesco e para a qual compôs vários sambas. Cantou em circo, em parques de diversão, em rádios, nas festas populares do Nordeste. Sozinho e com algumas parceiras, das quais Carmen Costa seria a mais famosa e teria mais êxito de público e mídia que seu lançador.

Foi o primeiro Rei Momo negro da história do carnaval (com alguns seguidores no futuro) e sua figura imponente, risonha e bela ainda nos últimos dias, era recebida com alegria e reverência por todos.

Em 1937, Henricão gravou em dupla com a cantora Sarita os maracatus "Noiô, Noiô", de Paulo Lopes e Sebastião Lopes e "Chora meu goguê", de Benigno Gomes e Franz Ferrer, pela Odeon. No mesmo ano, gravou com Sarita e Antenógenes Silva ao acordeom a valsa "Companheira do meu penar" e a toada "Peteca do destino", ambas de Antenógenes Silva e Ernâni Campos.

Em 1938, gravou os sambas "Pra que tanto ciúme", de Buci Moreira e Laci Martins e "Qual foi o mal que te fiz", de Getúlio Marinho e O . Patrício.

Foi o descobridor de Carmen Costa, com quem formou dupla desde 1938 até o início dos anos 1940. Foi o compositor Henricão (Henrique Filipe da Costa), que a batizou com o nome artístico de Carmen Costa e com quem iniciou sua carreira profissional, em 1938, cantando em dupla numa feira de amostras, o Arraial do Rancho Fundo, em Juiz de Fora MG.

No Rio de Janeiro, a dupla apresentou-se numa feira de amostras da Praça Quinze de Novembro, onde cantavam Carmen e Aurora Miranda, a dupla Alvarenga e Ranchinho, e as Irmãs Pagãs. Cantando em dupla com Carmem Costa até 1942, obteve alguns êxitos gravados em 78 rpm da Odeon, como: "Onde está o dinheiro", dele próprio, "Dance mais um bocado", dele e Príncipe Pretinho, grande sucesso em 1940 e "Samba, meu nego", de Buci Moreira e Miguel Bastos.

Compôs com Nelson Cavaquinho e Rubens Campos o primeiro samba gravado por Nelson Cavaquinho: "Não faça a vontade a ela".

É autor de vários sucessos gravados por Carmen Costa, como "Só vendo que beleza", em parceria com Rubens Campos, sucesso em 1942 e "Está chegando a hora", também em parceria com Rubens Campos, música que se tornou um dos maiores sucessos de carnaval de todos os tempos, além de ser cantada pelas torcidas dos times vencedores em jogos de futebol, vôlei e basquete, quando a partida está terminando.


"Está chegando a hora" é uma versão para a música mexicana "Cielito Lindo", foi gravada um pouco antes do Carnaval, apenas 35 cópias do disco foram distribuídas pelo autor e a intérprete por diversas emissoras, e a música tornou-se um dos grandes sucessos carnavalescos do ano.


A música Está chegando a hora, versão de Henricão e Rubens Campos foi duramente criticada por Ary Barroso, por constituir, segundo ele, plágio. Seu parceiro, Rubens Campos, respondeu à crítica ao autor de "Aquarela do Brasil", afirmando que também ele havia plagiado "Smillin through", de Arhur Penn, para compor "Na virada da montanha", e que "Upa! Upa! (Meu Trolinho)", era plágio de "La Fiacre", de Jean Sablon.


Em 1943, gravou de sua parceria com Rubens Campos o samba "Dever de um brasileiro".

Em 1947, gravou os sambas "Sou eu", de sua autoria e "Ingratidão do Nozinho", de Raul Longras.

Em 1951 gravou com o grupo As Milionárias na Todamérica, a marcha "O trem da cantareira", de Boca e Francisco Lacerda e o samba "Que mal eu fiz?", de Heitor de Barros e Washington Fernandes.

Em 1954 gravou na Todamérica o baião "Roda de trem", parceria com Conde e o samba "Vê se me esquece", parceria com Lídio Melo.

Em 1959 lançou pela Chantecler, com um grupo Chamado "Henricão e Suas Pastoras" os sambas "Vai meu amor", de Mário Augusto e Beduíno e "Resolve na hora", de sua autoria e Raul Marques.

Foi parceiro de grandes sambistas. Além de Rubens Campos, compuseram com ele nomes como os de Buci Moreira, Príncipe Pretinho, Caco Velho, entre outros. Entre suas várias parceiras, antecessoras de Carmen Costa, destacaram-se a paulistana Risoleta – que fez sucesso solo no teatro de revista – e a carioca Sarita.

