domingo, 10 de abril de 2011

Orlando Corrêa


Orlando José Corrêa é de Niterói,/RJ, nascido em 15/12/1925, na Rua Dr. March, 562, no bairro Barreto, onde foi criado. Seu pai, que trabalhava no setor de cargas das barcas da Cantareira, faleceu quando Orlando tinha 13 anos. Orlando, mais velho de 5 irmãos, passou a trabalhar em oficinas mecânicas, várias delas de firmas importantes, diplomando-se mecânico pela General Motors.

Intérprete de voz empostada num buquê de timbres entre Silvio Caldas, Alcides Gerardi e Gilberto Alves, o niteroiense Orlando Corrêa é um remanescente da era do rádio e dos discos 78 rotações que teve bem mais que quinze minutos de glória...

Orlando foi intérprete de várias composições da dupla Wilson Batista e Jorge de Castro. Gravou também músicas de importantes compositores como: Pedro Caetano, José Maria de Abreu Claudionor Cruz, João de Barro e Antônio Almeida.

A partir dos 19 anos, Orlando passa a ser exclusivamente cantor, apresentando-se em pavilhões, circos e dancings. Orlando foi descoberto para o rádio em Niterói, por Cyro Monteiro, que era a atração, naquela noite, de um parque de diversões, no qual Orlando costumava cantar.

Cyro levou Orlando à Rádio Mayrink Veiga, do Rio, e ao seu diretor Edmar Machado. assinando um contrato de um ano e sendo escalado para o Programa Casé, em 1947 e, por coincidência, no mesmo dia, também ingressava na Mayrink a cantora Elizeth Cardoso, coincidência que se repetiria no ano seguinte, quando ambos foram para a Rádio Guanabara, que estava formando elenco. Antes disso, Elizeth e Orlando, juntamente com Ataulfo Alves e Seu Estado Maior do Samba, já tinham realizado uma série de apresentações pelo Nordeste.

No final de 1949, através da intercessão de Ataulfo, Orlando grava na Star seu primeiro disco, com o samba Casa sem luz, de Luiz de França e José Pacheco e o samba-canção Meditando, de Soares Moutinho e José Lourenço..

Em 1951, Orlando transfere-se da Rádio Guanabara para a Rádio Clube do Brasil, onde pouco fica, visto que, no final desse ano, vai para a Rádio Tupi, para uma longa e brilhante permanência, sem interrupções, de 15/11/1951 a 07/01/1980, ou seja, 28 anos.

Seu segundo disco, pela Todamérica, já tinha saído e com músicas para o carnaval de 1951: Minha Mão À Palmatória (Antônio de Almeida e Ruy de Almeida), samba, e Tourada Sem Espada (Afonso Teixeira e Jorge de Castro), marcha, também sem alcançar o ansiado sucesso.

Êxito de verdade viria logo no disco seguinte, com Meu Sonho É Você.

Meu sonho é você
Zezé Gonzaga & Jane Duboc
Composição : Altamiro Carrilho/ A. Nunes

Quando eu passo
pela rua onde mora
Aquela que eu perdi
Numa noite de verão
Ainda hoje
Eu sei que ela chora
Relebrando com saudades
Aquela amizade que o tempo levou

Meu desejo era ser bem feliz
Mas o destino não quiz
Vivo sofrendo afinal
Meu sonho é você
Que é todo meu mal
Tudo terminou
De um modo banal

Com ele, Orlando emplacou em 1951 o samba canção ortodoxo, de letra romântica torturada, Meu Sonho é Você, do flautista de choro Altamiro Carrilho (com Átila Nunes) que intitula o CD e o estranho, para dizer o mínimo, Sistema Nervoso, de Wilson Batista (um sambista que pincelou noções psicanalíticas em suas composições), Roberto Roberti e Arlindo Marques Jr. Composto pela trinca nas escadarias do Palácio Monroe, no Rio, este samba canção ralentado foi gravado em 1953.

O técnico (e compositor) Norival Reis aproveitou um carrilhão, um despertador (“Deu uma hora!/ deu duas horas”, cronometra a letra) e a câmara de eco formada pelo banheiro do estúdio para enfatizar a atmosfera fantasmagórica: “na escuridão/ eu escuto seus passos/ no meu delírio/ ela volta a meus braços/ ela abalo-ô-ôu meu sistema nervoso”. Mais kitsch (ainda não havia o brega) impossível.

Centrado no Drama de Amor, como intitula outra composição de Wilson Batista (parceria com Jorge de Castro), o disco tem desde a rodopiante valsa do pernambucano Capiba Serenata Suburbana (com corinho ondulante) a um samba canção de Mário Lago e Roberto Martins linha Lupicínio Rodrigues (Como o Tempo Judiou), um beguine (parente americano do bolero) do técnico Norival Reis (e Irany de Oliveira), Folhas Pelo Chão, além de canções menos conhecidas do Luis Bandeira de Apito No Samba (Que Bonito É...) como Nuvem e Quase.

O chorão Altamiro nunca foi tão sentimental (Quero-Te Tanto, Filmes de Amor, com diferentes letristas) e Alberto Ribeiro aparece desgarrado de seu parceiro Braguinha em Velho Marinheiro e Mar, Imagem da Vida. Na contramão de uma história que já começava a mudar, envolto em orquestrações pesadas de cordas e sopros, Orlando Corrêa soa hoje como um anacronismo estético digno de estudo.

Orlando também era destacado cantor de dancings, atividade que então rendia mais que o rádio. Percorreu o melhor circuito: Eldorado, Samba Dancing, Farolito, Blue Star, Belas Artes (Elizeth era dançarina), Brasil Dancing e Avenida (Elizeth cantava). Uma noite, Francisco Alves e David Nasser foram ouvi-lo no Avenida e o Rei da Voz o elogiou. Com isso ia adquirindo experiência e ampliava seu repertório.

A Rádio Tupi era a líder das Emissoras Associadas e Orlando fazia freqüentes viagens para atuar nas outras rádios associadas pelos Estados e, mais tarde, nas televisões da rede montada por Assis Chateaubriand. Cantou nas campanhas de Assis para senador, na Paraíba, e João Calmon, no Espírito Santo.

Gravou em 1952 os sambas Onde estás amor?, de José Maria de Abreu e Antônio Domingues, Longe de ti, de Napoleão de Oliveira Pimenta e Nair Firme de Castro, Tormento, de Pedro Caetano e Claudionor Cruz; e Palhaço, de Nelson Cavaquinho, Arlindo Marques Júnior e Roberto Roberti.

No ano seguinte lançou os sambas Martírio, de Wilson Batista, Roberto Roberti e Arlindo Marques Jr e O que tem que acontecer, de Norival Reis e Alberto Rego. Gravou também com o Trio Madrigal para as festas de fim de ano o samba-canção Natal sem você, de Bruno Gomes e Jorge de Castro e as canções Noite feliz e Meu pinheirinho, com adaptação de Antônio Almeida.

Em 1953, gravou o samba Sistema nervoso, de Wilson Batista, Roberto Roberti e Arlindo Marques Jr, que obteve grande sucesso, consolidando-lhe o prestígiono meio radiofônico. Sistema Nervoso estava entre as músicas mais tocadas em 1953; e também Dançando com Você, Como o Tempo Judiou.

Gravou em 1954 dois sambas de Luiz Bandeira, Nuvem, parceria com Manoel Malta e Quase, com Jota Júnior . No mesmo ano, gravou de Wilson Batista e Jorge de Castro o samba Drama de amor e a marcha Carmen.

Excursionou com o maestro Carioca e Sua Orquestra, em 1954, ao Uruguai, ao lado de Aracy Costa e Ernani Filho. Foi uma longa temporada, na capital e por todo o interior do vizinho país, inclusive animando seu carnaval, temporada que se estenderia, por uma semana, à Argentina.

Em 1955, gravou os sambas Mar, imagem da vida, de Alberto Ribeiro, Remorso, de José Maria de Abreu e Pedro Caetano e Ela chegou, de Norival Reis; a valsa Serenata suburbana, de Capiba e a marcha Um brasileiro em Paris, de Wilson Batista e Jorge de Castro.

Orlando casou-se, em 1955, com Maria de Lourdes, "moça maravilhosa, bela como uma miss", de rara inteligência. Além de pintar, sabia escrever, tanto que redigia seus programas, preferindo, porém, permanecer no absoluto anonimato. Tiveram 2 filhos; Maria Cristina, professora, e Mauro César, engenheiro e empresário.

Estreou em na RCA Victor em 1956, gravando o bolero Alucinação, de Lourival Faissal e Jorge de Castro e a toada Sereia, de Haroldo de Almeida e Otávio Teixeira com acompanhamento da Orquestra RCA Victor. No mesmo ano, gravou com acompanhamento de orquestra e coro as marchas Jogado fora, de Geraldo Queiroz e Cigano, de Wilson Batista e Jorge de Castro.

Gravou no ano seguinte o samba-canção Fracassos de amor, de Tito Madi e Milton Silva, o fox-canção Que sejas feliz, de C. Velasquez e versão de Moacir Silva, a valsa Copacabana à noite, de Wilson Batista e Jorge de Castro e o samba-canção Não vivo sem você, de Santos Garcia.