Confessa no programa que passou fome, mesmo famoso, mas teve sempre a ajuda de amigos e "tocou a vida", como afirmava, sempre com otimismo e esperança. Se ganhasse um centavo por cada vez que se cantava Está chegando a hora, teria enriquecido.

Ninguém como ele alcançou sucesso fazendo versão. Já era bastante conhecido por seu Só vendo que beleza (chamada mais por Marambaia, mas depois ele acabou usando esse nome para uma música que seria "resposta" ao Só vendo que beleza) quando ouviu o tango Caminito (Gabino Peñaloza / Juan de Dios Filiberto) e criou uma versão livre em samba chamada Carmelito, que foi um furor nacional.

Ao lado de Carmem Costa, repetiu a dose ao criar Está chegando a hora (com seu parceiro favorito Rubens Campos), baseada na canção mexicana Cielito lindo (Fernandez), outro sucesso fenomenal, cantado até hoje.

Na década de 1980, voltou a reeditar sua dupla com Carmen Costa, chegando a gravar pelo Estúdio Eldorado um LP intitulado "Henricão - Recomeço", que teve pouca repercussão.

Reencontrou-se com a eterna parceira Carmem Costa, que participou de sua última gravação (1980), o LP Henricão – Recomeço, pelo Estúdio Eldorado de São Paulo. Não teve repercussão de público – hoje é peça rara, procurada por pesquisadores e colecionadores – e foi o canto do cisne dessa importante figura da música popular brasileira.

  • Filmografia de Henricão

As Panteras Negras do Sexo (1983)
Rodeio de Bravos (1982)
Volúpia ao Prazer (1981)
A Insaciável - Tormentos da Carne (1981) .... Pai Nabor
A Filha de Emmanuelle (1980)
O Jeca e Seu Filho Preto (1978)
Mestiça, a Escrava Indomável (1973)
A Marcha (1972)
O Macabro Dr. Scivano (1971)
Betão Ronca Ferro (1970)
O Jeca e um Freira (1968)
O puritano da Rua Augusta (1965)
O Mistério do Taurus (1965)
A Primeira Missa (1961)
Cidade Ameaçada (1960)
Vou Te Contá (1958)
Uma Certa Lucrécia (1957)
O Gato de Madame (1957)
Casei-me com um Xavante (1957)
Padroeira do Brasil (1956)
Eva no Brasil (1956)
A Estrada (1956)
O Circo Chegou à Cidade (1954)
Sinhá Moça (1953) .... Justino
Meu Destino é Pecar (1952)
Almas Adversas (1949)
Eu Quero é Movimento (1949)
Berlim na Batucada (1944)

Na televisão, Henricão particou das novelas "O Tronco do Ipê" (1982), "Os Imigrantes" (1981) "O Direito de Nascer"; (1978) e do seriado "Vigilante Rodoviário".

Henricão faleceu em conseqüência de um acidente vascular cerebral, no dia 10 de junho de 1984, em São Paulo. Era casado com Luzia Gomes da Silva e deixou um filho, Carlos Henrique Felipe da Costa.

  • CURIOSIDADES
* Vai-Vai era bacana. Eu trabalhava de motorista na rua Augusta e encontrei uma turminha, o Carlinho, o Louro, aquela turma que jogava futebol no Vai-Vai, e me convidaram: "Henrique (não me chamavam ainda de Henricão), vamos lá que nós vamos formar um bloco pra sair". Isso foi em fim de 27. Aí eu fui, fui e me senti tão bem lá dentro do Vai-Vai, mas bem mesmo, sabe? Gostei demais, povo bom e tal. Aí então fiz esse samba pro Vai-Vai. Depois dali do Vai-Vai apareceu um cidadão que disse: "Olha, você não quer cantar na rádio?" Eu disse: "Cantar na rádio?" "É, Henricão". Henrique, não chamava de Henricão. Eu digo: "Eu vou, mas nunca cantei no rádio não". Aí ele disse: "Não, vamo, vamo lá". O rádio era lá embaixo no Palácio das Indústrias. Lá em cima numa torrinha, microfone de carvão: Educadora Paulista. Aí no Palácio das Indústrias, lá embaixo, aí eu fui. Fui, cheguei lá e tal e coisa, fiquei olhando, naquele tempo estava o Torres, o Torres estava começando, tava o Cardim, tocava bandola e tal. Aí o homem disse assim: "Canta um negócio aí". Então eu cantei uma espécie de um batuque, Ora Bravo...

FONTE

Cifrantiga

Dicionário MPB

Samba Choro

Inmemoriann

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