Em 1958, gravou para o carnaval o samba Lealdade, de Valdemar Gomes, Raul Marques e Oldemar Magalhães e a marcha Deixai vir a mim as mulheres, de Wilson Batista e Jorge de Castro. Nesse ano, gravou também os sambas-canção Maria do céu, de René Bittencourt, Desespero de causa, de José Utrini e Jorge de Castro e Não tenho ninguém, de Alberto Jesus e Luiz de França e o bolero Volta, de Alvarenga, Ranchinho e Geraldo Serafim.

Transferiu-se para a gravadora Continental em 1959 estreando com o samba Boêmio aposentado, do compositor baiano Gordurinha; e o fox Conhecer-te, de D'Anzi, com versão de David Nasser. No mesmo ano, gravou com acompanhamento de orquestra e coro a marcha Naquela base, de Wilson Batista, José Utrini e Jorge de Castro e o samba Vai saudade, de Edu Rocha, Milton Legey e Sebastião Ramos.

Intercalando gravações de sambas e marchas com músicas românticas como boleros e sambas-canção, lançou em 1960 o bolero Como se deve amar, de Guilherme Pereira e a valsa Retrato de amor, de Ori Dourado e J. André.

Para o carnaval do ano seguinte, gravou a marcha Salve a brotolândia, de João de Barro, Norival Reis e Jorge Duarte e o samba Candango feliz, e Wilson Batista, Antônio Almeida e Jorge de Castro com acompanhamento de Orquestra Carnavalesca. Também em 1961 gravou a marcha Tem mulher 'tô' lá, de João de Barro e o samba Lá do alto, e Jota Júnior e Castelo.

Em 1962, gravou o samba-canção Garçon confidente, de Jorge de Castro e Murilo Latini e o samba Coisas do passado, de Jorge de Castro e Alberto Jesus.

No ano seguinte, lançou um último disco em 78 rpm pela gravadora Continental com a marcha A vida é bela, de Klécius Caldas e Rutinaldo; e Ai de quem rega saudades, e João de Barro e J. Júnior.

Nesse ano, transferiu-se para o selo pernambucano Mocambo e lançou de Adelino Moreira o bolero Parece que foi ontem e o samba-canção Aviso.

Um ano depois lançou a marcha Eclipse, de Adelino Moreira e Celso Castro e o samba Quis fazer de mim palhaço, de Raul Marques, Otávio Lima e Odair Correia.

Em 1963, gravou pela Philips o LP "Meu sonho é você", que incluía um pot-pourri de músicas de Ary Barroso, elogiado até pelo próprio, em que encadeia as músicas, sem quebra de continuidade, formando como que uma história.

Em 1965, passou a apresentar na Rádio Tupi o programa "Audição Orlando Corrêa-Sala de Visitas Gebara", que alcançou algumas vezes a liderança do horário em que era apresentado e que durou dez anos no ar.

Em 1972, foi escolhido como o melhor cantor entre todos os contratados das Emissoras Associadas, em todo Brasil. Orlando lançou 37 discos em 78 rpm pelas gravadoras Star, Todamérica e RCA Victor.

Na Rádio Tupi, maior emissora carioca depois da Rádio Nacional, durante 10 anos, de 1965 a 1975, seu programa Audição Orlando Corrêa - Sala de Visitas Gebara, muitas vezes chegou à liderança no horário nobre. Era bem produzido, com orquestrações novas e convidados de honra, sempre expoentes da política e outros campos. A apresentação cabia aos locutores Carlos Frias e Lourdes Mayer. Era transmitido do Maracanã dos Auditórios, assim chamado o auditório da Tupi, o maior de todos.

No final da década afastou-se da vida artística como cantor continuando a presentar seu programa na Rádio Tupi até 1975.

Em 1990, o selo Phonodisc lançou o LP Grandes sucessos da década de 50 no qual aparecem suas interpretações para os sambas Meu sonho é você e Sistema nervoso, seus dois maiores sucessos, especialmente o último.

Em 2002, o selo Revivendo lançou o CD Meu sonho é você com 23 interpretações do cantor incluindo Sistema nervoso, Serenata suburbana, Desespero de causa, Velho marinheiro e Meu sonho é você.

Depois de deixar a carreira, desenvolveu diversas atividades: proprietário de hotel, de oficina de automóveis e de restaurante. E ainda canta no mesmo tom, com a mesma voz limpa e bem timbrada de quando começou no rádio e no disco.

Músicas "Meu Sonho é Você" - Orlando Correa
FONTE

Revivendo Músicas

MPB Antiga

Clique Music

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